sábado, 31 de maio de 2014

Igor é encrenca

Definitivamente, Igor é terrível e desnecessário hahahahahha

Governo proíbe fumo em locais fechados e amplia alerta nos maços

Filipe MatosoDo G1, em Brasília

O Ministério da Saúde anunciou neste sábado (31), Dia Mundial Sem Tabaco, novas regras de combate ao fumo, que incluem o fim da propaganda de cigarros, a extinção dos fumódromos em ambientes coletivos e a ampliação de mensagens de alerta em maços de cigarro vendidos no país.

A regulamentação da lei antifumo será publicada nesta segunda-feira (2) no "Diário Oficial da União" e as regras passarão a valer em até seis meses.

Segundo o governo, os fumantes não serão fiscalizados. Poderá ser punido somente o estabelecimento que desobedecer as normas. Locais de comércio e restaurantes, por exemplo, deverão orientar os clientes sobre a lei e pedir para que não fumem, podendo chamar a polícia quando alguém se recusar a apagar o cigarro.
A lei antifumo foi sancionada pela presidente Dilma Rousseff em dezembro de 2011, após ter sido aprovada no Congresso Nacional, e desde então estava sem regulamentação, que define como e quando deve ser aplicada.
Conforme a lei, fica proibido o fumo em locais coletivos fechados em todo o país, com exceção das tabacarias e dos cultos religiosos.
Segundo o ministro da Saúde, Arthur Chioro, o ponto principal da regulamentação é a definição de quais são os locais onde não poderá haver consumo e venda de tabaco. As regras preveem que as pessoas não poderão fumar em lugares públicos ou privados (acessíveis ao público) que possuam cobertura, teto, parede, divisórias ou toldos. Em varandas de restaurante com toldo, por exemplo, não será permitido o fumo, bem como na área coberta de pontos de ônibus. As normas também valem para narguilés ou qualquer tipo de fumígeno, mas não abrangem cigarros eletrônicos, pois, segundo Chioro, eles não são legais no Brasil.
Segundo especialistas, o cigarro está associado a 26% das mortes por todos os tipos de câncer. Dados do governo apontam que o tabagismo está ligado a 200 mil mortes no Brasil por ano
Propaganda e embalagens
De acordo com as regras, qualquer propaganda de cigarro será proibida. Segundo Chioro, com a proibição de qualquer propaganda, inclusive em "displays" (painéis para anúncios), como ocorre hoje. A única forma de exibição dos maços deverá ser em locais de venda, mas, ainda assim, com 20% do espaço ocupado pela mensagem de alerta.
"É importante deixar claro que toda e qualquer propaganda de tabaco no Brasil, em relação a todos os produtos fumígenos, está proibida. Tudo em termos de propaganda sobre o que é fumável e legal no nosso país está proibido", disse Chioro.
A partir de agora, 100% da face de trás da embalagem e uma das faces laterais terão que ter imagem e mensagem sobre os problemas relacionados ao fumo. A partir de janeiro de 2016, na parte frontal da embalagem, 30% do espaço será destinado a mensagens de alerta. Atualmente, este tipo de mensagem só é estampada na parte de trás dos maços de cigarro.

Fiscalização e punição
Os estabelecimentos que desrespeitarem as regras poderão receber advertência, multa, ser interditados e ter a autorização de funcionamento cancelada. As multas irão variar de R$ 2 mil a R$ 1,5 milhão, de acordo com a infração. As vigilâncias sanitárias dos estados serão responsáveis pela fiscalização.
Segundo o diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Dirceu Barbano, a pessoa que estiver em um restaurante e se incomodar com o fato de alguém fumar deverá, primeiro, pedir ao estabelecimento que tome providências. Caso o responsável pelo restaurante se negue, a orientação é que a pessoa, então, denuncie o caso à Vigilância Sanitária.
Consumo e riscos
Pesquisa divulgada neste sábado pelo Ministério da Saúde diz que 11,3% dos adultos que vivem nas capitais do Brasil fumam. Em 2006, o índice era de 15,7%. Os homens são os que mais fumam, com índice de 14,4%. O percentual entre as mulheres é de 8,6%. Os fumantes passivos têm 30% a mais de chance de ter complicações respiratórias.
No ano passado, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou 1,4 milhão de diárias por internação relacionada ao tabagismo, ao custo de R$ 1,4 bilhão aos cofres públicos. A estimativa do governo é que, neste ano, sejam registrados 16,4 mil novos casos de câncer de pulmão.
O secretário de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa, afirmou durante entrevista coletiva neste sábado que o tabagismo é responsável por 200 mil mortes no Brasil por ano. Além disso, está relacionado a 90% dos casos de câncer de pulmão; 85% das mortes por bronquite; 45% das mortes por infarto agudo do miocárdio; 25% das doenças vasculares e 30% das mortes decorrentes de outros tipos de câncer.
Entenda os males do cigarro
Segundo especialistas, o cigarro está associado a 26% das mortes por todos os tipos de câncer. No caso de tumores no pulmão, esse índice aumenta para 84%. Além desta doença, o cigarro pode causar alterações na voz, principalmente das mulheres, que podem adquirir uma voz grossa e totalmente diferente por infecção nas cordas vocais.
Em apenas um dia sem fumar, já é possível ter benefícios para a saúde, segundo a cardiologista Jaqueline Issa. É preciso ainda prestar atenção em outros sintomas de problemas na garganta, como dor, dificuldade para engolir ou respirar e sensação de caroço na região.
Segundo os médicos, o cigarro pode também afetar a tireoide, causando hipotireoidismo e levando ao ganho de peso, especialmente na região abdominal. Mulheres fumantes com mais de 50 anos, por exemplo, têm entre três a quatro vezes mais chances de ter hipotireoidismo que a população em geral.
Fora a alteração na voz e a rouquidão, o cigarro pode ainda causar também perda óssea nos dentes. Isso acontece porque a nicotina e outros componentes agridem a gengiva e a raiz dos dentes.
Infográfico cigarro x coração (Foto: G1)


