sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Desemprego recorde: 6 mil demissões por dia na Europa em 2012

Nos últimos doze meses, 6 mil europeus perderam seus trabalhados a cada dia e a taxa de desemprego na zona do euro bate mais um recorde. Dados divulgados na manhã de hoje indicam que 11,7% da população dos 17 países que usam a moeda única estão sem trabalho.


Os dados de outubro representam um novo recorde e um aumento em relação à taxa e 11,6% de desemprego em setembro, segundo a Eurostat. Desde setembro, o continente volta a viver uma recessão, situação que só será superada em 2014.

Em números absolutos, a Europa soma hoje 18,7 milhões de desempregados. Apenas no mês de outubro, 173 mil foram demitidos.

Em um ano, a destruição de postos de trabalho na Europa atinge a marca de 2,1 milhões. Na prática, quase 6 mil demissões por dia. A taxa é superior aos 7,9% de desemprego nos EUA e de 4,2% no Japão.

Contando todos os 27 países da Europa, a taxa de desemprego é de 10,4%, com 26 milhões de essoas afetadas.

As piores taxas estão na Grécia e Espanha, com um quarto da população sem trabalho. Nesses dois países, a proporção de jovens sem trabalho chega a mais de 55%. Do outro lado estão países como a Áustria, Luxemburgo, Alemanha e Holanda, todos com uma taxa de desemprego abaixo de 5,5%.

http://blogs.estadao.com.br/jamil-chade/2012/11/30/desemprego-recorde-6-mil-demissoes-por-dia-na-europa-em-2012/

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Entre 150 países, Brasil tem o maior ganho de bem-estar em 5 anos


O Brasil foi o país que melhor utilizou o crescimento econômico alcançado nos últimos cinco anos para elevar o padrão de vida e o bem-estar da população. Se o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu a um ritmo médio anual de 5,1% entre 2006 e 2011, os ganhos sociais obtidos no período são equivalentes aos de um país que tivesse registrado expansão anual de 13% da economia.

A conclusão é de levantamento feito pela empresa internacional de consultoria Boston Consulting Group (BCG), que comparou indicadores econômicos e sociais de 150 países e criou o Índice de Desenvolvimento Econômico Sustentável (Seda, na sigla em inglês), com base em 51 indicadores coletados em diversas fontes, como Banco Mundial, FMI, ONU e OCDE.

O desempenho brasileiro nos últimos anos em relação à melhoria da qualidade de vida da população é devido principalmente à distribuição de renda. "O Brasil diminuiu consideravelmente as diferenças de rendimento entre ricos e pobres na década passada, o que permitiu reduzir a pobreza extrema pela metade. Ao mesmo tempo, o número de crianças na escola subiu de 90% para 97% desde os anos 90", diz o texto do relatório "Da riqueza para o bem-estar", que será oficialmente divulgado hoje. O estudo também faz referencia ao programa Bolsa Família, destacando que a ajuda do governo as famílias pobres está ligada à permanência da criança na escola.

Nessa comparação de progressos recentes alcançados, o Brasil lidera o índice com 100 pontos, pontuação atribuída ao país que melhor se saiu nesse critério de avaliação. Aparecem a seguir Angola (98), Albânia (97,9), Camboja (97,5) e Uruguai (96,9). A Argentina ficou na 26ª colocação, com 80, 4 pontos. Chile (48º) e México (127º) ficaram ainda mais atrás.

Foram usados dados disponíveis para todos os 150 países e que fossem capazes de traçar um panorama abrangente de dez diferentes áreas: renda, estabilidade econômica, emprego, distribuição de renda, sociedade civil, governança (estabilidade política, liberdade de expressão, direito de propriedade, baixo nível de corrupção, entre outros itens), educação, saúde, ambiente e infraestrutura.

O ranking-base gerou a elaboração de mais três indicadores, para permitir a comparação do desempenho, efetivo ou potencial, dos países em momentos diferentes: 1) atual nível socioeconômico do país; 2) progressos feitos nos últimos cinco anos; e 3) sustentabilidade no longo prazo das melhorias atingidas.

Como seria de se esperar, os países mais ricos estão entre os que pontuam mais alto no ranking que mostra o estágio atual de desenvolvimento. Nessa base de comparação, que dá conta do "estoque de bem-estar" existente, a lista é liderada por Suíça e Noruega, com 100 pontos, e inclui Austrália, Nova Zelândia, Canadá, EUA e Cingapura. Aí o Brasil aparece em posição intermediária, com 47,8 pontos.

Para Christian Orglmeister, diretor do escritório do BCG em São Paulo, o desempenho alcançado pelo Brasil é elogiável, mas deve ser visto com cautela. "Quando se parte de uma base mais baixa, é mais fácil registrar progresso. O Brasil está muito melhor do que há cinco anos em várias áreas, até mesmo em infraestrutura, mas é preciso ainda avançar muito mais."

Entre os países que ocupam os primeiros lugares nesse ranking de melhoria relativa dos padrões de vida da população nos últimos cinco anos, a renda per capita anual é muito diversificada, indo desde menos de US$ 1 mil em alguns países da África até os US$ 80 mil verificados na Suíça. Além do Brasil, mais dois países sul-americanos _ Peru e Uruguai _ aparecem na lista dos 20 primeiros. Também estão nela três países africanos que em décadas passadas estiveram envolvidos em guerras civis _ Angola, Etiópia e Ruanda _ e que nos anos recentes mostram fortes ganhos em relação a padrão de vida. Da Ásia, aparecem na relação Camboja, Indonésia e Vietnã.

Nova Zelândia e Polônia também integram esse grupo. O crescimento médio do PIB neozelandês foi de 1,5%, mas a melhora do bem-estar foi semelhante à de uma economia que estivesse crescendo 6% ao ano. Na Polônia e na Indonésia, que atingiram crescimento médio do PIB de 6,5% ano, o padrão de vida teve elevação digna de uma economia em expansão de 11%.

O estudo também compara o desempenho recente dos Brics - além do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul - na geração de mais bem-estar para os cidadãos. Se em relação à expansão da economia, o Brasil ficou atrás dos seus parceiros entre 2006 e 2011, o país superou a média obtida pelo bloco em áreas como ambiente, governança, renda, distribuição de renda, emprego e infraestrutura, diz Orglmeister. China, Rússia, Índia e África do Sul aparecem apenas em 55º, 77º, 78º e 130º, respectivamente, nessa base de comparação, que é liderada pelo Brasil.

