segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Mais dívida e taxas ou menos benefícios?

Do Blog do Helio Gurovitz

por Helio Gurovitz

Cerca de um mês atrás, os economistas Mansueto Almeida, Marcos Lisboa e Samuel Pessôa publicaram um estudo sobre as contas públicas brasileiras, O Ajuste Inevitável, que se tornou objeto de intensa repercussão. Não pelo conteúdo – o estudo não revela nenhuma grande novidade a respeito da nossa dramática situação fiscal e, na essência, consiste de uma tabela que mostra a evolução insustentável dos gastos do governo nos últimos 20 anos. Não pelo rigor – o estudo deixa de lado, intencionalmente, os repasses do governo federal a estados e municípios (destino de gastos crescentes) e a conta financeira (também crescente) dos juros da dívida. Mas pelo momento em que foi publicado, período em que o país pela primeira vez em décadas poderá viver uma discussão adulta sobre o que espera do Estado e quanto isso pode custar.

No Orçamento que envia hoje ao Congresso Nacional, a presidente Dilma Rousseff reconhece pela primeira vez um déficit nas contas públicas – e não tentará tapá-lo com receitas artificiais que não existirão, nem com a criação de novos impostos como a CPMF. O descalabro do Estado brasileiro está lá na proposta, como tem estado há muitos anos. A diferença é que, agora, o país não pode mais dar-se o luxo de ignorá-lo. Será preciso que o Legislativo tome uma decisão a respeito. Há apenas três soluções possíveis – e nenhuma delas satisfaz as demandas infantis da população e dos agentes políticos que acreditam no Papai Noel que fabrica riqueza sempre que o país precisa acertar as contas.

A primeira solução é manter o déficit primário, avaliado em pelo menos R$ 30 bilhões pelas contas do ministério da Fazenda. O risco, nesse caso, é o aumento do endividamento do Estado e a consequente necessidade de captar mais dinheiro no mercado para arcar com a conta de juros. Ela já subiu, de 274 bilhões, em 2014, para algo como R$ 336 bilhões neste ano. Pagar mais significará manter em alta a taxa básica, desestimular investimentos privados e contribuir para prolongar a dolorosa recessão que fez nosso Produto Interno Bruto (PIB) encolher 2% na última estimativa do IBGE. Manter o déficit também significa aumentar a probabilidade de que as agências de classificação de risco rebaixem a nota do Brasil para o grau de investimento especulativo, fato que afugentaria o capital externo e dificultaria ainda mais o cenário para investimentos no país.

A segunda solução é o Congresso fazer o que tem feito nas últimas duas décadas para tapar os rombos nas contas públicas: aumentar impostos. A volta da CPMF foi descartada, mas o governo sempre foi criativo na hora de inventar novas formas de saciar sua sanha tributária. Entre 1991 e 2014, diz o estudo dos economistas sobre o ajuste fiscal, a carga tributária subiu de 25% do PIB para 35%. No período, a renda cresceu 103%, e a arrecadação, quase 184%. Sem fazer nada, apenas com a queda do PIB, a proporção de impostos sobre o PIB já aumentará. Criar novos impostos significaria, portanto, reduzir os recursos disponíveis no setor privado para consumo e investimento e, assim como a manutenção do déficit, prologaria a recessão.

A terceira solução é a mais difícil – e a menos popular. Trata-se de reduzir as despesas para equilibrar as contas. O estudo mostra um crescimento avassalador da despesa primária do governo desde 1991 – ela foi de 11% para 20% do PIB, um aumento de quase R$ 500 bilhões. A maior parte desses gastos ocorreu em políticas sociais, como educação, saúde, aposentadorias e outros benefícios. Só na Previdência Social, houve uma elevação média de 0,2% ao ano. Apenas neste ano, os gastos com a Previdência subirão de R$ 432 bilhões para R$ 438 bilhões, e a previsão é que cheguem a quase 8% do PIB em 2018. Somando benfícios como LOAS, seguro desemprego, abono salarial e as diversas bolsas concedidas pelo Estado, todos os gastos sociais cresceram algo como 0,3% ao ano. Só para comparar, os gastos com pessoal e os investimentos subiram menos de um décimo disso, ou 0,02% ao ano. O diagnóstico dos três economistas é que, sem mexer nas políticas sociais, não há ajuste fiscal que se sustente.
Na Avenida Paulista, em São Paulo, manifestantes seguem no sétimo dia de protestos do Movimento Passe Livre










