Economista que não economiza em palavras... Porque mesmo sem motivo eu gosto de falar.
sábado, 30 de novembro de 2013
sexta-feira, 29 de novembro de 2013
Homens reagem a Lulu com aplicativo masculino Tubby
Acho tudo isso uma pobreza, mas é como a banda toca hoje em dia. O grau de exposição de si próprio em redes sociais já me incomoda. Casais se formam e se desmancham via Facebook. Separações de longos casamentos são comemoradas por um “enfim solteiro(a)!” compartilhado com uma multidão de “amigos”, sem a menor consideração pelos sentimentos do outro ou da outra, que pode estar sofrendo muito. Falta elegância – discrição então nem se fala...Mas, se alguém resolve se exibir, é menos cruel do que constranger um conhecido, um ficante, um namorado, dando notas e conceitos sobre sua personalidade amorosa ou sexual.
A loira jamaicana Alexandra Chong, de 32 anos, criou o aplicativo para celular Lulu em fevereiro deste ano. O objetivo era mais inofensivo, engraçadinho e inocente do que aparentemente se tornou nas mãos de moças venenosas. Era para ajudar as meninas a compartilhar informações sobre pretendentes e ex-namorados – tipo “ajudar a evitar uma roubada” ou estimular o namoro (Será que as ex recomendam? Não sei não). As opiniões se cruzam e se chega a uma nota média do rapaz (#medo).
Hoje, o Lulu tem mais de 1 milhão de usuárias mulheres nos Estados Unidos. E, no Brasil, já é um dos aplicativos mais baixados e controversos, embora tenha sido lançado oficialmente apenas hoje em São Paulo. Já existem homens querendo processar. Olhe aqui a história do estudante de Direito Felippo Scolari, de uma família de advogados, revoltado com o que chama de constrangimento pessoal e invasão de sua privacidade (privacidade ainda existe?).
Alexandra veio ao Brasil e disse à repórter Roberta Salomone, do jornal O Globo, que o Brasil foi uma escolha fácil para o primeiro lançamento fora dos Estados Unidos por ser “um dos paises mais sociáveis do mundo”, com "uma conhecida cena de festas e encontros".
As usuárias são sempre anônimas, explica Alexandra. Ou seja, qualquer uma pode se vingar de qualquer um. A criadora do Lulu não acha nada antiético. Diz que o aplicativo “é um reflexo do mundo real” porque as garotas discutem relacionamentos e garotos. Desculpe, mas não dá para engolir. Uma coisa é falar dos meninos e dos homens no banheiro ou no bar, numa roda de amigas, assumindo suas opiniões, normalmente em tom de lamúria. Outra é, protegida pelo anonimato, fazer a caveira de um ex. Alexandra diz que bolou o Lulu para ser “um ambiente seguro e divertido para todos”...porque “os homens só podem ser vistos e avaliados por suas amigas do Facebook”. Hummm. Isso ajuda? Muy amigas.
Quem vai rir por último serão os homens. Está em desenvolvimento o Tubby App, que avalia publicamente as meninas, moças, mulheres. É baixaria, do mesmo jeito – ou talvez pior. No Tubby, homens poderão fazer análises sobre as mulheres que conhecem usando hashtags para falar sobre seus pontos positivos e negativos, do mesmo jeito que acontece com o Lulu. Tudo anonimamente. O aplicativo deverá ser restrito ao público masculino e o download deve ser liberado na semana que vem, tanto para Android quanto iOS. E, claro, como não poderia deixar de ser em se tratando de homens, o aplicativo mostra o quanto a mulher em questão é “rodada”. Machista? Muito. Mas o que as moças do Lulu esperavam?
Não entrei em nenhum dos apps para ver como funcionam. Para mim, esse mundo não funciona, não me excita. Na verdade, me deprime. Eu pediria para sair.
Fico imaginando se a Alexandra Chong achará divertido e seguro quando namoradinhos sacanas e ex-ficantes anônimos a avaliarem no Tubby.
IBGE: um quinto dos jovens no Brasil é "nem-nem", que não estuda nem trabalha
Hanrrikson de Andrade
Do UOL, no Rio
Procuro estudar em casa mesmo, manter-me atualizado e aproveito a parte da noite para mandar currículos. Vejo todas as vagas que saíram e participo de entrevistas, mas o mercado está muito restrito
Danilo Sampaio, carioca, 23
Do UOL, no Rio
Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) baseados na Pnad 2012 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) e divulgados nesta sexta-feira (29) mostram que o número de jovens de 15 a 29 anos que não estudava e nem trabalhava chegou a 9,6 milhões no país no ano passado, isto é, uma em cada cinco pessoas da respectiva faixa etária.
O número --que representa 19,6% da população de 15 a 29 anos-- é maior do que a população do Estado de Pernambuco, que, de acordo com o Censo 2010, era de 8,7 milhões de pessoas. Na comparação com 2002, quando 20,2% dos jovens nessa faixa etária não estudavam e não trabalhavam, houve leve redução: 0,6 ponto percentual.
A Pnad é uma pesquisa feita anualmente pelo IBGE, exceto nos anos em que há Censo. No ano passado, a pesquisa foi realizada em 147 mil domicílios, e 363 mil pessoas foram entrevistadas. Há margem de erro, mas ela varia de acordo com o tamanho da amostra para cada dado pesquisado.