sexta-feira, 30 de maio de 2014

O clube dos encoxadores

IVAN MARTINS
28/05/2014 08h12

Vocês se lembram do caso do homem foi preso em São Paulo ao tentar violentar uma moça dentro de um trem urbano, não? Aconteceu faz uns três meses. A moça chegou à delegacia com o braço machucado e a calça rasgada. Estava suja de sêmen do sujeito, um estudante de administração. “Não me aguentei”, ele disse ao delegado. A polícia contou, depois, que antes de atacar a moça, o cara lia uma página do Facebook em que tarados deixam comentários sobre os melhores locais e horários para se esfregar em mulheres no transporte público. É o clube dos encoxadores.
Ontem tentei descobrir o que aconteceu com o estudante preso em flagrante, mas não há mais notícias sobre ele. O caso sumiu, como as coisas somem na internet depois que o público de desinteressa por elas. O problema dos encoxadores, porém, continua.
Qualquer um que respeite as mulheres oscila entre o ódio e o desprezo por esse tipo de sujeito. Imagine a sua mulher, a sua namorada, sua filha de 14 anos num trem lotado e, atrás dela, babando, um escroto se aproveitando da situação. Se a mulher for boa de briga e destemida, pode rodar a baiana e se livrar do canalha. Mas nem todas são assim. Muitas se amedrontam com a situação ou protestam timidamente, e acabam insultadas pelo agressor. Um trem lotado às 7 da noite, cheio de homens, pode não ser o lugar mais acolhedor do mundo para as queixas femininas. É por isso que existem, na Índia e no Rio de Janeiro, vagões exclusivos para as mulheres. Eles representam a admissão de uma derrota da civilização, mas podem ser uma forma de combater o problema. É caso a se pensar.

Mas difícil é lidar com o clube dos encoxadores da internet. A polícia diz que há uns 40 sites em que eles trocam vídeos e comentários sobre o que fazem. Um deles tinha 12 mil freqüentadores.
Um mês antes de ser preso em flagrante, o estuprador de São Paulo deixou depoimentos no Facebook em que dividia com outros tarados a sua excitação em circular por trens e metrôs da cidade, se esfregando nas mulheres. “Encoxadas viciam. Consensuais, mais ainda. Meu tesão está incontrolável”, ele escreveu. Eu, que desconfio das palavras, gostaria de entender o que esse tipo de personalidade chama de “consensual”. Agarrar pelo braço até machucar, rasgar as calças da moça e gozar nas costas dela como um bicho, no meio de um lugar público, seria consenso? Como ele foi pego, certamente não. Mas, se tivesse escapado, poderia voltar ao Facebook para se gabar de ter achado uma “encoxatriz” sensacional no trem da CPTM. Quem poderia desmenti-lo?
Também me preocupo com quem frequenta esse tipo de página da internet. Não se trata de grupos em que homens e mulheres combinam para se esfregar nos vagões dos trens. Contra isso não haveria nada a dizer. Encontros sexuais que a maioria das pessoas acharia esquisito ocorrem o tempo todo, em toda parte do mundo. A única regra universal é que são produto de um acordo entre duas ou mais pessoas, e ocorrem de forma totalmente voluntária. O que acontece no site dos encoxadores nada tem a ver com isso. São apenas homens discutindo onde emboscar as mulheres e como desfrutar do corpo delas. É uma conversa de predadores. O sujeito que tentou estuprar a moça no trem da CPTM punha seu nome de batismo no Facebook e informava o seu estado civil. Devia achar normal o que dizia. Não houve ninguém para avisar que ele estava louco, que aquilo que ele fazia era inaceitável, que poderia ser preso, como foi. Seus colegas de página curtiam os posts e escreviam comentários de incentivo. Por quê?

Pode-se partir do princípio de que todos os visitantes desse tipo de sites são também estupradores, mas eu duvido. Se pudesse apostar, diria que a maioria é formada por masturbadores inofensivos que vivem num planeta moral que orbita ao lado do nosso. É também o planeta de um tipo de fetichista que extrai prazer de roçar intencionalmente nas mulheres, sem o consentimento delas, especialmente em lugares públicos. Os homens que têm esse tipo de desvio sexual são chamados de frotteristas, palavra que vem do verbo francês frotter, que quer dizer raspar. Alguns psicólogos consideram isso uma patologia, outros, não. O código penal brasileiro diz que é crime.

Para a mulher que está no ônibus e se sente fisicamente prensada por um homem excitado, não interessa se é um velho fetichista ou um adolescente idiota que está seguindo as recomendações de um amigo espertalhão. Importa que ela posse gritar bem alto e que o cara saiba que, se não sair correndo, vai ser levado à polícia e fichado. Importante, também, é as pessoas que participam desses grupos de molestadores na internet saberem que estão sendo monitoradas pelas autoridades. Numa noite qualquer de quarta-feira, um carro de polícia pode parar na porta da casa delas e levá-las para serem indiciadas. É só uma questão de tempo antes que isso aconteça e que um monte de encoxadores e filmadores vire notícia no Fantástico. Quando isso acontecer, será uma pequena vitória das mulheres sobre os tarados – e da civilização sobre a barbárie.