Eles sugerem mudanças na idade das aposentadorias, revisão de leis trabalhistas e de benefícios assistenciais, além do corte de subsídios. É por isso mesmo que boa parte da população – e dos congressistas – vê o ajuste fiscal como uma “maldade” feita à custa do bem-estar da população. A crença no Estado como provedor de recursos está tão disseminada no Brasil, que não custa lembrar uma das bandeiras das manifestações populares de 2013 (na foto acima) – o passe livre nos ônibus, como se fosse justo o Estado arcar com o custo de transporte dos indivíduos. A chance de cortes em subsídios e benefícios sociais no Congresso Nacional é mínima. Políticos agem segundo os humores dos eleitores e de suas bases de interesses – quando não segundo apenas seus próprios interesses pecuniários.
Nenhuma das soluções será indolor. Mais dívida? Mais impostos? Ou menos benefícios? Eis o impasse em que o país está. Em termos de eficácia, a última solução é a melhor, por ter a vantagem de transmitir um recado claro aos agentes econômicos que poderá contribuir para encurtar a recessão. Em termos de viabilidade, a mais provável é o aumento de impostos ou das dívidas, uma tradição já consolidada em nossa história recente.
http://g1.globo.com/mundo/blog/helio-gurovitz/post/mais-divida-e-taxas-ou-menos-beneficios.html 

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Somares

Da série: Amizades que surgem de momentos tensos hehhehe


segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Hollister e os limites do Storytelling

Do Blog Macacos me bloguem

O que uma marca vende? Uma posição social? Um posicionamento ideológico? Um sonho? Um estilo de vida? Com certeza, todos eles e muito mais. Isso é o princípio de tudo. Quando as marcas surgiram, foi exatamente para diferenciar produtos essencialmente iguais. Esse café é melhor porque foi plantado numa terra melhor. Foi melhor irrigado, tratado com mais cuidado. Por isso ele é diferente, e talvez por isso ele custe mais.

Existem diversas maneiras de transmitir esses atributos da marca através da comunicação: a voz da marca, sua estética, cores, trilha sonora, até o meio onde ela transmite sua comunicação dizem muito sobre seu posicionamento. Anunciar no Canal Futura denota algo diferente do que anunciar na MTV, e as marcas deram mais um passo nesse caminho: começaram a contar histórias romantizadas, bem escritas e estruturadas para se conectar com o seu público-alvo e, com isso, ganhar mercado, personalidade e, logicamente, vender mais – é o famigerado storytelling corporativo.

A última notícia bombástica sobre o uso do storytelling corporativo é da marca de roupas Hollister. Nos últimos dias eles divulgaram a sua história, muito bonita por sinal, e até um pouco óbvia sobre onde eles querem chegar:

A marca seria o resultado das ideias de John M. Hollister, um jovem aventureiro, que não se contentava com o lugar comum, com a vida corrida das grandes cidades, que passou uma infância com as coisas simples da vida, um pouco bucólica até, em contato constante com a natureza, nadando e surfando nas praias do estado americano do Maine.

John se formou em Yale (quer dizer que ele não é só um aventureiro, é um aventureiro inteligente) no ano de 1915 e, não querendo ter uma vida corrida, atribulada, cheia de compromissos como a do seu pai em Nova York, em 1917 viaja para as Índias Orientais Holandesas, na Ásia.

Ao chegar lá, se apaixona pela filha do dono da plantação de borracha em que trabalhava. O casal resolve voltar para Los Angeles navegado em um veleiro pelo Oceano Pacífico em 1919 com o nobre objetivo de abrir uma loja de artesanato. A marca Hollister Co. começaria a funcionar em 1922 com o trabalho também do filho do casal, um surfista também com cabeça de empreendedor que levou essa marca à frente.

O que aconteceu é que na verdade a marca surgiu em uma reunião de marketing dos executivos de terno e com a vida corrida de Nova York no escritório da Abercrombie & Fitch, no frio estado de Ohio.

Acho que você já percebeu o que aconteceu aqui. Vamos dividir a análise em duas etapas: a primeira, da história, e a segunda, do uso do storytelling.

Vamos à história: fica muito fácil entender para quem ela foi construída, certo? É a história que o público que consome esse estilo de roupa quer ouvir. Se conecta emocionalmente com eles. Não querem ter uma vida corrida em cidades grandes, são sonhadores, querem ter contato com a natureza, talvez praticar algum esporte radical (ou somente falar que praticam), não concordam com o estilo de vida dos pais, sonham em se aventurar por terras exóticas, viver um verdadeiro amor e continuar se aventurando com ele.

