HELIO GUROVITZ
26/07/2015 - 10h00 - Atualizado 26/07/2015 10h54
Economistas costumam ter obsessão pelo crescimento. A divisão entre aqueles à direita e à esquerda se pauta apenas pela melhor forma de atingi-lo. Para uns, o Estado deve se envolver não só para disciplinar o mercado, mas exercer o papel central na geração de riqueza. Para outros, cabe ao mercado a posição de protagonista, e só investimentos privados, livres das amarras impostas pelos governos, garantem a fortuna de empresas e países. Desenvolvimentistas, defensores da intervenção estatal, na certa criticarão o ajuste promovido pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, nas contas do governo. Liberais, paladinos do livre mercado, o verão como insuficiente e criticarão a redução da meta fiscal anunciada na semana passada. Mas ambos justificam suas posições com base no mesmo objetivo: o crescimento da economia. E se estivessem errados? E se crescer – rápido e a todo custo – não devesse ser a razão primordial de qualquer política econômica? Essa questão provocativa vem sendo formulada há algum tempo por um dos mais preparados e bem-sucedidos economistas brasileiros, André Lara Resende. Ele a expõe de diferentes formas em boa parte de seus ensaios publicados na imprensa ou em artigos acadêmicos, reunidos no livro Os limites do possível.
Como economista, o jovem Lara Resende especializou-se no estudo da inflação. Depois de voltar de seu doutorado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), em 1979, passou pela academia, pelo mercado financeiro e pelo governo. É conhecido como um dos artífices do único plano de estabilização econômica que deu certo na série de iniciativas fracassadas ao longo dos anos 1980 e 1990, o Plano Real. Suas ideias estão muito distantes da ingenuidade idílica ou do cinismo crônico, responsáveis pelo nível sofrível do debate econômico no Brasil. Lara Resende é aquele personagem que nos faz tanta falta na cena pública: um intelectual de primeiro time. Alguém que leu, estudou, viveu, conquistou dinheiro, poder – e nem por isso julga ter resposta para tudo ou ser dono da verdade. Não há, em seus textos, nenhuma fímbria das ideias pedestres que estamos acostumados a ler em artigos sobre economia nos jornais ou na internet. Mais que isso, Lara Resende é letrado, escreve em português claro, tem um raciocínio cristalino e quase sempre compreensível ao leigo. Quando recorre à teoria ou aos termos do economês, tem a sensatez de pedir desculpas e de explicar por quê. Só isso já faz de seu livro uma exceção.
Como economista, o jovem Lara Resende especializou-se no estudo da inflação. Depois de voltar de seu doutorado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), em 1979, passou pela academia, pelo mercado financeiro e pelo governo. É conhecido como um dos artífices do único plano de estabilização econômica que deu certo na série de iniciativas fracassadas ao longo dos anos 1980 e 1990, o Plano Real. Suas ideias estão muito distantes da ingenuidade idílica ou do cinismo crônico, responsáveis pelo nível sofrível do debate econômico no Brasil. Lara Resende é aquele personagem que nos faz tanta falta na cena pública: um intelectual de primeiro time. Alguém que leu, estudou, viveu, conquistou dinheiro, poder – e nem por isso julga ter resposta para tudo ou ser dono da verdade. Não há, em seus textos, nenhuma fímbria das ideias pedestres que estamos acostumados a ler em artigos sobre economia nos jornais ou na internet. Mais que isso, Lara Resende é letrado, escreve em português claro, tem um raciocínio cristalino e quase sempre compreensível ao leigo. Quando recorre à teoria ou aos termos do economês, tem a sensatez de pedir desculpas e de explicar por quê. Só isso já faz de seu livro uma exceção.
O principal, claro, são suas ideias. Duas questões, diz ele, desafiam os economistas contemporâneos. A primeira é a desigualdade. Seus artigos chamam a atenção para o limite de um modelo econômico baseado apenas no crescimento, que amplia a distância entre quem tem e quem não tem. Lara Resende argumenta que ter mais renda não significa ter necessariamente uma vida melhor. Mas não faz uma crítica ingênua, muito menos marxista. “Uma coisa é defender a redução da desigualdade em nome de um ideal de justiça social ou de empatia com os menos favorecidos, outra é defendê-la com base na evidência empírica de que ela reduz o bem-estar não apenas dos mais pobres, mas de todos, inclusive os ricos”, escreve no primeiro ensaio, publicado em 2011, bem antes da histeria em torno do francês Thomas Piketty.
A segunda questão são os limites físicos do planeta Terra. Lara Resende considera abundantes as evidências de que é impossível manter o ritmo de crescimento do século XX, simplesmente por causa do esgotamento dos recursos naturais e do custo oculto da poluição, expresso nas mudanças climáticas. Esse custo, diz, não é incorporado aos preços, pois o meio ambiente é um caso que os economistas chamam de “falha de mercado”. Seria razoável, para ele, estabelecer freios ao crescimento, de modo a disciplinar o uso dos recursos finitos. “Todos perdem numa sociedade materialmente ambiciosa, especialmente as gerações futuras”, escreve.
Com erudição sofisticada, Lara Resende tenta conciliar seu tom “neoesquerdista” à defesa do capitalismo e do livre mercado. Não faz uma defesa bocó da pobreza igualitária ou da vida bucólica. Sua limitação é de outra ordem. Muito embora reconheça que a tecnologia possa mitigar alguns problemas, ele no fundo não acredita na inovação. Duvida do alcance da revolução digital ou do efeito que ela ainda poderá ter na produtividade, no nosso modo de vida ou no meio ambiente. Cita, para defender seu ponto de vista, estudos do economista americano Robert Gordon, especialista em produtividade. A verdade é que ninguém ainda decifrou direito o efeito da revolução digital na economia. Pode ser que Lara Resende tenha razão. Ou não. Em 2003, quando entrevistei Gordon, ele me disse uma frase que tem pouco de original, mas muito de sábio: “Qualquer jovem de 18 anos sabe mais sobre computadores que seus pais”.
A segunda questão são os limites físicos do planeta Terra. Lara Resende considera abundantes as evidências de que é impossível manter o ritmo de crescimento do século XX, simplesmente por causa do esgotamento dos recursos naturais e do custo oculto da poluição, expresso nas mudanças climáticas. Esse custo, diz, não é incorporado aos preços, pois o meio ambiente é um caso que os economistas chamam de “falha de mercado”. Seria razoável, para ele, estabelecer freios ao crescimento, de modo a disciplinar o uso dos recursos finitos. “Todos perdem numa sociedade materialmente ambiciosa, especialmente as gerações futuras”, escreve.
Com erudição sofisticada, Lara Resende tenta conciliar seu tom “neoesquerdista” à defesa do capitalismo e do livre mercado. Não faz uma defesa bocó da pobreza igualitária ou da vida bucólica. Sua limitação é de outra ordem. Muito embora reconheça que a tecnologia possa mitigar alguns problemas, ele no fundo não acredita na inovação. Duvida do alcance da revolução digital ou do efeito que ela ainda poderá ter na produtividade, no nosso modo de vida ou no meio ambiente. Cita, para defender seu ponto de vista, estudos do economista americano Robert Gordon, especialista em produtividade. A verdade é que ninguém ainda decifrou direito o efeito da revolução digital na economia. Pode ser que Lara Resende tenha razão. Ou não. Em 2003, quando entrevistei Gordon, ele me disse uma frase que tem pouco de original, mas muito de sábio: “Qualquer jovem de 18 anos sabe mais sobre computadores que seus pais”.
http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/helio-gurovitz/noticia/2015/07/os-limites-dos-economistas.html
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