domingo, 27 de setembro de 2015

sábado, 26 de setembro de 2015

O Pequeno Príncipe

Super bonitinho e atual!



quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Por que as relações acabam

IVAN MARTINS
23/09/2015 - 08h38 - Atualizado 23/09/2015 15h16

Sentimentos são duradouros, mas as relações que se criam em torno deles são breves. O namoro acaba em poucos meses e o casamento só dura alguns anos, mas a gente vive as consequências deles por muito mais tempo, como parte de um misterioso ciclo amoroso.
Primeiro, é a festa dos sentidos e das emoções. Mais tarde, a euforia e o desejo dos primeiros dias dão lugar a desencontros e brigas. Depois de algum tempo, com lágrimas ou gritos, às vezes com gelada indiferença, tudo termina. Só que não. O sentimento continua ocupando, doendo, obstruindo. Até que um dia, muito depois dos fatos consumados, ele finalmente desaparece.
Com isso tudo já estou acostumado. O descompasso entre estado civil e sentimentos não me surpreende. O que me entristece é imaginar que, embora os sentimentos possam ser perenes, as relações têmprazo de validade. Parece haver um tempo inevitável – ou a soma de algumas circunstâncias – que põe limite ao convívio voluntário e prazeroso entre as pessoas.
Talvez o prazo seja de três anos. Talvez sejam 150 transas. Podem ser dois filhos, a conclusão de um mestrado ou o pagamento da última prestação do SFH. Quem sabe é um caso extraconjugal, o aumento da circunferência na barriga ou a repetição inevitável das posições sexuais. Por que os romances acabam?
Não sei a resposta, mas sinto que, depois de algum tempo, as coisas no interior da maioria dos casais deixam de funcionar. Acontece ao mesmo tempo, em todos os territórios, como uma espécie de colapso afetivo que a maioria de nós não sabe (ou talvez não queira) evitar. Muita gente respira fundo e segue junto depois disso, mas a magia se esgotou. Restam apenas a determinação e os compromissos.
Isso não me parece razoável. Se os nossos sentimentos duram tanto – e o ciúme do ex é uma evidência de que duram, assim como a saudade e a preocupação - por que somos incapazes de fazer as relações se estenderem na mesma proporção?
O meu palpite é que nos falta alguma espécie de preparação para o convívio. Navegamos felizes sob o vento da paixão, mas, tão logo ele se dissipa, perdemos a capacidade de nos reconhecer no outro. Voltamos a ser um que tem de partilhar seu universo interno e seu mundo exterior com o outro. E nisso somos cada vez piores.
Nos tornamos independentes, autônomos, aspiramos ser autossuficientes. Queremos nos sentir livres, donos de nós mesmos, senhores e senhoras do nosso prazer e do espaço ao nosso redor. Não somos capazes de combinar a necessidade de liberdade e crescimento pessoal com a vida em comum.
A paixão impõe um limite ao nosso individualismo. Quando ela acaba, o egoísmo irrompe.
O sintoma mais comum desse estado de espírito é sentir-se aprisionado. A pessoa acha que foi roubada do seu delicioso passado e do seu futuro promissor. Só resta o presente, que a cada dia parece menos tolerável. Ela está numa armadilha com alguém que não ama, em circunstâncias que sente que não controla. Gente nessa situação sofre. É só questão de tempo antes que comece a dinamitar a relação e tente dar um fim a ela, de forma consciente ou não. O prazo de validade se esgotou.
Sei do que se trata porque já me senti assim mais de uma vez. E já estive ao lado de gente que se sentia dessa forma em relação a mim.
Não sei se existe algo que se possa fazer a respeito dessainconstância. Ela é forte em nós. Está misturada às nossas mais legítimas ambições, que se alimentam do espírito do tempo. A era das aspirações coletivas parece ter acabado. Agora tudo que resta é nos realizar plenamente como indivíduos. Abraçamos a relação com o outro desde que não fira a nossa independência. Desde que – francamente – não atrapalhe os nossos planos e não interfira com as nossas ambições. Temos direito a ser felizes e levar uma vida repleta. Nada vai interferir com a satisfação dos nossos desejos que se multiplicam.
Temos sido assim, e talvez não haja jeito. Talvez esse comportamento esteja escrito em nosso DNA e faça parte danatureza humana que finalmente veio à tona. Depois de séculos e séculos de controle, agora talvez estejamos sendo nós mesmos. Volúveis, insaciáveis, egoístas. Quem não se reconhece nessa descrição?
Existe outra possibilidade, porém.
Talvez estejamos vivendo um momento coletivo de confusão. Crianças soltas na loja de doces. Adolescentes livres na ausência dos pais. Talvez o prazo de validade não exista e sejamos parte apenas de uma grande experiência temporária. Talvez tenhamos (como sociedade e como pessoas) a necessidade de celebrar a nossa liberdade e testar os seus limites. Quem sabe lá na frente a gente encontre o equilíbrio e aprenda e viver com liberdade e generosidade.
O amor não tem de durar para sempre e a vida não tem de caber numa única relação amorosa. Evidentemente. Mas o prazer da nossa convivência não deveria estar limitado a três anos ou 150 relações sexuais. Ou a qualquer outro limite imposto pela ansiedade.
O nosso ciclo amoroso é naturalmente longo. Os nossos sentimentos vão fundo. Há muito amor em nós e ele não se esgota assim, rapidamente. Nem precisa mudar de objeto com frequência. O amor permanece. Antes de acabar, ele dura. A gente é que se perde dele. Por isso saímos por aí, tateando no escuro, buscando nosso amor perdido em novas pessoas.
PS - Ontem vi um filme magnífico que trata dessas coisas, Love. Foi ele que me inspirou a escrever sobre o prazo de validade. Mas Love é um filme muito interessante por outras razões. Por isso quero falar dele exclusivamente. Fica para depois de amanhã, sexta-feira.

