MARCOS CORONATO, GRAZIELE OLIVEIRA E RAFAEL CISCATI
07/10/2013 07h00
Aos 17 anos, a paulistana Thais Roland decidiu estudar ciência da computação. Naquele momento, pensava que a profissão atenderia a seu gosto por equipamentos eletrônicos e renderia um bom salário. Não foi uma escolha ruim, dadas as informações e a maturidade de que dispunha então. Hoje, aos 33 anos, Thais continua a gostar de eletrônicos e a se preocupar com dinheiro. Mas sabe outras coisas importantes sobre si mesma, que melhoram muito suas escolhas ao pensar em trabalho. Ela gosta de física, de ter autonomia, de poder mostrar o bom humor, de ser transparente quando bem entende e – não menos importante – de receber parabéns efusivos pelo que faz direito. Além disso, morre de amores por carrões como o Corvette Stingray 1969 ou o Maverick 1975 SL, que vem consertando aos poucos. Todas essas engrenagens que formam a personalidade de Thais não cabiam nas empresas em que ela trabalhara antes, mas encaixam-se com perfeição quando ela abre o capô de um carro, mergulha na graxa do motor e explica, pacientemente, o que faz. Ao se tornar mecânica, em 2011, dona de um canal no YouTube e autora de um blog sobre automóveis, Thais encontrou o trabalho da vida dela. Você já encontrou o seu?
Ao se levantar para trabalhar, pela manhã, todos enfrentamos, sentados na beira da cama, a mesma questão: eu seria mais feliz e satisfeito fazendo outra coisa? O sujeito extremamente sortudo depara com essa angústia uma única vez, no fim da adolescência, ao escolher uma profissão. O mais normal é que essa pergunta se repita regularmente, à medida que se alternam períodos bons e ruins no trabalho.
Ao se levantar para trabalhar, pela manhã, todos enfrentamos, sentados na beira da cama, a mesma questão: eu seria mais feliz e satisfeito fazendo outra coisa? O sujeito extremamente sortudo depara com essa angústia uma única vez, no fim da adolescência, ao escolher uma profissão. O mais normal é que essa pergunta se repita regularmente, à medida que se alternam períodos bons e ruins no trabalho.
Recentemente, dois intelectuais de peso dedicaram-se ao assunto. Por caminhos diferentes, eles chegaram à mesma conclusão, resumida em forma de conselho: busque satisfação no trabalho de forma agressiva. Seja faminto, ambicioso, corajoso e aberto a mudanças radicais. Um deles, o sociólogo, palestrante e escritor australiano Roman Krznaric (pronuncia-se “Crisnáric”), é incisivo. “Mesmo num ambiente de crise, como a Europa, cada vez mais gente pensa que não basta apenas ter emprego. As expectativas com a vida continuam crescendo e há possibilidades abertas para quem quiser arriscar”, disse ele a ÉPOCA. Doutor em sociologia política pela Universidade de Essex, na Inglaterra, Krznaric esteve no Brasil neste mês para dar uma palestra organizada pela School of Life, um centro de estudos filosóficos com sede em Londres, dedicado a produzir palestras, aulas e livros úteis para a vida dos adultos modernos. Krznaric lançou, no ano passado, o livro Como encontrar o trabalho da sua vida (Editora Objetiva).
>> Como se preparar para um período sabático
Outro que tenta empurrar os que hesitam em mudar de carreira é o economista americano Edmund Phelps. Ele ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 2006, por seus estudos sobre mercado de trabalho, salário e inflação. Em seus mais de 50 anos de pesquisa, concluiu que americanos e europeus tornaram-se, coletivamente, uns molengas acomodados. Estão conformados em fazer trabalhos confortáveis e medíocres, com medo de se arriscar em busca de projetos profissionais realmente satisfatórios. Phelps acredita em correr riscos e lutar pelas próprias ideias e tenta promover esses valores. “Quando alguém é jovem e não tem dinheiro, é natural que pense mais em ganhos materiais. Conforme envelhecemos, os ganhos não materiais passam a ressoar profundamente em cada um de nós. Precisamos ter vidas interessantes”, disse a ÉPOCA.