Ivan Martins escreve às quartas-feiras.
http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ivan-martins/noticia/2014/05/o-clube-dos-bencoxadoresb.html

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Nao adianta tirar onda de fortinho, ter barriga de tanquinho, se a mangueira não funciona

Apenas pirando nessa música!



Taxação de heranças: o problema não é herdar riqueza, e sim pobreza

Leonardo Sakamoto

Dia desses, após participar de um debate, fui abordado por uma mulher muito simpática que tentou me convencer a abandonar o libelo comunista da taxação de grandes heranças. Explicou que poderia me recomendar boas leituras para entender como esse tipo de medida afundou Cuba.
Quando contei que um outro país notoriamente comunista, os Estados Unidos, mordia até 40% da herança, ela ficou indignada. Comigo, não com o Tio Sam. Afinal, isso não é argumento que se use! Afinal, nos Estados Unidos é diferente. Sempre é… Disse a ela que seria ótimo se, no Brasil houvesse algo semelhante, com progressividade (os mais ricos sendo mais cobrados) e teto de isenção (o do Tio Sam é de 5 milhões de dólares por pessoa). Por aqui, nós temos o Imposto sobre Transmissão, Causa Mortis e Doação (ITCMD), que pode adotar valores como 2,5%, 4% ou 6%, com tetos de isenção que chegam a algumas centenas de milhares de reais, variando de Estado para Estado. Não faz nem cócega.
Para quem não sabe, uma das razões que leva aos bilionários norte-americanos a criarem fundações é que essa doação conta com isenção tributária.
Já tratei de taxação de grandes heranças várias vezes, mas a história da desconsolada moça – como é que um rapaz que parece tão esperto pode defender um troço desses – me faz resgatar a discussão. É justo que todos que suaram a camisa e conseguiram guardar algum queiram deixar uma vida mais confortável para seus filhos e netos. Contudo, a partir de uma determinada quantidade de riqueza, o que seria apenas garantir conforto transforma-se em transmissão hereditária da desigualdade social e de suas consequências.
Thomas Pinketty cutucou a onça com vara curta em seu novo livro, que virou sucesso inclusive nos EUA. O jornalista Clóvis Rossi também passou anos discutindo a evolução da renda do capital e do trabalho em sua coluna na Folha de S.Paulo. Quem quiser resgatá-las, terá um ótimo debate sobre nossa realidade.
Enfim, como já disse aqui antes, quem tem muito deveria, ao passar desta para a melhor, entregar parte do possuía para proporcionar oportunidades a quem tem menos. Atenção: não estou dizendo para entregar dinheiro vivo a quem não tem nada, caros leitores que não gostam de ler. Estou falando em usar os recursos para a execução de políticas públicas de educação, cultura, lazer, moradia, alimentação, enfim, vocês entenderam, direitos básicos. Afinal de contas, como é possível que, por lei, todos nasçam iguais em direitos se alguns vêm ao mundo sistematicamente “mais iguais'' que outros?
Dessa forma, dentro de algumas gerações, conseguiríamos suavizar esse degrau brutal entre as diferentes castas que convivem por aqui.
Novamente, não estou sugerindo que todos usem uniforme caqui, morem em alojamentos coletivos e cozinhem ensopado de batata.
Mas, como ouvi um dia de um político consciente, o ultrajante não é alguém morar em um apartamento de 400 metros quadrados enquanto outro vive em um de 40. O que desconcerta é alguém desfrutar de um apê de 4 mil metros quadrados enquanto outro apanha da polícia para manter seu barraco em uma ocupação de terreno, seja em Itaquera, Grajaú, Osasco, Pinheirinho, Eldorados dos Carajás, onde for.
Alguns vão dizer que estou louco, que isso vai contra a ideia de propriedade privada, pilar sobre o qual nossa civilização está construída (Zzzzzzzz…) E que, sem a possibilidade de herança, tudo vai desmoronar, ninguém vai querer investir no desenvolvimento do país, plantaremos juta para roupas costuradas com espinho de peixe e faremos chá de capeba ou pariparoba para curar todas as doenças. Nós vamos viver em cavernas! NÓS VAMOS VIVER EM CAVERNAS!
A força de um futuro imposto sobre heranças, que morda progressivamente, na proporção do tamanho da fortuna, não reside apenas nos recursos que ele é capaz de arrecadar, mas no simbolismo de um Estado que assume o papel de corrigir distorções históricas e de tratar desiguais de forma desigual.
Ele tem o mesmo DNA de projetos como a redução da jornada de trabalho sem redução de salário, aumento da licença maternidade, taxação de grandes fortunas, correção dos índices de produtividade da terra, entre outros, que são tratados por muitos como o tabu de dormir com a mãe.

