sábado, 26 de fevereiro de 2011

Paredes vermelhas

Devia ser umas nove e meia, dez da manhã. Lá fora o sol começava a surgiu, mas a névoa ainda era bastante forte. Frio, muito frio. 

Era quase impossível conseguir ter ânimo pra ir pra aula naquelas condições.

Da janela, iluminada pela luz ainda fraca do sol, dava para ver os prédios da universidade, um pouco da cidade. Vermelhos claros. Amarelos. Vermelhos.

Um cheiro de sala fechada. De ar condicionado. De vontade de conhecer todas aquelas pessoas ali. 

O cheiro eu não esqueço. Nem das pessoas. Nem da professora, do brasileiro da sala que virou meu amigo, da Silvia me explicando o que era um "ombelico".

E o sol começando a clarear o vermelho da rua.


quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Chuva

Chuva forte = caos em sp



Anem.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A democracia é para todos? hélio schwartsman


Alguns leitores se queixaram do que consideraram um tom colonialista na minha coluna da semana passada. Salvo melhor juízo, referem-se a um trecho do último parágrafo no qual afirmei que o Egito, por tratar-se de uma sociedade razoavelmente industrializada e letrada, e não uma tribo indígena perdida no meio da Amazônia, deveria, sim, tentar instituir uma democracia autêntica.

Reconheço uma postura, talvez não colonialista, mas certamente paternalista. E receio que essa seja uma das armadilhas impostas pela modernidade à qual não se pode escapar.

Comecemos com um experimento mental ao qual já recorri em outras ocasiões. Vamos supor que o governo brasileiro, em súbito arroubo civilizatório, decidisse invadir "manu militari" todos os territórios ianomâmis para neles estabelecer eleições diretas por sufrágio universal para o cargo de chefe da tribo. As Forças Armadas, auxiliadas pela inestimável PF, abririam à bala caminho para as urnas eletrônicas, tecnologia 100% nacional. Não é preciso PhD em antropologia para perceber que essa seria uma ação violenta e absolutamente injustificável.

Num caso como o de índios isolados ou nem tanto é fácil perceber que não podemos impor-lhes o nosso conceito de democracia ou mesmo de representação. A noção de eleição direta para chefe não faria muito sentido para eles. Se quisermos ser verdadeiramente democráticos, devemos respeitar a chamada autodeterminação dos povos, deixar que as aldeias sigam seu modo milenar de gestão política e social, mesmo que incluam práticas que sejam tipificadas como crime em nosso Código Penal, a exemplo do espancamento de mulheres e do infanticídio.

Nos últimos anos, principalmente por conta do trabalho de autores como o geógrafo Jared Diamond, vem se popularizando a noção de que encontros entre civilizações com graus muito díspares de tecnologia resultam quase que inevitavelmente na destruição da sociedade menos desenvolvida. O fenômeno não ocorre apenas devido a uma atitude belicosa por parte dos que possuem melhores armas, como foi o caso da conquista das Américas, mas também por uma série de outros mecanismos.

O mais efetivo deles, pelo menos no nosso continente, foi a guerra microbiana. A maioria das doenças com características epidêmicas surgiu depois que o homem desenvolveu a agricultura e passou a viver em grandes cidades. Assim, populações citadinas não apenas desenvolveram resistência a elas como carregam para onde vão cepas atenuadas de vírus e bactérias que não lhes causam mal, mas podem ser fatais para sistemas imunes que não as conhecem.

Um pouco por caprichos do destino, um pouco pelo acúmulo de trocas com a Ásia e a África, as doenças europeias eram mais letais para os ameríndios do que a recíproca inversa. Foi assim que a varíola e a gripe causaram mais baixas entre os índios do que os conquistadores Pizarro e Cortés juntos.

Mais sutil mas não menos importante é a assimetria do choque cultural. Se encontrarmos amanhã uma nova comunidade humana, com hábitos totalmente inesperados, isso significará, para nossa civilização, pouco mais do que a abertura de um novo capítulo na antropologia, no máximo, na psicologia, se julgarmos que suas atitudes afrontam o que chamávamos de natureza humana. Já quando índios descobrem o homem branco, é o próprio mundo como eles o conheciam que rui, com a introdução de novas tecnologias, doenças, línguas, conceitos consubstanciados em mudanças bruscas.

A melhor forma de preservar essas culturas e a própria existência física dos indivíduos que as constituem é fazer de tudo para evitar o contato, como vem sendo a diretriz da Funai para tribos isoladas nos últimos tempos. Trata-se sem dúvida de paternalismo, pois nem ao menos damos aos índios a possibilidade de decidir qual modo de vida preferem. Mas é sempre oportuno lembrar que a alternativa a esse paternalismo costuma ser o genocídio, às vezes até com boas intenções, como é o caso de missões de catequização, mas ainda assim genocídio.