Outro que tenta empurrar os que hesitam em mudar de carreira é o economista americano Edmund Phelps. Ele ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 2006, por seus estudos sobre mercado de trabalho, salário e inflação. Em seus mais de 50 anos de pesquisa, concluiu que americanos e europeus tornaram-se, coletivamente, uns molengas acomodados. Estão conformados em fazer trabalhos confortáveis e medíocres, com medo de se arriscar em busca de projetos profissionais realmente satisfatórios. Phelps acredita em correr riscos e lutar pelas próprias ideias e tenta promover esses valores. “Quando alguém é jovem e não tem dinheiro, é natural que pense mais em ganhos materiais. Conforme envelhecemos, os ganhos não materiais passam a ressoar profundamente em cada um de nós. Precisamos ter vidas interessantes”, disse a ÉPOCA.
Aos que sonham mudar sua vida profissional, o livro de Krznaric oferece exemplos e sugere caminhos. Procurar um trabalho empolgante, afirma, lembra menos o início de uma obra e mais o começo de um namoro. O encanto pode vir de onde menos se espera. Só depois que a paixão aparece deve-se pensar em relacionamento sério. O caminho tradicional para a transição de carreira – similar ao início de uma obra – prevê mais ou menos o seguinte roteiro:
▪ reflita antes de agir. Defina as prioridades na nova fase. Podem ser, entre outras, ganhar mais dinheiro, passar mais tempo com a família ou reduzir o nível de estresse;
▪ estude o mercado, converse com profissionais com experiência útil para sua transição e escolha a sua atividade futura;
▪ defina os passos da transição, com prazos. Ela pode exigir que você adquira novas habilidades, que procure um sócio ou que engorde as economias para atravessar períodos sem renda;
▪ inicie a transição, de preferência gradualmente.
▪ reflita antes de agir. Defina as prioridades na nova fase. Podem ser, entre outras, ganhar mais dinheiro, passar mais tempo com a família ou reduzir o nível de estresse;
▪ estude o mercado, converse com profissionais com experiência útil para sua transição e escolha a sua atividade futura;
▪ defina os passos da transição, com prazos. Ela pode exigir que você adquira novas habilidades, que procure um sócio ou que engorde as economias para atravessar períodos sem renda;
▪ inicie a transição, de preferência gradualmente.
Se você gosta desse tipo de plano, sirva-se à vontade. Krznaric duvida da eficácia. Para ele, estratégias assim facilitam o adiamento indefinido da mudança e não ajudam ninguém a se encantar com um novo trabalho. O roteiro dele seria assim:
▪ aja antes de refletir. Comece a levantar informações sobre trajetórias profissionais muito diferentes das suas e procure oportunidades para fazer coisas diferentes;
▪ há três abordagens diferentes para partir para a prática: entrevistar sistematicamente pessoas com trabalhos interessantes; experimentar atividades paralelas em horas livres (que ele chama de “projetos de ramificação” – foi a tática de Krznaric para passar de professor a palestrante e escritor); e, por fim, para quem pode, tirar um ano – “um sabático radical” – para experimentar o máximo possível de trabalhos. Vale passar por empregos temporários, acompanhar profissionais em ação como assistente ou apenas observador, fazer coisas de graça;
▪ fique atento a como você se sente em cada atividade. A satisfação pode surgir por diferentes meios, como o “fluxo” – trata-se de um estado de concentração no presente, quase zen, que sentimos ao fazer algo desafiador, mas não assustador nem exaustivo. Pode-se imergir no fluxo ao cuidar do jardim, fazer comida, escrever um texto ou operar um cérebro; n depois de agir, reflita. Qual será seu novo trabalho?
Krznaric propõe vários exercícios para detectar a fonte da insatisfação atual com o emprego e organizar os passos seguintes.