De acordo com a pesquisa "Síntese de Indicadores Sociais", a maioria dos que formam a geração "nem-nem" (nem estuda nem trabalha) é de mulheres: 70,3%. A incidência é maior no subgrupo formado pelas pessoas de 25 a 29 anos, onde as mulheres representavam 76,9%.
Já entre os jovens de 15 a 17 anos, a distribuição é mais equilibrada: 59,6% das pessoas que responderam que não estudavam nem trabalhavam eram mulheres. No subgrupo de 18 a 24 anos, por sua vez, as mulheres representavam 68%. Entre essas jovens, 58,4% já tinham pelo menos um filho, e 41% declararam que não eram mães.
Considerando apenas as mulheres que já haviam dado à luz pelo menos uma vez, o número de pessoas que não estudava nem trabalhava também era maior no subgrupo de 25 a 29 anos (74,1%).
"A gente não tinha feito essa conta antes. (...) Começamos a ver pelos grupos de idade, e vimos que há uma relação muito forte entre não estar estudando e trabalhando com a questão da maternidade. Não queremos dizer que isso é a causa", afirmou a coordenadora da pesquisa, Ana Lúcia Saboia. "Não podemos falar da relação de causalidade, e sim de uma relação estreita. Entre as pessoas mais pobres, o acesso à escola é menor. Não estou dizendo que isso é a causa, mas há uma relação bastante direta."
A Síntese de Indicadores Sociais revela, no entanto, que houve uma diminuição no índice de mulheres que não estudavam e nem trabalhavam em um período de dez anos. Em 2002, as mulheres representavam 72,3% da geração "nem-nem" --consequentemente, houve crescimento de dois pontos percentuais no número de homens em tal situação, no mesmo período.
As estatísticas mostram ainda que a maioria dos jovens "nem-nem" tinha ensino médio completo (38,6%), sendo a maior parte no subgrupo de 18 a 24 anos (43,2%). Apenas 5,6% desses jovens possuíam ensino superior (completo ou incompleto), e 32,4% representavam aqueles que não concluíram o ensino fundamental.
"Eu não gostaria de dizer que essas pessoas que não estão estudando ou trabalhando são ociosas ou um bando de inúteis. É uma situação momentânea que pode acontecer. De qualquer maneira, a gente tem que prestar atenção", disse Ana Lúcia. "Em princípio, de 15 a 17 e de 18 a 24 anos, não dá para não estar estudante nem trabalhando. É um motivo de preocupação."
Segundo o IBGE, enquanto 19,% dos jovens de 15 a 29 anos não trabalham nem estudam, 45,2% somente trabalham, 13,6% trabalham e estudam e 21,6% estudam apenas.
Intercâmbio
A reportagem do UOL entrevistou dois jovens que estão atualmente sem estudar e sem trabalhar: o carioca Danilo Sampaio, 23, e o gaúcho João Pedro Monteiro, 21. Ambos passam por dificuldades para conseguir a recolocação no mercado depois de terem feito viagens de intercâmbio.
Há dois anos, ainda cursando Relações Públicas na Facha (Faculdades Integradas Hélio Alonso), Sampaio voltou de um intercâmbio nos Estados Unidos, chegou a estagiar em sua área de atuação, mas não conseguiu se firmar na empresa. Formado desde meados desse ano, o carioca diz estar em busca de uma vaga.
"Procuro estudar em casa mesmo, manter-me atualizado e aproveito a parte da noite para mandar currículos. Vejo todas as vagas que saíram e participo de entrevistas, mas o mercado está muito restrito", declarou.
O jovem disse aproveitar o período da manhã e da tarde para cuidar da saúde: "Durante o dia, eu tenho feito bastante exercício. Vou à academia, corro, enfim, tento cuidar da minha saúde".
PROCURANDO EMPREGO
Procuro estudar em casa mesmo, manter-me atualizado e aproveito a parte da noite para mandar currículos. Vejo todas as vagas que saíram e participo de entrevistas, mas o mercado está muito restrito
Recentemente, Sampaio viajou para a Europa, onde, segundo ele, teve oportunidade de treinar o inglês, algo que considera fundamental para estar bem colocado no mercado de trabalho. Na opinião dele, as experiências internacionais compensaram o período no qual ele não estava "nem estudando nem trabalhando".
"No meu ponto de vista, o intercâmbio foi bem positivo. A gente acaba convivendo com o mundo e o mercado lá fora. Na Europa e nos Estados Unidos, eles são muito pontuais nesse sentido. Também melhorei a questão do idioma, voltei com o inglês muito melhor. Eu larguei um estágio aqui para fazer o intercâmbio e não me arrependi", disse.
Questionado se havia sofrido, em algum momento, pressão da família e/ou dos amigos em razão de sua condição atual, o jovem formado em Relações Públicas afirmou que o único "sentimento de cobrança" surge dele próprio: "É uma pressão minha mesmo. Às vezes eu me sinto inútil e incompetente. Mas a minha família está vendo que eu estou correndo atrás".