Clichê, clichê, clichê. Tudo isso tem, descaradamente no storytelling apresentado pela marca. Afinal, contar que ela surgiu de uma reunião de marketing onde foi levantado uma oportunidade de Mercado para a venda dessas roupas não vai cativar ninguém.

Até aqui é justo. Uma história simples, cheia de clichês de filmes da Sessão da Tarde, mas que se conectam com o público. Mas é certo inventar um storytelling que não aconteceu para vender uma marca?

A discussão é complexa e profunda. Storytelling é um conceito que “virou moda” há poucos anos, mas que é usado há muitos. Muitas campanhas de comunicação emblemáticas que conhecemos são storytelling de ficção. A Coca-Cola reinventou o Papai Noel, mostra que dentro das suas vending machines existe um mundo mágico, ao mesmo tempo que a Axe criou um mundo onde quem usa seu desodorante fica irresistível ao sexo oposto. Tudo mentira, certo? Então a primeira barreira que precisamos quebrar é a questão da verossimilhança: se a marca assume que é fantástico, o público entende que é ficção. Mas e quando a marca cria uma história verossímil, que poderia ter acontecido? Caso dos sorvetes Diletto, sucos Do Bem e mais recentemente, da Hollister? Encaramos como mentira?

O principal parâmetro que precisamos ter ao julgar um storytelling como mentiroso é se a marca engana seus consumidores na qualidade e atributos do produto que entrega. Isso sim é perigoso. Se a Volvo cria campanhas contando histórias que seus carros são mais seguros, eles têm que ser mais seguros.

A Diletto criou uma história de um avô que veio da Itália com a receita do seu sorvete especial escondida na roupa. Isso não compromete a qualidade do produto. Não engana o consumidor perante o que ele espera receber. Se eles dissessem na história que criaram um sorvete que emagrece, isso sim seria problemático.

O padrão esperado de um storytelling é ser novo, criar conexões, posicionar a marca, dar personalidade a ela. Tem que ser inovador, criativo, só não pode vender algo que ela não entrega.
Meu julgamento é que o storytelling da Hollister é justo, criou uma história que reflete o público da marca, que conversa com ele, fala a mesma língua. Isso pode ser feito em uma história ou em campanhas publicitárias, de qualquer maneira será transmitido. E enquanto estiver nesse campo, e não mentir sobre a sua qualidade ou a entrega do produto, funciona.

Para mim, a marca de corte de um storytelling é não lesar o consumidor. Podemos ser lúdicos e poéticos, mas não lesar o público que queremos nos conectar. Enquanto ele for utilizado para criar personalidade de marca, é justo. E, se for ficção, não custa nada sinalizar isso. Afinal, quando como já diria a máxima: “Se a versão é melhor que a verdade, publique-se a versão”.

http://www.monkeybusiness.com.br/blog/hollister-e-os-limites-do-storytelling/ 

#15: Por que Indiana, Joao?

De Danilo Leonardi

"Quando fedho os olhos, quase posso ouvi-lo dizendo que algumas passagens são só de ida."


#14: Fora de série: Outliers

De Malcolm Gladwell

"O sucesso é o resultado do que os sociólogos denominaram "vantagem cumulativa".


quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Amar exige generosidade

IVAN MARTINS
12/08/2015 - 09h05 - Atualizado 12/08/2015 16h16

A vida exige destemor e desapego. Em algum momento temos de arriscar, saltar no escuro, avançar sem certeza do que vai pela frente. Sobretudo no amor. Se a gente pensa demais, hesita demais, pondera demais, não acontece. As oportunidades passam, a vida passa, sem que a gente se comprometa.
Do que é mesmo que estou falando? Das opções difíceis que as relações amorosas nos oferecem. Estou falando de sacrifício.
Cada pessoa que escolhemos nos faz um tipo de exigência subjetiva. Às vezes elas são simples – como namorar e ter uma vida leve, parecida com a nossa própria. Outras vezes as escolhas são menos óbvias – como ao amar alguém que traz uma dor, ou uma carga ser partilhada.
Tenho um amigo que, assim como tantos, casou-se com uma mulher que tinha dois meninos. Ele, sendo jovem e livre, poderia ter se esquivado, mas não. Abraçou a situação e tentou ser para os garotos o melhor padrasto possível. Gostar da mulher era fácil. Quando tudo deu errado, lá na frente, por outras razões, ele sabia que havia tentado verdadeiramente.
Eu estou cada vez mais convencido que não é possível viver um grande amor sem sacrifícios. Cedo ou tarde a necessidade dele se coloca. Então descobrimos do que somos feitos.
Se uma mulher tem filhos e isso parece trabalhoso para o homem, uma mulher sem filhos provavelmente gostará de tê-los – e essa situação não será mais confortável que a anterior. Um homem com filhos pode parecer um fardo para uma mulher jovem, mas qual o fardo de viver sem o homem que ela ama?
Tenho a impressão de que vivemos acorrentados à nossa zona de conforto. Nos acostumamos a estar seguros e tranquilos. Viramos contumazes egoístas. Não abrimos mão da liberdade, do sossego, do espaço, do dinheiro, do corpo bem cuidado. Mas, neste caso, o que exatamente vamos dar ao outro, além da nossa companhia?
Conheço uma moça que se casou com um rapaz que é filho único de pais apegados – e de uma classe social diferente da dela. Ela poderia, sedutora como é, erguer uma barreira e separar gradualmente o marido dos pais, para não ser incomodada. Mas não é o que ela faz. Outro dia, saiu em viagem com o marido e os sogros, por mais de duas semanas. Quando eu perguntei onde ela achava energia, a resposta foi simples: “Comprei o pacote. Se eu não fizer isso, o homem que eu amo vai ficar infeliz”. Faz sentido, não faz?
O que não faz sentido é uma vida confortável e vazia.
Cada vez que a gente se abre verdadeiramente para o outro, corre o risco de ser envolvido pelo drama da vida dele. Problemas de saúde. Depressão. O pai que bebe. A irmã maluca. É mais fácil estender um cordão sanitário em volta de si mesmo – ou do seu casamento estagnado – e evitar com unhas e dentes qualquer coisa que atrapalhe. Mas isso, de forma muito clara, significa renunciar a viver. Ou, pelo menos, a viver aspectos essenciais da sua própria existência.
Nós somos filhos dos nossos temores, porém. Fomos educados pelo medo. A perspectiva da alegria brilha menos do que a lembrança do infortúnio. Por isso somos cautelosos e egoístas. Por isso deixamos que o futuro passe ao largo sem esboçar um gesto para detê-lo. Depois nos queixaremos, velhotes, que a vida não trouxe nada fora do cardápio. Quando ofereceu, recusamos.
Melhor seria se nos deixássemos levar pela mão do amor a circunstâncias novas e misteriosas. Seríamos mais felizes se pudéssemos amar o outro tão profundamente que as mesquinharia ficassem para trás como malas inúteis. Se pudéssemos fazer com que as necessidades do outro fossem parte da nossa vida, seríamos como um. Ou quase.
Como se chega a isso? Não sei. Perdemos a fórmula, se algum dia ela existiu. Agora teremos de improvisar e descobrir. Certamente, não adianta afirmar, a todo momento, as nossas prioridades, as nossas necessidades e os nossos medos. A vida exige coragem. E amar exige generosidade.
http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ivan-martins/noticia/2015/08/amar-exige-generosidade.html 