http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ivan-martins/noticia/2015/09/por-que-relacoes-acabam.html 

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

#17: Bem sertanejo

De Michel Tello e Andre Piunti


domingo, 13 de setembro de 2015

Mudando pra VIVO 2

Fera as propagandas!



Mundando pra VIVO 1

Só pelas propagandas dela!!! ;)





terça-feira, 8 de setembro de 2015

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

A paixão justifica tudo?

IVAN MARTINS
02/09/2015 - 08h59 - Atualizado 02/09/2015 18h18

Eles se conheceram no momento em que ela nasceu, 70 anos atrás. Eram primos, se apaixonaram em Paris no início dos anos 1960 e se casaram em Londres, logo em seguida. Formavam um casal desde então, com cinco filhos e vários netos. Faz pouco, as revistas espanholas de fofoca revelaram que ele, aos 79 anos, a deixou para viver um romance crepuscular com uma beldade internacional de 64 anos, conhecida pelos casamentos com homens ricos e influentes.
Essa história de paixão e abandono seria apenas uma entre milhões se os protagonistas não fossem Mario Vargas Llosa – o brilhante escritor peruano, prêmio Nobel de literatura de 2010 -  sua mulher Patrícia e, no terceiro vértice do triângulo, a modelo filipina Isabel Preysler, ex-mulher do cantor Júlio Iglesias. Por serem quem são, o enredo privado tornou-se público e me permitiu fuçar a vida alheia com uma pergunta que me persegue: a paixão justifica qualquer coisa?
O que eu gostaria de saber é se o sujeito, qualquer sujeito, deveria virar as costas à companheira de 50 anos para viver um romance tórrido no ocaso da vida dos dois. Fico me perguntando se é lícito trocar um amor e uma lealdade tão antigos por um sentimento novo, ainda que arrebatador, deixando a ex-mulher à beira de um abismo, sem tempo para cruzá-lo. Sozinha e humilhada no último trecho da existência.
Será que o amor, além de estética, não deveria ter ética?
Todo mundo conhece casos dramáticos que têm por justificativa o mandato irrecusável da paixão. Há mulher que larga os filhos e some com o amante para nunca mais voltar. Homem que se apaixona fora de casa e deixa a mulher grávida desamparada. Gente que muda de país atrás do amor, deixando para trás maridos, mulheres e filhos aturdidos. Ou – lembremos de Woody Allen – homens que se apaixonam pelas enteadas e casam-se com elas, lançando a ex-mulher e toda a família numa espiral de ciúme e loucura.
Todos os dias se cometem pequenas ou grandes atrocidades afetivas que se tornam mais ou menos aceitáveis pela evocação do amor. Nós, coletivamente, decidimos que esse sentimento é tão nobre que em nome dele se pode exercer até o mais terrível egoísmo. O apaixonado pode fazer tudo, exceto cometer violência. O amor é a exceção que suspende todas as regras.
Somente quem nunca amou perdidamente pode olhar para esse aspecto do drama humano sem simpatia. O amor não dá apenas sentido e profundidade à vida, ele a enche de cores, cheiros e texturas. Ele legitima a experiência de viver. No auge da febre amorosa, tudo cai para segundo plano. Trabalho, família, até os filhos. A felicidade que advém desse abandono – ou, melhor dizendo, a intensidade que nasce dele – é tão imensa que nos turva os sentidos e estremece a razão. A pessoa apaixonada vive num mundo à parte e não consegue existir inteiramente na ausência do outro. Isso influencia todas as suas decisões. É uma espécie luminosa de doença – e, assim como as doenças, afeta uns mais do que outros.
A maioria nunca se permitirá cair de amores pela enteada, não deixará os filhos para trás numa aventura romântica e nem abandonará o companheiro de uma vida pela promessa de uma derradeira paixão. A maioria, mesmo amando, jamais se permitirá uma troca tão radical de lealdades. Quem age assim, com parcimônia, se mostra melhor ou pior que os outros? É ético ou apenas covarde, incapaz de chegar ao fundo de seus próprios sentimentos?
Difícil.
Por maior que seja a minha simpatia pelos apaixonados, acredito que a gente se move num universo definido por sentimentos e valores. Se estar com o amor da minha vida exige que eu jogue minha biografia pela janela e atropele os sentimentos dos outros como um ônibus desgovernado, bem, talvez não seja o amor da minha vida.
Tendo amado algumas vezes, nem sempre de forma fácil, nunca me foi sugerido que abandonasse alguma parte essencial de mim. Das minhas ideias, do me passado ou dos meus afetos. Suspeito que não aceitaria. Tal como eu entendo, o amor é uma forma elevada de aceitação. Eu venho como sou e com aquilo que carrego. O outro se aproxima com o que traz. Nos encontramos nos braços um do outro, no meio do caminho. Quando essa comunhão não é possível, talvez não seja amor. Talvez seja um equívoco.
Isso não torna mais fácil responder à pergunta inicial do texto. É aceitável abandonar a mulher (ou o homem) da vida inteira por uma última paixão? É lícito causar tamanho sofrimento a quem foi parceiro, amante e confidente por tantos anos – e não tem mais tempo para recomeçar?
Cada um responde a isso de acordo com a sua ética e o seu temperamento. Da minha parte, mesmo sentindo que o amor é o elemento central da existência, ainda assim não acho que ele justifique tudo. Ele não pode ser a medida de todas as coisas. Há lealdades que têm de ser mantidas e laços que precisam ser preservados. Eu me recuso a viver num mundo em que a coisa mais importante seja a minha felicidade. Seria um mundo mesquinho.
Mas a verdade é que eu não tenho 79 anos, não sinto que o meu tempo está acabando, não estou perdidamente apaixonado por uma modelo e não tenho que escolher, de forma tão visceral, entre ser leal e ser feliz. Ainda bem.
http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ivan-martins/noticia/2015/09/paixao-justifica-tudo.html 

Esquerda ou direita: como elas se modernizaram ao longo dos anos

LEANDRO LOYOLA E VINICIUS GORCZESKI
03/09/2015 - 08h02 - Atualizado 03/09/2015 08h02

O discurso de um lado diz: “O pessoal da esquerda, no fundo, não passa de comunistas que querem transformar o Brasil num regime autoritário como a Venezuela”. O do outro retruca: “A turma da direita é herdeira das elites escravocratas e defenderia um golpe militar para proteger as elites”. O Brasil parece hoje mergulhado numa divisão ideológica onde predominam o ódio e a ignorância. É o que se vê nos discursos inflamados nas manifestações de todos os matizes políticos. É o que se lê nas redes sociais. Para reduzir um pouco da incompreensão e estimular o debate, elaboramos um breve resumo das origens, do pensamento, das boas intenções sociais e da face política brasileira da esquerda e da direita.
 
