IVAN MARTINS
29/07/2015 - 09h12 - Atualizado 29/07/2015 09h14
No interior de cada homem há dezenas de outros. Seu pai, seus irmãos, seus amigos, seus vizinhos. Há o tio que bebe, há o primo que bate, há o cara que seduz as mulheres.
Dentro de cada homem há o Homem de Ferro, Capitão Kirk, Don Draper, Rodrigo Cambará e Bentinho. Há também Jesus Cristo, Carlos Marighela e Lincoln.
E estes formam apenas a primeira fileira.
Mais atrás, espiando, estão todos os outros homens da idade dele, da cultura dele, do planeta dele, opinando, apontando, julgando.
Um homem nunca está sozinho. Traz com ele uma multidão de outros homens para dar palpite sobre o que é ser homem.
Um homem nunca está sozinho. Traz com ele uma multidão de outros homens para dar palpite sobre o que é ser homem.
Por isso é tão difícil responder quando as mulheres perguntam o que os homens querem.
Eles não sabem exatamente. Passam a vida tateando no escuro, em busca de aprovação da assembleia dentro deles. Às vezes vão numa direção e logo avançam noutra, ziguezagueando em busca de consenso interior.
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De um lado está o prazer, que as vozes dentro dele prometem ser inesgotável. De outro, o impulso de amar e construir, manchado pelo medo de não ser capaz. Entre esses dois extremos transcorre a vida masculina.
Será tão diferente com as mulheres?
De qualquer forma, uma mulher que ame um homem deveria saber em que polo ele se encontra.
Se o sujeito passou dos 30 anos e ainda acha que a coisa mais importante da vida é ter uma mulher por semana, é um analfabeto afetivo.
Um narcisista desse calibre pode ser um grande sedutor, mas tem tanta coisa a aprender que o resto da vida talvez não baste. Tende a ouvir para sempre o canto da sereia, dizendo que há alguém mais interessante na próxima esquina. Está no polo errado.
No polo certo há um monte de caras, naturalmente. Eles namoram, se juntam e casam todos os dias. Ou buscam pela parceira certa na multidão. Os homens também querem amar e ser felizes. Não há só narcisistas inconstantes pelas ruas. Se você tem essa impressão, talvez esteja olhando para o cara errado, ou para o grupo errado de caras. Isso existe. Às vezes, a gente se apaixona pelo impossível ou pelo próprio sofrimento.
Apenas uma minoria triste de homens quer apenas sexo e desdenha os sentimentos. Por ser gente muito jovem ou muito boba.
Talvez por ter alguma coisa quebrada dentro deles que não permita conectar-se aos outros. Não é natural. Quando se transa e se dorme de conchinha, a gente acorda comovido. Homens e mulheres. Pode não ser um grande amor, mas algo fica, algo nos toca, algo nos convoca a ser explorado.
Talvez por ter alguma coisa quebrada dentro deles que não permita conectar-se aos outros. Não é natural. Quando se transa e se dorme de conchinha, a gente acorda comovido. Homens e mulheres. Pode não ser um grande amor, mas algo fica, algo nos toca, algo nos convoca a ser explorado.
Quem nunca se comove tem algo de errado. Melhor cair fora de fininho. Ok, pode bater a porta.
As mulheres imaginam, frequentemente, que a culpa por esse tipo de atitude masculina é toda delas. Acham que não são bonitas o suficiente, ou altas o suficiente, ou sensual o bastante para atrair o sujeito. Bobagem. Quando o cara tem a ansiedade de comer todas as mulheres do mundo, não há beleza que baste. Ou qualquer outro atributo. O desejo dele é cego e vê apenas a si mesmo. As mulheres, por belas que sejam, viram itens involuntários numa coleção. Desfilam pela vida dele e são mandadas embora.
A cabeça dos homens que gostam das mulheres não funciona com hierarquia de beleza ou de sedução. Ele é sensível à beleza da mulher de quem ele gosta. Tem tesão das pernas dela, acha ela sensual quando a vê na rua, não consegue tirar as mãos do corpo dela mesmo em público. Isso é estar apaixonado. De alguma forma ela o complementa. É um sentimento forte que não depende da beleza da mulher na outra calçada. Ponto.
O problema, se podemos chamar assim, é que mesmo o homem apaixonado precisa muito ser admirado - e as relações rotineiras muitas vezes não ajudam.
O sujeito olha para a cara da namorada e percebe tédio. Chega em casa e é recebido com familiar indiferença. Começa a sentir-se um bosta. Ele deveria ser maduro e discutir o assunto, mas não. Se ressente, tem dificuldade em conversar e as vozes ancestrais da masculinidade ficam dizendo que ele tem de cair fora. Então ele escapa e começa de novo, atrás daquele momento mágico da paixão em que todo mundo se sente o máximo.
Eis algo que nem sempre é levado em conta: os homens querem ser admirados da mesma forma que as mulheres gostam de sentir-se desejadas. Isso existe. Ao menos aqui e agora, ao menos no mundo como ele ainda é. O cara que mergulha feliz numa relação não deve ser tratado como parte da mobília. Ele quer ser o herói da mulher dele.
>> O amor acabou? Vire um fantasma
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Estar com um cara sem desejá-lo ou admirá-lo, apenas por ter namorado ou companheiro, é um jeito certo de estragar a vida dos dois. Melhor se distrair com gente avulsa e esperar pelo cara certo. Uma hora aparece.
Quando entra em cena, o amor, com seu arsenal de arrebatamentos, silencia a turba interior masculina e dá à vida uma dimensão épica. Por algum tempo, homem e mulher se sentirão tomados um pelo outro. Os beijos serão longos e o sexo será como entre anjos obscenos. Feliz. Os compromissos se tornarão naturais.
(Se a pessoa que você deseja, homem ou mulher, nunca foi capaz de chegar a esse ponto com você, jogue os dados novamente e mova-se para outra casinha. Já perdeu tempo demais).
Quando o rompante da paixão termina, a liberdade tem de entrar em cena.
Ela assegura que a cada manhã homem e mulher podem partir, mas escolhem ficar. Por desejo. Por admiração. Por que sim. A liberdade destrói a caricatura do homem aprisionado pela mulher e pela família. Desmancha a fantasia de submissão e recoloca a vida em termos adultos. As vozes interiores masculinas são silenciadas.
A combinação de amor e liberdade faz as pessoas crescerem. Ensina homens e mulheres a gostar de si mesmos. Ela transforma meninos e meninas em adultos – e os adultos são capazes de pensar por si mesmos e inventar jeitos novos de ser, sem dar ouvido às vozes ancestrais.
http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ivan-martins/noticia/2015/07/o-que-os-homens-querem.html