Carentes não têm medo de amar

IVAN MARTINS
19/08/2015 - 08h40 - Atualizado 19/08/2015 09h26

Minha situação neste inverno calorento pode ser resumida em poucos números: duas gatas, uma ex, meia dúzia de amigos e algumas relações difíceis de serem nomeadas. É o que se chama por aí de vida de solteiro, e, francamente, acho uma droga. Sei de gente que adora essa liberdade, mas não é meu caso. Prefiro os grilhões suaves de uma relação feliz às possibilidades enganosas de uma sexta-feira sem compromisso.
Não é o caso de chorar de pena ou gemer de inveja. Apenas é assim.
Ontem, jantando com uma moça, tive a sensação de que há algo de errado comigo. Ela está separada há quatro meses, divide casa com uma amiga, não tem nenhum relacionamento em vista e... jura que está feliz. Parece realmente contente com a sua solteirice sem planos, enquanto eu resmungo diariamente contra a falta de uma relação amorosa que ancore a minha existência.
Por que somos tão diferentes? Minha impressão é que se trata em parte de questão de gênero.
Mulheres tendem a lidar melhor com a separação. Classicamente, no fim de um relacionamento os homens mergulham na farra, enquanto as moças se recolhem ao casulo da sua nova liberdade. Depois de uns meses, voltam à vida como borboletas, com garbo e maravilha, enquanto os caras que queimaram a largada descobrem que ainda estão na lama – e lá ficarão por um bom tempo.
Mas não é apenas dos ritos da separação que estamos falando.
O que me causa inveja na moça – e em outras pessoas como ela, homens ou mulheres – é que mesmo em tempos normais elas parecem construir a vida em torno de si mesmas, sem as escoras e andaimes de uma relação romântica.
Você liga na segunda-feira à noite e a criatura está de boa, fazendo o próprio jantar. Na tarde de sábado, se enfia na banheira ou anda de bicicleta como se o mundo jamais fosse acabar. É a mesma pessoa que vai do trabalho para casa por três noites seguidas, depois faz uma farra com os amigos para compensar. Suponho que tristezas cheguem e passem como as horas no relógio. Ela respira e aguenta, tão somente.
A diferença entre quem vive assim e quem padece de ansiedade amorosa é a capacidade de estar em paz consigo mesmo.
Quem fica bem sozinho não corre atrás da primeira pessoa que passa. Espera que alguém legal apareça, sem pressa e sem fantasias infundadas. Muita gente bacana queima o próprio filme por carência: se envolve com babacas, faz papel de boba, acaba humilhada e ressentida pela incapacidade de esperar ou dizer não a quem precisa ouvir.
Há uma lei cruel da natureza que diz que o afeto flui generosamente na direção de quem prescinde dele. Quem tem menos necessidade de atenção vai recebê-la com mais frequência – e o inverso é tristemente verdadeiro.
Chovo no molhado, evidentemente.
Todos sabemos, por experiência própria, que o jeito mais eficaz de atrair pessoas é estar feliz.  Nesse estado de espírito peculiar a gente transpira simpatia e sensualidade. Estar tranquilo sozinho não é como estar feliz, mas às vezes se parece tanto àquilo que as pessoas se confundem – e desejam ardentemente as almas independentes, porque elas parecem levar dentro de si a semente de uma alegria secreta.
Outro dia, numa conversa com o guru Sri Prem Baba, durante o lançamento do livro dele, ouvi uma pergunta de luminosa simplicidade: como esperar que as pessoas nos amem se nós mesmos mal nos suportamos? Obviamente, não dá. É por isso que o guru do amor diz que deveríamos melhorar antes de depois de nos juntar aos outros, entendendo de onde vêm nossas carências, medos e raivas. Faz sentido.
Estar sozinho, mesmo que doa, é uma forma rápida e eficaz de aprender sobre si mesmo.
Na condição de carente, porém, eu me permito fazer a defesa da tribo. Não somos apenas chatos ou pegajosos. Esses são os amadores. Na verdade, tendemos a ser emocionalmente disponíveis. Estamos abertos a pessoas e experiências, e isso é bom. A necessidade do outro nos leva a olhar e procurar intensamente. Quando alguém nos apaixona, é conduzido de mãos dadas ao centro da nossa existência, onde desfruta, publicamente, de exclusividade e de carinho. Não existe entre os carentes o medo de amar ou de se expor.
Quem precisa avidamente dos outros está lá, na chuva, com o sorriso aberto e a mão estendida, dizendo, como no poema de Matilde Campilho: “Vem dançar comigo, vem”.

http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ivan-martins/noticia/2015/08/carentes-nao-tem-medo-de-amar.html 

Novidade: Zé Neto e Cristiano lançam “Eu ligo pra você”

 
No time das apostas e promessas, há dois rapazes que ganharam muito espaço esse ano. Do mesmo escritório de Henrique e Juliano, Workshow, a dupla Zé Neto e Cristiano tem estado em alta conta entre profissionais que trabalham nos bastidores, por conta, principalmente, do repertório apresentado.
zncc
Em maio, eles gravaram um DVD em São José do Rio Preto, terra natal deles, que tem tido uma resposta muito boa na internet entre os sites de download, e que contou com as participações de Humberto e Ronaldo, Marília Mendonça, e também de Henrique e Juliano.
A dupla está promovendo hoje o lançamento de uma nova canção, que faz parte do DVD, e que foi escolhida como música de trabalho. O nome da música é “Eu ligo pra você”, e o vídeo pode ser conferido mais abaixo.
O áudio do DVD está todo disponível, gratuitamente, no site da dupla. Quem quiser baixar, basta clicar aqui. Pra quem gosta de ouvir e discutir música, vale a pena baixar e tentar entender o porquê de tanta gente animada com eles.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Wesley Safadão, o mega DVD, e o mercado sertanejo cada vez mais próximo