Maximilien Robespierre e Adam Smith (Foto: Hulton Archive/Getty Images)
AS ORIGENS DO PENSAMENTO 

Esquerda

Na Revolução Francesa, no século XVIII, durante os debates da Assembleia Nacional Constituinte, uma ala radical buscava distribuição de terras improdutivas e o fim das regalias dos nobres e ricos. A outra ala, conservadora nos costumes, defendia os privilégios. A ala radical se sentava à esquerda do presidente da Assembleia. Os conservadores, à direita. No fim, a ala da esquerda se impôs e derrubou a lei que isentava os mais ricos de pagar impostos. Era o início da declaração dos direitos do homem e do cidadão. Mais tarde, o filósofo alemão Karl Marx e outro filósofo, Friedrich Engels, defenderam uma revolução para mitigar o que consideravam uma exploração dos industriais e comerciantes contra o trabalhador pobre. As tentativas de pôr em prática essa ideia na Rússia, em Cuba, na China e na Coreia do Norte terminaram em regimes ditatoriais. Com a queda do Muro de Berlim, surgiu uma nova esquerda, democrática, que sabe que só com a administração competente do capitalismo é possível gerar recursos para distribuir benefícios sociais.

Direita
A origem da direita está ligada ao liberalismo, ao livre mercado e à preservação dos direitos individuais. Uma de suas bases fundamentais está no tratado de moral A riqueza das nações, no qual o filósofo escocês Adam Smith postula que a liberdade de mercado faz com que as pessoas, ao buscarem naturalmente o melhor para si, produzam mais e melhor. Em um ambiente de livre concorrência, essa busca individual resultará em maior eficiência, preços mais justos e mais benefícios a todos. No século passado, distorções dos ideais de direita desembocaram em totalitarismo, como o fascismo italiano. No mundo contemporâneo, a direita está associada à revolução promovida, nos anos 1980, pelo  ex-presidente americano Ronald Reagan e pela ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher. Eles privatizaram empresas estatais, desregulamentaram a economia e deram impulso ao livre mercado – além de mostrar claramente que o liberalismo podia trazer oportunidades para a população mais pobre.
>> Está na hora de dialogar

O QUE É A VISÃO MODERNA

Esquerda

A esquerda moderna, que emergiu depois da queda dos regimes da URSS e da Europa socialista, aderiu aos dois consensos básicos da governança moderna no Ocidente – democracia e responsabilidade fiscal. Ela procura criar um bom ambiente de negócios para gerar recursos para o gasto social. O político sueco Olof Palme é considerado um dos fundadores da social-democracia. Dizia que um regime ideal estimula um capitalismo vibrante para criar oportunidades, ao mesmo tempo que o Estado garante serviços de qualidade. Sua frase famosa é:  “É preciso engordar o carneiro do capitalismo, para depois tosá-lo”.
O estudioso inglês Anthony Giddens deu a essa nova esquerda o nome de “Terceira Via”. Nos anos 1990, Giddens apontou o primeiro-ministro britânico Tony Blair, o presidente americano Bill Clinton e o brasileiro Fernando Henrique Cardoso como exemplos dessa nova visão social-democrata. Ele estendeu a classificação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu primeiro mandato.