O desafio brasileiro, agora, é manter esse ritmo no futuro, afirma o diretor do BCG. "O Brasil precisa avançar em quatro áreas principalmente", diz. "Na melhora da qualidade da educação, na infraestrutura, na flexibilização do mercado de trabalho e nas dificuldades burocráticas que ainda existem para fazer negócios no país."
Para Douglas Beal, um dos autores do trabalho e diretor do escritório do BCG em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, embora os indicadores reunidos para produzir o Seda pudessem ser utilizados para produzir um novo índice, esse não é o objetivo do levantamento. "A meta é criar uma ferramenta de benchmarking, que possa fornecer um quadro amplo. com base no qual os governos possam agir."
Veja a íntegra do relatório em www.bcgperspectives.com

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terça-feira, 27 de novembro de 2012

Na América Latina, 8 milhões de pessoas deixaram a pobreza em 2011

REDAÇÃO ÉPOCA, COM AGÊNCIA EFE
http://revistaepoca.globo.com/Mundo/noticia/2012/11/na-america-latina-8-milhoes-de-pessoas-deixaram-pobreza-em-2011.html

O número de pessoas pobres na América Latina passou de 176 milhões em 2010 para 168 milhões em 2011, o equivalente a 29,4% do total de sua população, informou nesta terça-feira (27) a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), da Organização das Nações Unidas (ONU).


Segundo o relatório Panorama Social 2012, espera-se que neste ano o número de pessoas na linha da pobreza caia para 167 milhões, e que permaneça em 67 milhões o das que estão abaixo dela, assim como em 2011.

Com as projeções de crescimento econômico positivo e inflação moderada para 2012, a pobreza na América Latina deve continuar sua tendência de baixa, embora em um ritmo menor do que o observado nos últimos anos.

"As atuais taxas de pobreza e indigência são as mais baixas das últimas três décadas, o que é uma boa notícia para a região, mas ainda estamos lidando com níveis inaceitáveis em muitos países", afirmou a secretária executiva da Cepal, a mexicana Alicia Bárcena.

De 2010 a 2011, sete países tiveram quedas significativas nas taxas de pobreza: Argentina (de 8,6% para 5,7%), Brasil (de 24,9% para 20,9%), Colômbia (de 37,3% para 34,2%), Equador (de 37,1% para 32,4%), Paraguai (de 54,8% para 49,6%), Peru (de 31,3% para 27,8%) e Uruguai (de 8,6% para 6,7%).

Por outro lado, houve aumento na Costa Rica (18,8% em 2011), República Dominicana (42,2%) e Venezuela (29,5%).

Segundo a Cepal, a renda dos pobres aumentou principalmente graças aos salários, mas houve maior brecha entre os ganhos de homens e mulheres. Além disso, na última década, diminuiu a desigualdade em matéria de distribuição de renda, embora este tema continue a ser um desafio para a região.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

O mar de banalidade

A cena aconteceu dentro de um ônibus, durante um congestionamento daqueles que são frequentes em São Paulo. O rapaz ao meu lado sacou o celular e se pôs a conversar com a namorada. Era inevitável que eu ouvisse. Ele falou longamente sobre o trabalho, comentou sem pressa que era aniversário de um amigo dele, declarou repetidas vezes que ela – “amooorrr” – era a pessoa mais importante da vida dele.


Quando eu achei que a ligação iria acabar, ele se pôs a discutir, em detalhes minuciosos, tudo que os dois iriam fazer dali a poucas horas, ou talvez minutos, quando se encontrassem. Falou que queria comer pipoca, mas disse que preferia frango frito. Falou da mãe dela, da casa dela, da família dela. Previu o que ela iria dizer para ele e o que ele responderia para ela. Disse que a coisa que mais queria, depois do frango, era casar com ela. Juro! Falou, falou, falou até que eu me levantei, depois de mais de 45 minutos daquilo, e desci do ônibus lotado. Caminhei para casa por quase uma hora, feliz com o silêncio. Quando entrei em casa, segurei a minha mulher pelos ombros e disse, convicto até a medula: “Você agradeça todos os dias por estar comigo, e não com um chato carente que não consegue calar a boca.”

Podem me chamar de chato, insensível e ranheta, mas a conversa do rapaz no ônibus deixou claro, para mim, algo que anda pululando ao nosso redor de um modo exasperante: a banalidade do bem. Do “meu bem”. Talvez por influência das companhias telefônicas e de seus planos que permitem conversas ilimitadas, as pessoas perderam a noção. Falam superficialidades umas às outras o tempo inteiro. Têm os melhores sentimentos, mas nenhum limite e nenhum conteúdo. Sobretudo os casais.

Aquilo que os ingleses patentearam mundialmente como “small talk” – a conversinha boba sobre o tempo, que se tem com o vizinho no elevador ou com o estranho no trem de metrô – foi ampliada, turbinada e agigantada. Penetrou as relações mais íntimas. Os temas de conversa entre pessoas que se relacionam (amigos, namorados, colegas), passaram do cotidiano ao trivial e daí, rapidamente, despencaram para o banal mais rasteiro. As pessoas se viciaram na partilha incessante de irrelevâncias. Passam o tempo trocando bobagens que antes não se diziam. Há uma inflação de palavras e temo que por baixo dela haja escassez de compreensão.

Estou sendo muito chato? Talvez, mas me parece que as pessoas perderam o sentido do silêncio. Ele deveria dominar a nossa vida. Devido à nossa natureza física, do cérebro unitário e impartilhável que cada um de nós carrega, estamos fadados a ficar em nossa companhia o tempo inteiro. Isso é bom, estávamos acostumados, mas, de alguma forma, parece que perdemos o jeito. Agora temos de falar o tempo todo para espantar o convívio com o silêncio interior.

Em vez de ficar quieto no ônibus, pensando, o rapaz puxa o telefone e chama a namorada – ainda que não tenha nada remotamente importante a dizer. Talvez ele pudesse ler, talvez pudesse escutar música, quem sabe descobrisse algo novo sobre a cidade e seus moradores observando a rua pela janela ou a diversidade humana no interior do ônibus. Mas não. Ele prefere falar, como todo mundo parece estar preferindo. Jovens e velhos, homens e mulheres, ricos e pobres. Somos uma sociedade de faladores compulsivos que – misteriosamente, mas nem tanto – não se entendem.

