terça-feira, 24 de setembro de 2013

Elogios são melhores quando feitos a portas fechadas

Por Lucy Kellaway
Não muito tempo atrás, participei de uma reunião a portas fechadas com o CEO de uma empresa e alguns de seus subordinados. Antes de a sessão começar, ele se virou para um deles e disse: "Excelente trabalho com X. Você acertou em cheio. Muito bem!".
É exatamente desta maneira que um elogio deveria ser feito. Ele foi direto, específico e feito em público. Olhei para o homem que acabara de ser elogiado e ele me pareceu um pouco maior. Então olhei para os demais em torno da mesa e fiquei com a impressão de que todos haviam encolhido.
Sempre observei esse efeito. Se você olha para os rostos dos jornalistas quando um colega é elogiado por sua última reportagem, percebe que eles fingem lidar bem com isso - e podem até dizer rapidamente que o artigo, de fato, estava brilhante. Mas, se olhar cuidadosamente, perceberá um leve enrugar de lábios, como se eles tivessem chupado limão.
Os especialistas estão errados a respeito do elogio: ele quase nunca deve ser feito em público. É uma coisa perigosa e corrosiva, que tem um efeito poderoso e positivo sobre a pessoa que o recebe, mas é melhor administrado a portas fechadas. Sempre suspeitei que deveria ser assim, mas agora há dados que provam isso.
Segundo um novo estudo, os danos colaterais infligidos pelos elogios são ainda piores do que eu pensava. Os espectadores não só se posicionam contra a pessoa que está sendo elogiada, como instantaneamente deixam de gostar da pessoa que os está fazendo. Eles invejam quem recebe e ficam ressentidos com quem dá.
O estudo vem de Elaine Chan e Jaideep Sengupta - a mesma equipe que produziu uma de minhas pesquisas favoritas. Há dois anos, eles provaram que não existe limites quando o assunto é bajulação. Mesmo quando sabemos que ela não é sincera, nós a aceitamos de bom grado, não importa o grau.
Agora, eles aplicaram os efeitos colaterais da bajulação a espectadores inocentes. O estudo descreve uma experiência em que centenas de estudantes foram solicitados a imaginar que estavam em uma loja de roupas, ouvindo um vendedor dizer a outro cliente como ele estava maravilhoso. As reações instintivas foram todas negativas. Ainda mais revelador foi o fato de que quanto mais próxima a ligação do estudante com a pessoa que estava sendo bajulada, maior a inveja.
O paralelo com o mundo corporativo é óbvio. Se você ouve um comentário de que alguém de outro departamento está sendo bajulado, você ficará impassível. Mas se a pessoa que senta do seu lado estiver sendo elogiada por seu chefe, o efeito é parecido com beber ácido.
Isso significa que a maioria dos administradores está cometendo um grande erro. Eles foram ensinados de que uma parte vital de seu trabalho é percorrer a empresa dispensando um elogio aqui e outro ali. Eles acham que estão celebrando o sucesso de alguns e motivando outros a se esforçarem mais.
Mas, o que estão fazendo, na verdade, cria ressentimento e os torna muito impopulares. Do mesmo modo, todos aqueles esquemas adorados pelos "bons" empregadores como escolher o funcionário da semana, ou escrever perfis inflamados na 'newsletter' da companhia são mais nocivos que benéficos.
Você poderia dizer que não importa que elogios públicos causem problemas para egos frágeis, contanto que isso faça todos se esforçarem mais. A resposta é que isso depende. Segundo o psicólogo Niels Van de Ven, há dois tipos de ciúmes: o benigno, que motiva você a fazer melhor do que a pessoa que você inveja; e o maligno, que faz você querer tomar atitudes drásticas em relação à pessoa que você inveja.
Na experiência, o ciúme benigno ocorreu quando os alunos pensaram que a bajulação era autêntica. Nesse caso, seu efeito foi positivo e muitos deles disseram que estavam mais inclinados a comprar roupas caras para tentar melhorar a aparência. Mas, nos escritórios, grande parte da inveja é maligna.
O melhor texto administrativo sobre isso é a série para crianças "Horrid Henry". Os elogios intermináveis de Perfect Peter nem por um segundo fazem Horrid Henry se esforçar mais para ser gentil. Em vez disso, eles o fazem se esforçar mais para imaginar algo realmente sórdido para fazer contra seu irmão mais novo.
Lucy Kellaway é colunista do "Financial Times". Sua coluna é publicada às segundas-feiras na editoria de Carreira


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