Do UOL, no Rio de Janeiro
Geração de 720 mil empregos, atração de 600 mil turistas estrangeiros e impactos econômicos de até R$ 142 bilhões. Esses são alguns dos benefícios citados por representantes do governo brasileiro para justificar a realização da Copa do Mundo de 2014 no país. Os números constam de estudos feitos por consultorias renomadas, a Ernest & Young e a Value Partners, que estimaram em 2010 os efeitos do Mundial da Fifa sobre a economia nacional.
Três anos depois, entretanto, esses dados estão sendo contestados por economistas de importantes universidades brasileiras. Dois trabalhos, um feito na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e outro na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), debruçaram-se sobre as projeções otimistas já divulgadas e chegaram a uma conclusão comum: os benefícios da Copa de 2014 foram superestimados.
Isso é o que diz um artigo assinado pelo professor do Instituto de Economia da Unicamp, Marcelo Proni, publicado ainda em 2012. O trabalho foi feito em parceria com o economista Leonardo Oliveira da Silva, que também estudou na Unicamp. Segundo o texto, "estudos [usados pelo governo] introduzem hipóteses que simplificam demais as projeções e ignoram preceitos econômicos" com a intenção de "alimentar altas expectativas em relação aos efeitos positivos da Copa".
Em entrevista ao UOL Esporte, Proni explicou que há diversas "limitações na metodologia" usada pelas consultorias que fizeram projeções sobre a Copa. Ele disse que não foram consideradas possibilidades de mudanças no cenário econômico ou mesmo uma queda na confiança de empresários com relação à economia nacional. Por isso, todos os dados apresentados acabam não sendo realistas.
"De 2011 em diante, o ritmo de crescimento da economia brasileira caiu. Nenhum estudo previa isso. Com a mudança no cenário, os investimentos privados na Copa diminuíram. Muitos projetos de hotéis foram adiados, por exemplo", disse ele, lembrando que a redução do interesse de empresários pelo Mundial é um dos motivos pelo qual o torneio não será tão benéfico à economia quanto o esperado.
Proni ainda afirmou que as estimativas sobre a geração de emprego também são "limitadas", pois não consideram um ganho de produtividade de trabalhadores. Segundo ele, uma obra que demandava mil funcionários em 2010, por exemplo, hoje pode ser feita por menos pessoas, já que a tecnologia na construção evoluiu.
"Se o estudo não leva isso em consideração, tende a superestimar as contratações", afirmou. "Parece que essas projeções mais otimistas são usadas como parte de um discurso para legitimar todo o investimento público em um evento como a Copa do Mundo", completou.
Segundo a última lista de projetos da Copa, os preparativos para o torneio custarão R$ 25,5 bilhões. Aproximadamente 85% disso serão custeados pelo Poder Público ou com financiamento concedido por bancos estatais. Menos de 15% serão pagos diretamente pelo setor privado.
O estudo da UFMG, assinado por Edson Paulo Domingues, Ademir Antonio Betarelli Junior e Aline Souza Magalhães ainda acrescenta que a atração de turistas também terá um efeito colateral. Segundo o artigo, "um megaevento como a Copa apenas substitui turistas usuais por 'turistas-copa'". Portanto, não eleva consideravelmente os ganhos do país-sede, diferentemente do estimado por consultorias.
Por causa disso e de outros fatores, o artigo da UFMG ratifica que é impossível mensurar quanto efetivamente o Mundial da Fifa trará de benefícios para o Brasil. O artigo lembra, contudo, que diversos estudos econômicos feitos sobre eventos esportivos antes de sua realização superestimaram seus benefícios. Isso, inclusive, é uma conclusão comum de estudiosos de vários países, que avaliaram vários eventos.
O Ministério do Esporte foi procurado nesta terça-feira pelo UOL Esporte para comentar as conclusões dos pesquisadores de universidades. Não se pronunciou.
Na semana passada, porém, o órgão divulgou um balanço positivo sobre a realização da Copa das Confederações de 2013 no Brasil. De acordo com o órgão, o torneio movimentou mais R$ 740 milhões em turismo no Brasil.
Ao todo, 230 mil brasileiros viajaram pelo país para assistir a jogos do torneio, segundo a Embratur. Outros 20 mil estrangeiros vieram ao Brasil. Cada estrangeiro que veio ao país gastou em média R$ 4.854, contra R$ 1.042 dos turistas brasileiros.
O Ministério do Esporte calcula que foram criados 24,5 mil empregos nos seis estádios usados na Copa das Confederações, a qual gerou R$ 100 milhões em novos negócios para micro e pequenas empresas brasileiras. Só em artesanato, foram vendidos R$ 2,7 milhões.
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