Por isso a moça que me abordou pode dormir sossegada. Não estamos na iminência de mudanças que tornem o país estruturalmente mais justo. O momento agora é de transformação. Mas pequenininha, sabe? Para quê mexer em time com o qual se ganha horrores, não é mesmo?
http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2014/05/28/taxacao-de-herancas-o-problema-nao-e-herdar-riqueza-e-sim-pobreza/

Raiva

Sério, base de dados que não conversam me estressam profundamente.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

G1 ouviu: Skank retorna após 6 anos, cantando sobre protestos e Messi

Braulio LorentzDo G1, em São Paulo

"Velocia", primeiro de inéditas do Skank em seis anos, é o melhor CD do grupo em muito, muito tempo. Como a banda definiu em texto que acompanha o álbum, é um trabalho que consegue representar (bem) todas as fases do grupo mineiro.
O décimo disco de estúdio do quarteto deve ser lançado em 13 de junho, um dia após a estreia do Brasil na Copa. Mas o craque cantado é argentino, em letra de Nando Reis. "Hendrix, Elvis, Messi e hoje / Brilha nova estrela dessa galáxia", canta Samuel Rosa. "Aléxia" homenageia os gols e bolas na trave que não alteram o placar, mas sem versos tão diretos quanto os de "É uma partida de futebol". Nando também assina com Rosa outras quatro músicas, com destaque para a contundente "Multidão", com participação do rapper BNegão. O Skank mostra que ainda sabe ficar indignado. Com levada reggae, dá pinta de ser sobre os protestos no Brasil, por conta de versos sobre pessoas "na rua de novo": "A multidão está com fome / O pão vem do trabalho do homem".
O também rapper Emicida participa apenas como compositor, sem rimar como já havia feito com a banda em "Presença". Ele assina com Rosa a boa "Tudo isso" e a não tão boa "Rio Beautiful". Essa tem arranjo eletrônico fofinho-chato e só engrena no refrão, bonito que só ele.
O disco serve para reforçar a parceria da banda com Nando Reis, mas também apresenta novos reforços. Lucas Silveira, do Fresno, mostra que vai além do emo e das músicas que emulam Muse. "Do mesmo jeito" é do naipe (de metais) de "Saideira". "Périplo", outra com letra de Nando Reis, também vai pelo pop rock dançante. Em nenhum momento, porém, a banda se solta tanto como no último grande hit deles, "Vou deixar".
 O Skank abriu o Palco Mundo, no sexto dia de Rock in Rio, neste sábado. (Foto: Flavio Moraes/G1)Skank toca no Rock in Rio (Foto: Flavio Moraes/G1)
Tal qual o disco anterior do Skank, que tinha Negra Li em "Ainda gosto dela", o Skank bota uma voz feminina para trazer um pouco de doçura ao disco. A escolhida é Lia Paris. A paulistana de 28 anos colabora em uma das canções mais sem sal do disco, "Aniversário". "Esquecimento", balada indicada aos que curtem "Resposta", é infinitamente melhor.
Associado ao período mais pop do Skank, Dudu Marote volta a produzir a banda. A fase de maior sucesso do quarteto surgido em 1991, graças aos discos "Calango" (1994) e "O samba Poconé" (1996), teve Dudu como produtor. Ele parece ter ajudado o grupo a passear do lado mais pretensioso e beatlemaníaco ao mais festivo e descompromissado, sem solavancos.

Quem acompanha o Skank merecia um disco como "Velocia" com baladas, reggaes e pop rocks bem acima da média do que é tocado em rádios.
http://g1.globo.com/musica/noticia/2014/05/g1-ouviu-skank-retorna-apos-6-anos-cantando-sobre-protestos-e-messi.html

Livro de economista celebridade será lançado no Brasil em novembro

Do G1, em São Paulo

“Capital no século XXI”, a polêmica obra do francês Thomas Piketty, que levantou um debate mundial sobre a desigualdade, vai ser lançada em novembro no Brasil, pela editora Intrínseca. Desde que foi traduzido para o inglês, neste ano, o livro ganhou notoriedade e transformou seu autor em um economista celebridade. Na obra, ele concluiu que o capitalismo está aumentando a desigualdade entre ricos e pobres.
A publicação vem sendo considerada até uma atualização do livro de Karl Marx, “O Capital”. Em abril passado, chegou a liderar a lista dos livros mais vendidos durante algumas semanas no site da Amazon, desbancando até as obras de ficção ou auto-ajuda. Mesmo ainda sem tradução para o português, o título era o 43º mais vendido da Amazon no Brasil na última terça (27).
Segundo o economista francês, a desigualdade está aumentando porque o rendimento dos investimentos (alugueis, ações, aplicações) tem sido maior que o da renda obtida com o trabalho. Assim, quem tem dinheiro sobrando para investir vê o montante crescer mais que os que não têm.
Como possível solução, Piketty defende elevar o imposto pago pelos mais ricos.
O livro foi elogiado por renomados economistas e publicações especializadas, mas foi criticado pelo jornal britânico “Financial Times”, que apontou erros nos cálculos.
Veja abaixo perguntas e respostas sobre o livro e Piketty:
- Quem é Thomas Piketty?
Economista francês, ele é autor do livro “Capitalismo no século XXI”, que mostra que o modelo econômico aumentou a desigualdade nos últimos 30 anos com a concentração de renda. Isso acontece porque o retorno financeiro (de aplicações, alugueis e lucros) cresce mais que os salários. Assim, quem tem dinheiro sobrando e investe multiplica sua riqueza de forma mais rápida do que quem produz.