 
Acompanhar DVD’s faz parte do meu trabalho, mas gravações de artistas de outros gêneros musicais raramente estão no meu roteiro.
Se não estou mal de memória, o único DVD não-sertanejo que cobri até hoje foi o da banda Calypso, em 2009, quando eu havia acabado de entrar no UOL. A banda era fenômeno de popularidade.
wsjorge
No último sábado, 31, estive na gravação do Wesley Safadão, em Brasília, em um palco imenso montado em frente ao estádio Mané Garrincha. Não fui à toa. Como é fácil perceber, Safadão está cada vez mais presente em festas sertanejas e tem feito participações em DVD’s de artistas do gênero.
O vídeo abaixo é da canção “Aquele 1%”, gravada no DVD de Marcos e Belutti, que nem sequer virou de trabalho ainda, mas já bateu os 7 milhões no YouTube (outras participações dele com sertanejos podem ser conferidas aqui).
Aos que não estão familiarizados, Safadão é um dos principais artistas do Brasil na atualidade. É um fenômeno de público e faturamento, mas ele ainda quer mais.
Não é segredo pra ninguém que, da metade do país pra baixo, a música nordestina encontra diversas barreiras. Há o preconceito puro, condenável, mas há também a questão cultural, já que as origens do forró (estilo do Safadão) estão todas lá em cima.
Como boa parte das pessoas já sabe, a Luan Promoções (que cuida da carreira dele) tem a Audiomix como parceira. É uma das estratégias para que ele entre em outras praças e torne seu nome cada vez mais nacional. Só para dar um exemplo pontual, o “Caldas Country” anunciou que ele estará presente na edição deste ano, quando o evento completa 10 anos.
Quem me acompanha aqui desde o início, sabe do meu pouco apoio à ideia de abrir eventos sertanejos para outros gêneros. Não por reserva de mercado, mas por achar que os eventos precisam fortalecer o próprio mercado.
Há exceções, no entanto. Por mais que alguns torcessem o nariz, muitas festas não resistiram ao sucesso do Exaltasamba, cinco anos atrás. As bilheterias e as positivas e repetidas boas repercussões dos shows fizeram com que o grupo, liderado pelo Thiaguinho, surgisse em dias nobres das grandes festas sertanejas do país. Se o povo quer, barrar pra quê?
ws2
Wesley Safadão dá indícios de que será o próximo a ser abraçado por um público que até pouco tempo não o conhecia (ele já está confirmado para Barretos, também). Ainda que nem todas as suas canções sejam conhecidas nacionalmente, ele sabe mesclar sucessos alheios em seu repertório, fundamental para quem visa uma plateia nova.
E sem querer me estender e entrar muito na questão empresarial (que é muito importante, mas longe de ser a única), o trabalho de expansão da carreira do Safadão de nada serviria se não existisse o tal do carisma. Tem gente que tem carisma e ponto. Ele tem.
O DVD, de megaestrutura e dirigido pelo Catatau, teve apenas uma participação, que já diz muita coisa: Jorge.
ws1

(*em tempo: Jorge e Mateus estão de férias, e Mateus está fora do Brasil, por isso não participou do DVD).

http://www.universosertanejo.com.br/2015/08/03/wesley-safadao-o-mega-dvd-e-o-mercado-sertanejo-cada-vez-mais-proximo/ 

"É o Rock in Rio do sertanejo", diz Gusttavo Lima sobre Festa de Barretos

Felipe Branco Cruz
Do UOL, em São Paulo 17/08/201505h00


A maior festa de peão do Brasil começa nesta quinta-feira (20) com a promessa de atrair 900 mil pessoas para Barretos, no interior de São Paulo, em seus dez dias de duração. Além dos tradicionais rodeios, o evento, que comemora 60 anos em 2015, se transformou também em um imenso festival de música sertaneja, com mais de 100 shows em diversos palcos espalhados pelo Parque do Peão. (Ouça aqui o álbum com as músicas de Barretos deste ano)
Para Gusttavo Lima, por exemplo, um sertanejo se apresentar em Barretos seria tão importante quanto um roqueiro tocar no Rock in Rio. "É o Rock in Rio do sertanejo", disse o artista ao UOL. "Se eu pudesse escolher qualquer palco no mundo para cantar, com certeza escolheria Barretos", afirmou. "Rodeio e música sertaneja sempre andaram juntos", disse Gusttavo, que fará show no palco principal no dia 28 (sexta-feira).
Comparação semelhante é feita também por João Bosco, da dupla João Bosco & Vinícius. "Para mim, tocar em Barretos é como jogar futebol no Maracanã lotado", disse. A dupla, junto com Luan Santana e Wesley Safadão, foi convidada às pressas para se apresentar no dia 21, no lugar de Cristiano Araújo, que morreu em junho, "Faço show em Barretos desde 2005, mas neste ano não iria para lá. Fico feliz por poder cantar na Festa, mas preferia não ir se isso fosse trazer o Cris de volta". 
 
