Você não quer um olhar de incompreensão cada vez que um filme levá-la às lágrimas
Quem acompanha esta coluna sabe que eu sou obcecado pela questão das afinidades. Vira e mexe, com desculpas diferentes, eu volto a esse tema. É que me parece, cada vez mais, que a forma como a gente escolhe os parceiros, ou como cada um de nós estabelece vínculos com eles, define a nossa vida. Ao menos a nossa vida afetiva, que é parte enorme de todo o resto.
Quando a gente é muito jovem, ser amado parece ser o problema essencial da nossa existência. A gente se apaixona com tanta facilidade, e com tanta frequência, que encontrar alguém que retribua na mesma intensidade parece a parte mais difícil da vida. À medida que o tempo passa, se você for honesto com você mesmo, vai perceber que a parte difícil da vida é gostar por muito tempo de alguém. Vai notar que as pessoas passam, algumas mais legais do que as outras, mas que apenas algumas delas, muito poucas, estabelecem com você um vínculo essencial. Essas pessoas que ficam são especiais – e a grande pergunta é por quê?
Quando a gente é muito jovem, ser amado parece ser o problema essencial da nossa existência. A gente se apaixona com tanta facilidade, e com tanta frequência, que encontrar alguém que retribua na mesma intensidade parece a parte mais difícil da vida. À medida que o tempo passa, se você for honesto com você mesmo, vai perceber que a parte difícil da vida é gostar por muito tempo de alguém. Vai notar que as pessoas passam, algumas mais legais do que as outras, mas que apenas algumas delas, muito poucas, estabelecem com você um vínculo essencial. Essas pessoas que ficam são especiais – e a grande pergunta é por quê?
Os cientistas e os filósofos dizem que há perguntas boas e perguntas ruins. As ruins são aquelas cujas respostas não levam muito longe no caminho do entendimento. As perguntas boas, ou certas, são aquelas que abrem horizontes e direcionam a nossa curiosidade em direção ao que realmente importa. Por que algumas pessoas ficam na nossa vida, e outras, não, é, para mim, uma dessas perguntas que fazem a diferença.
Na semana passada eu voltei a pensar nisso por causa do futebol.
Me desculpem os que não têm qualquer interesse pelo assunto ou se irritam à simples menção da palavra time. Eu, sem ser fanático, me envolvo emocionalmente com esse negócio de bola e camisa, e já descobri, a contragosto, que posso ter uma semana pior ou melhor a depender do resultado do meu time. A semana que passou, por exemplo, foi maravilhosa. Desde quarta-feira anda difícil tirar do rosto um sorriso de profundo e injustificado contentamento. O sentimento não resiste a nenhuma análise lógica, mas está aqui, e, de alguma forma subjetiva, e ao mesmo tempo muito concreta, melhora substancialmente a minha vida. Como eu, milhões de outros.
Como seria viver com uma mulher que não tivesse qualquer empatia com esse sentimento? Se ela odiasse o meu time, mas gostasse de futebol, poderia achar dentro dela entendimento e respeito pela minha comoção. Funcionaria, como já funcionou. Sendo corintiana, como é, foi o melhor dos mundos: voltar para casa, embriagado de alegria, e achar alguém feliz como eu, de braços abertos. Mas poderia também ser ruim. Poderia ser alguém – existem muitas – que genuinamente desdenha esse tipo de coisa e me tratasse como idiota. Nesse caso, minha semana de alegria grátis talvez se resumisse a um espasmo constrangido de contentamento, ou virasse irritação e discussão. Quando não há afinidade e compreensão, qualquer coisa é motivo de briga. Até alegria.
O importante dessa história boba, eu acho, é perceber que na nossa vida tem de haver gente que nos entenda e que tenha conosco um grau elevado de empatia. Sim, podemos conviver com diferenças. Claro, personalidades diferentes nos desafiam. Mas isso tudo fica melhor na escola, no trabalho e na vida social. Na intimidade a coisa é outra. Você não quer um olhar de total incompreensão cada vez que certo tipo de filme levá-la às lágrimas. Nem quer ter de dar explicações quando tiver vontade de deitar no colo do sujeito no sofá da sala e ficar quieta, preferencialmente recebendo um cafuné. Se você é esse tipo de pessoa, ele tem de ser o tipo de cara que entende e participa. Ou então não rola.
Minha impressão, pelo acúmulo de experiências, é que nossos parceiros duradouros tendem a sair de um espectro estreito de personalidades, valores e visão de mundo. Para mim é um sinal saudável – e uma pista importante – que a gente repita a preferência por certos traços na hora de escolher pessoas. É que por trás dessas coisas que a gente vê há outras coisas, mais profundas, que nem sempre se percebem, como família e história pessoal. Elas definem quem cada um de nós é, e qual a nossa capacidade de viver juntos. Esse tipo de coisa não se improvisa e nem se ignora. É como um time de futebol: para nos dar prazer de verdade, tem de ser parte da nossa história. Ou então não tem graça nenhuma.
(Ivan Martins escreve às quartas-feiras)
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