- Por que ele se tornou uma celebridade?
O livro foi publicado primeiro em francês, mas ganhou notoriedade após ser traduzido para o inglês, neste ano. Piketty demonstrou ter encontrado uma contradição central no capitalismo que, em vez de dar oportunidades iguais de crescimento para todos, estaria tornando a desigualdade mais extrema, já que quem tem mais dinheiro consegue a riqueza em escala maior.  Além disso, apesar de usar uma grande base de dados, a obra não está escrita em "economês", diz a revista "The Economist".
- Como o economista chegou a essa conclusão sobre o capitalismo?
Ele analisou uma quantidade grande e diversificada de dados econômicos e de renda de 20 países. Para ter uma noção mais real da desigualdade, Piketty usa dados fiscais, de imposto de renda. Segundo ele, as pessoas, principalmente as de maior renda, não informam exatamente o que ganham em pesquisas, o que distorce a realidade.
Capa do livro de Thomas Piketty em inglês (Foto: Reprodução)Capa do livro de Thomas Piketty em inglês
(Foto: Reprodução)
- Há alguma relação com "O Capital", de Karl Marx?
A obra é considerada informalmente uma atualização do livro de Marx, que apontava o capitalismo como fonte de desigualdade e propunha o socialismo como solução. Piketty aponta que, se por um lado, o caos previsto por Marx não aconteceu, por outro não reduzimos a desigualdade econômica tanto quanto crescemos e que isso prejudica a democracia – por dar oportunidades e espaço diferente às pessoas – e causa descontentamentos.
- Que repercussão o livro teve?
Piketty foi elogiado por ganhadores do prêmio Nobel e chamado para dar  palestra ao governo americano e ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Paul Krugman, da Universidade de Princeton, afirmou que o livro "será o mais importante trabalho de economia do ano - talvez da década", e Joseph Stiglitz, da Universidade Columbia, disse que a "contribuição fundamental" de Piketty havia sido fornecer dados sobre a distribuição de riqueza. A revista "Economist" chamou o autor de “maior que Marx”.
- O que o autor propõe para reduzir a desigualdade?
Piketty defende um imposto global sobre a riqueza, ou seja, que as pessoas mais ricas paguem mais imposto de renda. Nos EUA, ele sugere que quem tem renda anual acima de US$ 1 milhão (cerca de R$ 2,2 milhões) pague taxas acima de 80%, o que iria desestimular o pagamento de salários muito altos. Já as rendas acima de US$ 200 mil (R$ 440 mil) seriam taxadas em 50% ou 60%.
- Há críticas negativas ao livro?
Sim, o jornal britânico “Financial Times” diz ter feito uma investigação sobre os cálculos usados no livro e descoberto que há erros nas fórmulas e dados inseridos sem explicação. A publicação diz que limpou e simplificou os dados e não chegou à conclusão de que está havendo aumento da desigualdade na Europa, por exemplo. Segundo o "FT", outros especialistas têm preocupações parecidas.
- O que Piketty fala sobre as críticas?
O economista diz que os dados brutos foram ajustados para a análise, já que as informações sobre riqueza não são padronizadas, mas que se espantaria se cálculos mais detalhados modificassem as concussões sobre o aumento da desigualdade. Além disso, ele diz que dados mais recentes e não usados no livro apontam que a concentração de renda nos EUA se exacerbou ainda mais.
- O livro analisa a desigualdade do Brasil?
Não, o argentino Facundo Alvaredo, que integra a equipe de Piketty em Paris, disse que desde 2008 tenta obter – sem sucesso – os dados anônimos de Imposto de Renda do Brasil com a Receita Federal, mas não conseguiu, por isso o país ficou de fora do livro.
- O trabalho dele parou por aí?
Não, Piketty tem um site com os números coletados – The World Top Incomes Database – e está levantando mais números de cerca de 50 países, disse à BBC Brasil o argentino Facundo Alvaredo, que integra a equipe de Piketty em Paris.
http://g1.globo.com/economia/noticia/2014/05/livro-de-economista-celebridade-sera-lancado-no-brasil-em-novembro.html