Quando pensam em trabalho, as pessoas tendem a se concentrar em alguns poucos motivos de realização, como o dinheiro graúdo pago aos executivos ou a paixão que move os artistas. A verdade é que há outros elementos de motivação. O economista Phelps considera um bom trabalho aquele que permite autonomia, expressão, criatividade e crescimento pessoal. Insiste que essas características podem ser encontradas na maior parte das funções e nas mais diversas atividades. Não é preciso ser um Picasso ou um Steve Jobs para sentir-se realizado. Em condições adequadas, diz Phelps, qualquer trabalhador pode se arriscar a criar modos diferentes e mais eficientes de produzir – segundo Phelps, uma condição essencial para sentir-se satisfeito no trabalho.
A gaúcha Ana Virgínia de Oliveira, de Alvorada, na Grande Porto Alegre, mostra como isso é possível. Ela tinha um trabalho tipicamente feminino, como auxiliar de uma nutricionista. Considerava sua rotina chata e pobre em desafios. Hoje, depois de ser treinada como azulejista, Ana Virgínia coordena uma equipe de 20 mulheres operárias nas obras do Estádio Beira Rio. “Agora, todos os dias tenho reconhecimento por meu trabalho e pelo trabalho das mulheres que estão comigo”, diz ela. Ana Virgínia está feliz também porque ganha o dobro do que recebia da nutricionista.
Mas dinheiro, lembre, não é tudo.
Krznaric diz que autonomia e possibilidade de criar são grandes fontes de satisfação em qualquer atividade. E cita outras fontes: a descoberta de um propósito, a possibilidade de ajudar quem precisa, de seguir uma paixão ou de usar um talento. Nada disso está diretamente relacionado à remuneração. “Não acredito que alguém possa trabalhar a vida inteira motivado apenas por dinheiro”, afirma. Isso é diferente do que estamos acostumados a pensar. Em nossas queixas diárias, repetimos que, se tivéssemos mais dinheiro, poderíamos nos arriscar em busca da realização pessoal. Ou que, se ganhássemos mais, seríamos mais satisfeitos. O dinheiro parece ser o começo e o fim da questão. Gente que estuda felicidade no trabalho, como Krznaric e Phelps, pensa de outra forma. Para eles, o dinheiro não ocupa um lugar tão importante. Não é preciso ter muito dinheiro para aventurar-se na mudança, nem é preciso ganhar muito mais dinheiro para ser feliz depois. Por incrível que pareça, a famosa “questão financeira” pode ser uma falsa questão, como sugerem os vários exemplos que ilustram esta reportagem. Motivações subjetivas, que nada têm a ver com salário ou rendimento, são determinantes na satisfação profissional de gente que parece muito realizada.
O economista e administrador Safiri Felix de Souza, de 30 anos, mudou de vida completamente, sem abrir mão de sua profissão. Começou a carreira como estagiário e trainee nas áreas de investimento de grandes bancos. Ficou atormentado com sua opção a partir da crise de 2008. Deixou o emprego e fez um curso de formação de pessoal para negócios sociais – empresas que trabalham com fins lucrativos e sociais ao mesmo tempo. Era a Usina de Ideias, da organização de apoio a negócios sociais Artemísia. “Foi um marco na minha vida”, diz. Deixou de lado a ideia inicial de abrir um negócio próprio e, hoje, trabalha na Konkero, empresa que oferece orientação profissional e financeira a pessoas de baixa renda. “Agora vejo sentido no que faço. Meu tempo e meu conhecimento são mais bem empregados”, afirma.
