Está querendo saber quais são as perspectivas para a economia brasileira neste segundo semestre? A maneira mais confiável de saber é pedir a uma boa cartomante que leia as cartas.
É método seguramente mais científico do que as previsões dos economistas que o Banco Central utiliza em seu boletim Focus.
É a conclusão inescapável a tirar da tabelinha anexa, "roubada" de artigo de domingo do economista Samuel Pessôa. Nela se vê que, ano após ano, os "chutadores" da economia erraram crassamente os palpites que eles, pretensiosamente, chamam de previsões.
Não são errinhos de pequena monta. Variam de 1,8 ponto percentual (em 2011) a 2,8 pontos percentuais (2009). Estou excluindo 2013 porque o ano ainda não terminou e, portanto, não dá para saber qual será o volume do erro.
Se você considerar que cada ponto percentual do PIB corresponde, grosso modo, a aproximadamente R$ 44 bilhões, vê-se mais facilmente o brutal tamanho do desvio.
Imagine uma situação em que você projeta, no início do ano, faturar, digamos, uns R$ 150 bilhões adicionais em relação à riqueza que já possui (era a previsão dos economistas para o PIB brasileiro ao começar 2012). Aí, termina o ano é você verifica que o acréscimo não passou de uns R$ 44 bilhões.
Dá para perceber o tamanho do despropósito que são os chutes que o Banco Central incorpora ao seu boletim Focus?
Samuel Pessôa, no artigo do qual tirei a tabela, passa a impressão de que os "chutes" são inocentes. Afinal, errar é humano.
Mas quem entende mais que ninguém desse jogo de manipulação de dados, o megaespeculador George Soros, me ensinou, anos atrás, em Davos, que boa parte das análises econômicas são enviesadas para atender aos interesses de quem as faz ou da instituição para a qual trabalha.
Segundo Soros, se uma instituição financeira precisa que o dólar suba, para ganhar dinheiro, as análises de seus economistas serão necessariamente no sentido de que uma alta da moeda norte-americana é inexorável, na expectativa de convencer os agentes de mercado de forma a que a profecia se realize.
Mesmo que se adote o ponto de vista ingênuo de que os erros são inocentes, o tamanho deles e a sequência interminável com que são cometidos demandariam olhar para as previsões com muita desconfiança, em vez de tomá-las como palavra de oráculos infalíveis.
O jornalismo, aliás, deveria ser o primeiro a advertir o leitor, ao publicar previsões, que não há parentesco entre elas e a realidade.
Não fazê-lo equivale a publicar uma falsidade, antevendo que se trata de uma falsidade, já que os erros se repetem todos os anos.
crossi@uol.com.br
Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Assina coluna às terças, quintas e domingos no caderno "Mundo". É autor, entre outras obras, de "Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo" e "O Que é Jornalismo". Escreve às terças, quintas e domingos na versão impressa do caderno "Mundo" e às sextas no site.
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