Já João Pedro Monteiro, que voltou há dois meses de um intercâmbio cultural na Alemanha, contou ao UOL que, embora tenha conhecido vários países europeus e acumulado experiência internacional, enfrenta dificuldades para conseguir uma colocação na sua área de atuação. Seu último emprego foi como decorador.
"Às vezes parece que aquela experiência que você adquiriu lá fora não vale de nada. Ou você não é valorizado como deveria ser ou as pessoas pensam que você é muito qualificado para um cargo de dois salários mínimos", disse ele, que ficou fora durante três meses e meio.
3 MESES E MEIO NA ALEMANHA
- O gaúcho João Pedro Monteiro, 21, afirmou não se arrepender do intercâmbio na Alemanha, mas diz que sua experiência internacional poderia ser mais valorizada em relação à busca pela recolocação no mercado
Mesmo assim, o jovem afirmou não ter se arrependido de se aventurar pelo Velho Continente. "São coisas que eu vou levar para o resto da vida. Conheci diversas culturas. Isso até me ajuda a entender melhor o Brasil", declarou.
Monteiro disse ter feito seis entrevistas desde o mês passado, quando começou a mandar currículos. O gaúcho afirma contar com o apoio da família, mas "saber que rola" comentários maldosos a respeito de sua condição. "Mas ninguém falou nada até agora", disse.
"Minha mãe trabalha bastante e eu tento ajudá-la no que eu posso. Mas às vezes eu me sinto mal, como se eu não tivesse conseguido avançar. Eles estão vendo o meu esforço. Mas eu me preocupo que eles pensem que eu voltei de viagem e não fiz nada da vida", completou.
"Nem-nem" por região
O Nordeste é a região na qual estava concentrada a maior parte da geração "nem-nem": 23,9%. O Norte, por sua vez, tinha 21,9%. As regiões Sudeste (18,1%), Centro-oeste (17,4%) e Sul (15%), respectivamente, estavam abaixo dos 20%.
Na divisão por Estado, o Amapá aparecia no topo do ranking, com 27,8% de jovens que não trabalham nem estudam. Já Alagoas registrava 27,4% e Pernambuco, 26,9%. Por outro lado, Santa Catarina destacava-se positivamente na pesquisa do IBGE, com apenas 12,7%.
Já em relação ao subgrupo de 18 a 24 anos, o panorama mais preocupante dizia respeito aos Estados de Alagoas (35,2%) e Amapá (35%). Neste último, o índice de pessoas que não trabalhavam nem estudavam era maior do que o de indivíduos que só trabalhavam, só estudavam ou trabalhavam e estudavam paralelamente.
3,4 milhões em 2011
Um estudo do do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), com base nos dados da Pnad 2008, mostrou que, à época, 3,4 milhões de jovens brasileiros entre 18 e 24 não estudavam e tampouco trabalhavam.
Ou seja, considerando o levantamento feito pelo IBGE no ano passado, mais de seis milhões de jovens se juntaram ao grupo dos "nem-nem".
Em 2008, o contingente representava 14,6% do total de 23,2 milhões de jovens da época referência da pesquisa. O estudo foi publicado no começo de 2011 no boletim "Na Medida", disponível no site do Inep.
quarta-feira, 27 de novembro de 2013
Inferno, Dan Brown
"Foi entao que se lembrou de um antigo proverbio grego atribuido a alguns doss primeiros mergulhadores a caçarem lagostas nas cavernas de coral das ilhas do Egeu: quando se esta nadando em um tunel escuro, chega um momento em que nao se tem mais folego para voltar. A unica alternativa é seguir nadando rumo ao desconhecico... E rezar por uma saida"
"Os seres humanos foram evoluindo aos poucos ao longo de varios milenios e inventaram novas tecnologias nesse tempo: esfregaram um graveto nomoutro para obter calo, desenvolveram a agricultura para se alimentar, inventaram vacinas para combater doenças. Agora criaram ferramentas genéticas para ajudar a adaptar nosso corpo de modo a nos tornarmos aptos a sobreviver nesse mundo [...]
Quer dizer que voce acredita que devamos acolher essas ferramenrtas de braços abertos?
Se nao as acolhermos, seremos tao pouco merecedores da vida quanto um homem das cavernas que morre de frio por medo de acender uma fogueira"
"Le,bre-se dessa noite, pois ela é o início da eternidade"
segunda-feira, 25 de novembro de 2013
Marcas famosas são 'recriadas' para ajudar brasileiros na pronúncia
Darlan AlvarengaDo G1, em São Paulo
Quem nunca se enrolou ou não conhece alguém que escorregou na hora de pedir um sorvete Häagen-Dazs, comprar uma roupa da grife Tommy Hilfiger, encomendar um Tupperware ou falar o nome do parque Wet'n Wild? Foi para ajudar os brasileiros na pronúncia de marcas famosas estrangeiras que o publicitário curitibano Gustavo Asth, de 26 anos, decidiu criar o tumblr #ComoFala.
Publicitário curitibano recria marcas famosas para ajudar brasileiros na pronúncia correta (Foto: Divulgação)
Em pouco mais de 3 meses do lançamento da página, o blog já acumula mais de 145.000 acessos, segundo o publicitário, já ganhou uma fanpage no Facebook e começa a atrair até empresas interessada em parcerias para a divulgação de suas marcas.