Direita 
Ao longo do século XX, a direita perdeu para a esquerda a guerra da propaganda. Os intelectuais mais influentes do mundo eram de esquerda e criaram a falsa ideia de que a direita defenderia “os ricos” e a esquerda “os pobres”. Ninguém é contra defender quem mais precisa – daí vem a hegemonia da esquerda na propaganda, apesar de ditaduras como a da União Soviética. Essa situação começou a mudar nos anos 1980, com os governos de Ronald Reagan nos Estados Unidos e Margaret Thatcher na Inglaterra. Thatcher sabia que não bastava cortar gastos e impostos. Era necessário provar à população mais pobre que essa política favorece quem se esforça para melhorar de vida. Hoje se sabe que é ingênuo dizer que uma ideologia está a serviço dos “pobres” e a outra dos “ricos”. Entre os países que mais melhoraram a vida da população carente estão nações “de direita”, com impostos baixos e cultura empreendedora, como a Austrália e o Vietnã (que, paradoxalmente, chama a si próprio de “República Socialista”).
 
Família no Parque Legoland, na Dinamarca (Foto: MyLoupe/UIG via Getty Images )
Escritório no Vale do Silício  (Foto: Ramin Talaie/Corbis)
O QUE PODE FAZER PELA INCLUSÃO SOCIAL 

Esquerda

O pensamento central é que a riqueza precisa ser bem distribuída na sociedade. Para isso, usam-se recursos do Estado para melhorar a qualidade de vida das pessoas, em especial dos mais pobres. A política de esquerda se caracteriza por impostos altos – com benefícios distribuídos com inteligência e critério. A Inglaterra reduziu a oferta de benefícios da previdência. Em troca, investe no serviço universal de saúde de qualidade e gratuito. Não existe Estado de bem-estar social que forneça tudo a sua população de graça, e o melhor exemplo são as economias capitalistas dos países nórdicos. Na superprotetora Dinamarca, a taxa de impostos chega a 49% do PIB. No Brasil, os impostos também são altos: 34% do PIB. Mas aqui os serviços públicos não satisfazem os cidadãos.

Direita 
O pensamento central é que, se o Estado não atrapalha, a riqueza da sociedade cresce. Cresce tanto que os mais ricos faturam e os mais pobres melhoram de vida. A tarefa de fazer a inclusão social cabe mais ao cidadão, por seus próprios esforços. Para a direita, não pode haver desigualdade de oportunidades. Adam Smith já defendia que o Estado deve proporcionar serviços básicos de qualidade – como educação, saúde e segurança. Todos devem ter os mesmos direitos e um ambiente no qual a burocracia não atrapalhe os esforços individuais. Isso significa cobrar menos impostos, para que a riqueza gerada pela população fique com ela mesma. Governos de direita também cobram impostos altos sobre heranças, como uma forma de evitar a perpetuação de dinheiro nas mãos de poucos.

REPRESENTAÇÃO POLÍTICA NO BRASIL HOJE 

Esquerda

Praticamente todos os partidos políticos brasileiros com chance de vencer eleições majoritárias são de esquerda ou se dizem de esquerda. Isso ocorre porque a ditadura militar brasileira, que matou e torturou, era uma ditadura “de direita” – embora na economia fosse “de esquerda”, com viés fortemente estatizante. Marxistas de São Paulo que frequentavam os mesmos bares e as mesmas festas fundaram o PT e a ala esquerda do PMDB – que depois se tornou uma dissidência dentro do partido e adotou o nome de PSDB. Uma dissidência ecológica do PT fundou o PV, onde se formou Marina Silva.  Os três principais candidatos que concorreram às eleições presidenciais no Brasil se definiam como de esquerda ou centro-esquerda: Dilma Rousseff, Aécio Neves e a própria Marina. No meio acadêmico existem dois tipos de esquerda. Uma sente saudades do nacional-desenvolvimentismo dos anos 1970. A outra se dedica ao estudo de como tornar as políticas públicas mais eficientes e como viabilizar um Estado de bem-estar social. Fazem parte desse contingente economistas liberais como Ricardo Paes de Barros, um dos criadores do Bolsa Família.