Como eu já disse, acho que parte importante da culpa por isso tudo é da tecnologia. O telefone celular e a internet – as redes sociais, que a gente agora carrega no bolso – parecem ter despertado uma monstruosa fraqueza humana. Somos socializadores compulsivos. Diante da possibilidade de falar, espiar a vida do outro, se exibir ou fofocar, não resistimos. Deve estar em nosso DNA, escrito nos genes da nossa constituição mais essencial. Há um vazio dentro de nós que só assim conseguimos preencher. É o medo de estar sós, isolados, longe do calor do grupo. Nós nos sentimos assim nas grandes cidades, e por isso falamos tanto, telefonamos tanto, twitamos tanto, lemos e atualizamos o Facebook o tempo todo: é a nossa forma de esticar a mão e tentar alcançar o outro. Pela palavra, tentamos acalmar o bicho assustado dentro de nós.

Apesar disso – ou por causa disso – o silêncio faz falta. Precisamos dele para ouvir os nossos pensamentos. Precisamos dele para pesar o valor das palavras, ou das músicas, ou dos filmes, ou da internet: cada uma dessas coisas vale mais ou menos que o silêncio precioso? Vale a pena rompê-lo neste momento para dizer o pouco que eu tenho a dizer? Essa pergunta, que parece esdrúxula, é fundamental ao convívio. Antes de passar uma hora ao telefone tentando suprir nossa insaciável carência, seria preciso se perguntar: vale a pena? Sim, por que há coisas a ganhar ficando quieto.

A introspecção precede a compreensão, o entendimento das coisas. O fluxo incoerente de pensamento que nos habita ganha uma forma quando falamos, mas falar significa suprimir as outras formas de manifestação da mente. Enquanto o fluxo de pensamento está lá, em estado bruto, agitado e disforme, mas em silêncio, muita coisa se processa, de forma mais ou menos inconsciente. No silêncio encontramos respostas, soluções, inspirações, ideias. Mesmo sem perceber. Na troca incessante de palavras achamos apenas redundância.

Isso não é diferente para os casais. No interior dos relacionamentos tecemos um ninho aconchegante de palavras e hábitos. As mesmas conversas, os mesmos temas, as mesmas brincadeiras e carinhos. Isso tudo é bom, mas tem limites. Dentro de um casal ainda precisamos de espaço, tempo e silêncio. As conversas, além de indicarem aconchego emocional e cumplicidade, deveriam ter significado. Eu sei, eu pensei, eu descobri – então eu divido. Eu sinto, eu percebo, eu temo – então eu falo. Nos intervalos entre essas coisas, o silêncio. Cheio de amor, cheio de desejo, cheio de carinho. Partilhado e curtido. Silêncio oposto da palavra inútil e vazia, da palavra banal.

Ou então nós todos pegamos os celulares e falamos até explodir, que nem cigarras.

(Ivan Martins escreve às quartas-feiras) - http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/ivan-martins/noticia/2012/11/o-mar-de-banalidade.html

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Churrascão em família

Nada como um churrascão em família, em Sete Lagoas.

Valquiria contando os casos antigos, madrinha e mamãe relembrando Papagaios, minha vó horrorizada, Dete e Antonio Henrique gritando, Cacá correndo de um lado pro outro, Breno e Tia Su na churrasqueira, Ana Carla escutando os casos da minha vó, além de meu pai e Lorena e Luiz (sim, Lorena e Luiz são da família, ao que tudo indica).

E pela primeira vez na vida, Cacá entregando os pontos!

Butecão do Regina

E enfim saiu o primeiro encontro oficial da turma 1991 - 2004 do Regina Pacis.

Como é bom rever o pessoal, lembrar os casos, saber o que cada um tem feito da vida.

E o melhor: ver como to mais bonito hoje uhahauhauah

Ja dizia Madre Serafina: nunca perca de vista seu ponto de partida!

TeT

Que mês sertanejo 2

Dia 15 teve Thaeme e Thiago, em Sete Lagoas.

Pouca bebida, muito farra, G6 7L e agregados, meninos no arrocha, tensão na fila da Estaçào (ooo 7L que tem coisas estranhas na fila!!!), Thiago mostrando a que veio, TeT S2

GL, JeM e HeR

Que mês sertanejo!

Dia 09 teve Gusttavo Lima, Jorge e Matheus e Humberto e Ronaldo.

Muita farra, chuva, G4 e muito xixi no caminho hehehehe

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Tirem Deus do dinheiro

LUÍS ANTÔNIO GIRON - 13/11/2012 12h48


O Ministério Público Federal pede que a expressão “Deus seja louvado” seja retirada das notas de real para garantir a liberdade religiosa. A frase deve ou não sair das notas de real ou a discussão é inútil? Os fundamentalistas cristão andam protestando em todo o país, exigindo que Deus continue representado nas cédulas. Os politeístas, ateus e crentes em outras seitas, além dos juristas e partidários da mentalidade politicamente correta, querem a extinção imediata e sumária da frase, em nome da garantia da liberdade religiosa em Estado laico.

Misturar Deus e dinheiro é uma barbaridade. Não importa o seu vínculo político, religioso e ideológico: Deus, caso você creia nele, não precisa ser evocado por intermédio da manifestação mais concreta do materialismo, uma cédula monetária. Além de a expressão representar uma intromissão religiosa no âmbito do Estado, ela é uma espécie de marca de atraso e de péssimo gosto. É uma questão ética e estética, além de política. A expressão me faz lembrar aquelas igrejas que pregam valores cristão e, ao mesmo tempo, sem o mínimo decoro, convertem Deus em moeda de troca – ordenando em altos brados, durante os cultos, que os fiéis doem seu dízimo à causa.

Eu confesso que nunca tinha notado a frase nas cédulas. Fui lê-la agora, em uma cédula de R$ 10. É repugnante. A inscrição ao lado da efígie da República me parece ainda mais tola que os símbolos maçônicos da cédula de um dólar americano – que trazem a pirâmide e o olho do Grande Arquiteto do Universo. Os americanos pelo menos têm a justificativa de que a maçonaria ajudou a libertar os Estados Unidos do domínio britânico em 1776. É tradição. Em 1956, a nota de dólar ainda incluiu a frase “In God we trust” (Nós confiamos em Deus). O resultado é que, desde então, a inscrição tem provocado discussões, processos e paródias (há quem brinque e afirme que a expressão real é “In Gold we trust”, No Ouro confiamos). Foi até mesmo tema da campanha do candidato republicano Mitt Romney, que disse que garantiria a manutenção da frase, caso ele fosse eleito.