Reinaldo Canato /UOLPara mim, tocar em Barretos é como jogar futebol no Maracanã lotado"João Bosco, da dupla João Bosco & Vinícius
 
A dupla Henrique & Juliano, intérprete do hit "Cuida Bem Dela", foi a escolhida pelo público deste ano para ser a embaixadora da Festa do Peão. "Cantar em Barretos é a nossa maior realização como artista", disse Henrique. "A festa é, antes de tudo, uma grande confraternização da cultura sertaneja, porque todos têm uma agenda muito corrida e quase não se encontram. Barretos possibilita esse encontro", explicou. A dupla fará show no domingo (23). 
 
Michel Teló, que fará no dia 27 o show "Bem Sertanejo" junto com a dupla Bruno & Marrone, revelou que Barretos tem um significa especial em sua carreira. "Foi lá que eu fiz o meu primeiro show solo, depois que deixei o Grupo Tradição". Para o cantor, Barretos é referência em sertanejo. "Me sinto honrado em cantar lá". 
 
Outra dupla que também considera Barretos um festival importante para a carreira, é Henrique & Diego. "Nós saímos dos palcos menores para cantar no palco principal da festa", disse Henrique. A dupla é dona do hit sertanejo mais tocado no Brasil neste ano, "Suíte 14". "Barretos é o maior palco do Brasil", garantiu Diego. 
 
Reinaldo Canato /UOLFoi lá [em Barretos] que eu fiz o meu primeiro show solo, depois que deixei o Grupo Tradição"Michel Teló
 
O sucesso de "Suíte 14" foi tão grande, que sobrou até para o funkeiro MC Guimêfazer show na Festa do Peão. Guimê dividirá o palco com a dupla para interpretar um trecho da música, que ele gravou em parceria com os sertanejos. Mas o funkeiro também fará show solo no festival. "Vai ser a primeira que vou para Barretos", disse o artista. "Minha família sempre ouviu sertanejo, como Teodoro & SampaioRionegro & Solimões e Victor & Leo. Acho que este será um dos maiores shows que vou fazer na minha carreira". 
 
Mesmo para as duplas sertanejas tradicionais, como Zezé Di Camargo & Luciano, que não fará show neste ano, Barretos sempre foi um palco importante. "Foi em Barretos que fizemos os shows do especial 'Amigos'", disse Luciano. "Demoramos mais de duas horas para deixar a cidade depois que terminamos a apresentação em 1996", lembrou. A cantora Roberta Miranda concorda com Luciano. "Barretos cresceu demais. É um evento mundial. Eu já fiz show lá para mais de 80 mil pessoas".

http://musica.uol.com.br/noticias/redacao/2015/08/17/e-o-rock-in-rio-do-sertanejo-diz-gusttavo-lima-sobre-festa-de-barretos.htm 

O silêncio cúmplice aceita a barbárie

Mário Magalhães

Link permanente da imagem incorporada
Link permanente da imagem incorporada

Somente um grande mentecapto suporia que os 800 mil manifestantes do domingo subscreveram mensagens como as retratadas acima (todas garimpadas na internet).
Seria ofensivo vincular o conjunto dos participantes dos protestos a bandeiras como o extermínio sob tortura em campos de concentração, como eram os DOI (Destacamentos de Operações de Informações) da ditadura; à convicção de que rico é imune à corrupção (vide contas secretas na Suíça e pilantragens de empreiteiros); ao lamento por não ter havido genocídio de antagonistas no golpe de Estado de 1964; à defesa de um novo golpe, por meio de “intervenção militar''; e ao abraço em Eduardo Cunha como deputado digno de reverência.
Não subscrevem, é verdade. Mas não se soube de uma só restrição à presença de tais pessoas e à divulgação de tais ideias.
Nem de cidadão que tenha se retirado dos atos públicos ao se deparar com os arautos da intolerância.
A presidente da República foi o alvo central, com justiça ou não, das manifestações. Não é o caso, aqui, de julgar seu governo. Quando jovem, mais jovem do que hoje é a minha filha mais velha, Dilma Rousseff foi presa por agentes do Estado. À margem até da lei da ditadura, foi torturada com choques elétricos, no pau-de-arara, com a crueldade que quem não viveu não é capaz de imaginar.
Cartazes como os de ontem não são novidade nas demonstrações anti-Dilma que se sucedem desde o ano passado. Desta vez, novamente, ninguém confrontou os mensageiros da barbárie.
Quem cala consente, proclama o provérbio.
A gestação do fascismo, do nazismo e do stalinismo foi facilitada pelo silêncio cúmplice.
Não estou dizendo que o Brasil de 2015 se assemelha à Europa dos anos 1920 e 1930.
Mas que, se não podem ser apontados como co-autores das barbaridades de ontem, os manifestantes toparam estar lado a lado com os autores das barbaridades.
Em nome do combate ao adversário político, aceitam perfilar com quem, no conteúdo de alguns cartazes, não difere muito dos cretinos que, no século XX, identificavam-se com a SS.
Se quiserem brigar, não avacalhem a mim, nem me xinguem.
Briguem, avacalhem e xinguem os fatos. Pois é fato que silenciaram diante do ovo da serpente.