Direita
No Brasil, a rigor, a direita não chegou à política partidária. No máximo, foi influenciada no século passado por pensadores como o diplomata e sociólogo José Guilherme Merquior e o economista e ex-ministro Roberto Campos. Não existem hoje partidos de direita com representação no Congresso Nacional. Não vale citar os Democratas (DEM) e o Partido Progressista (PP), que dizem abrigar políticos conservadores. Na prática, o PP é um aliado do PT no governo federal desde o primeiro mandato do presidente Lula (2003-2006) e boa parte de sua bancada endossou a política econômica praticada pela presidente Dilma Rousseff – que pode ser tudo, menos liberal. Os Democratas se mantiveram na oposição, mas é difícil que algum de seus integrantes se declare “de direita”, devido ao preconceito associado ao termo. A pequena militância de direita no Brasil vem de jovens oriundos de instituições como o Instituto Millenium e o Instituto Liberdade, que pregam a crença no livre mercado e num Estado enxuto. Existem também pequenas iniciativas como o Partido Novo, do engenheiro carioca João Amoedo. A falta de uma direita com representatividade é ruim para o debate democrático no Brasil.

http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2015/09/esquerda-ou-direita-como-elas-se-modernizaram-ao-longo-dos-anos.html 

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Aneeeeeeeeeeeem

Até eu chorei heheheh



Eduardo Costa - Sapequinha

Eu acho o Eduardo Costa meio estranho, mas a música é boa/ animada / to dançando hehehe



