terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Um dia...

Jantar com os amigos

Cerveja com a namorada

Comida de barraquinha

Almoço com todos juntos

..

E a esperança de que, o que é nosso, tá guardado.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Índia é país milenar e agitado


MARINA DELLA VALLE
ENVIADA ESPECIAL À ÍNDIA
Nova Déli, aeroporto internacional Indira Gandhi, 5h50. Um empregado dirige um carrinho de bagagem impossivelmente lotado, tira uma fina de um grupo de senhoras sonolentas e segue buzinando sem parar. Bem-vindo à Índia!


E a primeira sensação que envolve o recém-chegado é a de atordoamento. No segundo país mais populoso do mundo (1,2 bilhão de habitantes), cujo crescimento econômico é galopante (10,4% em 2010), tudo parece desmedido: as cores são berrantes, o sol cega, a poeira é onipresente, o termo "comida picante" atinge outros níveis.

A segunda sensação é de incredulidade. Como conseguem enfiar tanta gente/carga em um ônibus/caminhão/jipe/riquixá? Como não ficam surdos com tanta buzina?

Sim, é verdade: quase todo caminhão leva a frase: "Por favor, buzine". E buzinam. Todos. Com ou sem obstáculo pela frente, o tempo todo. Parece que a única regra de trânsito é buzine e siga em frente, seja qual for a circunstância.

Um dos principais destinos místicos do mundo, foi na Índia que surgiram quatro religiões importantes: o hinduísmo, o budismo, o jainismo e o siquismo. Por ali também se instalaram desde cedo o cristianismo, o zoroastrismo e o islamismo.
Marina Della Valle/Folhapress
Fiéis tomam banho matinal no rio Ganges, em Varanasi
Fiéis tomam banho matinal no rio Ganges, em Varanasi

O censo de 2001 mostrou que 80,5% da população indiana se identifica como seguidor do hinduísmo, religião de panteões intrincados e diversas vertentes, inerente ao dia a dia e à paisagem indiana -taxistas e ambulantes fazem seus altares pessoais, e mesmo os menores espaços abrigam templos.

Do encontro com essa cultura milenar e tão peculiar ninguém sai indiferente, e o choque cultural funciona para o bem e para o mal.

A beleza dos templos e da riqueza histórica e cultural causa impacto, assim como as indefectíveis pilhas de lixo na rua. A fé da população impressiona, e também a pobreza de parte dela. O convívio com animais fascina, mas causa desconforto em boa parte dos estrangeiros que precisam passar por eles.

E assim segue a Índia, em seu passo característico, produzido tanto por seu desenvolvimento econômico veloz quanto pela preservação de práticas religiosas e sociais milenares, numa combinação muito própria.
Arte/Folhapress

Era PT


O capitalismo brasileiro só desabrochou, e com ele o Brasil, depois que o presidente Lula e aliados empurraram o Partido dos Trabalhadores para o centro, fechando o consenso nacional em torno da economia de mercado.

Esse grande movimento tem um significado maior do que o compreendemos hoje porque seus desdobramentos ainda não acabaram.

Já está claro, porém, que o PT foi o partido que mais se beneficiou até aqui do sucesso do capitalismo brasileiro. Prova disso foram os números de aprovação recorde de 59% ao final do primeiro ano de mandato de Dilma Rousseff, divulgados esta semana pela Folha, acima da aprovação de Lula de 50% ao final do primeiro ano do segundo mandato.

É um número glorioso para uma presidente que não abraça o populismo (apesar da convivência com Lula e Brizola), aparece muito menos que seu antecessor, tem capacidade muito menor de comunicação e enfrentou uma série de escândalos.

A própria pesquisa Datafolha revela os motivos da aprovação: 46% dos brasileiros acham que economia vai melhorar e só 13%, que ela vai piorar. Mais importante, 60% acham que a sua própria situação financeira vai melhorar.

Esse otimismo econômico mesmo em um ambiente de crise externa revela o quanto o projeto PT é fruto e refém do sucesso das políticas pró-capitalismo que abraçou (que chamava, ainda chama, de "neoliberais"), como o atual processo de privatização dos aeroportos.

Foi o sucesso do capitalismo que deu a Lula e agora dá a Dilma esse patamar de popularidade. Só no ano passado foram criadas 1,9 milhões de vagas formais no Brasil. Em 2010, foram criados 2,5 milhões de novas vagas. São os dois anos de maior criação de empregos formais na série histórica do Ministério do Trabalho. Desde 2003, ano zero do lulopetismo, 14,8 milhões de vagas formais foram criadas no país.

