Hoje, 12 milhões de brasileiros habitam as periferias e favelas de nossas maiores cidades. Somados, equivalem à população do que poderia ser a quinta maior unidade da federação e ultrapassam a renda comum do Paraguai e da Bolívia.
Esse Brasil das favelas e da periferia responde por R$ 63,2 bilhões no mercado de consumo. Essa turma está plugada no planeta. Todos empunham celulares de última geração e quase a totalidade deles se conecta com a internet a partir de suas casas, de seus desktops e notebooks. Conectividade, para eles, é algo orgânico.
Dedico-me a observar e estudar essa nação da nova classe media há alguns meses. É fabuloso observar as atitudes, os desejos e as aspirações que os move. São ágeis para decifrar o mundo que os cerca. Um traço relevante da tribo: cerca de 70% deles almejam ter o próprio negócio, querem ser patrões, conquistar a independência de “não trabalhar mais pros outros”, como revela o relatório “Oportunidades e desafios no novo Brasil”, pesquisa feita pelo DataPopular, de Renato Meirelles.
Quem se libertou da pobreza não quer apenas comprar. Quer também vender. Não quer seguir tendo chefes. Quer ganhar mais, ter renda própria. São “autonomistas” e isso se reflete em todo seu conjunto atitudinal. Inclui, claro, preferências eleitorais: Não sabem direito em quem vão votar, mas governam seus votos.
Entendem que chegaram até aqui principalmente graças a seus esforços. Os governos fizeram “resgates” e essa justiça social deveria ter acontecido há muito tempo. Não incluem a gratidão a quem quer que seja. Querem mais e, como disse Raul Seixas, acham que tem ainda muito a ser conquistado e não vão ficar parados. Andam sem fé nos poderes constituídos. Não têm exatamente um líder, uma referência.
Na periferia, os jovens entre 18 e 35 anos têm opiniões mais livres e as manifestam. Lidam fácil com a tecnologia, por isso lideram os lares — mesmo que sigam morando com os pais. Quase 40% desse novo Brasil tem uma mulher como chefe de família. Emancipadas, livres de preconceito, têm voz e vez.
Somadas, a classe média tradicional e essa nova classe média emergente são 54% da população. Tudo que acontecerá no Brasil nos próximos anos passará por aí. Bem-aventurados os que conseguirem dialogar com eles.
Trabalhar com marketing, seja eleitoral ou de consumo, significa, a partir de agora, debruçar-se sobre esse novo país emergido da miséria e da pobreza. Eles se sentem empoderados, sabem seus direitos e onde querem chegar. Vivem uma fase de baixa tolerância e não hesitam em manifestar protestos.
Informam-se por um mix de novas e antigas mídias. Dizer que só a web os toca é como passar a receita pela metade. São conectados e conectivos, mas ainda param em frente às TVs abertas, ouvem rádio e leem jornais. A internet é o novo meio, mas a mensagem tradicional ainda os toca.
Eles sabem formular seus pensamentos, estruturar suas atitudes de forma clara e pragmática. Pelos inúmeros relatórios qualitativos que tenho lido, suas críticas às políticas e aos políticos são consistentes. Não gostam, ou gostam, e dizem o porquê.
É hora de esculpir um modelo ideal de país que atenda às demandas dessa turma. Querem novas ideias, mais do que crédito fácil para comprar automóveis, motos, TVs de LED, smartphones e outras bugigangas.
Isso eles já têm.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/opiniao/eles-querem-ser-patroes-12195836#ixzz2yxRV9vWd
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