terça-feira, 27 de maio de 2014

Com 'zero real' no bolso, brasileiro viaja o país e quer chegar ao México

Flávia MantovaniDo G1, em São Paulo

Quando diz a alguém que está viajando pelo Brasil sem dinheiro, Leonardo Maceira costuma ter que explicar de novo. “A pessoa acha que eu quero dizer que estou levando pouco dinheiro. Aí eu digo que na verdade estou viajando com ‘zero real’”, diz o curitibano de 23 anos.
Leonardo numa caminhada de 18 km até o Vale do Capão, na Bahia (Foto: Leonardo Maceira/Arquivo pessoal)Leonardo numa caminhada de 18 km até o Vale
do Capão, na Bahia
(Foto: Leonardo Maceira/Arquivo pessoal)
No início deste ano, Leonardo saiu de Curitiba para uma viagem sem trajeto definido nem data para terminar.
Tinha R$ 70 na carteira – dinheiro que ele gastou logo na primeira saída em São Paulo, seu primeiro destino. Desde então, já passou por mais de 20 cidades em 10 estados, deslocando-se apenas de carona e dormindo na casa de desconhecidos.
A ideia inicial era ir até Salvador. Mas, após um período na estrada, ele decidiu que irá, no mínimo, até o México, e pensa até em seguir para outros continentes nesse mesmo esquema. “Quando saí de Curitiba, achava que ia ser uma loucura. Mas foi mais fácil do que imaginava e decidi aumentar o roteiro”, conta
Jogador de futebol e fotógrafo
Leonardo Maceira no Vale do Capão, na Bahia (Foto: Leonardo Maceira/Arquivo pessoal)Leonardo Maceira no Vale do Capão, na Bahia (Foto: Leonardo Maceira/Arquivo pessoal)
Filho de uma professora e de um vendedor, Leonardo saiu de casa cedo, aos 16 anos, para atuar como jogador de futebol de salão profissional na Itália. Quatro anos depois, voltou para o Brasil e trabalhou nas áreas de cinema e fotografia.
Não sou hippie, sou um cara comum, com uma mochila nas costas"
Leonardo Maceira
Quando decidiu partir para a viagem, trabalhava como fotógrafo e fazia um curso na área. O tema proposto pela escola para o trabalho de conclusão, “O lugar de cada um”, despertou seu lado aventureiro e o inspirou a cair na estrada. Ele batizou a viagem de “Os lugares de cada um”, no plural, e criou uma página no Facebook com esse nome na qual posta atualizações e fotos sobre o seu dia a dia.
Ele nunca havia viajado de carona antes. “Não sou rico, mas também nunca fui pobre. Estudei em bons colégios. Em Curitiba o pessoal falava que estava louco de viajar assim”, conta. “Eu não sabia o que responder porque eu nunca tinha feito e não sabia como seria. Mas eu acreditava que ia dar certo, não sabia como, mas acreditava nessa ideia.”
No início da viagem, pegava carona principalmente com caminhoneiros, em postos de gasolina. Com o tempo ele ficou mais confiante e passou a pedir carona também no meio da estrada, principalmente para carros.
Dengue e noite no posto
Leonardo com um trator que encontrou uma noite que teve que caminhar por mais de 3 horas na estrada (Foto: Leonardo Maceira/Arquivo pessoal)Leonardo com um trator que encontrou uma noite que teve que caminhar por mais de 3 horas na estrada (Foto: Leonardo Maceira/Arquivo pessoal)

Quase todos os que pararam para ele até hoje são homens – apenas duas mulheres o levaram nesses quase cinco meses de viagem. Ele costuma perguntar à pessoa por que resolveu ajudá-lo. “Elas dizem que eu tenho cara de inocente, que ficam com pena. Não sou hippie, sou um cara comum, com uma mochila nas costas.”
Dinheiro causa estresse, pois você está sempre pensando na melhor forma de gastá-lo. A partir do momento em que fiquei realmente sem dinheiro, estava livre. Posso fazer o que eu quiser, tenho todo o tempo do mundo. Nada me para"
Leonardo Maceira
O trecho mais difícil foi entre Aracaju e Maceió. Após ficar a tarde toda esperando, ele teve que caminhar durante três horas pela estrada escura, por 20 km, até chegar a um posto de gasolina, o primeiro sinal de civilização que encontrou. Passou a noite no posto, conversando com o proprietário, até que amanheceu e ele conseguiu alguém que o levasse.
Outro momento difícil foi quando ele contraiu dengue, na última semana, em Recife. Tomou soro e injeção no hospital e melhorou após quatro dias. “Tive muita febre. Achei que ia morrer. Foi o pior momento”, diz, já de volta à estrada – no momento da entrevista, na última quarta-feira (21), ele estava na praia de Pipa, no Rio Grande do Norte.
Leonardo afirma que não vê esses contratempos como problemas. “Na hora é complicado, mas quando eu chego no lugar eu fico feliz por ter vivido aquilo”, diz.
Fazenda e ecovila
Na Praia do Forte, na Bahia (Foto: Leonardo Maceira/Arquivo pessoal)Na Praia do Forte, na Bahia (Foto: Leonardo Maceira/Arquivo pessoal)
Durante toda a viagem, ele vem se hospedando na casa de desconhecidos. Inicialmente o contato era por meio do Couchsurfing (site que reúne pessoas que oferecem e buscam hospedagem gratuita em várias cidades do mundo). Atualmente, já há pessoas que entram em contato com ele para oferecer estadia por meio de sua página.
O tipo de lugar onde ele já dormiu varia muito – de casas de estudantes à enorme fazenda de uma senhora rica, passando por uma ecovila.
Leonardo pegando carona para Maceió (Foto: Leonardo Maceira/Arquivo pessoal)Leonardo pegando carona para Maceió
(Foto: Leonardo Maceira/Arquivo pessoal)
A comida ele também ganha de seus anfitriões e de donos de estabelecimentos que oferecem uma refeição quando ficam sabendo de sua história. No início da viagem, Leonardo chegou a perder 13 kg. “Eu estava muito empolgado, andava demais e ficava na casa de uma pessoa que comia pouco. Mas não sofri por isso. Também já fui a muitos churrascos, aniversários e festas de casamento”, conta.
Leonardo diz que não faz ideia de quando vai terminar sua viagem. Depois de chegar ao México viajando pela América Latina e pelo Caribe, pensa em ir para os Estados Unidos e atravessar o oceano em direção à Europa como tripulante em algum navio.
Para ele, viajar sem dinheiro traz liberdade. “Dinheiro causa estresse, pois você está sempre pensando na melhor forma de gastá-lo. A partir do momento em que fiquei realmente sem dinheiro, estava livre. Posso fazer o que eu quiser, tenho todo o tempo do mundo. Nada me para”, diz.

