Estou me acostumando a ver mulheres sozinhas ao meu redor. Não apenas mulheres sentadas no cinema ou lendo num café, em paz com elas mesmas. Penso em mulheres sem companhia masculina, em situações em que elas gostariam de ser cortejadas, mas não são.
Outro dia fui a um casamento. Havia na festa muita gente avulsa. As mulheres dançavam e olhavam ao redor, procurando companhia. Eram mulheres bonitas, cheirosas e bem arrumadas, a maioria delas com menos de 30 anos. Sozinhas. Onde estavam os homens? Acompanhados, muitos. Bêbados e desinteressados, outros. Ou superados em números pela quantidade de mulheres disponíveis.
Eu me pergunto o que isso significa.
Festas de casamento eram bons lugares para arrumar namoro, ou pelo menos um rolo que valesse a pena. As pessoas costumam estar embriagadas e felizes. Mulher adulta não vai sem depilação a esse tipo de evento. Os homens já saem de casa mal intencionados. Mesmo que a família esteja olhando, pode rolar um romance gostosinho. Por que, então, tanta mulher atraente dando sopa inutilmente?
Às vezes eu tenho a impressão que o mecanismo que regula a oferta de sexo e afeto na nossa sociedade emperrou.
Obviamente há muito sexo e muito romance por aí, mas a quantidade de gente sobrando é alta – e não são apenas mulheres. Conheço homens bacanas que não transam há meses. Eles saem, frequentam, xavecam, mas não rola. Podem ser casos isolados, mas eu duvido. Da festa de casamento deve ter saído mais de um sujeito macambúzio e rejeitado. As mulheres, afinal, estão disponíveis, mas não para qualquer um.
Quando todos se tornam superficiais e exigentes, acho que as mulheres sofrem mais.
Elas estão em desvantagem nesse tipo de disputa. São mais tolerantes com a aparência e a idade dos homens. Sãos mais flexíveis em seus critérios sociais. Enquanto elas se deixam seduzir por caras interessantes, mesmo que não se encaixam nos padrões de aparência e sucesso, boa parte dos homens continua apegada a dois critérios de escolha rígidos: beleza e gostosura. As mulheres que melhor preenchem esses requisitos escolhem os homens que desejam, inclusive fora do padrão. As outras, se não tiverem muita personalidade, correm o risco de dançar sozinhas.
Não há uma solução óbvia para esse tipo de desencaixe.
Com sorte, seremos capazes de perceber, em algum momento da existência, que correr atrás de padrões que todo mundo quer é uma tolice. Cada um de nós é tão específico, tão diferente dos demais. É impossível que um único modelo de beleza, personalidade ou sensualidade sirva a todos. Uma pessoa que nos preencha é mil vezes mais difícil de encontrar que um bom sapato. Tem de encaixar temperamento, química corporal, ideias, grupo social, desejos para o futuro, neuroses.
Como pode aquela menina boba e bonita da televisão ser a mulher da vida de 50 milhões de homens? Como o sedutor da faculdade pode ser o cara certo para todas as mulheres ao redor dele? Isso, obviamente, não existe. Quem andar pela vida de olhos abertos vai notar: os encaixes são pessoais. Às vezes, tremendamente exóticos.
Coletivamente também se aprende.
Uma sociedade não produz desencaixes indefinidamente. Se muita gente começa a sobrar, alguma coisa está errada, com os valores ou com as relações sociais. O mundo já foi organizado de forma que servia, sobretudo, ao propósito dos homens. Hoje não é mais assim. Se as mulheres sentirem que a sociedade as está prejudicando, vão parar de cooperar. Isso não pode. Nós sabemos que nada neste mundo funciona sem as mulheres – sobretudo boas festas de casamento.
(Ivan Martins escreve às quartas-feiras)
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