E desfilaram com quem preferia que Dilma Rousseff tivesse sido enforcada no DOI a enfrentá-la na democracia.

http://blogdomariomagalhaes.blogosfera.uol.com.br/2015/08/17/o-silencio-cumplice-aceita-a-barbarie/ 

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Lenda


Brasil – país emergente ou 'na' emergência?

por Thais Herédia

A indústria brasileira agoniza com uma queda acumulada de 6,3% no primeiro semestre do ano, segundo dados do IBGE. O desempenho negativo atual está mais acentuado e sedimenta a fraqueza e perda de competitividade que o setor enfrenta há pelo menos cinco anos. A indústria nacional tem muitas empresas que se destacaram na última década, mas em conjunto o parque fabril está sem capital, sem inovação, sem investimento e sem expansão de mercados.  
 
O histórico recente explica muito o quadro recessivo atual. Para a Fundação Getúlio Vargas, a recessão na economia brasileira começou no segundo trimestre de 2014, finalizando um período de expansão de 20 trimestres seguidos. A análise foi feita pelo Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace) da FGV – um grupo formado para avaliar os ciclos econômicos do país. 
 
Há uma semana o economista Claudio Adilson, da MCM Consultoria, escreveu um artigo para responder à questão: a crise que enfrentamos agora é cíclica ou estrutural? Para Adilson, ela é cíclica. Com o ajuste em curso, em um ou dois anos o país reencontrará alguma recuperação. O economista ainda cita o plano de concessões e a correção dos preços relativos como parte do caráter cíclico da recessão. 
 
O que é estrutural e bem mais difícil de superar é a capacidade do país crescer o suficiente para gerar ganhos de renda e produtividade. Enquanto o Brasil não encarar as reformas que estimulem a eficiência da economia, vamos pairar sobre um PIB medíocre. Em mais uma reportagem negativa sobre o Brasil, o jornal Financial Times agora chama o país de “homem doente dos emergentes”. Apesar da dureza nas críticas, os economistas ouvidos pelo jornal concordam com a análise de Claudio Adilson. 
 
No curso da discussão dos britânicos sobre a economia brasileira, a edição do FT traz ainda um debate sobre as categorias de países e suas economias – emergentes ou desenvolvidos. Na reportagem, analistas de investimentos de grandes corporações concordam que essa “hierarquia” mundial está ultrapassada. Eles defendem que os critérios para se definir os emergentes têm equivalências onde elas não existem. Que tal comparar qualquer país com a China, por exemplo, desenvolvido ou emergente? Mesmo sendo emergente, a China é a segunda maior economia do mundo. 
 
O ponto levantado pelos analistas é sobre a qualidade da classificação de risco e retorno dos ativos do universo dos emergentes que, na maioria dos casos, só têm em comum esta identidade mais elaborada. A expressão "mercados emergentes" foi criação de Antoine van Agtmael, gestor de investimento nos EUA, no inicio dos anos 80. Foi uma boa jogada de marketing para aproximar os ricos dos pobres. Desde então mais de 150 países já deixaram o “terceiro mundo” ou a condição de “subdesenvolvidos” para se juntar aos emergentes. 
 
O Brasil foi promovido quase que ao mesmo tempo em que ajudou a formar o quarteto mais famoso dos emergentes – Bric – que depois ganhou mais um adepto – o ‘s’ para África do Sul. Na reportagem sobre a nossa economia, o Financial Times chama o Brasil de “homem doente dos emergentes”. Não só o futuro da categoria está em xeque, como o Brasil está mesmo “na emergência”.

http://g1.globo.com/economia/blog/thais-heredia/post/brasil-pais-emergente-ou-na-emergencia.html