terça-feira, 1 de setembro de 2015

Como uma erupção vulcânica em 1815 escureceu o mundo todo

William J. Broad


Em abril de 1815, a explosão vulcânica mais poderosa já registrada na história abalou o planeta em uma catástrofe tão vasta que, 200 anos depois, os investigadores ainda estão lutando para entender suas repercussões. Até agora, eles já perceberam que a erupção teve um papel no esfriamento do clima, no colapso da agricultura e nas pandemias globais -- e até deu origem a monstros famosos.
Em uma das exuberantes ilhas das Índias Orientais Holandesas -- a Indonésia de hoje -- a erupção do Monte Tambora matou dezenas de milhares de pessoas, que foram queimadas vivas, atingidas por pedras ou morreram depois de fome, já que as cinzas pesadas sufocaram as colheitas.
Mais surpreendente ainda, os investigadores descobriram que uma nuvem gigante de partículas minúsculas se espalhou pelo globo, bloqueando a luz do sol e produzindo três anos de esfriamento planetário. Em junho de 1816, uma nevasca atingiu o norte do Estado de Nova York. Em julho e agosto do mesmo ano, geadas assassinas devastaram fazendas na Nova Inglaterra. Chuvas de granizo caíram sobre Londres o verão todo.
Um relato recente do desastre, "Tambora: The Eruption that Changed the World" ("Tambora: a Erupção que Mudou o Mundo", em tradução livre), de Gillen D´Arcy Wood, mostra que os efeitos planetários foram tão extremos que muitos países e comunidades passaram por ondas de fome, doenças, agitação civil e declínio econômico. Plantações morreram em todo o mundo.
"O ano sem verão", como 1816 ficou conhecido, tornou-se a origem não apenas de pinturas de pores do sol vermelho-fogo e céus tempestuosos, mas de dois gêneros de ficção gótica. A prole excêntrica foram Frankenstein e o vampiro humano, figuras que têm assombrado a arte e a literatura desde então.
"As pistas de papel", diz Wood, professor de Inglês na Universidade de Illinois, "sempre voltam para Tambora".
A explosão gigante -- 100 vezes maior do que a do Monte Santa Helena -- e a mortalha que se estendeu sobre o mundo todo estão sendo cada vez mais estudadas por cientistas, que tentam entender não apenas o passado climatológico do planeta, mas a possibilidade de que desastres parecidos aconteçam no futuro.
Clive Oppenheimer, vulcanologista da Universidade de Cambridge, que estudou a catástrofe de Tambora, acha que a chance de uma explosão parecida acontecer nos próximos 50 anos é relativamente baixa -- talvez 10 por cento. Mas as consequências, afirma, poderiam ser extraordinariamente terríveis.
"O mundo moderno está longe de ter imunidade contra impactos potencialmente catastróficos", explica Oppenheimer.
Antes da explosão, Tambora era o cume mais alto em uma terra de picos enevoados. Ficava na ilha tropical de Sumbawa, com pináculos alcançando quase cinco mil metros. Há muito adormecida, a montanha era considerada morada dos deuses. Havia vilas em suas encostas e por perto os fazendeiros plantavam arroz, café e pimenta.
Na noite de cinco de abril de 1815, de acordo com relatos da época, chamas apareceram em seu pico e a terra sacudiu por horas. Então, o vulcão ficou silencioso.
Cinco dias depois, o pico explodiu com um barulho ensurdecedor de fogo, pedras e cinzas ferventes que foi ouvido a centenas de quilômetros dali. Rios flamejantes de pedras derretidas desceram a montanha, destruindo florestas tropicais e vilarejos. Dias depois, ainda furioso, mas vazio, o vulcão se quebrou; de repente ele perdeu 1,5 quilômetro de altura.
Estima-se que 100 mil pessoas morreram no local. Sumbawa nunca se recuperou.