Segundo quem estuda o assunto, Souza acertou ao se manter naquilo que faz bem feito e ao dar a seu trabalho um novo propósito. Cal Newport, professor de ciência da computação na Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos, vem estudando a surpreendente concentração de recém-formados das melhores universidades americanas em algumas poucas áreas de atuação, como o mercado financeiro. Como é improvável que todos os alunos tenham as mesmas habilidades, ele conclui que os jovens vêm se guiando por um único fator – dinheiro. Newport os estimula a cultivar novas habilidades, a descobrir seus talentos e a encontrar um trabalho alinhado com o estilo de vida desejado. Há um outro roteiro possível: muitos jovens que se atiram ao mercado financeiro sonham trabalhar duro por alguns anos para obter, precocemente, sua independência financeira. Depois, com muito dinheiro no bolso, às vezes antes dos 30 anos, partem para uma segunda carreira. Em geral, se tornam empreendedores em áreas com que já tinham afinidade, diferentes daquelas em que fizeram fortuna. “Esse não é um plano de carreira incomum”, afirma o jornalista Alexandre Teixeira, autor do livro Felicidade S.A., que discute a realização profissional no interior das empresas. “A segunda carreira costumava ser coisa de pessoas próximas da aposentadoria. Agora começa muito mais cedo.”
▪ aja antes de refletir. Comece a levantar informações sobre trajetórias profissionais muito diferentes das suas e procure oportunidades para fazer coisas diferentes;
▪ há três abordagens diferentes para partir para a prática: entrevistar sistematicamente pessoas com trabalhos interessantes; experimentar atividades paralelas em horas livres (que ele chama de “projetos de ramificação” – foi a tática de Krznaric para passar de professor a palestrante e escritor); e, por fim, para quem pode, tirar um ano – “um sabático radical” – para experimentar o máximo possível de trabalhos. Vale passar por empregos temporários, acompanhar profissionais em ação como assistente ou apenas observador, fazer coisas de graça;
▪ fique atento a como você se sente em cada atividade. A satisfação pode surgir por diferentes meios, como o “fluxo” – trata-se de um estado de concentração no presente, quase zen, que sentimos ao fazer algo desafiador, mas não assustador nem exaustivo. Pode-se imergir no fluxo ao cuidar do jardim, fazer comida, escrever um texto ou operar um cérebro; n depois de agir, reflita. Qual será seu novo trabalho?
Krznaric propõe vários exercícios para detectar a fonte da insatisfação atual com o emprego e organizar os passos seguintes.
Quando pensam em trabalho, as pessoas tendem a se concentrar em alguns poucos motivos de realização, como o dinheiro graúdo pago aos executivos ou a paixão que move os artistas. A verdade é que há outros elementos de motivação. O economista Phelps considera um bom trabalho aquele que permite autonomia, expressão, criatividade e crescimento pessoal. Insiste que essas características podem ser encontradas na maior parte das funções e nas mais diversas atividades. Não é preciso ser um Picasso ou um Steve Jobs para sentir-se realizado. Em condições adequadas, diz Phelps, qualquer trabalhador pode se arriscar a criar modos diferentes e mais eficientes de produzir – segundo Phelps, uma condição essencial para sentir-se satisfeito no trabalho.
A gaúcha Ana Virgínia de Oliveira, de Alvorada, na Grande Porto Alegre, mostra como isso é possível. Ela tinha um trabalho tipicamente feminino, como auxiliar de uma nutricionista. Considerava sua rotina chata e pobre em desafios. Hoje, depois de ser treinada como azulejista, Ana Virgínia coordena uma equipe de 20 mulheres operárias nas obras do Estádio Beira Rio. “Agora, todos os dias tenho reconhecimento por meu trabalho e pelo trabalho das mulheres que estão comigo”, diz ela. Ana Virgínia está feliz também porque ganha o dobro do que recebia da nutricionista.
Mas dinheiro, lembre, não é tudo.
Krznaric diz que autonomia e possibilidade de criar são grandes fontes de satisfação em qualquer atividade. E cita outras fontes: a descoberta de um propósito, a possibilidade de ajudar quem precisa, de seguir uma paixão ou de usar um talento. Nada disso está diretamente relacionado à remuneração. “Não acredito que alguém possa trabalhar a vida inteira motivado apenas por dinheiro”, afirma. Isso é diferente do que estamos acostumados a pensar. Em nossas queixas diárias, repetimos que, se tivéssemos mais dinheiro, poderíamos nos arriscar em busca da realização pessoal. Ou que, se ganhássemos mais, seríamos mais satisfeitos. O dinheiro parece ser o começo e o fim da questão. Gente que estuda felicidade no trabalho, como Krznaric e Phelps, pensa de outra forma. Para eles, o dinheiro não ocupa um lugar tão importante. Não é preciso ter muito dinheiro para aventurar-se na mudança, nem é preciso ganhar muito mais dinheiro para ser feliz depois. Por incrível que pareça, a famosa “questão financeira” pode ser uma falsa questão, como sugerem os vários exemplos que ilustram esta reportagem. Motivações subjetivas, que nada têm a ver com salário ou rendimento, são determinantes na satisfação profissional de gente que parece muito realizada.