No caso brasileiro, apesar de o país ter sido fundado sob a cruz do catolicismo, não há outras motivações para estampar nas notas a pregação monoteísta. Um estado laico obviamente não pode exprimir credo religioso, mesmo que seja numa discreta inserção em cédulas de dinheiro. E não há nem mesmo a tradição para evocar. O responsável pela inclusão do critpocatecismo foi o presidente José Sarney. Em 1986, ele ordenou por decreto que o Banco Central imprimisse a expressão nas notas da nova moeda, o cruzado, que substituía o cruzeiro. As primeiras cédulas com a frase começaram a circular em fevereiro de 1986 – momento em que a moeda nacional estava sofrendo uma hiperdesvalorização. O cruzado acabou e a frase migrou primeiro para o cruzeiro restaurado (de 1993 a 1994) e depois para o real, a partir de 1994. Será que, em 27 anos de circulação, as notas conseguiram converter alguém? Duvido. Dinheiro serve para ser trocado, não para emitir mensagens de fé. De qualquer forma, Sarney reclamou que excluir a frase das cédulas é "perda de tempo". Então, porque a incluiu?

Uma sociedade baseada na tolerância, na diversidade e na democracia não é compatível com qualquer tipo de pregação (nunca pensei que fosse entrar nesse blablablá de juristas). Imagino o que os cristão sentiriam caso o Banco Central passasse a estampar no dinheiro frases como “Em Deus não cremos” ou “Oxóssi reina de Norte a Sul”. É mais honesto deixar as notas sem inscrição alguma. Será perfeito arrancar Deus do dinheiro. Um problema é o custo da operação. Essas coisas dão medo no Brasil. Vale a pena o Banco Central gastar dinheiro e esforço por um detalhe? A solução poderá ser, caso o Ministério Público vença, o BC emitir cédulas novas e, aos poucos, retirar de cena a oração que um dia José Sarney talvez tenha achado que salvaria o cruzado da inflação. Que Deus seja poupado!

http://revistaepoca.globo.com/cultura/luis-antonio-giron/noticia/2012/11/tirem-deus-do-dinheiro.html

Vivam os homens suaves

As conversas masculinas raramente são generosas quando se trata dos gays. O comentário mais benigno que eu escuto desde criança é que os gays são legais porque deixam mais mulheres para o resto de nós. Apesar desse clichê, e de tantos outros igualmente bobos, minha impressão é que a influência gay no mundo masculino tem sido enorme nas últimas décadas. Enorme, subestimada e positiva.


Desde o seu surgimento, nos anos 60, o movimento gay ajudou a redefinir a maneira como os homens agem e pensam a respeito de si mesmos. A existência pública de homens gays ampliou radicalmente o repertório masculino, arejando e diversificando a ideia de masculinidade. Antes da influência gay, o comportamento masculino estava confinado até a página 10 do livro de conduta. Quando os gays emergiram socialmente, eles ampliaram o livro até a página 100. Foi um movimento libertador para todo mundo, que ajudou a melhorar inclusive a vida dos casais, tornando-a menos estereotipada.

Vamos por partes, para que eu me explique.

O primeiro impacto óbvio da cultura gay no mundo masculino aconteceu no universo da aparência. Desde os anos 60, os homens se aproximaram dramaticamente das mulheres na maneira de se relacionar com a moda e com o corpo. Dêem uma olhada nas ruas: a garotada está cada vez mais andrógina, confundido os códigos masculinos e femininos. Você olha o garoto, ou a garota, e demora alguns segundos para definir o gênero daquela figura ambígua. E às vezes nem consegue. Essa ambiguidade é um dos resultados radicais da influência gay na aparência masculina. Mas não é o único. Perdeu-se no tempo a reação aos primeiros modismos trazidos pelos anos 60. Aqui no Brasil eram considerados “coisa de viado”. A marchinha de carnaval “Cabeleira do Zezé”, composta em 1963, ilustra bem a reação aos cabelos compridos, que voltavam a ser usados pelos homens desde o século XIX. “Será que ele é?”, perguntava a letra da marchinha.

Pouco depois, nos anos 70, surgiram as bolsas a tiracolo, os sapatos de plataforma, as calças e camisas coloridas, os colares e pulseiras. Tudo isso pertencia, originalmente, ao universo feminino. Seu uso rotineiro pelos homens foi o equivalente cultural de um grande movimento transformista. Quarenta anos depois, homens e mulheres usam brincos, piercings, tatuagens de cores berrantes, sapatos vermelhos, calças cada vez mais justas e camisetas cada vez menores e mais decotadas. Há uma enorme convergência para o que eu chamaria de “campo gay” da moda. Mesmo os machos acima de qualquer suspeita vestem camisas agarradinhas que mulheres compram para eles nas melhores lojas da cidade.

O resultado disso tudo é que você olha na rua e não distingue mais o gay do não gay. Além de se vestir de forma parecida, homens gays e heteros estão igualmente malhados, bem definidos, de corpo cuidado. A vaidade que antes era feminina e depois virou gay agora é descaradamente masculina. Há caras perfeitamente macho que depilam o peito, tiram a sobrancelha, cuidam das unhas, fazem mecha nos cabelos. São os metrosexuais, que viraram referência para homens de todas as idades. Um cidadão dos anos 50 que desembarcasse subitamente na Avenida Paulista acharia que metade dos homens se parece com mulher. Do ponto de vista dele, seríamos todos um pouco Laertes.

No comportamento a mudança foi na mesma direção. O mundo masculino ficou gay. Os homens falam, andam e dançam de uma forma que seria inaceitável nos anos 50. A tendência geral é de feminização. Os heterossexuais ficaram mais suaves nos seus modos. Ou mais estridentes. Mais delicados, certamente, de um jeito que nossos pais e avós estranhariam. É comum que homens nascidos nos anos 60 conversem com caras 20 ou 30 anos mais novos e tenham a impressão de que eles são gays – pelo jeito de falar, pela linguagem corporal, por causa da atitude. A mudança de códigos foi muito rápida e muito profunda. A agressividade e a grosseria, que anos atrás eram a marca registrada de certa masculinidade, caíram em desuso. São mal vistas. Viraram quase um sinônimo de escrotidão. Há nisso uma influência benéfica da cultura gay. Ela modificou e amoleceu a cultura masculina, da mesma forma que o Gilberto Freyre diz que o Brasil fez com a cultura portuguesa – para melhor.