“Nasceu meio que como uma brincadeira, não tinha nenhuma pretensão. Me incomodava ouvir as pessoas falando ‘Eipol’ em vez de ‘Épou’ (pronúncia da marca Apple). É comum ouvir até garçons falando o nome da cerveja errado”, conta o publicitário.
As primeiras recriações de marcas foram feitas pelo próprio Asth, que trabalha como redator publicitário em uma agência de Curitiba. Atualmente, o tumblr é mantido com a ajuda do amigo e diretor de Arte Pedro Falcão, encarregado dos layouts das recriações das marcas, que seguem as tipologias originais.
Entre as dezenas de marcas que já ganharam versões ‘aportuguesadas’ estão Subway (Sãbuei), Stella Artois (Stela Artoá), Walmart (Uóumart), Schweppes (Xuéps) e Michelin (Michelã).“No começo era uma lista pessoal, agora recebo sugestões todos os dias”, diz Asth.
A repercussão das recriações já chamou a atenção até de marcas. O publicitário afirma que já foi procurado por empresas interessadas em parcerias para a recriação de suas marcas.
“Estamos em negociação para fechar o que deve ser o primeiro post encomendado. Mas não é esse o nosso objetivo. Para mim o mais válido é a visibilidade que este trabalho me dá como profissional de criação”, diz.
Segundo ele, até o momento, nenhuma empresa reclamou da brincadeira. “As marcas têm levado numa boa. Uma delas até procurou a gente para negociar o compartilhamento da imagem. O que é até um pouco engraçado, pois teoricamente quem teria que pedir autorização seria eu”, completa.
sexta-feira, 22 de novembro de 2013
O que as gatas me ensinam
IVAN MARTINS
20/11/2013 09h09 - Atualizado em 20/11/2013 14h32
Há dois meses ando apaixonado por um par de gatas. Carlota e Elisabeth. Elas entraram em casa por insistência da minha mulher e viraram parte da rotina. E da vida. Miam quando eu chego, sobem na cama e cheiram a minha cara quando acordo, sentam no meu colo quando estou lendo ou quando escrevo no computador. Eu falo com elas, brinco com elas, ralho com elas, dou comida e troco a areia da caixinha. Elas me fazem agradável companhia quando estou sozinho. Em troca, compro religiosamente a ração cheirosa que elas tanto apreciam.
O fato de ter um par de gatas não me torna um ser humano melhor, não me faz sentir uma espécie de ativista e nem desconta a minha culpa – enorme - por não fazer o que é preciso para melhorar a vida das pessoas desprotegidas do meu país. Não acho, evidentemente, que minhas gatas são tão importantes quanto as criaturas humanas que me cercam. Mas tê-las em casa me deixa contente. Cuidar delas e conviver com elas são atos de prazer egoísta que me fazem bem, e que talvez façam bem a elas.
Também aprendo coisas com as gatas.
Também aprendo coisas com as gatas.
A primeira, óbvia, é que é bom cuidar delas. Pequenos rituais, como o de alimentar e tratar os bichos, são imensamente gratificantes. Não tomam tempo demais e nos fazem sentir necessários e úteis. Talvez algo em nós precise dessa responsabilidade sobre outra vida. Seres humanos necessitam de nós, claro, mas eles são complicados e imprevisíveis. Podem nos criticar, podem exigir demais de nós ou (infinitamente pior) podem virar as costas e ir embora. Gatos jamais. Eles não nos abandonam e não nos desapontam. À maneira deles, vivendo uma vidinha paralela em sua bolha felina, passam a vida conosco. É improvável que retribuam nossos ternos sentimentos, mas certamente precisam de nós. E isso basta.
Observando os gatos, sou tentado a fazer comparações e analogias com os humanos.
Observando os gatos, sou tentado a fazer comparações e analogias com os humanos.
Minhas gatas têm personalidades opostas entre si. Elisabeth, de oito meses, é uma dama elegante e delicada. Minha mulher a chama de bailarina. Ela se move com leveza pela casa e mantém distância emocional e física dos humanos. Gosta de tomar banho de sol na janela sem ser importunada. Quando se aproxima, é nos termos dela. Elisabeth canta. Ou melhor, mia desconsoladamente e sem razão aparente. De início, achei que era o intestino. Agora eu percebi que Elisabeth é melancólica. A veterinária disse que ela tem todos os ossos do rabo quebrado e uma calcificação óssea na espinha. Parece ter sido maltratada antes de chegar ao abrigo onde a recolhemos. Isso explica o jeito esquivo e desconfiado, assim como a tristeza dela. Elisabeth tem medo. Ou teve.
Carlota, dois meses mais nova, é um turbilhão. Sobe em todas as mesas, entra no guarda-roupa, brinca com as plantas do vaso até destruí-las. É impertinente e destemida, assim como curiosa. Quando se tenta tirá-la à força de algum lugar, ela reage com arranhões. Nasceu na obra do novo estádio do Corinthians, eu imagino. Se eu grito com ela, ou tento fazer gestos para assustá-la, me encara com total indiferença. Como não teme as pessoas, se aproxima com facilidade. Permite que a gente a pegue no colo e brinque com ela. Outro dia, meio bebum, eu a segurei no chão pelas patinhas da frente e fiz barulho com a boca na barriga dela, como se faz com as crianças. Ela ficou perplexa.