As repercussões foram globais, mas ninguém percebeu que a morte e o caos generalizados tiveram origem em uma erupção do outro lado do mundo. O que surgia eram casos de folclore regional. Os habitantes da Nova Inglaterra chamaram 1816 de "mil oitocentos e congele até a morte". Os alemães diziam que 1817 foi o ano do mendigo. Esses e muitos outros episódios locais permaneceram desconhecidos ou sem conexão um com o outro.
Foram os cientistas que começaram a montar uma imagem mais clara do episódio, especialmente da união peculiar da explosão vulcânica e do clima gélido. Um objetivo comum foi separar as flutuações naturais do clima daquelas com origem humana. Muitos estudos se voltaram para a Nova Inglaterra e seu verão gelado de 1816.
Wood expandiu a representação do evento em sua obra, que deve sair como livro de bolso no mês que vem. O relato traz centenas de documentos científicos, unidos ao conhecimento do autor sobre a literatura do século 19, para detalhar os três anos do caos planetário, assim como a origem dos demônios fictícios.
"Meu interesse era entender o evento global", conta ele em uma entrevista. "E isso significava fazer um trabalho sério de detetive em vários arquivos desconhecidos." Os cinco anos de pesquisa o levaram à China, Europa e Índia.
Também o transportaram para Tambora, onde enfrentou sanguessugas e folhas cortantes para espiar a bocejante caldeira, que tem 6,5 quilômetros de um lado a outro.
A explosão da montanha, diz o livro, jogou cerca de 50 quilômetros cúbicos de matéria terrestre a uma altura de mais de 40 quilômetros. Enquanto as partículas grossas caíram logo, as mais finas viajaram em ventos fortes formando uma nuvem que se espalhou. "Passou", segundo Wood escreveu, "sobre o Polo Norte e o Polo Sul, deixando um rastro de sulfato impresso no gelo para que os paleoclimatologistas descobrissem mais de um século e meio depois".
O véu global, muito acima das nuvens de chuva, refletiu os raios de sol de volta para o espaço. E assim o planeta esfriou. A mortalha, diz Wood, também gerou tempestades aqui embaixo.
Em seu livro há uma impressão de um quadro a óleo de 1816 da Baía de Weymouth, uma caverna abrigada na costa sul da Inglaterra, de John Constable -- o céu sobre ela agitado com nuvens negras. "Em todos os lugares", conta Wood, "os ventos vulcânicos sopraram fortemente." Ele diz que tanto os relatos históricos como os modelos de computador dão conta das tempestades poderosas da época.
As partículas altas na atmosfera também produziram pores do sol extraordinários, como mostram as famosas pinturas de J. M. W. Turner, o inglês pioneiro em paisagens. Seus céus vermelho vívido, afirma Wood, "parecem propaganda para o futuro da arte".
Os fatos também podem ser revividos em romances locais, nenhum mais importante para a história da literatura do que o nascimento do monstro Frankenstein e do vampiro humano. Isso aconteceu no lago Genebra, na Suíça, onde alguns dos mais famosos nomes da poesia inglesa passaram um feriado de verão.
Em 1816, a Suíça, que não tem litoral, mas é famosa por suas montanhas, estava começando a sofrer com o mau tempo e a morte das plantações. Batalhões de pessoas famintas invadiram as padarias depois que os preços do pão aumentaram. O livro reconta a agonia de um padre: "É terrível ver esses esqueletos andantes devorando as comidas mais repulsivas com tanta avidez".