Esse trabalhador segue empregado e quer continuar sua ascensão socioeconômica. Na campanha eleitoral de 2010, ele viu em Dilma a melhor guardiã do modelo econômico que lhe permite vida melhor. Foi muito mais essa aposta na continuidade do modelo econômico do que o carisma pessoal de Lula que elegeu Dilma.

Seu governo agora está calibrando a economia no curto prazo para manter índices de crescimento, emprego e renda robustos o suficiente para garantir a reeleição do PT em 2014. A condução econômica pode ser de curto prazo do lado econômico, mas ela é de longo prazo no lado político.

Vendo daqui, as chances de uma quarta vitória petista nas eleições de 2014 (com Lula ou Dilma) são enormes, emendando, pelo menos, 16 anos de governos nacionais do PT e consolidando o partido como a maior força política do Brasil moderno.

Para a vitória em 14, e muito mais, o lulo(dilmo)petismo só precisa não tirar dos trilhos o ciclo virtuoso da economia brasileira alavancado pelo mercado interno, com a ascensão de dezenas de milhões de brasileiros ao consumo, e pelo mercado externo, via exportação de commodities e atração de capitais.

Todas essas grandes tendências, que aumentam a formalização da economia, são geradoras de enorme caixa para os cofres dos governos, que nunca arrecadaram tanto. Esse bônus tributário sem precedentes dá muita margem de manobra para o governo atuar no sentido de se sustentar no poder.

Na interessante entrevista que deu ao site da revista "Economist", o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso diz que o PSDB em geral tem mais força nas regiões mais avançadas economicamente, "áreas onde o mercado é mas forte e as pessoas, menos dependentes do governo".

A maior dessas áreas é São Paulo, e será aqui que Lula e a máquina governista concentrarão tropas e fogo nas eleições municipais deste ano. Se levar São Paulo, o reinado petista conquista não só o centro do poder tucano, como o centro do poder econômico. E ganha muito mais força para consolidar seu projeto de hegemonia do poder político nacional.

Para conquistar São Paulo, o PT irá mais para o centro. E isso só reforçará sua penetração no eleitorado.

Por todos esses motivos, as chances de a era PT coincidir com a maior era de prosperidade do Brasil são enormes. Ela pode durar tanto quanto o atual ciclo de prosperidade, e ele parece duradouro.

Bastam moderação e boa gestão.
Sérgio Malbergier
Sérgio Malbergier é jornalista. Foi editor dos cadernos "Dinheiro" (2004-2010) e "Mundo" (2000-2004), correspondente em Londres (1994) e enviado especial da Folha a países como Iraque, Israel e Venezuela, entre outros. Dirigiu dois curta-metragens, "A Árvore" (1986) e "Carô no Inferno" (1987). Escreve para a Folha.com às quintas.

Por favor, me surpreenda!


Por que as mulheres abominam a rotina?