Carlota me faz pensar como são felizes as pessoas destemidas. Elas estão mais relaxadas. Desfrutam melhor do mundo ao redor delas. Se alguém tentar incomodá-las ou feri-las, reagem e vão embora. É mais simples, não é? Elisabeth, que tem medo de tudo, sugere que a vida deixa marcas. Não sei se o tempo fará com que ela se sinta segura na companhia de gente. Talvez não. Talvez ela seja naturalmente tímida. Mas isso faz que seja mais gostoso quando ela, num rompante, escala o sofá, supera suas reservas e decide, autonomamente, que vai dormir na minha barriga. Nestas horas, minha gata delicada faz com que eu me sinta alguém especial.
Fico tentado a imaginar que a mulher ideal seria a mistura das duas. A meiguice de uma com a impetuosidade da outra. A melancolia da Elisabeth com a vivacidade da Carlota. Mas isso não existe, certo? A personalidade das pessoas não é construída para nos agradar ou para fazê-las mais desejáveis. Elas são como são. Imprescindíveis, adoráveis ou detestáveis à sua maneira. E alternadamente.
Carlota, dois meses mais nova, é um turbilhão. Sobe em todas as mesas, entra no guarda-roupa, brinca com as plantas do vaso até destruí-las. É impertinente e destemida, assim como curiosa. Quando se tenta tirá-la à força de algum lugar, ela reage com arranhões. Nasceu na obra do novo estádio do Corinthians, eu imagino. Se eu grito com ela, ou tento fazer gestos para assustá-la, me encara com total indiferença. Como não teme as pessoas, se aproxima com facilidade. Permite que a gente a pegue no colo e brinque com ela. Outro dia, meio bebum, eu a segurei no chão pelas patinhas da frente e fiz barulho com a boca na barriga dela, como se faz com as crianças. Ela ficou perplexa.
Carlota me faz pensar como são felizes as pessoas destemidas. Elas estão mais relaxadas. Desfrutam melhor do mundo ao redor delas. Se alguém tentar incomodá-las ou feri-las, reagem e vão embora. É mais simples, não é? Elisabeth, que tem medo de tudo, sugere que a vida deixa marcas. Não sei se o tempo fará com que ela se sinta segura na companhia de gente. Talvez não. Talvez ela seja naturalmente tímida. Mas isso faz que seja mais gostoso quando ela, num rompante, escala o sofá, supera suas reservas e decide, autonomamente, que vai dormir na minha barriga. Nestas horas, minha gata delicada faz com que eu me sinta alguém especial.
Fico tentado a imaginar que a mulher ideal seria a mistura das duas. A meiguice de uma com a impetuosidade da outra. A melancolia da Elisabeth com a vivacidade da Carlota. Mas isso não existe, certo? A personalidade das pessoas não é construída para nos agradar ou para fazê-las mais desejáveis. Elas são como são. Imprescindíveis, adoráveis ou detestáveis à sua maneira. E alternadamente.
Neste exato instante, escrevendo com Carlota no colo, enquanto Elisabeth nos observa deitada na estante do escritório, eu não sei de qual delas gosto mais. À sua maneira, as duas enchem a minha manhã. Uma mia, anda pela casa e observa. A outra escala a mesa, deita no teclado e termina por se ajeitar no meu colo. Se fossem duas mulheres, eu não saberia qual escolher. Estaria apaixonado pelas duas. Na verdade, pelas três gatas aqui de casa.
(Ivan Martins escreve às quartas-feiras)
Dançando na chuva
Chuva nessa êpoca só cai na hora errada.
Tipo na hora do treinamento de incêndio no Cenu (1h30 pra voltar ao trabalho).
Ou quando vc sai do ônibus. Dai o que fazer? Ligar Gusttavo Lima no talo e sai cantando na chuva! Ce chega em casa molhado, mas feliz :D
Ta no inferno, abraça o capeta
Baby
Eu tinha cara de criança ou envelheci nos últimos 1,5 anos???
Eeee somares que causaram em uberlandia!!
terça-feira, 19 de novembro de 2013
Bode da pós
Quase 18meses depois, ja deu meu saco pra aulas na pós.
E o professor causando na matéria e liberandl as 2235!!
Ainda bem que só falta mais uma mensalidade!!!!!
Décadas
E depois de tempos sem se ver, algumas discussões, bodes, novas vidas e novos amigos, uma tarde de sábado sempre é gostosa quando nos juntamos!!
quarta-feira, 13 de novembro de 2013
A sombra que nos habita
IVAN MARTINS
13/11/2013 09h02
Há uma tristeza em nós que sobrevive às maiores alegrias. Todo mundo sabe disso. Freud, Shakespeare, Paulo Leminski. Um dia, inevitavelmente, os neurocientistas irão localizar, com ajuda de ressonância magnética, o vão do cérebro que permanece cinza mesmo no auge da euforia e no ápice da paixão. Então saberemos, com rigor científico, o que sempre soubemos: que a sombra e a melancolia são partes inseparáveis de nós.
