Cerca de um mês atrás, os economistas Mansueto Almeida, Marcos Lisboa e Samuel Pessôa publicaram um estudo sobre as contas públicas brasileiras, O Ajuste Inevitável, que se tornou objeto de intensa repercussão. Não pelo conteúdo – o estudo não revela nenhuma grande novidade a respeito da nossa dramática situação fiscal e, na essência, consiste de uma tabela que mostra a evolução insustentável dos gastos do governo nos últimos 20 anos. Não pelo rigor – o estudo deixa de lado, intencionalmente, os repasses do governo federal a estados e municípios (destino de gastos crescentes) e a conta financeira (também crescente) dos juros da dívida. Mas pelo momento em que foi publicado, período em que o país pela primeira vez em décadas poderá viver uma discussão adulta sobre o que espera do Estado e quanto isso pode custar.
No Orçamento que envia hoje ao Congresso Nacional, a presidente Dilma Rousseff reconhece pela primeira vez um déficit nas contas públicas – e não tentará tapá-lo com receitas artificiais que não existirão, nem com a criação de novos impostos como a CPMF. O descalabro do Estado brasileiro está lá na proposta, como tem estado há muitos anos. A diferença é que, agora, o país não pode mais dar-se o luxo de ignorá-lo. Será preciso que o Legislativo tome uma decisão a respeito. Há apenas três soluções possíveis – e nenhuma delas satisfaz as demandas infantis da população e dos agentes políticos que acreditam no Papai Noel que fabrica riqueza sempre que o país precisa acertar as contas.
A primeira solução é manter o déficit primário, avaliado em pelo menos R$ 30 bilhões pelas contas do ministério da Fazenda. O risco, nesse caso, é o aumento do endividamento do Estado e a consequente necessidade de captar mais dinheiro no mercado para arcar com a conta de juros. Ela já subiu, de 274 bilhões, em 2014, para algo como R$ 336 bilhões neste ano. Pagar mais significará manter em alta a taxa básica, desestimular investimentos privados e contribuir para prolongar a dolorosa recessão que fez nosso Produto Interno Bruto (PIB) encolher 2% na última estimativa do IBGE. Manter o déficit também significa aumentar a probabilidade de que as agências de classificação de risco rebaixem a nota do Brasil para o grau de investimento especulativo, fato que afugentaria o capital externo e dificultaria ainda mais o cenário para investimentos no país.
A segunda solução é o Congresso fazer o que tem feito nas últimas duas décadas para tapar os rombos nas contas públicas: aumentar impostos. A volta da CPMF foi descartada, mas o governo sempre foi criativo na hora de inventar novas formas de saciar sua sanha tributária. Entre 1991 e 2014, diz o estudo dos economistas sobre o ajuste fiscal, a carga tributária subiu de 25% do PIB para 35%. No período, a renda cresceu 103%, e a arrecadação, quase 184%. Sem fazer nada, apenas com a queda do PIB, a proporção de impostos sobre o PIB já aumentará. Criar novos impostos significaria, portanto, reduzir os recursos disponíveis no setor privado para consumo e investimento e, assim como a manutenção do déficit, prologaria a recessão.
A terceira solução é a mais difícil – e a menos popular. Trata-se de reduzir as despesas para equilibrar as contas. O estudo mostra um crescimento avassalador da despesa primária do governo desde 1991 – ela foi de 11% para 20% do PIB, um aumento de quase R$ 500 bilhões. A maior parte desses gastos ocorreu em políticas sociais, como educação, saúde, aposentadorias e outros benefícios. Só na Previdência Social, houve uma elevação média de 0,2% ao ano. Apenas neste ano, os gastos com a Previdência subirão de R$ 432 bilhões para R$ 438 bilhões, e a previsão é que cheguem a quase 8% do PIB em 2018. Somando benfícios como LOAS, seguro desemprego, abono salarial e as diversas bolsas concedidas pelo Estado, todos os gastos sociais cresceram algo como 0,3% ao ano. Só para comparar, os gastos com pessoal e os investimentos subiram menos de um décimo disso, ou 0,02% ao ano. O diagnóstico dos três economistas é que, sem mexer nas políticas sociais, não há ajuste fiscal que se sustente.