Naquele junho, o clima frio e as tempestades fizeram com que os turistas ingleses procurassem refúgio em uma casa ao lado do lago para se esquentar perto do fogo e trocar histórias de fantasmas. Mary Shelley, então com 18 anos, fazia parte do grupo literário que incluía Percy Shelley, seu futuro marido, e Lord Byron. Havia muito vinho, assim como láudano, um tipo de ópio. As velas cintilavam.
Nessa atmosfera pesada, Mary Shelley inventou seu horripilante conto sobre Frankenstein, que publicou dois anos depois. E Byron escreveu as primeiras ideias das histórias de vampiro modernas, publicadas mais tarde por um compatriota como "O Vampiro". O tempo ruim também inspirou o poema apocalíptico de Byron "Trevas".
O livro de Wood documenta várias outras repercussões do esfriamento do planeta, devotando um capítulo para a pandemia de cólera em 1817 que começou na Índia e matou globalmente dezenas de milhões de pessoas. Wood acredita que a doença se propagou por meio de uma combinação fatal de mudanças nas monções e de chuvas ininterruptas -- a teoria principal dos mais importantes estudiosos do cólera.
A pandemia se espalhou e, no final, alcançou as Índias Orientais Holandesas. Somente em Java matou quase 125 mil pessoas -- mais, nota Wood, "do que as que morreram na própria erupção do vulcão".
Ele também fala sobre o frio glacial na província de Yunnan ao sul da China, uma terra de montanhas e florestas com tigres e elefantes. As plantações de arroz rapidamente morreram, e a fome perdurou por anos. Em julho de 1816, diz Wood, a província sofreu com nevascas sem precedentes.
O poeta Li Yuyang, que tinha 32 anos quando o Tambora começou a devastar o mundo, escreveu sobre as chuvas frias e as enchentes em "A Sigh for Autumn Rain" ("Um Suspiro para a Chuva de Outono", em tradução livre.)
A água caindo das calhas me deixa surdo. As milhares de pessoas correndo das casas que desabam. E dezenas de milhares, porque a devastação da chuva é pior do que o trabalho de ladrões. Os tijolos quebram. As paredes caem. Em um instante, a casa se foi.
Wood fecha o livro com um retrato do leste dos Estados Unidos em 1816, focando primeiro no norte do Estado de Nova York. Um dia naquele junho, quatro jovens estudantes andavam para a escola, a maioria sem sapatos. Então começou uma nevasca. Mandadas para casa mais cedo, as crianças correram para salvar suas vidas enquanto a neve chegava já a seus joelhos. Elas conseguiram alcançar uma cabana quente com lareira.
Para Thomas Jefferson, a dor durou mais. Em suas terras na Virgínia, o terceiro presidente aposentado dos Estados Unidos encarou um verão desastroso em 1816 por causa da temporada curtíssima de plantação. O ano seguinte foi tão ruim quanto.
Em uma carta, Jefferson expressou a preocupação sobre a possível ruína de sua fazenda Monticello "se as temporadas, contra o curso da natureza observado até aqui, continuarem a ser constantemente hostis para a nossa agricultura".
As inúmeras vítimas e alguns beneficiários da fúria do Tambora não sabiam das raízes vulcânicas de suas circunstâncias, afirma Wood, fazendo com que o desafio de escrever sobre isso seja formidável e "às vezes alucinante".
É mais comum, diz ele, que a revelação de uma ruína vulcânica global -- um retrato que está sendo formado há 200 anos -- ofereça um tipo de meditação sobre as dificuldades de se descobrir os sutis efeitos das mudanças climáticas, se as origens estão na fúria da natureza ou nos subprodutos invisíveis da civilização humana.
É, segundo Wood, "duro de ver e não menos difícil de imaginar".
http://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/the-new-york-times/2015/09/01/como-uma-erupcao-vulcanica-em-1815-escureceu-o-mundo-todo.htm