Essas mudanças, evidentemente, chegaram ao campo dos sentimentos e da intimidade.

Os homens agora choram sem vergonha nenhuma. Confessam seus sentimentos de um jeito até embaraçoso. Eles ficaram frágeis. As mulheres dizem, ironicamente, que estão com saudades daqueles tipos sisudos e caladões, de sentimentos inescrutáveis. Eles sumiram. Agora os homens são sensíveis. Falam pelos cotovelos e estão cheios de dúvidas e temores. Muitos dão excelentes donos de casa, tremendos pais, cozinheiros de primeira linha - e ainda são ótimos companheiros para fofocar e assistir à novela. Umas moças, enfim, mas com quem as mulheres podem transar gostosamente, uma vez que eles têm uma relação melhor com a própria cabeça e o próprio corpo. Aquele outro tipo, o macho à la Clint Eastwood, estava sufocando seus sentimentos mais viscerais, tinha coisas demais a reter e a esconder. Além de falhar na cama nas horas mais inesperadas, ele era uma panela de pressão pronta a explodir. Ou a ter um AVC ou um enfarte aos 40 anos.

Aliás, eu acho que a importância do movimento gay vai além das questões pessoais. Ou de casais. Quando um sujeito ou uma mulher lutam pelo direito de fazer sexo com quem desejar – e de andar na rua vestido como quiser, abraçado a quem achar melhor – ele e ela estão lutando, intrinsecamente, pelo direito de todos serem o que são. Os ganhos pessoais e íntimos de alguns se traduz em ganho público para a comunidade inteira. Quando um grupo socialmente discriminado é reconhecido em seus direitos, quando ele ganha espaço para expressar seus gostos e sentimentos (desde que isso não aconteça em prejuízo dos outros), a sociedade inteira se torna um pouco mais livre. Há uma lógica inexorável de contágio que começa com a liberdade do indivíduo, avança para o seu grupo e se espalha para a sociedade toda – e para o mundo. Quando os sinos tocam de júbilo, eles também tocam por todos nós. Gays e não gays.
(Ivan Martins escreve às quartas-feiras)



segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Memória é tanto lembrar quanto esquecer

Na primeira vez em que assisti à E se vivêssemos todos juntos?, pensei, ao sair do cinema com os olhos mareados e a alma apertada no corpo como uma calça jeans dois números menor: queria tanto escrever sobre esse filme, mas o melhor que posso escrever é só um verbo, conjugado no imperativo, seguido de um ponto de exclamação: “Assistam!”. E escrevi exatamente isso no twitter. Em geral, é o melhor que podemos dizer sobre os filmes de que gostamos, assim como “leiam!” para os livros que nos tornaram outros depois da última página. Mas continuei desassossegada e vi o filme uma segunda vez. Percebi que precisava escrever um pouco mais.


E se vivêssemos todos juntos? (Stéphane Robelin – França/Alemanha) é um filme sobre os últimos anos de quem, graças ao aumento da expectativa de vida, passou dos 70 e poucos. Como disse Jeanne, a personagem de Jane Fonda, ao seguir a ambulância que carregava seu marido para o hospital depois de uma queda: “A gente planeja tudo, mas nunca pensa no que fazer nos últimos anos da vida”. É disso que se trata. O filme fala de algo que precisamos falar mais: sobre envelhecer neste mundo, nesta época. Precisamos falar mais porque a maioria de nós vai viver esse momento. Não é fácil vivê-lo – é uma sorte vivê-lo.

Começamos a nos preparar, como invoca Jeanne, quando nos arriscamos a pensar sobre aquilo que nos inquieta ou inquietará – ou inquieta ou inquietará aqueles que amamos. O cinema já descobriu essa necessidade e, só neste ano, chegaram ao Brasil pelo menos dois filmes que falam explicitamente sobre envelhecer: O exótico Hotel Marigold (John Madden, Reino Unido), que poderia ser bem melhor do que é, e “E se vivêssemos todos juntos?”.

Neste, um grupo de velhos decide viver na mesma casa para enfrentar aquilo que os inquieta – e seguidamente os ameaça. A iniciativa é de um deles, Jean (Guy Bedos), um homem que passou a vida engajado em causas coletivas contra as injustiças sofridas pelos mais fracos. Impedido de seguir para a próxima missão em algum país pobre e distante, porque o seguro se recusa a cobrir gente da sua idade, ele aos poucos descobre que tem uma causa bem perto dele pela qual lutar, que é também uma causa de desamparo.

E se vivêssemos todos juntos? não é um filme para velhos – mas para todos que se interessam pela condição humana. No roteiro, aliás, aqueles que aparecem no lugar de “filhos”, ora perplexos, às vezes distantes, em outras arrogantes na sua certeza sobre o que é melhor para os pais – perdidos sempre – parecem precisar muito assistir a um filme como este.

O filme, que já é muito, muito bonito mesmo, fica ainda melhor com a interpretação impecável de grandes atores, todos eles velhos e, portanto, mais experientes do que nunca. Todos menos um: o único jovem protagonista é o ótimo Daniel Brühl, por quem nos apaixonamos em “Adeus, Lenin”, e que tem no enredo um lugar muito particular. Ele é um estrangeiro não só por ser um alemão na França, mas por ser um jovem em território de velhos: estrangeiro porque só estranhando é possível enxergar. Vale a pena alertar ainda que, ao contrário do que anuncia a classificação, “E se vivêssemos todos juntos?” não é uma comédia.

(Como já escrevi aqui, eu não chamo velhos de idosos nem velhice de terceira idade ou – argh – melhor idade. Assisti ao filme pela primeira vez na companhia de parte de um grupo de amigos com os quais tenho um pacto desde os 30 e poucos anos: ao envelhecer, moraremos todos juntos em um condomínio que um de nós já batizou, ironicamente, de “O Ocaso Feliz”. Já acertamos mais ou menos a arquitetura, na qual cada casa terá entradas independentes e fundos para um espaço coletivo, de maneira que, se quisermos ficar sozinhos, basta simplesmente passar a chave na porta dos fundos e botar uma placa de “não perturbe”. Mas não conseguimos nos acertar sobre qual cidade – pequena, perto de uma grande – escolheremos para nossos últimos anos. Ao deixar a sala de cinema, tomamos um espumante antes de nos separarmos. Na segunda vez, assisti ao filme com o homem que eu amo e em quem pretendo abotoar casacos de lã na velhice. Quero muito um velho companheiro com casacos de lã abotoados. E espero viver para isso. Quando o filme terminou, choramos abraçados.)