No Orçamento que envia hoje ao Congresso Nacional, a presidente Dilma Rousseff reconhece pela primeira vez um déficit nas contas públicas – e não tentará tapá-lo com receitas artificiais que não existirão, nem com a criação de novos impostos como a CPMF. O descalabro do Estado brasileiro está lá na proposta, como tem estado há muitos anos. A diferença é que, agora, o país não pode mais dar-se o luxo de ignorá-lo. Será preciso que o Legislativo tome uma decisão a respeito. Há apenas três soluções possíveis – e nenhuma delas satisfaz as demandas infantis da população e dos agentes políticos que acreditam no Papai Noel que fabrica riqueza sempre que o país precisa acertar as contas.
A primeira solução é manter o déficit primário, avaliado em pelo menos R$ 30 bilhões pelas contas do ministério da Fazenda. O risco, nesse caso, é o aumento do endividamento do Estado e a consequente necessidade de captar mais dinheiro no mercado para arcar com a conta de juros. Ela já subiu, de 274 bilhões, em 2014, para algo como R$ 336 bilhões neste ano. Pagar mais significará manter em alta a taxa básica, desestimular investimentos privados e contribuir para prolongar a dolorosa recessão que fez nosso Produto Interno Bruto (PIB) encolher 2% na última estimativa do IBGE. Manter o déficit também significa aumentar a probabilidade de que as agências de classificação de risco rebaixem a nota do Brasil para o grau de investimento especulativo, fato que afugentaria o capital externo e dificultaria ainda mais o cenário para investimentos no país.
A segunda solução é o Congresso fazer o que tem feito nas últimas duas décadas para tapar os rombos nas contas públicas: aumentar impostos. A volta da CPMF foi descartada, mas o governo sempre foi criativo na hora de inventar novas formas de saciar sua sanha tributária. Entre 1991 e 2014, diz o estudo dos economistas sobre o ajuste fiscal, a carga tributária subiu de 25% do PIB para 35%. No período, a renda cresceu 103%, e a arrecadação, quase 184%. Sem fazer nada, apenas com a queda do PIB, a proporção de impostos sobre o PIB já aumentará. Criar novos impostos significaria, portanto, reduzir os recursos disponíveis no setor privado para consumo e investimento e, assim como a manutenção do déficit, prologaria a recessão.
A terceira solução é a mais difícil – e a menos popular. Trata-se de reduzir as despesas para equilibrar as contas. O estudo mostra um crescimento avassalador da despesa primária do governo desde 1991 – ela foi de 11% para 20% do PIB, um aumento de quase R$ 500 bilhões. A maior parte desses gastos ocorreu em políticas sociais, como educação, saúde, aposentadorias e outros benefícios. Só na Previdência Social, houve uma elevação média de 0,2% ao ano. Apenas neste ano, os gastos com a Previdência subirão de R$ 432 bilhões para R$ 438 bilhões, e a previsão é que cheguem a quase 8% do PIB em 2018. Somando benfícios como LOAS, seguro desemprego, abono salarial e as diversas bolsas concedidas pelo Estado, todos os gastos sociais cresceram algo como 0,3% ao ano. Só para comparar, os gastos com pessoal e os investimentos subiram menos de um décimo disso, ou 0,02% ao ano. O diagnóstico dos três economistas é que, sem mexer nas políticas sociais, não há ajuste fiscal que se sustente.
Eles sugerem mudanças na idade das aposentadorias, revisão de leis trabalhistas e de benefícios assistenciais, além do corte de subsídios. É por isso mesmo que boa parte da população – e dos congressistas – vê o ajuste fiscal como uma “maldade” feita à custa do bem-estar da população. A crença no Estado como provedor de recursos está tão disseminada no Brasil, que não custa lembrar uma das bandeiras das manifestações populares de 2013 (na foto acima) – o passe livre nos ônibus, como se fosse justo o Estado arcar com o custo de transporte dos indivíduos. A chance de cortes em subsídios e benefícios sociais no Congresso Nacional é mínima. Políticos agem segundo os humores dos eleitores e de suas bases de interesses – quando não segundo apenas seus próprios interesses pecuniários.
Nenhuma das soluções será indolor. Mais dívida? Mais impostos? Ou menos benefícios? Eis o impasse em que o país está. Em termos de eficácia, a última solução é a melhor, por ter a vantagem de transmitir um recado claro aos agentes econômicos que poderá contribuir para encurtar a recessão. Em termos de viabilidade, a mais provável é o aumento de impostos ou das dívidas, uma tradição já consolidada em nossa história recente.
http://g1.globo.com/mundo/blog/helio-gurovitz/post/mais-divida-e-taxas-ou-menos-beneficios.html
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