IVAN MARTINS
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IVAN MARTINS É editor-executivo de ÉPOCA (Foto: ÉPOCA)
Tenho uma confissão a fazer: não gosto de surpresas. Sei que muita gente acha isso essencial ao convívio, mas não é meu caso. Toda vez que alguém anuncia que tem uma surpresa, eu sofro. Deve ser trauma, pode ser culpa, mas talvez seja bom senso.
Lembro de uma amiga, psicóloga, que me contou sobre um paciente dela. O sujeito vivia se queixando de que o sexo com a mulher dele era chato e previsível. Pois um dia, depois de muito reclamar, ele chegou em casa e a mulher, normalmente passiva, o esperava na cozinha de sandália alta e trajes menores, e se atirou sobre ele. O cara levou um susto enorme, seus membros inferiores encolheram, (como ocorre com os homens assustados) e ele retornou à analista, no dia seguinte, dizendo que queria a mulher dele de volta – aquela tímida e previsível, como ele gostava.
Podem rir, mas essas coisas acontecem o tempo todo.
Um amigo me contou sobre a namorada que um dia foi apanhá-lo no trabalho com uma peruca loira, tipo Marilyn Monroe. Ele demorou a reconhecê-la e, mesmo depois de perceber quem era, entrou no carro incomodado, sentindo-se desconfortável. “Não era a minha garota”, ele me disse. Claro que não era. Ela estava fantasiada para realizar uma fantasia, mas tinha se esquecido de combinar com ele. O cara detestou, ela ficou desapontada com a falta de imaginação e receptividade dele, e o namoro começou a fazer água bem ali. Bela surpresa.
A favor do meu ponto de vista, nem vou invocar aquela máxima cínica (e certeira) que recomenda não chegar de viagem sem avisar a parceira (ou parceiro). O gesto romântico de surpreender a namorada um dia antes do previsto já causou muita separação – sem falar em violência e crime.
Com o risco de ser sexista, acho que talvez exista uma diferença na forma como homens e mulheres vêem essas coisas. Tenho a impressão de que na mente das mulheres as palavras surpresa e erotismo andam enlaçadas. O homem perfeito, a melhor transa, o romance inesquecível – tudo isso parece estar associado ao inesperado. Enquanto os homens abraçam os hábitos com a felicidade de quem veste uma calça velha, as mulheres se inquietam com a repetição. Parecem precisar do estímulo da novidade, ainda que seja uma mera encenação – como a moça de peruca no carro do amigo. Por alguma razão que a vasta maioria dos homens desconhece, mulheres exigem a ruptura da rotina para terem paz. Olham para a sua cara na tarde de sábado como quem pergunta: “e aí, não vai fazer nada heróico, espetacular ou incrivelmente sedutor para mostrar que me ama”? A Emma Bovary que há em cada uma delas exige novidades.
Isso tudo, evidentemente, no terreno afetivo. Quando se trata do dia-a-dia, a tendência das mulheres é ficar brava se você atrasa, não telefona, não faz, não paga, não vai. A imprevisibilidade (alguém já disse?) é a virtude dos amantes. Dos maridos e namorados espera-se o cumprimento atencioso da lei e a manutenção pacífica da ordem – no horário de serviço. Depois, seria de se esperar que o esforçado provedor virasse um Don Juan intrépido, capaz de escalar a sacada com um maço de flores e disposição infatigável (e ademais, poética) para os embates do amor. 
Estou exagerando, claro. Conheço dezenas de casais que se acomodaram à rotina como quem se deita numa rede depois do almoço, de forma absolutamente confortável. Mas a verdade é que eu não sei (quem sabe?) o que se passa na cabeça das mulheres desses casais. Estariam felizes? A literatura histórica e moderna sugere que não. Ao menos não inteiramente. O romantismo delas parece não caber numa relação 3x4, preto e branco, sala cozinha e banheiro, barba e cabelo, cama e mesa.
Quando eu era criança, ouvia minha mãe cantar na cozinha uma música que dizia exatamente isso: “Lembro-te agora/ Que não é só casa e comida/ Que prende por toda vida/ O coração de uma mulher”. Descobri, anos depois, que se tratava de um samba de Ataulfo Alves que ficou famoso na voz da Dalva de Oliveira. O nome é “Errei, sim”. Lindo. Foi composto em 1950, mas ainda faz sentido. Quem não conhece pode escutar aqui, com a Paula Toller, num vídeo simpático de celular.
Por isso tudo, os homens capazes de surpreender levam vantagem na relação com as mulheres, mas eles são poucos. Passado o entusiasmo inicial, quando o cérebro funciona 100% do tempo no modo sedução, quase todos se deixam largar no sofá e se acomodam. É preciso ser um apaixonado aplicado para continuar pensando no que faria a sua mulher feliz – e dar-se ao trabalho de surpreendê-la. Encher o iPod com as músicas favoritas dela antes de entregá-lo de presente, por exemplo. Ou marcar uma viagem na data do aniversário de namoro sem avisá-la. Essas atenções parecem fazer toda a diferença. Não são grandes surpresas, eu sei, e talvez seja melhor assim – as pessoas sonham com grandes emoções e enormes arrebatamento, mas talvez precisem apenas de afeto, claro e simples.

Guia politicamente incorreto da história do Brasil

Depois de muito tempo, voltei a ler. No aeroporto comprei um livro que me chamou a atenção pelo título e pela capa. Li quase todo na ida e na volta! Muito interessante.

O livro procura desmistificar alguns personagens da história do Brasil. Mostra defeito nos heróis (ou mocinhos) e aborda um lado positivo daqueles esquecidos (ou dos vilões).

Bastante interessante. Ao referenciar todas as afirmações com textos, dissertações e livros, torna ainda mais emblemática o questionamento de que os mals (assim que escreve) podem ter algo de bom; e que os bons podem também ter algo de mal...