Ter isso claro ajuda a entender o que nos passa. Ajuda a compreender nossos humores estranhos. Ajuda a entender uma tarde sombria no auge do verão. Ajuda a aceitar uma noite em claro, o silêncio no meio da festa, a vontade irresistível de chorar ouvindo uma canção no rádio. Também somos assim.
Às vezes temos sonhos de abandono em momentos serenos da vida. Neles, a pessoa que a gente ama vai embora, nos vira as costas, torna-se repentina e irremediavelmente inacessível. A gente acorda de um sonho desses com a alma turva, tomado de desconfiança. Olha cheio de ressentimento para a outra, adormecida ali ao lado, e se pergunta: por quê?
Não acho que exista uma resposta, mas eu tenho uma teoria.
Ter isso claro ajuda a entender o que nos passa. Ajuda a compreender nossos humores estranhos. Ajuda a entender uma tarde sombria no auge do verão. Ajuda a aceitar uma noite em claro, o silêncio no meio da festa, a vontade irresistível de chorar ouvindo uma canção no rádio. Também somos assim.
Às vezes temos sonhos de abandono em momentos serenos da vida. Neles, a pessoa que a gente ama vai embora, nos vira as costas, torna-se repentina e irremediavelmente inacessível. A gente acorda de um sonho desses com a alma turva, tomado de desconfiança. Olha cheio de ressentimento para a outra, adormecida ali ao lado, e se pergunta: por quê?
Não acho que exista uma resposta, mas eu tenho uma teoria.
A mim parece que a natureza nos dotou de alarmes. De quando em quando, um deles dispara para nos lembrar, realisticamente, que não há bem que sempre dure. É como se algo em nós dissesse (através do sonho, da inexplicável melancolia, de um pressentimento repentino), “Por favor, não se acostume. As relações não são eternas, a vida não é simples, a dor é inevitável.” Algo em nós avisa que a tristeza faz parte da vida.
Muita gente não está interessada, claro. A moda é parecer feliz e bem-sucedido. Tem mais de um rei do camarote dando pinta por aí. Mas essa fachada social sorridente precisa ser posta de lado na intimidade - ou a intimidade não existe. No aconchego de uma relação verdadeira, tem de haver espaço para os nossos medos, as nossas falhas e as inconfessáveis inseguranças. O lado B da alma humana precisa aparecer, nem que seja no escuro. Sem ele a gente não se entende, nem entende o outro.
Isso não cabe na trama das novelas, mas pessoas de verdade têm sonhos e dias ruins. Gente de carne e osso frequentemente parece incompreensível. Certas manhãs, elas nos olham com tanta tristeza que dá vontade de escrever um poema, de abraçar apertado, de segurar pelas bochechas e dizer “Eu sei como é. Eu estou aqui”. Talvez nem adiante, mas faz parte. Estamos nesse mundo também para nos consolar mutuamente.
Por isso acho bacana respeitar minha tristeza e a dos outros. Ela faz parte. Nos livra da idiotia de um sorriso permanente. Nos coloca em harmonia com um mundo nem sempre gentil. Reflete algo de profundo e inexorável da nossa biologia. No final das contas, é parte de nós. Como a alegria. Se não ligarmos para ela durante o dia, virá nos visitar durante a noite, num sonho – do qual sairemos de olhos molhados e sozinhos, até que um abraço nos resgate.
Muita gente não está interessada, claro. A moda é parecer feliz e bem-sucedido. Tem mais de um rei do camarote dando pinta por aí. Mas essa fachada social sorridente precisa ser posta de lado na intimidade - ou a intimidade não existe. No aconchego de uma relação verdadeira, tem de haver espaço para os nossos medos, as nossas falhas e as inconfessáveis inseguranças. O lado B da alma humana precisa aparecer, nem que seja no escuro. Sem ele a gente não se entende, nem entende o outro.
Isso não cabe na trama das novelas, mas pessoas de verdade têm sonhos e dias ruins. Gente de carne e osso frequentemente parece incompreensível. Certas manhãs, elas nos olham com tanta tristeza que dá vontade de escrever um poema, de abraçar apertado, de segurar pelas bochechas e dizer “Eu sei como é. Eu estou aqui”. Talvez nem adiante, mas faz parte. Estamos nesse mundo também para nos consolar mutuamente.
Por isso acho bacana respeitar minha tristeza e a dos outros. Ela faz parte. Nos livra da idiotia de um sorriso permanente. Nos coloca em harmonia com um mundo nem sempre gentil. Reflete algo de profundo e inexorável da nossa biologia. No final das contas, é parte de nós. Como a alegria. Se não ligarmos para ela durante o dia, virá nos visitar durante a noite, num sonho – do qual sairemos de olhos molhados e sozinhos, até que um abraço nos resgate.
(Ivan Martins escreve às quartas-feiras)
terça-feira, 12 de novembro de 2013
Quem não bebe não ganha dinheiro e não sobe na carreira, diz NYT
Beber é essencial para ter uma carreira profissional promissora e,
conseguentemente, ganhar dinheiro. A afirmação é do jornal mais influente do
mundo, o The New York Times, que, em reportagem publicada, afirma que quem não bebe álcool é visto
com desconfiança e dificilmente consegue fechar um bom negócio.