Ele tambem acredita que não vai se cansar da falta de rotina: “Sou bem desapegado. E me sinto em casa em qualquer lugar”.
http://g1.globo.com/turismo-e-viagem/noticia/2014/05/com-zero-real-no-bolso-brasileiro-viaja-o-pais-e-quer-chegar-ao-mexico.html

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Visita ao Museu de História Não Natural

Dorrit Harazim, O Globo

Vista de fora, a estrutura de vidro prateado do Museu do Memorial desconcerta um pouco pela assimetria oblíqua. É que a construção visível da esplanada onde ruíram as Torres Gêmeas no atentado de 11 de setembro de 2001 tem forma de algo à deriva. Uma imponente nau sem proa, talvez.
Visto de dentro, o vasto átrio de entrada é neutro e despojado, com iluminação natural e chão de madeira clara. Emana calmaria. Nada que prepare o visitante para o sombrio mergulho às suas entranhas, expostas 21 metros abaixo. O impacto é tão contundente que as longas filas de espectadores percorrem os espaços praticamente em silêncio. A condição humana parece pequena diante da dimensão do que é mostrado.
Os 10.200 metros quadrados do museu devem ser dos poucos territórios do mundo em que o uso do celular é permitido, mas (ainda) não se vê ninguém dedilhando mensagens de texto ou clicando selfies. Mesmo adolescentes que mal tinham nascido naquele dia radioso e apocalíptico de 2001 se esquecem de compartilhar a descoberta do horror.
A descida ao fundo do mundo é feita através de longas rampas envoltas em escuridão e povoadas de vozes com fragmentos de frases gravadas no dia do atentado. É uma cacofonia insistente, embora não estridente. Ao longo da rampa há precipícios que desembocam em espaços de altura e dimensão descomunais para abrigarem alguns dos fragmentos recolhidos das ruínas.
As peças expostas parecem não se enquadrar em nenhuma escala humana. Duas vigas de sustentação das torres, com o aço descascado pela ferrugem, erguem-se como totens arqueológicos de outra era. Uma coluna maciça de várias toneladas, dobrada como se fosse de plástico, repousa no chão. Afixado numa parede, um fragmento de metal retorcido adquire formato e impacto que remete à Vitória de Samotrácia, entronizada no alto da escadaria de Daru, no Louvre.
O motor de um dos elevadores, que deslizavam mais de oito metros por segundo e chegavam ao 107º andar em menos de um minuto, também está exposto — parece uma monstruosa couve-flor de metal. Sabe-se que mais de 200 vítimas do atentado morreram queimadas dentro dos elevadores da Torre Sul.
A escala do que se vê nessa parte do museu é, deliberadamente, atordoante, a começar pelo colossal muro de 18 metros de altura de contenção do Rio Hudson. Construído muitos anos antes das torres e servindo-lhes de anteparo, o muro se manteve intacto diante da hecatombe.
Outra parede monumental abriga um mosaico composto de 2.983 quadrados em tons variados de azul: cada aquarelista convidado reproduziu a tonalidade de azul do céu daquele 11 de Setembro que guardara na memória.
Ao desembocar no marco mais profundo do museu (equivalente a sete andares abaixo do nível da rua), a visita se divide em dois roteiros. Uma conduz à homenagem exaustiva e detalhada de cada um dos mortos. (Felizmente, os 14 mil resíduos humanos ainda não identificados e guardados em gavetas de madeira que cobrem as paredes de uma saleta fechada permanecem fora do roteiro.)
O segundo roteiro leva o visitante a reviver, minuto a minuto, os acontecimentos do fatídico dia. Ali, o ambiente é claustrofóbico e confuso pelo excesso (deliberado ou não) de áudios, vídeos, objetos pessoais das vítimas doados por seus familiares, imagens do drama de todos os ângulos imagináveis, um filme que pretende explicar a história do terrorismo da al-Qaeda, uma linha do tempo interativa. E muito mais.
Há de tudo entre os 800 itens selecionados (de um total de mais de dez mil artefatos guardados): do recibo da última encomenda recebida pela agência de Correios das Torres Gêmeas ao fragmento de um cinto de segurança de um dos aviões, passando por uma folha de papel com os dizeres “84º andar West, 12 pessoas presas’’ rabiscado à mão.
É numa das extremidades menos frequentadas daquele espaço entulhado que figura um discreto biombo de tecido escuro. Ele emoldura uma fotografia, de tamanho propositalmente moderado, tirada pelo porto-riquenho José Jimenez para o jornal “Primeira Hora’’. A imagem mostra a fachada fumegante de uma das torres, com dezenas de vultos à beira da fileira infinita de janelas.
O ato final pode ser visto com discrição atrás do biombo: quatro cenas distintas de corpos que caem.
Os curadores do museu tiveram a felicidade de inscrever na parede ao lado três depoimentos de testemunhas oculares do horror. “Você se sentia compelido a olhá-los cair por respeito, pois estavam se despedindo da vida sem terem outra escolha. Dar-lhes as costas seria errado”, garante Louise Griffith-Jones.
“Ela estava de terno, tinha os cabelos penteados para um só lado. Permaneceu na borda da janela por vários minutos. Depois, segurou a saia e deu o passo. Pensei comigo, ‘que coisa humana! Quanto decoro, segurar a saia antes de saltar...’ Não consegui olhar”, narra James Gilroy.
“Um homem saltou da torre. Camisa branca, calça preta, em linha reta rumo ao solo. Naquele instante, a apocalíptica nuvem de vidro e metal (que emergia das torres) tornou-se humana”, relembra Victor Colantonio.
Não vale citar a criticada lojinha de souvenires instalada na saída como desculpa para não ir ao museu. Ali convive o que temos de pior e de melhor, como o envelope vermelho endereçado a Lawry and Charlie Meister, da Califórnia, que nunca deveria ter chegado a seu destino.
Postada no Estado do Maine na véspera do 11 de Setembro por uma tia do casal, a carta estava na carga de um dos aviões que se espatifou contra as torres. Ravid Shtaingen, empresário radicado na Inglaterra, fugia da nuvem de destroços quando viu o envelope. Sem saber por quê, apanhou-o do chão e partiu de Manhattan no primeiro voo que pôde.
Em Londres, enviou o achado, ainda úmido e coberto de cinzas, para os Meister em Los Angeles. Como não se maravilhar com o fato de que algo tão vulnerável e indefeso como um envelope de papel tenha chegado a seu destino? Indagado pelo “New York Times’’ sobre os motivos do seu gesto, Shtaingen explicou: “Redespachar a carta que sobreviveu, quando tanto se perdeu, foi minha forma de dizer ‘não’ ao caos.”