Feita essa antessala, preciso dizer o seguinte: se você não viu o filme e pretende vê-lo, pare por aqui. Embora o que quero dizer use o filme apenas como ponto de partida, não é possível escrever sem contar bastante sobre ele, mais do que qualquer comentário educado permitiria. Há quem não se importe. Pessoalmente, acho que é sempre (muito) melhor ir ao cinema no escuro. Se quiser, volte ao texto depois – e, como estímulo a uma visita à tela grande, coloco o trailer aqui.

Para quem continua comigo: entre as tantas possibilidades de reflexão propostas por esse filme, há uma que me comove mais. Ela fala de memória – e de algo muito importante: memória não é apenas lembrar, é também esquecer.

No filme, Albert (Pierre Richard) luta contra a perda da memória. Ele não sabe se já levou o cachorro para passear ou não. “Se eu não o tivesse levado, ele estaria reclamando, não?”, indaga-se. Para lembrar os acontecimentos recentes, que o cérebro já não registra, Albert usa a palavra escrita. Escreve um diário sentado na poltrona do apartamento que divide com a mulher, estrategicamente postado ao lado de uma janela que dá para os fundos de uma escola infantil. É com um olho no caderno e o outro na janela, na qual espera, com evidente alegria, as crianças saírem para brincar, que ele relata o sabor do vinho que tomou com os amigos, o cardápio do jantar e aquilo que precisa lembrar quando já tiver esquecido no dia seguinte. O diário, a narrativa da vida pela palavra escrita, é o fio que orienta Albert pelos labirintos de um cotidiano no qual o cérebro falha em lembrar do ontem e até mesmo de alguns minutos antes.

A velhice, para Albert, se manifesta primeiro por esses lapsos de memória. Mas logo ele terá de lidar com um dilema mais profundo: o que lembrar, o que esquecer. Sua mulher, Jeanne (Jane Fonda), de quem já falamos lá no início, teve câncer. No começo do filme, testemunhamos quando ela abre os exames na cozinha e descobre que a doença segue com ela e que não terá muito mais tempo de vida. Quanto tempo, nem ela nem ninguém pode saber.

Jeanne toma uma decisão ao rasgar os exames e enfiar os pedaços na lata de lixo. Escolhe, por amor, não contar a Albert da sua condição. Diz a ele que está curada. Quer viver seus últimos dias, semanas, meses sem que ele seja assombrado por sua morte. Sente-se assim menos assombrada por ela – e mais livre para planejar seu enterro, por exemplo, mais livre para escolher o pouco que pode escolher.

Mas, num dia em que Albert está sozinho em casa, o médico bate na porta à procura de Jeanne, que tinha se recusado a fazer a cirurgia proposta e sumido do consultório. Albert descobre naquele momento: 1) que a mulher vai morrer de câncer; 2) que ela decidiu não compartilhar essa informação com ele. É isso que ele registra em seu diário. E mais um pouco: “É um direito dela (viver sem lhe contar que em breve morrerá de câncer)”. No dia seguinte, enquanto espia ansioso pela janela se as crianças já estão vindo para o recreio, ele lê esse trecho no diário e tem um sobressalto.

Mais adiante, Albert e Jeanne já estão vivendo em comunidade quando ele abre – por engano? – o baú que pertence ao seu amigo Claude (Claude Rich). Já não há mais uma janela por onde espiar crianças brincando, mas há outras paisagens humanas e sentimentais. Albert sente-se desterrado, agora não apenas de sua memória, mas também de sua geografia física, na nova casa. Mas o que relembra todos os dias ao ler o diário faz com que compreenda que é preciso encontrar outros parceiros para encerrar a vida. Não os desconhecidos de um asilo de velhos, mas amigos de uma vida inteira. Gente capaz de reconhecer a geografia que é ele.

Claude é um fotógrafo solteirão e sedutor, o número ímpar da pequena comunidade. E Albert lê cartas destinadas a Claude, nas quais descobre que tanto Annie (Geraldine Chaplin) quanto Jeanne tiveram tórridos casos extraconjugais com o melhor amigo, 40 anos atrás. Albert registra sua descoberta na carta ininterrupta que escreve para si mesmo. E, ao reler o diário a cada manhã, relembra a traição que pode colocar em risco o delicado equilíbrio daquela comunidade construída sobre afeto, solidariedade e a necessidade de unir forças contra um mundo hostil à velhice.

Albert depara-se com uma questão muito mais profunda do que os esquecimentos involuntários causados pela velhice. Ele precisa agora enfrentar a memória como escolha. A cada manhã, ele sobressalta-se primeiro com a notícia de que a mulher tem um câncer que a levará à morte próxima. Em seguida, com a descoberta de que ela o traiu com o melhor amigo 40 anos atrás. O que fazer agora que a velhice lhe deu a possibilidade de escolher o que lembrar e o que esquecer?

A escolha de Albert é um ato completo de amor. Ele decide sofrer a cada dia – e dia após dia – o impacto da notícia de que Jeanne tem um câncer e que vai morrer em breve. Apesar de ser talvez a notícia mais brutal de uma existência inteira, é a forma que ele encontra de estar com ela, de não deixá-la sozinha nesse momento, de viver essa dor junto com a mulher que ama, mesmo que ela nunca saiba disso. Escolher lembrar quando podia simplesmente esquecer é a forma que Albert encontra de amar Jeanne mais e melhor – até o fim.

Se escolhe lembrar a doença e a morte de Jeanne, Albert escolhe esquecer a traição de Jeanne. Depois de dar muitas voltas na casa e em si mesmo, ele rasga a página do diário na qual relata a descoberta, a amassa e a guarda no bolso. Antes, porém, conta a Jean que ele também tinha sido traído pela própria mulher e pelo melhor amigo. Assim, Albert lega a Jean uma memória que o amigo pode superar, mas não esquecer. Albert pode ter feito isso tanto por sentimento de lealdade quanto pelo sentimento de vingança, na medida em que o temperamento explosivo de Jean é bem conhecido. Ou ainda por acreditar que Jean tem o direito de decidir por si mesmo como quer lidar com essa memória. Mas ele, Albert, escolhe esquecer. E este, ainda que de uma forma mais tortuosa, é um ato de amor tanto pela mulher quanto pelo amigo.