Dizendo até que a cerveja é um dos ingredientes importantes de Obama na corrida à releeição nos EUA, a reportagem afirma que “as pesquisas apoiam a ideia de que os que não bebem têm dificuldades para subir na hierarquia corporativa. Vários estudos demonstraram que as pessoas que bebem ganham mais dinheiro do que as que não bebem.”
“Esperam que você beba, e beber é parte do que você faz; as pessoas ficam meio sérias se você disser que não bebe”, disse Link Christin, diretor de um programa de tratamento especial para advogados que faz parte de um centro de recuperação contra álcool e drogas que fica no estado de Minnesota. “Se disser que não bebe, você tem que lidar com a suspeita de que não sabe jogar.”
Segundo John Crepsac, um terapeuta de Nova York, em Wall Street, os investidores que não bebem “queixam-se de que não conseguem fechar negócios, não conseguem mesmo entrar nas negociações iniciais porque não entram no comportamento de beber.”
Foto: Andrew Scrivani for The New York Times
http://blogs.estadao.com.br/radar-pop/quem-nao-bebe-nao-ganha-dinheiro-e-nao-sobe-na-carreira-diz-nyt/
Dizendo até que a cerveja é um dos ingredientes importantes de Obama na corrida à releeição nos EUA, a reportagem afirma que “as pesquisas apoiam a ideia de que os que não bebem têm dificuldades para subir na hierarquia corporativa. Vários estudos demonstraram que as pessoas que bebem ganham mais dinheiro do que as que não bebem.”
“Esperam que você beba, e beber é parte do que você faz; as pessoas ficam meio sérias se você disser que não bebe”, disse Link Christin, diretor de um programa de tratamento especial para advogados que faz parte de um centro de recuperação contra álcool e drogas que fica no estado de Minnesota. “Se disser que não bebe, você tem que lidar com a suspeita de que não sabe jogar.”
Segundo John Crepsac, um terapeuta de Nova York, em Wall Street, os investidores que não bebem “queixam-se de que não conseguem fechar negócios, não conseguem mesmo entrar nas negociações iniciais porque não entram no comportamento de beber.”
Foto: Andrew Scrivani for The New York Times
http://blogs.estadao.com.br/radar-pop/quem-nao-bebe-nao-ganha-dinheiro-e-nao-sobe-na-carreira-diz-nyt/
segunda-feira, 11 de novembro de 2013
Binge drinking
Meu Deus!!!!!!!!!!!
http://www.dn.pt/inicio/opiniao/jornalismocidadao.aspx?content_id=1215030
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Esta é a expressão utilizada para descrever o consumo excessivo de álcool que corresponde à ingestão de cinco ou mais bebidas alcoólicas num único dia ou momento. Habitualmente ao fim-de-semana, este tipo de consumidor, maioritariamente jovem, procura um efeito de embriaguez ou “pedrada” rápida.
De acordo com o Inquérito Nacional ao Consumo de Substâncias Psicoactivas na População Geral, com dados de 2007, 48,3% dos jovens entre os 15 e os 24 anos tinham tido um consumo de 4 a 6 bebidas numa só ocasião, pelo menos uma vez no último ano.
Questionados sobre esse tipo de consumo intenso de fim-de-semana, cerca de 20% dos jovens não via qualquer risco associado.
Este é sem dúvida um dos graves problemas do abuso de bebidas alcoólicas, abordado no Plano Nacional para a Redução dos Problemas Ligados ao Álcool recentemente divulgado e que deverá vigorar no quadriénio 2009 a 2012.
Combater o consumo excessivo, informar o consumidor dos efeitos negativos nos rótulos das bebidas, como actualmente acontece com o tabaco, e aumentar a idade mínima de venda de bebidas alcoólicas, de 16 para os 18 anos, são algumas das vinte e cinco medidas propostas pelo Instituto das Drogas e Toxicodependência (IDT), autor do referido Plano.
A concretizar-se a alteração da idade limite de venda, Portugal assumiria um regime idêntico ao de muitos países europeus. No entanto, como também refere o Plano proposto pelo IDT, é fundamental que as medidas que visam regular a venda e o consumo de bebidas alcoólicas sejam objecto de uma fiscalização atempada e apertada.
A raça das bananas
Dorrit Harazim, O Globo
Durante a campanha presidencial do ano passado, o candidato socialista François Hollande prometeu que, se eleito, excluiria a palavra “raça” da Constituição francesa. Explicava que só existe uma raça, a família humana.
A coisa andou. Seis meses atrás, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei que suprime as 59 referências a “raça” ou “racial” em algum texto legislativo. Justificativa: “A República Francesa não reconhece a existência de nenhuma presumida raça... [...] Convém suprimir o termo, que não tem nenhum valor científico e sobre o qual as ideologias racistas baseiam suas convicções [...]”.
O projeto de lei ainda precisará passar pelo Senado, ser promulgado e se adequar aos vários acordos internacionais dos quais a França é signatária. Quanto a banir a palavra do artigo I da Constituição, ninguém mais fala no assunto diante da montanha de problemas mais visíveis enfrentados pelo país.
Um deles é a cena ocorrida duas semanas atrás, durante a passagem pela cidade de Angers de uma autoridade de peso, a ministra da Justiça. Na República Francesa, quem ocupa esse cargo ainda é referido pelo título monárquico de Garde des Sceaux.
