Morador de Várzea Grande, na região metropolitana de Cuiabá, o médico Cristobal Andres Parada, de 34 anos, boliviano que também tem nacionalidade espanhola, se inscreveu nas vagas no Mais Médicos e aguarda o resultado da seleção de estrangeiros, que deve ser fechado internamente pelo Ministério da Saúde nesta sexta (9), e divulgado no sábado (10).
Ele disse estar disposto a viajar até 20 horas se for necessário, para atuar pelo SUS em um município distante ou área isolada. "Não tenho problema", ressaltou.
Parada nasceu em Santiago do Chile, mas tem mãe americana e pai boliviano. Morou boa parte da vida em La Paz, mas também em cidades da Espanha, pois tem a cidadania do país - ele se formou em medicina pela Universidade de Zaragoza, em 2010. Desde então, vive no Brasil. Ele se inscreveu para revalidar o diploma duas vezes, em 2011 e 2012, mas não foi aprovado.
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O candidato foi à Espanha, nesta semana, retirar os últimos documentos e resolver trâmites burocráticos de sua inscrição no Mais Médicos. Este passo já foi concluído, diz sua mulher, Muna Abdallah. Como não pode atuar com medicina no Brasil, Parada trabalha como administrador de empresas.
"Falam que não tem infraestrutura, que [os estrangeiros] estão acostumados a trabalhar com equipamentos modernos", diz ele, sobre a situação de algumas cidades atendidas pelo Mais Médicos. "Mas, mesmo assim, a presença de um médico formado em uma região [pobre] vai ser uma ajuda muito grande."
O médico diz não ver problema em trabalhar num município distante ou isolado do Brasil - ele torce para ser escolhido em algum de Mato Grosso. "Mesmo se tiver que viajar 15 ou 20 horas, se for até uma comunidade indígena, eu vou. Não tenho problema", ressalta.
Não é o ideal
Parada diz não achar o Mais Médicos o "mecanismo ideal", mas o avalia como necessário diante da ausência de profissionais no interior do país. "Mesmo em Várzea Grande tem bairros que precisam de médicos. E não é uma cidade afastada de Cuiabá. Existe pronto-socorro que não tem", afirma.
Parada diz não achar o Mais Médicos o "mecanismo ideal", mas o avalia como necessário diante da ausência de profissionais no interior do país. "Mesmo em Várzea Grande tem bairros que precisam de médicos. E não é uma cidade afastada de Cuiabá. Existe pronto-socorro que não tem", afirma.
O candidato diz conhecer médicos brasileiros que estudaram em boas universidades espanholas, mas que não conseguem trabalhar no Brasil por não terem passado no Revalida. Ele se graduou como clínico-geral, e espera no futuro conseguir fazer uma especialização.
O candidato considera o Mais Médicos uma "excelente opção" e diz esperar que o programa dê certo. "Percebo que faltam médicos em certas áreas e só a presença deles já vai ajudar. Vi que tem vagas em comunidades indígenas e outros locais", afirma.
Num primeiro momento, o candidato afirma ter pensado que havia vagas apenas em municípios isolados ou nas periferias. "Mas não é. Tem em São Paulo, tem em outros lugares", afirma.
Parada conheceu sua mulher na Espanha - ela fazia medicina na mesma universidade, mas deixou o curso após três anos.
Muna passou a estudar comércio exterior, após deixar medicina. "Me graduei e vim para o Brasil, casei com uma brasileira. Tenho um filho que nasceu aqui", diz Parada.
Adaptação
Questionado sobre o risco de médicos espanhóis não se darem bem com o idioma, o clima e a presença de doenças tropicais em certas regiões, Parada considerou ser tudo uma questão de adaptação.
Questionado sobre o risco de médicos espanhóis não se darem bem com o idioma, o clima e a presença de doenças tropicais em certas regiões, Parada considerou ser tudo uma questão de adaptação.
"As universidades da Espanha têm um nível muito avançado", disse. "Você estuda doenças tropicais. Os medicamentos são os mesmos", afirmou. O que é preciso, na opinião dele, é haver um treinamento prévio, "o básico do aprendizado sobre o sistema de saúde [SUS]".
"Os [estrangeiros] que vêm não são especialistas. Eles vão cobrir uma área de atendimento primário. Na Espanha, o atendimento [nesse setor] é simples", diz.
Sobre a língua portuguesa, o médico lembra de intercambistas brasileiros que chegavam na Universidade de Zaragoza. "No começo eles ficavam um pouco perdidos, mas em um mês estavam se comunicando. O português tem muita similaridade com o idioma espanhol", considera.
Parada diz que os médicos espanhóis não optam pela carreira esperando ganhos muito altos. "Quase não existe médico no setor privado", diz. Um profissional de 50 anos, experiente e que faça transplantes, por exemplo, ganha cerca de 4 mil euros, não muito mais, na avaliação do candidato. "É uma sociedade menos focada no dinheiro e mais no social", afima. O Mais Médicos prevê pagar R$ 10 mil por mês a brasileiros e estrangeiros que forem selecionados.
"Existem médicos no Brasil, estrangeiros, que vieram para cá mas não conseguiram revalidar o diploma. Eles estão trabalhando em outras áreas porque não podem atuar [com medicina]", diz Parada, apontando o próprio caso. Ele disse que vai tentar o Revalida no futuro, caso venha a ser selecionado no programa.
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