À luz dessas ideias, vale a pena perguntar: a democracia é de fato um universal, um princípio que deve valer para todos os povos independentemente de tradições, hábitos e cultura política? Por maior que seja nosso apego à ideia de sociedade aberta, acho difícil dar um "sim" incondicionado como resposta.

A questão que se impõe então é saber o que diferencia um ianomâmi de um egípcio, chinês ou qualquer outro povo que ainda não tenha abraçado integralmente as delícias da democracia. Por que estamos dispostos a respeitar quase incondicionalmente os costumes dos índios brasileiros, mas denunciamos como farsa --e muito justamente, diga-se-- o discurso lulo-itamarateca de que é preciso seguir o princípio da não interferência em relação a iranianos e cubanos? Como conciliar o respeito à chamada autodeterminação dos povos (sem o qual a CIA teria legitimidade para armar o que quisesse nos país que desejasse) com o primado do respeito aos direitos humanos (que nos autoriza a criticar os irmãos Castro e os aiatolás)?

A resposta, se existe, não é trivial. Uma possibilidade é considerar que a autodeterminação é um princípio válido, mas condicionado. Ela deve ser respeitada desde que direitos humanos de outros grupos não estejam ameaçados. Acho que essa é a interpretação que vem prevalecendo. É com base nela que o Ocidente agiu na ex-Iugoslávia, por exemplo. Não bastou, entretanto, para evitar o genocídio de Ruanda e, atualmente, em Darfur (Sudão).

Embora eu acredite que se deve mesmo agir supranacionalmente quando um grupo ameaça concretamente a existência de outro, sou forçado a reconhecer que a defesa desse princípio coloca dificuldades. Não há governo no mundo que não fira em alguma medida direitos humanos. Que direitos precisam estar ameaçados e em que grau para que seja lícito agir contra um país?

É fácil chegar a um acordo quando falamos de grandes genocidas como Hitler ou Pol Pot. Mas e quando há repressão sistemática contra um grupo mas que não chega a ameaçar sua existência física? Penso nos casos dos palestinos e dos curdos, entre vários outros povos que lutam por um Estado. Quantos devem morrer para que repressão se torne massacre e massacre se torne um genocídio a exigir e justificar uma intervenção humanitária?
Vale notar que também corremos o risco de cair no extremo oposto. Se formos defender operações globais contra qualquer ameaça a direitos, nos veremos em maus lençóis. Um exemplo: até 1971 (outro dia, em termos históricos), mulheres suíças não tinham o direito de votar em eleições federais. Tratava-se, sem dúvida, de clara ameaça a direito de metade da população helvética. Devíamos então ter enviado os tanques da Otan contra Berna? Perdoem-me as mulheres, mas seria ridículo.

Voltando à diferença entre ianomâmis e egípcios, talvez devêssemos então decretar que a democracia é um valor que deve ser respeitado a partir do momento em a sociedade atinge um certo grau de sofisticação. O Ocidente deixa os ianomâmis em paz, mas pode cobrar a realização de eleições livres nos países árabes, como fazia em relação ao Leste Europeu.

Estou convencido de que a resposta é por aí, mas isso não impede que surjam mais perguntas incômodas. Qual o grau de "civilização" a partir do qual se torna obrigatório seguir a democracia? E o que fazer no caso de vitória eleitoral de um grupo que tenha em sua agenda elementos antidemocráticos, como poderia ocorrer no Egito na hipótese de a Irmandade Muçulmana triunfar e tentar impor a "sharia", a lei muçulmana, a todo o país?

Longe de mim querer diminuir o valor e a importância da democracia. Como Churchill, acredito que ela é o menos pior dos regimes que experimentamos até aqui. Também não sou um advogado do relativismo. Não creio que o saber dos povos da floresta valha tanto quanto a civilização ocidental. Mas daí não se segue que tenhamos o direito de passar o trator por cima de tudo o que não se encaixe nos princípios que consideramos universais.

A grande verdade é que pensamos através de metáforas e conceitos aos quais gostamos de atribuir realidade. A partir de um certo ponto, acabam mesmo ganhando alguma materialidade. O problema é que o mundo, com seu amplo matiz de nuances, nem sempre se ajusta a nossas ideias. Nessas situações, é sempre melhor ser pragmático. No dia a dia de nosso planetinha, incontáveis crimes ocorrem por razões de ordem prática, como "você bateu no meu carro", "você roubou minha mulher". Mas, quando se trata de crimes de lesa-humanidade, como genocídios e faxinas étnicas, é sempre algum idealismo que está por trás.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Voce quer um lenço de papel?

Hoje no onibus a mulher do meu lado me deu um pacotinho de lenco de papel, pq eu tava gripado...

Quem diria que uma coisa simpatica dessa ia acontecer em sao paulo, ne!

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011