Viver, não apenas para os velhos, é uma constante escolha entre o que lembrar e o que esquecer. Ainda que para isso a maioria de nós tenha de travar um embate feroz com seus fantasmas antes de conseguir arrancar uma página espinhosa. Alguns envenenam a própria vida ao fixar-se numa lembrança mais letal que cianureto, condenando-se a um eterno presente congelado, o que é um tipo de morte. E outros perdem essa mesma vida ao transformá-la na fuga incessante de algo que só poderão esquecer se primeiro tiverem lembrado e enfrentado como lembrança.

Ainda que nossas escolhas em torno da memória sejam não mais difíceis do que a de Albert, mas seguramente mais demoradas, nossa existência é determinada por elas. Tanto na esfera pessoal quanto na pública. É uma escolha na esfera pública a decisão de o que fazer com a memória que está em jogo na Comissão Nacional da Verdade, por exemplo, ao apurar os crimes da ditadura. E nesta, em minha opinião, é preciso lembrar – com todas as consequências implicadas nesse gesto – para que o país possa seguir adiante.

Assim como é uma escolha na esfera pessoal o lugar e o tamanho que cada um dá a uma determinada experiência nos muitos mal entendidos entre pais e filhos. É por preferir seguir lembrando uma ausência, uma humilhação ou um equívoco, dia após dia como se fosse o primeiro, em vez de lidar, transformar em marca e então esquecer – ou pelo menos dar à experiência um lugar e um tamanho mais compatíveis com o movimento da vida – que muitos chegam ao amanhã apenas no calendário, mas morrem com as unhas cravadas no ontem.

Como nos mostra Albert, escolher o que lembrar e o que esquecer é também um ato de amor. E nunca é um ato fácil, como não é fácil o amor.

É também um ato de amor a magistral cena final desse filme. E esta eu não vou contar mesmo para quem já viu. Nela, Albert faz, mais uma vez, uma escolha profunda em torno da memória. E são os amigos que provam saber amar ao não apenas acolherem, mas embarcarem na sua escolha. Fazem isso porque compreendem que a vida contém proporções talvez equivalentes de realidade e de delírio, mesmo quando a gente finge não saber disso. E que amar é, às vezes, lembrar de esquecer.

Eliane Brum escreve às segundas-feiras
http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/eliane-brum/noticia/2012/11/memoria-e-tanto-lembrar-quanto-esquecer.html

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Gonzaga

De pai para filho.

Bem mais ou menos o filme...

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A dor dos filhos

No livro “Os enamoramentos”, de Javier Marías (Companhia das Letras, 2012), uma das personagens diz:


- Os filhos dão muita alegria e tudo o mais que se costuma dizer, mas também, e isso não se costuma dizer, dão muita pena, permanentemente, o que não creio que mude nem quando forem maiores. Você vê a perplexidade deles diante das coisas, e isso dá pena. Vê a boa vontade deles, quando estão a fim de ajudar e acrescentar algo próprio mas não podem, e isso também dá pena. Dá pena a seriedade deles e dão pena suas brincadeiras elementares e suas mentiras transparentes, dão pena suas desilusões e também suas ilusões, suas expectativas e suas pequenas decepções, sua ingenuidade, sua incompreensão, suas perguntas tão lógicas e até a ocasional má intenção que possam ter. Dá pena pensar quanto lhes falta aprender e no longuíssimo percurso que têm pela frente e que ninguém pode fazer por eles, apesar de estarmos há séculos fazendo e não vejamos a necessidade de que todos os que nascem devam começar outra vez desde o início. Que sentido tem cada um passar pelos mesmos desgostos e descobertas, mais ou menos eternamente?

O fragmento é parte das quatro páginas mais belas deste livro traduzido para o português por Eduardo Brandão. Se você for ler “Os Enamoramentos”, talvez encontre outros momentos de que goste mais. Para mim, o que acontece da página 68 a 71 é, neste livro, o ápice da escritura tão singular de Javier Marías. Não se trata de uma obra sobre o sentimento dos pais diante dos filhos, embora este também seja um “enamoramento”, mas esse pequeno trecho me capturou porque trata de algo que fala aos pais e às mães. E que poucas vezes foi tão bem dito.

Lembro-me do momento exato em que olhei para a minha filha e senti essa dor, que era a dor que eu achava que pudesse ser a dela ou que tinha a certeza de que um dia seria a dela. Tive minha filha aos 15 anos, o que não me deu tempo de esquecer das dores da infância ou da perplexidade da infância, como pode acontecer com aqueles que se tornam pais em idades consideradas mais recomendáveis. Eu me lembrava tanto da dor quanto da perplexidade, e aos 15 anos ainda não tinha feito o luto de nenhuma das duas.

Minha filha tinha uns três ou quatro anos e estava sentada no chão tentando brincar. Eu via o seu esforço e via o seu fracasso. Ou talvez apenas estivesse projetando nela o que sabia que seria seu embate mais ou menos eterno. Mas creio que não, acredito que já era angústia o que havia no seu rostinho redondo, já era perplexidade diante da aridez de alguns dias. Lembro-me de que, naquele momento, as lágrimas pingaram dos meus olhos, como de uma torneira mal fechada. Eu soube ali que jamais poderia tapar aquele buraco, que teria de testemunhar para sempre aquela luta íntima na qual cada um de nós está só. Sempre só. Eu assistia a ela desde já, tão pequena, tão frágil, tão confiante no meu poder ilusório, debatendo-se com a vida. E para sempre diante dela eu pingaria como uma torneira mal fechada. Era um momento silencioso entre nós – e as cartas já estavam dadas muito antes de nós.

Penso que todos os pais que se tornaram pais na modernidade sentem isso – consciente ou inconscientemente. E talvez tornar-se pai e tornar-se mãe se dá também na escolha do que fazer com esse sentimento. Tornar-se pai e mãe porque ser pai e mãe não é algo dado, algo que acontece a partir de um ato biológico, sempre mais explícito para as mulheres do que para os homens. Tampouco basta estar no lugar de pai e de mãe, para além dos laços biológicos. É preciso efetivamente ocupar esse lugar – tornar-se pai e mãe é um processo que não está nem dado nem garantido, exige um contínuo movimento de vir a ser, raramente fácil ou simples.

