sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Sotaque forte pode ser barreira para estrangeiros

Por De São Paulo
Bom desempenho pode não ser suficiente para garantir o sucesso profissional quando se está em outro país falando uma segunda língua. Um estudo mostra que, apesar de o mercado de trabalho estar cada vez mais globalizado, falar com sotaque forte pode diminuir as chances de profissionais serem indicados a cargos de liderança - e de empreendedores conseguirem financiamento para novos negócios.
Segundo a pesquisa, realizada por professores americanos, essa percepção existe porque os avaliadores julgam que o executivo em questão, mesmo falando o segundo idioma de forma fluente e gramaticalmente perfeita, tem menos habilidade política do que outros que têm o inglês como língua materna.
Laura Huang, da escola de negócios Wharton, e uma das responsáveis pelo estudo, afirma que essa barreira enfrentada por estrangeiros vai na contramão da ideia, amplamente difundida pelas empresas atualmente, de que um ambiente de trabalho mais diverso é essencial para gerar inovação. "Ouvimos muito sobre estarmos em um mercado de trabalho globalizado e sobre as vantagens disso, mas esses esforços acabam frustrados quando as pessoas se deixam levar por esse tipo de preconceito."
Apesar de a pesquisa ter sido feita nos Estados Unidos, Laura considera que esse tipo de mecanismo esteja presente em outros idiomas e países. "Há uma tendência a valorizar mais sotaques padronizados. Em países onde há uma hierarquia mais forte e a distância entre o poder e o resto da sociedade é grande, isso pode aparecer ainda mais", explica. O estudo foi conduzido por Laura junto com Marcia Frideger, da Universidade Holy Names, e Jone Pearce, professor que atua na Universidade da Califórnia em Irvine e na London School of Economics and Political Science.
Em um dos experimentos, recrutadores analisaram o currículo e ouviram uma gravação com trechos de entrevistas de profissionais com idade e perfil similares, mas sotaques distintos. Apesar de as gravações seguirem o mesmo roteiro, aqueles que apresentaram sotaque estrangeiro forte foram menos recomendados. Em um segundo estudo, participantes avaliaram vídeos de 90 apresentações de empreendedores em competições de startups de tecnologia e escolheram os que mais tinham chance de receber investimentos. Aqueles que tinham sotaques fortes também acabaram preteridos.
Apesar do engajamento de empresas do Vale do Silício em influenciar a aprovação de reformas que facilitem a regulamentação de profissionais e empreendedores estrangeiros, Laura diz que percebe esse tipo de comportamento contra profissionais com sotaque forte também nesse meio. "Mesmo em um ambiente de alta tecnologia e inovação, onde as habilidades tecnológicas deveriam ser mais importantes do que percepções de sotaque, vemos esse tipo de preconceito", explica a professora.
Recentemente, o americano Paul Graham, cofundador da Y Combinator - responsável por investir em empresas como a plataforma de armazenamento de arquivos em nuvem Dropbox e o site de aluguel de quartos Airbnb -, admitiu em uma entrevista à revista "Inc" que uma das razões que o fazem desistir de investir em uma startup é o fundador ter um sotaque estrangeiro forte. "Não tenho certeza do motivo. Talvez haja uma série de coisas sutis que empreendedores precisam comunicar, e você não consegue fazer isso se tiver muito sotaque. Ou talvez porque qualquer pessoa com meio cérebro sabe que você será mais bem-sucedido se falar inglês com expressões idiomáticas. Se a pessoa ainda não se livrou de um sotaque forte, ela não deve ter noção de nada".
Após sua opinião ter gerado duras críticas, ele respondeu que seus comentários eram direcionados não a quem possui sotaque estrangeiro forte, mas a pessoas que têm dificuldade em se fazer entender no segundo idioma.
Para a professora, o fato de o processo de recrutamento para cargos executivos geralmente começar com conversas por telefone e de empreendedores precisarem expor suas ideias em apresentações curtas torna a linguagem usada um aspecto proeminente da avaliação desses profissionais - o que pode fazer com que esse tipo de preconceito tenha um papel forte na decisão de contratar ou investir. "Há uma mudança de foco da qualidade das ideias para a qualidade do seu inglês falado."
Dessa forma, segundo Laura, estar ciente desse tipo de julgamento é o primeiro passo para recrutadores e investidores não se deixarem levar por essa percepção. No caso dos candidatos e empreendedores, a professora recomenda que eles destaquem, ao se apresentarem, situações que demonstrem suas habilidades políticas, para que os avaliadores tenham outras formas de julgá-las. (LA)


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