Guia politicamente incorreto da história do Brasil -  Leandro Narloch

Aniversário de SP

Hoje é aniversário de São Paulo. Não que isso seja muita coisa... Mas pelo menos foi um feriado, eu corri com o Talles, tomamos cerveja com direito a banho de mangueira (enfim, o verão chegou).

Daí fui abrir meu email para ver as coisas interessantes que envio do trabalho pra depois publicar aqui no blog. O último é uma reportagem que meu estagiário me enviou, e que (infelizmente) retrata bem o perfil e o pensamento do paulistano, que comemora hoje o aniversário da cidade que nunca dorme...


Leitor critica protetores de usuários de crack em São Paulo

LEITOR SANDRO CASTELLI
DE SÃO PAULO

http://www1.folha.uol.com.br/paineldoleitor/1033082-leitor-critica-protetores-de-usuarios-de-crack-em-sao-paulo.shtml


Acredito que haja uma solução imediata sobre o destino dos ususários de crack do centro de São Paulo. Os alegados protetores das vítimas do crack podem convidar os usuários a instalarem-se em frente aos portões de suas casas.


Esse grupo de protetores, composto por defensores e promotores públicos, especialistas sociais, jornalistas engajados, jovens alegres e churrasqueiros das redes sociais podem ficar com esses usuários até que se crie condições ideais de combate e tratamento.
Estou certo de que o status patrimonial deles é superior ao dos dependentes como, também, ao dos moradores e comerciantes da Nova Luz. Trata-se, portanto, de ônus social com o qual devem arcar.

Por coerência, não recorrerão à polícia quando forem iniciadas a gritaria, as brigas, os assaltos. Quando seus canteiros forem transformados em banheiro e a entrada de suas residências forem bloqueadas. Tão pouco fecharão os olhos diante de grávidas, cadeirantes e crianças de cachimbo na mão.
Felix Lima - 7.jan.2012/Folhapress
Usuários de crack fogem de bombas de efeito moral e balas de borracha disparadas pela PM
Usuários de crack fogem de bombas de efeito moral e balas de borracha disparadas pela PM
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sábado, 21 de janeiro de 2012

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Eike para presidente

Por Sérgio Malbergier, da Folha


Ser rico no Brasil sempre foi uma ofensa sociológica. Eike Batista chegou para acabar com isso. Ele não é só um bilionário desinibido, confiante, assumido. O pai de Thor é também carismático, empreendedor genuíno, obcecado com o cabelo, nosso primeiro Donald Trump, com bestseller nas livrarias e um senso de autopromoção que pode levá-lo, quem sabe, a subir a rampa do Palácio do Planalto.
Lembro que nos anos 1980, quando os japoneses inventavam coisas geniais como o walkman e eram vistos como os chineses são vistos hoje, era comum dizer que o Brasil deveria ser dado para eles administrarem. Tínhamos todos os atributos de uma nação rica, mas éramos tão mal geridos (naquele lodaçal do final da ditadura até o Plano Real) que deixados a nós mesmos nosso destino seria o fracasso.
Depois de tentarmos todas as coisas difíceis, o Brasil finalmente se encontrou no óbvio: democracia e economia de mercado. Chegamos com um atraso enorme em relação aos nossos primos norte-americanos (com quem devemos nos comparar por dimensão e ambição, e não com nossos pequenos vizinhos latinos), mas capitalismo e democracia, mesmo que tardios e imperfeitos, nos fazem muito bem.
E agora as coisas andam mais rápidas. A população brasileira, empreendedora por necessidade, abraçou o capitalismo e foi.
Sob o governo de Lula, o primeiro presidente pobre do Brasil, pobres e ricos enriqueceram juntos. Quando a maré sobe, todos os barcos sobem.
Trabalhar finalmente tornou-se instrumento efetivo de ascensão social no país.
E se ainda é difícil ficar rico, pelo menos está mais fácil ficar mais rico do que se era, com o desemprego abaixo de 6% e renda em alta.
Já temos 145 mil milionários no Brasil (com US$ 1 milhão disponível para investir), segundo cálculo recente de um banco estrangeiro. É um número ainda pequeno numa população de 200 milhões de habitantes, mas está crescendo.
Nossos velhos ricos sempre foram muito reservados, como se Balzac tivesse razão ao dizer que atrás de toda fortuna tem um crime. De fato, a distribuição de riqueza no Brasil sempre foi caso de crime contra a humanidade, parido na escravidão colonial.
Mas as coisas estão mudando. Nossos novos ricos, confiantes e desinibidos, desfilam seu sucesso e seu dinheiro como troféus a inspirar os observadores. São principalmente pequenos empreendedores ou grandes profissionais liberais que estão formando uma nova camada de poder que pode ter a força de mudar o Brasil.
A mudança jamais virá dos políticos, a revolução não será televisionada pela TV Senado.
Precisamos de mais empreendedores ativistas fora de suas empresas. Eles são fundamentais e transformadores.
Por exemplo: o apoio e o engajamento do empresário Guilherme Leal, bilionário fundador da Natura, na campanha de Marina Silva foi o que possibilitou ela ter votação tão expressiva.
Não precisamos mais dos japoneses para tocar o Brasil. Nossos empreendedores são os nossos japoneses. São eles, mais do que qualquer político ou partido, que estão desenvolvendo o país.
Sérgio Malbergier
Sérgio Malbergier é jornalista. Foi editor dos cadernos "Dinheiro" (2004-2010) e "Mundo" (2000-2004), correspondente em Londres (1994) e enviado especial da Folha a países como Iraque, Israel e Venezuela, entre outros. Dirigiu dois curta-metragens, "A Árvore" (1986) e "Carô no Inferno" (1987). Escreve para a Folha.com às quintas.

