Quando diz a alguém que está viajando pelo Brasil sem dinheiro, Leonardo Maceira costuma ter que explicar de novo. “A pessoa acha que eu quero dizer que estou levando pouco dinheiro. Aí eu digo que na verdade estou viajando com ‘zero real’”, diz o curitibano de 23 anos.
No início deste ano, Leonardo saiu de Curitiba para uma viagem sem trajeto definido nem data para terminar.
Tinha R$ 70 na carteira – dinheiro que ele gastou logo na primeira saída em São Paulo, seu primeiro destino. Desde então, já passou por mais de 20 cidades em 10 estados, deslocando-se apenas de carona e dormindo na casa de desconhecidos.
A ideia inicial era ir até Salvador. Mas, após um período na estrada, ele decidiu que irá, no mínimo, até o México, e pensa até em seguir para outros continentes nesse mesmo esquema. “Quando saí de Curitiba, achava que ia ser uma loucura. Mas foi mais fácil do que imaginava e decidi aumentar o roteiro”, conta
Jogador de futebol e fotógrafo
Filho de uma professora e de um vendedor, Leonardo saiu de casa cedo, aos 16 anos, para atuar como jogador de futebol de salão profissional na Itália. Quatro anos depois, voltou para o Brasil e trabalhou nas áreas de cinema e fotografia.
Quando decidiu partir para a viagem, trabalhava como fotógrafo e fazia um curso na área. O tema proposto pela escola para o trabalho de conclusão, “O lugar de cada um”, despertou seu lado aventureiro e o inspirou a cair na estrada. Ele batizou a viagem de “Os lugares de cada um”, no plural, e criou uma página no Facebook com esse nome na qual posta atualizações e fotos sobre o seu dia a dia.
Ele nunca havia viajado de carona antes. “Não sou rico, mas também nunca fui pobre. Estudei em bons colégios. Em Curitiba o pessoal falava que estava louco de viajar assim”, conta. “Eu não sabia o que responder porque eu nunca tinha feito e não sabia como seria. Mas eu acreditava que ia dar certo, não sabia como, mas acreditava nessa ideia.”
No início da viagem, pegava carona principalmente com caminhoneiros, em postos de gasolina. Com o tempo ele ficou mais confiante e passou a pedir carona também no meio da estrada, principalmente para carros.
Dengue e noite no posto
Quase todos os que pararam para ele até hoje são homens – apenas duas mulheres o levaram nesses quase cinco meses de viagem. Ele costuma perguntar à pessoa por que resolveu ajudá-lo. “Elas dizem que eu tenho cara de inocente, que ficam com pena. Não sou hippie, sou um cara comum, com uma mochila nas costas.”
O trecho mais difícil foi entre Aracaju e Maceió. Após ficar a tarde toda esperando, ele teve que caminhar durante três horas pela estrada escura, por 20 km, até chegar a um posto de gasolina, o primeiro sinal de civilização que encontrou. Passou a noite no posto, conversando com o proprietário, até que amanheceu e ele conseguiu alguém que o levasse.
Outro momento difícil foi quando ele contraiu dengue, na última semana, em Recife. Tomou soro e injeção no hospital e melhorou após quatro dias. “Tive muita febre. Achei que ia morrer. Foi o pior momento”, diz, já de volta à estrada – no momento da entrevista, na última quarta-feira (21), ele estava na praia de Pipa, no Rio Grande do Norte.
Leonardo afirma que não vê esses contratempos como problemas. “Na hora é complicado, mas quando eu chego no lugar eu fico feliz por ter vivido aquilo”, diz.
Fazenda e ecovila
Durante toda a viagem, ele vem se hospedando na casa de desconhecidos. Inicialmente o contato era por meio do Couchsurfing (site que reúne pessoas que oferecem e buscam hospedagem gratuita em várias cidades do mundo). Atualmente, já há pessoas que entram em contato com ele para oferecer estadia por meio de sua página.
O tipo de lugar onde ele já dormiu varia muito – de casas de estudantes à enorme fazenda de uma senhora rica, passando por uma ecovila.
A comida ele também ganha de seus anfitriões e de donos de estabelecimentos que oferecem uma refeição quando ficam sabendo de sua história. No início da viagem, Leonardo chegou a perder 13 kg. “Eu estava muito empolgado, andava demais e ficava na casa de uma pessoa que comia pouco. Mas não sofri por isso. Também já fui a muitos churrascos, aniversários e festas de casamento”, conta.
Leonardo diz que não faz ideia de quando vai terminar sua viagem. Depois de chegar ao México viajando pela América Latina e pelo Caribe, pensa em ir para os Estados Unidos e atravessar o oceano em direção à Europa como tripulante em algum navio.
Para ele, viajar sem dinheiro traz liberdade. “Dinheiro causa estresse, pois você está sempre pensando na melhor forma de gastá-lo. A partir do momento em que fiquei realmente sem dinheiro, estava livre. Posso fazer o que eu quiser, tenho todo o tempo do mundo. Nada me para”, diz.
Ele tambem acredita que não vai se cansar da falta de rotina: “Sou bem desapegado. E me sinto em casa em qualquer lugar”.
http://g1.globo.com/turismo-e-viagem/noticia/2014/05/com-zero-real-no-bolso-brasileiro-viaja-o-pais-e-quer-chegar-ao-mexico.html
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