O economista e administrador Safiri Felix de Souza, de 30 anos, mudou de vida completamente, sem abrir mão de sua profissão. Começou a carreira como estagiário e trainee nas áreas de investimento de grandes bancos. Ficou atormentado com sua opção a partir da crise de 2008. Deixou o emprego e fez um curso de formação de pessoal para negócios sociais – empresas que trabalham com fins lucrativos e sociais ao mesmo tempo. Era a Usina de Ideias, da organização de apoio a negócios sociais Artemísia. “Foi um marco na minha vida”, diz. Deixou de lado a ideia inicial de abrir um negócio próprio e, hoje, trabalha na Konkero, empresa que oferece orientação profissional e financeira a pessoas de baixa renda. “Agora vejo sentido no que faço. Meu tempo e meu conhecimento são mais bem empregados”, afirma.
Segundo quem estuda o assunto, Souza acertou ao se manter naquilo que faz bem feito e ao dar a seu trabalho um novo propósito. Cal Newport, professor de ciência da computação na Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos, vem estudando a surpreendente concentração de recém-formados das melhores universidades americanas em algumas poucas áreas de atuação, como o mercado financeiro. Como é improvável que todos os alunos tenham as mesmas habilidades, ele conclui que os jovens vêm se guiando por um único fator – dinheiro. Newport os estimula a cultivar novas habilidades, a descobrir seus talentos e a encontrar um trabalho alinhado com o estilo de vida desejado. Há um outro roteiro possível: muitos jovens que se atiram ao mercado financeiro sonham trabalhar duro por alguns anos para obter, precocemente, sua independência financeira. Depois, com muito dinheiro no bolso, às vezes antes dos 30 anos, partem para uma segunda carreira. Em geral, se tornam empreendedores em áreas com que já tinham afinidade, diferentes daquelas em que fizeram fortuna. “Esse não é um plano de carreira incomum”, afirma o jornalista Alexandre Teixeira, autor do livro Felicidade S.A., que discute a realização profissional no interior das empresas. “A segunda carreira costumava ser coisa de pessoas próximas da aposentadoria. Agora começa muito mais cedo.”
As histórias e os estímulos à mudança de atividade seriam inúteis se apenas uma minoria estivesse insatisfeita com seu trabalho. Numa leitura superficial das pesquisas, essa parece ser a situação da população brasileira em geral. Três em cada quatro brasileiros se dizem felizes ou muito felizes com o trabalho, segundo um levantamento de 2012 do Datafolha. A parcela de satisfeitos cresceu de 61% para 75% entre 2001 e 2012. Incluem-se aí, porém, milhões de brasileiros muito pobres empolgados com ganhos básicos obtidos ao longo da década passada. O autônomo que passou a vender mais, o desempregado que conseguiu trabalho, o sujeito que vivia de bicos e conquistou a carteira assinada. Os maiores beneficiados pela expansão econômica do passado recente foram os trabalhadores educados até o ensino médio. Quem nasceu na velha classe média, ou chegou a ela há mais tempo, tem outras aspirações.
Se observarmos somente as grandes empresas, há fortes indicadores de insatisfação. No Brasil, segundo a consultoria Mercer, a fatia dos que consideram deixar a companhia em que trabalham saltou de 12%, em 2004, para 56%, em 2011. Nos EUA, medida pela mesma consultoria, com a mesma metodologia, essa parcela cresceu de 23% para 32%, entre 2005 para 2010. Se a pesquisa está correta, os brasileiros estão 23 pontos percentuais de insatisfação acima dos americanos. Certamente, a frustração com o emprego no Brasil não é um problema menor.
