sábado, 14 de janeiro de 2012

Questão de anatomia


Os seios são uma obsessão masculina e uma fonte de mal entendidos

IVAN MARTINS
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IVAN MARTINS É editor-executivo de ÉPOCA (Foto: ÉPOCA)
Os homens amadurecem lentamente - e em relação a um número limitado de assuntos. Os seios, definitivamente, não estão entre eles. Entra ano, sai ano, e os marmanjos continuam bestificados por esse aspecto da anatomia feminina. É uma atração que começa em algum momento da infância e vai sendo exercida ao longo da vida, como um fascínio que não passa.
Aos 15 você quer ver, aos 20 você precisa pegar, aos 30 descobre que não há dois iguais (ou seriam quatro?). Quando faz 40, percebe que, ao seu redor, eles estão mudando de forma, posição e densidade. Aos 50, nota, com ironia, que alguns voltaram a ter a firmeza da adolescência. A mensagem é óbvia: os seios mudam com o tempo, mas o interesse dos homens permanece.
Quem duvida dessa afirmação deveria participar dos verdadeiros seminários espontâneos que grupos de homens promovem sobre o assunto. Em geral no bar, mas frequentemente em horário de trabalho, discutem, em detalhes infindáveis, seu tema favorito: formatos, texturas e cores; usos, aplicações e possibilidades; peso, massa e volume...
Por que estou escrevendo sobre isso? Porque os seios encontram-se, literal e metaforicamente, entre os homens e as mulheres – às vezes de uma forma complicada.
Seios são vistos do lado masculino como sinônimo de sexo, mas tenho a impressão de que, no campo feminino, eles estão mais ligados à vaidade, feminilidade, auto-estima. Alguém me disse uma vez que mulheres com peitos bonitos são mais seguras de si, assim como seriam os homens com pinto grande. Não sei.
O que me parece certo é que há ruído na comunicação. Os homens têm a impressão de que os decotes são montados para atraí-los, uma espécie de propaganda ou amostra grátis. Mas as mulheres parecem vestir-se para si mesmas, para sentirem-se bonitas e poderosas. Os homens e seus olhos hipnotizados estão no meio do caminho entre elas e um ego satisfeito.
Claro, haverá momentos em que a armadilha de duas peças será montada para atrair o máximo de olhares (ou, provavelmente, apenas um deles...), mas penso que essas são ocasiões especiais. No dia-a-dia, acho um erro imaginar que a mulher que põe um vestido com decote está solicitando atenção masculina. É provável que não esteja. Aliás, se nós olhássemos menos eu acho que elas ousariam mais. O olhar babão incomoda e inibe. 
Na verdade, a obsessão masculina por aquilo que os médicos chamam desgraciosamente de “mamas” força a população feminina a se adaptar e improvisar. Outro dia, me contaram de uma jovem executiva que usa alfinetes para fechar a blusa um pouco acima do último botão. É uma medida de recato de quem já cansou de procurar, inutilmente, olhar nos olhos dos seus interlocutores masculinos enquanto conversa com eles. Ela se queixa de que até estagiários falam com ela magnetizados por aquilo que só podem adivinhar.
Não deve ser um caso isolado. Imagino que todas as mulheres, qualquer que seja o seu manequim, tiveram de lidar, em algum momento da vida, com a insolência curiosa dos olhares masculinos. Saibam que nem sempre é intencional. Mesmo sujeitos educados não conseguem evitar um olhar de raspão. É embaraçoso, sobretudo em ambientes familiares ou de trabalho, mas dura uma fração de segundo. Se passar dessa medida, a contemplação indesejada (ou inoportuna) vira invasão visual de território – uma infração aos bons costumes e ao convívio civilizado, punível com cartão amarelo.
.Algumas mulheres reclamam que, mesmo tendo seios pequenos, os homens insistem em olhar. Claro, porque não é uma questão de tamanho. Homens são atraídos por peitos, qualquer peito. Nunca ouvi um cara dizendo que desistiu de uma mulher porque tinha seios pequenos. IIsso não acontece. Mas as mulheres têm dificuldade em aceitar esse fato óbvio quando se trata delas mesmas. Acham a Keira Knightley linda, mas, sem qualquer senso de contradição, vão ao cirurgião plástico e pedem para ficar parecidas com a Luana Piovani grávida. Eu não entendo, mas deve ter algo a ver com a relação entre tamanho e auto-estima. Só não ponham, por favor, essa decisão cirúrgica na conta dos homens. Quando se trata de seios, nós somos fascinados pela essência, não por uma forma específica ou pelo tamanho GG.
(Ivan Martins escreve às quartas-feiras)

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