Christiane Taubira, franzina na aparência, nasceu em Caiena 61 anos atrás. Foi tenaz o suficiente para fazer a suada travessia da Guiana Francesa ao centro do poder político em Paris.
Desde que assumiu o cargo, no entanto, ela polariza a sociedade e suscita ódios intensos devido ao decisivo empurrão que deu para a aprovação do casamento homossexual. Mas não só por isso. Christiane Taubira é negra.
Na tarde de 25 de outubro, ela foi recepcionada por uma passeata contra a união gay. Já está acostumada. O protesto de Angers era tão “família” que sequer exigiu grande aparato policial: os manifestantes não chegavam a uma centena, a maioria pais e mães acompanhados de filhos em idade escolar.
À aproximação da ministra, palavras de ordem brotaram com naturalidade e empolgaram a criançada: “Macaca, vá comer tua banana”, “Taubira, você fede”.
Em determinado momento, incentivada pelos adultos, uma pré-adolescente de 12 anos, mochila nas costas, conseguiu pegar uma casca de banana das mãos de um menino de sua idade e se pôs a balançá-la na direção da Garde des Sceaux. De algum ponto saiu a pergunta: “E para quem é a banana?” A resposta veio em coro, na ponta da língua: “Para a macaca.”
Christiane Taubira é cidadã do mesmo país daquelas famílias — a Guiana onde nasceu não é colônia nem terra estrangeira, constitucionalmente faz parte da França.
Na semana anterior, outra passeata a esperava, desta vez no 5º arrondissement de Paris. À porta da Igreja de São Nicolau-du-Chardonnet, o padre fundamentalista Xavier Beauveais entoava para os fiéis, megafone em punho, o popular refrão de uma marca de chocolate em pó (Banania), proibido há anos por seu subtexto racista.
Para o ramo mais retrógrado da Igreja, entrincheirado na luta contra o aborto, no ódio aos homossexuais e na defesa de uma França eternamente cristã, madame Taubira é o demônio que veio das Antilhas.
Houve mais. Uma candidata da Frente Nacional às eleições municipais de 2014 havia postado no Facebook a imagem de um símio ao lado da ministra da Justiça. Entrevistada pela emissora France 2, a candidata admitiu preferir ver a ministra “no galho de alguma árvore do que no governo”. Foi suspensa pelo partido, mas não expulsa.
Imagine-se o terremoto que uma sequência dessa natureza provocaria no Brasil se o alvo fosse o ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa.
Passaram-se vários dias sem que a mídia, os partidos políticos, as grandes figuras da República e a França pensante se insurgissem. François Hollande até hoje não fez nenhum pronunciamento à nação. Solidariedade houve, mas à pessoa de Taubira. A questão, no entanto, tinha outra dimensão.
Desta vez, até mesmo para ela, a soma dos fatores parece ter alterado o produto. E por isso resolveu soar o alerta ela mesma, através de longa entrevista ao diário “Libération”.
“Na nossa sociedade as coisas estão descarrilhando. As inibições estão desaparecendo”, advertiu. “É a coesão social que está sendo destruída [...] Quando me chamam de macaca, milhões de pessoas são afetadas. Milhões de meninas sabem que podem ser tratadas como macacas durante o recreio. [...] Construiu-se um inimigo interior. Aqueles que são incapazes de traçar um horizonte passam o tempo todo dizendo ao povo francês que ele está sendo invadido, que o perigo ronda. Espalham a doutrina do declínio. [...] A resposta judiciária a tudo isso é indispensável: é preciso deixar claro que racismo não é uma opinião, é um delito. Mas isso não basta. A Justiça não pode reparar as patologias profundas que minam a democracia. A questão é mais ética do que moral: não se trata de saber se é certo ou errado ser racista, trata-se de determinar qual a ética da nossa sociedade[...].”
A ministra deixou para o fim a estocada mais dura: “O que mais me surpreende é que nenhuma voz forte e poderosa se levantou para alertar a nação de que a sociedade francesa está à deriva”.
Touché. No dia seguinte, na Assembleia Nacional, deputados discursavam que a República estava sendo assassinada e o primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault convidava todos a se levantar para dizer não ao racismo.
Hollande conseguiu divulgar um comunicado conclamando os franceses a serem mais vigilantes diante da “extrema gravidade” dos insultos racistas.
Para o historiador Pascal Blanchard, autor de “La République coloniale”, Christiane Taubira tornou-se a inimiga de franceses que veem nela a usurpadora de um lugar que não lhe pertence. “É um racismo puro e duro, um racismo de pele que lembra o dos Estados Unidos dos anos 30 ou da França colonial.”
Melhor tentar trocar a realidade antes de decretar a troca de palavras da Constituição.
Dorrit Harazim é jornalista.
O lado bom dos seus problemas
"Este pode não ser um manual sobre como vocé deve agir para alcançar a felicidade. Talvez a felicidade não exista como estado pleno, mas apenas como uma busca - e, quanto mais você a buscar, mais sofrerá por não a ter encontrado. Por outro lado, este livro é, sim, um manual de instruções. Um manual que explica por que os problemas existem. E por que, apesar dos pesares, é bom que seja assim."
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