Uma objeção natural a esse tipo de debate decorre das expectativas em relação ao trabalho. Seria realmente razoável buscar felicidade durante o expediente? Nossos avós e bisavós, que trabalhavam no campo ou enfrentavam regimes de trabalho sub-humanos em fábricas ou minas de carvão, ouviriam de olhos arregalados nossas queixas sobre rotina e falta de realização. Do ponto de vista deles, levamos vida de fidalgos. Felizmente, os anseios nesse campo mudaram muito.
“Vivemos uma fase de questionamento em torno do trabalho. Muitos, principalmente os mais jovens, recusam a lógica de obedecer, ser infeliz e ganhar dinheiro. Eles precisam de autonomia e propósito no que fazem”, diz Teixeira. Na outra ponta da carreira, um contingente enorme de profissionais mais velhos, que ainda viverão muito, chega às portas da aposentadoria com vontade de recomeçar e obter a satisfação protelada por décadas. Krznaric diz que várias sociedades ocidentais demoraram a elevar as expectativas com relação ao trabalho por causa da ética protestante, que glorifica o esforço e o sacrifício. Lançada no século XVI, ela conquistou corações e mentes do norte da Europa e nos Estados Unidos. Beneficiou o mundo, ao fundamentar a expansão do capitalismo. Mas tornou difícil associar felicidade à labuta diária. A vida terrena não deveria realmente ser um mar de rosas. O gozo viria depois. Krznaric sugere que os trabalhadores de macacão, camiseta e paletó simplesmente esqueçam esse tipo de lógica – e corram atrás da felicidade no trabalho, aqui e agora.
Se observarmos somente as grandes empresas, há fortes indicadores de insatisfação. No Brasil, segundo a consultoria Mercer, a fatia dos que consideram deixar a companhia em que trabalham saltou de 12%, em 2004, para 56%, em 2011. Nos EUA, medida pela mesma consultoria, com a mesma metodologia, essa parcela cresceu de 23% para 32%, entre 2005 para 2010. Se a pesquisa está correta, os brasileiros estão 23 pontos percentuais de insatisfação acima dos americanos. Certamente, a frustração com o emprego no Brasil não é um problema menor.
Uma objeção natural a esse tipo de debate decorre das expectativas em relação ao trabalho. Seria realmente razoável buscar felicidade durante o expediente? Nossos avós e bisavós, que trabalhavam no campo ou enfrentavam regimes de trabalho sub-humanos em fábricas ou minas de carvão, ouviriam de olhos arregalados nossas queixas sobre rotina e falta de realização. Do ponto de vista deles, levamos vida de fidalgos. Felizmente, os anseios nesse campo mudaram muito.
“Vivemos uma fase de questionamento em torno do trabalho. Muitos, principalmente os mais jovens, recusam a lógica de obedecer, ser infeliz e ganhar dinheiro. Eles precisam de autonomia e propósito no que fazem”, diz Teixeira. Na outra ponta da carreira, um contingente enorme de profissionais mais velhos, que ainda viverão muito, chega às portas da aposentadoria com vontade de recomeçar e obter a satisfação protelada por décadas. Krznaric diz que várias sociedades ocidentais demoraram a elevar as expectativas com relação ao trabalho por causa da ética protestante, que glorifica o esforço e o sacrifício. Lançada no século XVI, ela conquistou corações e mentes do norte da Europa e nos Estados Unidos. Beneficiou o mundo, ao fundamentar a expansão do capitalismo. Mas tornou difícil associar felicidade à labuta diária. A vida terrena não deveria realmente ser um mar de rosas. O gozo viria depois. Krznaric sugere que os trabalhadores de macacão, camiseta e paletó simplesmente esqueçam esse tipo de lógica – e corram atrás da felicidade no trabalho, aqui e agora.
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