Capitalismo de Estado brasileiro é ambíguo, diz 'Economist'


O Brasil é o mais ambíguo dos países a praticar o capitalismo de Estado, segundo a revista britânica The Economist.
Em uma reportagem sobre as economias conduzidas pelo governo, a reportagem comenta o modelo brasileiro, que mistura práticas liberais com práticas intervencionistas, adotadas em países como Rússia e China.
O Brasil é um dos casos citados na matéria de capa da revista, "A mão visível", em um trocadilho com o termo liberal "mão invisível da economia", cunhado por Adam Smith, em A Riqueza das Nações, no século 18.
Com o líder soviético Vladimir Lênin na capa, a publicação diz que o capitalismo de Estado tem se tornado um modelo ascendente.
A revista lembra ainda que a presença do Estado na economia brasileira foi ainda mais forte no passado. No começo dos anos 1980, o país tinha mais de 500 estatais.
A guinada aconteceu na década seguinte, com a privatização de boa parte das empresas públicas. No entanto, de acordo com a revista, o Estado voltou a se fazer presente com força na economia nos últimos anos.
"O governo despejou recursos em um punhado de (empresas) campeãs, particularmente no setor de recursos naturais e telecomunicações", diz a publicação.
Segundo a Economist, "de um líder das privatizações nos anos 1990", o Brasil agora pressiona sua maior mineradora, a Vale, "para manter funcionários que não precisa, além de obrigar uma série de companhias menores a embarcar numa consolidação subsidiada", diz.
A reportagem cita o exemplo da fusão de Sadia e Perdigão e a compra da Brasil Telecom pela Oi e diz ainda que o governo força a Petrobras a usar equipamentos nacionais para aquecer a economia interna, mesmo quando há similares estrangeiros mais competitivos.

'Leviatã como acionista minoritário'

Economist afirma que a grande inovação do capitalismo de Estado brasileiro é a prática que chama de "Leviatã como acionista minoritário", termo emprestado de um estudo conduzido pelos professores Sergio Lazzarini, do Insper, de São Paulo, e Aldo Musacchio, da Harvard Business School.
O termo faz referência ao mito que simboliza o Estado, o Leviatã, que dá título ao clássico da filosofia política, escrito por Thomas Hobbes no século 17.
A revista ressalta que o Estado brasileiro é acionista minoritário em uma série de empresas privadas e que, apesar de não ter o controle acionário, o governo tem voz suficiente para mudar o curso dos negócios de acordo com seus interesses.
Baluarte do liberalismo econômico, a revista ironicamente faz alguns elogios ao modelo brasileiro, que cita como "bom exemplo", ao lado dos investimentos do fundo soberano de Cingapura.
Ainda assim, a Economist faz um alerta sobre os perigos do modelo.
"O capitalismo de Estado frequentemente reforça a corrupção, porque aumenta o tamanho e as opções de prêmios para os vitoriosos", diz, lembrando que os principais expoentes do modelo ocupam posições nada louváveis no ranking de corrupção da Transparência Internacional: o Brasil está em 73º lugar, a China em 75º e a Rússia em 143º.