quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Eu sou a Coreia do Norte


O mundo assiste estupefato aos últimos acontecimentos na Coreia do Norte. Um ditador morre, o filho assume, o povo chora como se não houvesse amanhã.
Não se sabe ao certo o que acontece por ali. Ninguém tem certeza de quantas bombas atômicas eles têm, não se sabe a idade do novo governante, não se entende como os dirigentes assumiram status de deuses, não se tem ideia de porque o povo chora.
Um povo preso numa ditadura, passando fome, sem acesso ao mundo.
E o mundo sem acesso a eles.
É tipo a Cuba de uns anos atrás. A diferença é que hoje, na ilha de Fidel, o povo sabe exatamente o que está perdendo. Sabe que por aqui tem Shopping Center, carro 0 km e coca-cola. Sabe também que jamais terá acesso.
Da Coreia do Norte, pra Cuba e pro Recife é um pulo!
Aqui, eu sei que em São Paulo/Rio vão ter shows, peças, exposições.
Vou ter acesso? Não.
Vai chegar aqui? Não!
Recife é minha Cuba. Minha própria Coreia do Norte.
A gente vê o mundo acontecendo pela tv, mas aí junta com o capítulo da novela, com a cena do filme de cowboy e vira tudo ficção.
Ok, não vou dar uma de nordestina com síndrome de gata borralheira.
Vou a um exemplo mais perto de vocês.
Digamos que o cara nasceu no Rio, no olho do furacão. É carioca da gema e perto dele tem tudo, chega tudo, acontece tudo.
Mas digamos que, por azar, o cara tenha nascido no Morro do Alemão.
Qual a diferença entre Cuba, a Coreia, o Recife e o Alemão? NENHUMA.
É ditadura do mesmo jeito.
A diferença é que na Coreia do Norte o nome do ditador era Kim Jong-il.
No Alemão, chama-se: salário mínimo!
O cara sabe que existe casa de luxo, comida boa, roupa de marca.
Ele vai ter acesso? Não.
Qual é mesmo a diferença entre ele, que chora vendo um show do Padre cantor ________ (insira aqui o nome de sua preferência) e um povo que chora a morte do seu pseudo Deus?
Do mesmo jeito que não se tem ideia do que acontece na Coreia do Norte, não se sabe ao certo o que acontece no Recife, nem no Alemão.
Em parte porque estamos isolados do mundo.
Em parte porque as pessoas tem mais o que fazer do que se preocupar com um prefeito incompetente do Nordeste ou com o pai traficante do cara do Alemão.
Minha sugestão do dia: parar de se estupefar com o regime autoritário alheio e olhar para nossa própria ditadura.
A ditadura da fome, da corrupção, da falta de vontade política, da falta de vergonha na cara.

Téta Barbosa é jornalista, publicitária, mora no Recife e vive antenada com tudo o que se passa ali e fora dali. Escreve aqui sempre às segundas-feiras sobre modismos, modernidades e curiosidades. Ela também tem um blog - Batida Salve Todos

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