sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Eike para presidente

Por Sérgio Malbergier, da Folha


Ser rico no Brasil sempre foi uma ofensa sociológica. Eike Batista chegou para acabar com isso. Ele não é só um bilionário desinibido, confiante, assumido. O pai de Thor é também carismático, empreendedor genuíno, obcecado com o cabelo, nosso primeiro Donald Trump, com bestseller nas livrarias e um senso de autopromoção que pode levá-lo, quem sabe, a subir a rampa do Palácio do Planalto.
Lembro que nos anos 1980, quando os japoneses inventavam coisas geniais como o walkman e eram vistos como os chineses são vistos hoje, era comum dizer que o Brasil deveria ser dado para eles administrarem. Tínhamos todos os atributos de uma nação rica, mas éramos tão mal geridos (naquele lodaçal do final da ditadura até o Plano Real) que deixados a nós mesmos nosso destino seria o fracasso.
Depois de tentarmos todas as coisas difíceis, o Brasil finalmente se encontrou no óbvio: democracia e economia de mercado. Chegamos com um atraso enorme em relação aos nossos primos norte-americanos (com quem devemos nos comparar por dimensão e ambição, e não com nossos pequenos vizinhos latinos), mas capitalismo e democracia, mesmo que tardios e imperfeitos, nos fazem muito bem.
E agora as coisas andam mais rápidas. A população brasileira, empreendedora por necessidade, abraçou o capitalismo e foi.
Sob o governo de Lula, o primeiro presidente pobre do Brasil, pobres e ricos enriqueceram juntos. Quando a maré sobe, todos os barcos sobem.
Trabalhar finalmente tornou-se instrumento efetivo de ascensão social no país.
E se ainda é difícil ficar rico, pelo menos está mais fácil ficar mais rico do que se era, com o desemprego abaixo de 6% e renda em alta.
Já temos 145 mil milionários no Brasil (com US$ 1 milhão disponível para investir), segundo cálculo recente de um banco estrangeiro. É um número ainda pequeno numa população de 200 milhões de habitantes, mas está crescendo.
Nossos velhos ricos sempre foram muito reservados, como se Balzac tivesse razão ao dizer que atrás de toda fortuna tem um crime. De fato, a distribuição de riqueza no Brasil sempre foi caso de crime contra a humanidade, parido na escravidão colonial.
Mas as coisas estão mudando. Nossos novos ricos, confiantes e desinibidos, desfilam seu sucesso e seu dinheiro como troféus a inspirar os observadores. São principalmente pequenos empreendedores ou grandes profissionais liberais que estão formando uma nova camada de poder que pode ter a força de mudar o Brasil.
A mudança jamais virá dos políticos, a revolução não será televisionada pela TV Senado.
Precisamos de mais empreendedores ativistas fora de suas empresas. Eles são fundamentais e transformadores.
Por exemplo: o apoio e o engajamento do empresário Guilherme Leal, bilionário fundador da Natura, na campanha de Marina Silva foi o que possibilitou ela ter votação tão expressiva.
Não precisamos mais dos japoneses para tocar o Brasil. Nossos empreendedores são os nossos japoneses. São eles, mais do que qualquer político ou partido, que estão desenvolvendo o país.
Sérgio Malbergier
Sérgio Malbergier é jornalista. Foi editor dos cadernos "Dinheiro" (2004-2010) e "Mundo" (2000-2004), correspondente em Londres (1994) e enviado especial da Folha a países como Iraque, Israel e Venezuela, entre outros. Dirigiu dois curta-metragens, "A Árvore" (1986) e "Carô no Inferno" (1987). Escreve para a Folha.com às quintas.

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