SÃO PAULO - Situar o Homem como elemento central do universo foi a grande virada intelectual do Renascimento. Mas, se comumente se pensa na revolução artística dos séculos XV e XVI como localizada em Florença, a mostra “Mestres do Renascimento: obras-primas italianas” sustenta que o movimento ocorreu em toda a Itália e teve características próprias em cada região do país. A exposição, que será aberta ao público amanhã no Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo, revela essa história ao reunir 57 obras de um dos mais influentes períodos da história da arte, com criações de mestres como Leonardo da Vinci, Michelangelo, Ticiano, Tintoretto, Botticelli e Rafael.
— A corrente de Florença é a racional, na qual os pintores desenham antes de pintar, a geometria antecede a pintura — explica Armando Spindel, diretor da Base7 Projetos Culturais, produtora da mostra. — Na escola de Veneza, do mestre Ticiano, a pintura é feita sem esboço, quase como fariam os impressionistas muito tempo depois. Urbino era mais realista que o rei: os artistas eram mais racionais e matemáticos do que em Florença. Roma foi grandiloquente. Na exposição, há obras representativas de cada região.
Obras viajam em aviões separados
Com curadoria da historiadora de arte Cristina Alcide, superintendente do Patrimônio Histórico, Artístico, Etno-Antropológico e do Museu da Cidade de Florença, a exposição reúne obras-primas de Da Vinci, Rafael e Michelangelo, mestres que representam sozinhos uma escola artística e costumam ser chamados de Santíssima Trindade do Renascimento. Traz também “Maddalena”, criação de Ticiano, veneziano que muitas vezes pintava com as mãos, numa tentativa de se aproximar da natureza, acreditando que, se Deus criou o mundo, os artistas o representam.
Três obras que vieram ao Brasil — entre elas “Leda e o cisne”, de Da Vinci — eram até bem pouco tempo consideradas “inamovíveis”, porque nunca saíam da Itália, explica Spindel. Cada uma veio ao Brasil num avião, pois são consideradas patrimônio da Humanidade e não podem voar juntas.
As negociações com 24 instituições italianas e quatro colecionadores privados, a que pertencem as 57 obras, duraram um ano e meio. Porém, desde que começou a onda de manifestações no Brasil, o produtor cultural Armando Spindel sentiu a pressão das instituições e dos colecionadores que emprestaram as obras para a exposição. Ele viveu dias de tensão, e foi necessário ampliar os seguros das obras.
— Os italianos que emprestaram as obras ficaram preocupados. Fizeram muita pressão, mas já não tinham como voltar atrás. No entanto, tivemos de ampliar os seguros. Foram feitos seguros contra terrorismo, vandalismo, rebelião e guerra. Seguro para terrorismo tem sido praxe em todo o mundo. Os demais não costumam ser exigidos no Brasil, até porque a última vez que tivemos uma guerra foi com o Paraguai — lembrou Spindel.
Mostra na madrugada deste sábado
“Mestres do Renascimento: obras-primas italianas" ocupa o CCBB de SP até 23 de setembro, e depois segue para a filial do centro cultural em Brasília, onde fica em cartaz entre 12 de outubro e 6 de janeiro de 2014. Segundo Spindel, a mostra não irá ao Rio porque a cidade já abriga a exposição “A herança do sagrado: obras-primas do Vaticano e museus italianos”, em cartaz no Museu Nacional de Belas Artes:
— A mostra da coleção do Vaticano abarca um período histórico semelhante. Duas mostras no Rio poderiam sobrecarregar o tema Renascimento e afastar o público.
Para receber a exposição, o CCBB de SP modernizou os espaços expositivos, incluindo iluminação e climatização, e ampliou o número de funcionários, com a expectativa de receber um público recorde. Neste primeiro final de semana, o centro ficará aberto entre as 15h de sábado e as 21h de domingo, ininterruptamente, promovendo a primeira “Virada renascentista”.
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