É conhecida a dificuldade atual de exercer a função paterna e a função materna, porque é mesmo muito mais difícil ocupar um lugar em um mundo movediço, no qual a tradição já não determina o que devemos fazer acima de qualquer questionamento. E aqui não há nenhuma nostalgia das amarras da tradição, embora ela tenha o seu papel, apenas a constatação de que é previsível que nos percamos quando a pergunta de quem somos deixa de ter uma resposta óbvia. Embora tantos pais busquem nos infindáveis manuais as respostas que já não há tradição para dar, talvez esteja na literatura não as respostas, mas a complexidade das perguntas. Por paradoxal que pareça, me parece que tudo fica mais claro quando se complica.

É pelo consumo – e aí possivelmente nunca antes como agora – que se tenta tapar esse buraco aberto no peito dos nossos filhos. Um objeto seguido de outro objeto, a ilusão de que algo foi preenchido com duração cada vez mais curta, o desejo pelo produto seguinte cada vez mais imperativo, a frustração sempre abissal entre um e outro. Com alguma imaginação, é possível enxergar um filme de zumbis nas cenas de shopping, pequenos arrastando grandes por corredores iluminados, em busca não de cabeças humanas, mas de mercadorias para triturar com dentes que não estão na boca.

Mas não protegemos nossos filhos deste vazio, não há como protegê-los daquilo que é uma ausência que nos completa. Penso que este é o momento crucial da maternidade e da paternidade. Cada um de nós, que se sabe faltante, diante da falta que grita no filho. Quando me vi diante desse abismo, como a personagem de “Enamoramentos”, ela num momento muito diverso e muito mais limite do que o meu, lembro-me de me sentir envolta em melancolia. Eu soube ali, naquele instante prosaico em que minha pequena filha procurava por algo que talvez não pudesse ser encontrado em nenhum lugar além dela mesma, que eu haveria de conviver com uma falência dali em diante. Minha melancolia não se devia às dificuldades de uma maternidade precoce – mas à certeza de que proteger minha filha era uma missão desde sempre fracassada. E eu sabia porque eu lembrava – e esta talvez seja uma duvidosa vantagem de ser mãe adolescente.

Em outro livro, “Noites Azuis” (Nova Fronteira, 2012), este autobiográfico, Joan Didion descreve lindamente essa condição que só se tornaria clara para ela depois da morte da filha. Ao folhear um diário de Quintana, Joan descobriu que o medo da menina era “cair no vazio”. Em vez de aceitar este medo, conectar-se com ele, escutá-lo, a mãe escritora se pôs a corrigir a gramática. Impotente, mas sem aceitar a impotência, mesmo depois da tragédia, ela eliminou furiosamente as vírgulas em lugar errado no texto da adolescente. Quintana já tinha partido, mas ainda era tudo o que a mãe se sentia capaz de fazer diante do pavor da filha de “cair no vazio”.

Esta mesma menina, muito antes, aos 5 anos, havia ligado para a clínica psiquiátrica mais famosa da região onde a família vivia para fazer uma pergunta devastadora: “O que devo fazer se estiver enlouquecendo”? Durante muitos anos Joan não conseguia compreender por que a filha temia que ela não pudesse protegê-la. Até entender que a pergunta estava errada. A pergunta correta era: “Como ela podia sequer imaginar que algum dia eu poderia tomar conta dela?”
Ao olhar para minha própria filha naquele momento em que eu sabia que a máquina do mundo se abria diante dela para mostrar seu enorme estômago vazio, lembro-me de que, por um momento, pensei em alcançar talvez um outro brinquedo ou lhe oferecer um chocolate (nos anos 80 ainda era possível ser considerada uma boa mãe mesmo dando doces a uma criança pequena, e não uma serial killer nutricional). Mas meu pensamento não virou gesto. Eu sabia que tudo o que eu podia fazer era me manter em silêncio. Que ser mãe, naquele momento, era ser capaz de vê-la debater-se com o vazio, testemunhar o início de seu longo embate vida adentro. E acho que ali, como deve acontecer com os pais e mães que percebem esse momento exato, uma fissura nova se abriu em mim. Esta que para sempre me faria pingar como uma torneira mal fechada.
“Que sentido tem cada um passar pelos mesmos desgostos e descobertas, mais ou menos eternamente?”, pergunta a personagem de “Enamoramentos”, diante da fragilidade dos filhos que, naquele momento, por uma circunstância trágica, lhe era insuportável. E a resposta talvez seja a de que não exista sentido. E exatamente por não existir, só podemos mostrar aos nossos filhos, porque isso é algo que se mostra, não que se diz, que a tarefa de uma vida humana, desde sempre e para sempre, é criar sentido onde não há nenhum. Inventar uma vida é a tarefa que faz de todos nós ficcionistas. E, em geral, uma vida que faz sentido é aquela em que os sentidos são construídos para serem perdidos mais adiante e recriados mais uma vez e sempre outra vez. É o vazio, afinal, que nos faz inventar uma vida humana – e não morrer antes da morte.
É o que fazemos como pais neste momento em que um filho descobre o vazio, um momento mais importante do que a primeira palavra ou o primeiro passo ou o primeiro dente, que também nos torna pais. É preciso aguentar. Saber aguentar e escutar a dor de um filho, sem tentar calar com coisas o que não pode ser calado com coisa alguma, é um ato profundo de amor. Um momento sem palavras em que nosso silêncio diz apenas que a tarefa de criar uma vida que faça sentido é dele, pessoal e intransferível. E tudo o que poderemos fazer é estar mais ou menos por perto, ainda que nada possamos fazer.

E um dia, talvez, receber uma carta/email na qual está escrito: “Mãe: o que eu sempre vi em você era uma pessoa que não desistia do próprio desejo. E que nunca deixou a vida matar a vida”.
Afinal, o que legamos a um filho é o nosso movimento em busca de sentido. E este não pode ser um arrastar-se de zumbi.
Eliane Brum escreve às segundas-feiras.\

http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/eliane-brum/noticia/2012/11/dor-dos-filhos.html

domingo, 4 de novembro de 2012

Por que nao???

Ce ta na fazenda, de boa. Dai junta suas primas e grava um filme com a coreografia da música do momento e posta no rede!!!



Ou entao, ce junto o pessoal depois da prova de matematica, e vai pra praia gravar uma coreografia ousada!