Dorrit Harazim é jornalista.
http://oglobo.globo.com/pais/noblat/post.asp?blogadmin=true&cod_post=536872&ch=n

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Com dólar mais barato, gastos no exterior batem recorde em abril

Alexandro MartelloDo G1, em Brasília

Os gastos de brasileiros no exterior somaram US$ 2,34 bilhões em abril, o que representa um novo recorde para todos os meses desde o início da série histórica, em 1947, informou o Banco Central (BC) nesta sexta-feira (23).
Desde que a instituição começou a divulgar informações do tipo, o maior valor de gastos no exterior para todos os meses havia sido registrado em outubro do ano passado, quando as despesas de brasileiros lá fora somaram US$ 2,29 bilhões.
Impacto do dólar
O recorde de gastos de brasileiros no exterior acontece em um momento de queda do dólar em relação ao patamar vigente no fim de 2013 e no início deste ano.
No fim do ano passado, a moeda americana estava cotada ao redor de R$ 2,34. Em janeiro e fevereiro deste ano, oscilou por volta de R$ 2,40. Já em abril, o dólar registrou desvalorização de 1,74% frente ao fechamento de março, terminando o período em R$ 2,23.
  • As despesas
    no exterior somaram US$ 8,21 bilhões
    nos quatro primeiros meses deste ano – um recorde para
    o período
O chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, lembrou que, no primeiro trimestre de 2014, as despesas no exterior estavam menores que em igual período do ano passado. Ele não soube dizer, porém, se o recorde registrado em abril representa uma "nova tendência" de alta dos gastos lá fora.
"A valorização cambial [alta do real e subsequente queda do dólar] pode estar se refletindo nesses números [de despesas de brasileiros no exterior]", acrescentou Maciel.
O dólar mais baixo barateia as passagens e os hotéis cotados em moeda estrangeira. Outros fatores que impulsionam as despesas de brasileiros no exterior, segundo especialistas, são o aumento da renda no Brasil e os preços mais baratos de produtos em outros países.
Primeiro quadrimestre
Ainda de acordo com o Banco Central, as despesas no exterior somaram US$ 8,21 bilhões nos quatro primeiros meses deste ano, o que representa um aumento de 1,7% frente ao mesmo período do ano passado, quando o total foi de US$ 8,08 bilhões. Com isso, os gastos de brasileiros lá fora também bateram recorde em 2014 para os quatro primeiros meses de um ano.
Alta do IOF
As despesas de brasileiros no exterior bateram recordes mesmo com a adoção, no fim de 2013, de medidas para conter esses gastos. A alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) – incidente nos pagamentos em moeda estrangeira feitos com cartão de débito, saques em moeda estrangeira no exterior, compras de cheques de viagem (traveller checks) e carregamento de cartões pré-pagos – foi elevada de 0,38% para 6,38% no fim do ano passado. Com isso, essas operações passaram a ter a mesma tributação dos cartões de crédito internacionais.
Histórico de gastos no exterior
Em 2013, os gastos de brasileiros no exterior somaram US$ 25,3 bilhões e bateram recorde para um ano inteiro, contra US$ 22,2 bilhões nos 12 meses anteriores. Em 2011, as despesas dos nossos turistas lá fora haviam somado US$ 21,2 bilhões.
Até 1994, quando foi criado o Plano Real para conter a hiperinflação no país, os gastos de brasileiros no exterior não tinham atingido a barreira dos US$ 2 bilhões. Mas, naquele ano, quando o real foi ao equiparado ao dólar, as despesas somaram US$ 2,23 bilhões. Entre 1996 e 1998, elas oscilaram entre US$ 4 bilhões e US$ 5,7 bilhões.
Com a maxidesvalorização cambial de 1999 e o dólar ultrapassando R$ 3 em um primeiro momento, as despesas lá fora também ficaram mais caras. Com isso, os gastos voltaram a recuar e ficaram, naquele ano, próximo de US$ 3 bilhões.

As despesas de brasileiros fora do país voltaram a atingir a barreira de US$ 5 bilhões por ano apenas em 2006. Desde então, têm apresentado forte crescimento: em 2007, 2008 e 2009, atingiram respectivamente US$ 8,2 bilhões, US$ 10,9 bilhões e US$ 10,8 bilhões.