O avanço da economia brasileira e o crescente aumento da credibilidade do país no exterior não têm sido suficientes para conter as quedas registradas pelo mercado acionário nacional. Acompanhando o desempenho das bolsas mundiais, afetadas principalmente pelo temor dos investidores quanto à recuperação das atividades econômicas europeia e norte-americana, o Ibovespa (principal índice do mercado brasileiro) tem "esquecido" o bom momento brasileiro e registra nos últimos 12 meses perdas perto de 6% - no ano, chega próximo de 12%.
O risco de a Grécia, que passa por séria crise fiscal, não honrar suas dívidas aumenta a cada dia, e pressiona a bolsa brasileira a fechar a níveis baixos, se aproximando dos menores patamares em um ano. Só esta semana, o Ibovespa perdeu 2,6%.
“Se a Grécia decretar default (calote), deveremos ter grande prejuízo no mercado acionário brasileiro. O problema é que há uma divisão dentro da própria União Europeia sobre o que seria a melhor solução para a crise. Enquanto esse impasse não for resolvido, a Bovespa vai continuar sofrendo”, disse Raphael Martello, economista da Tendências Consultoria.
Para o fraco desempenho da Bovespa também contribuem as crises de Portugal, Espanha e Irlanda, que não dão sinais de recuperação, o risco de o pagamento da dívida pública dos Estados Unidos ser suspenso - provocando mais distúrbios nos mercados financeiros -, além dos conflitos no Oriente Médio, que afetam a cotação de commodities como o petróleo.
Diante desse cenário de incertezas, grande parte dos investidores estrangeiros, que representam aproximandamente um terço do volume total negociado na Bovespa, acabam migrando para ativos mais seguros, como os títulos do governo brasileiro, da dívida norte-americana ou até mesmo para o franco suíço. “Os investidores ficam muito mais cautelosos, mais sensíveis à situação internacional, instável e negativa, por mais que o Brasil esteja vivendo um momento de estabilidade”, disse.
Com o número de investidores diminuindo, o volume de negócios cai e restam apenas “arbitradores”, que definem estratégias para se aproveitar de distorções dos mercados, segundo o sócio-diretor da Título Corretora, Márcio Cardoso. “Enquanto não tiver investidores de volta, o mercado vai ficar nas mãos do arbitrador, que ganha pouco, perde pouco, e não faz o volume de negócios aumentar”, afirmou.
Diante desse cenário de incertezas, grande parte dos investidores estrangeiros, que representam aproximandamente um terço do volume total negociado na Bovespa, acabam migrando para ativos mais seguros, como os títulos do governo brasileiro, da dívida norte-americana ou até mesmo para o franco suíço. “Os investidores ficam muito mais cautelosos, mais sensíveis à situação internacional, instável e negativa, por mais que o Brasil esteja vivendo um momento de estabilidade”, disse.
Com o número de investidores diminuindo, o volume de negócios cai e restam apenas “arbitradores”, que definem estratégias para se aproveitar de distorções dos mercados, segundo o sócio-diretor da Título Corretora, Márcio Cardoso. “Enquanto não tiver investidores de volta, o mercado vai ficar nas mãos do arbitrador, que ganha pouco, perde pouco, e não faz o volume de negócios aumentar”, afirmou.
Para o especialista, enquanto os juros brasileiros estiverem altos, garantindo rentabilidade perto de 6% - taxa acumulada -, esse movimento de evasão seguirá afetando a bolsa brasileira. Até para o pequeno investidor, direcionar seus recursos em outras aplicações está mais vantajoso.
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Por exemplo, nos últimos 12 meses, o real registrou valorização de 10,8% frente à moeda norte-americana e as Letras Financeiras do Tesouro (LFT) – tipo de título de dívida do governo – tiveram alta de 11%, no mesmo período.
Nos últimos 12 meses, na bolsa, os setores que mais têm sofrido baixas, de acordo com levantamento da consultoria Economatica feito a pedido do G1, são os de eletroeletrônicos (-44,78%), siderurgia e metalurgia (22,72%), papel e celulose (18,12%), além de petróleo e gás (16,89%).
“As medidas macroprudenciais do governo, para conter consumo e inflação, e a alavancagem de alguns setores acabaram contribuindo para esse resultado”, disse Cardoso.
Fatores domésticosAs medidas adotadas pelo governo contra a inflação, que têm elevado os juros a cada reunião do Banco Central, acabam afetando indiretamente o desempenho da Bovespa no médio e longo prazo, na avaliação do professor de economia da Trevisan Escola de Negócios, Alcides Leite.
Setor | Variação média em 1 ano (de 16/06/10 a 16/06/11) |
---|---|
Eletroeletrônicos | -44,78% |
Siderugia e metalurgia | -22,72% |
Papel e celulose | -18,12% |
Petróleo e gás | - 16,89% |
Máquinas industriais | - 13,84% |
Construção | - 2,09 |
Mineração | 1,30% |
Alimentos e bebidas | 1,61% |
Química | 48,97% |
Têxtil | 109,23% |
Ibovespa | -5,98% |
Fonte: Economatica |
“Temos de criar condições para baixar os juros e aumentar a taxa de investimento brasileira, que hoje está abaixo de 20% do PIB [Produto Interno Bruto], quando o ideal seria de pelo menos 25%. Os juros reais têm que cair. As empresas não estão preparadas para investir, embora tenham dinheiro para isso. O que acontece é que os investidores acabam buscando títulos”, disse. Hoje, a taxa Selic está em 12,25% ao ano.
Sem pânico
Apesar de o comportamento do mercado ser pouco previsível, diante dessas incertezas nas economias mundiais, o pessimismo, no longo prazo, não toma conta da maioria dos analistas consultados pelo G1. Ainda que a situação seja preocupante, a Bovespa continuará oscilando, principalmente nas próximas semanas, mas não deverá chegar a níveis muito mais baixos do que os registrados em outubro de 2008, em plena crise mundial, quando o Ibovespa se aproximara dos 29 mil pontos.
“Considerando que a situação na Europa vai se resolvendo no médio prazo, o mercado ainda vai continuar volátil e cauteloso nas próximas semanas. Veremos dias não tão ruins, mas não tão bons, de grande alta. No final do ano, os mercados devem ficar mais estáveis”, ponderou Martello.
“Dificilmente [a Bovespa] cai muito além do que está. Mas vamos passar um ano ruim, já que a recuperação da Europa tende a ser lenta”, disse o professor de economia da Trevisan.
Sem pânico
Apesar de o comportamento do mercado ser pouco previsível, diante dessas incertezas nas economias mundiais, o pessimismo, no longo prazo, não toma conta da maioria dos analistas consultados pelo G1. Ainda que a situação seja preocupante, a Bovespa continuará oscilando, principalmente nas próximas semanas, mas não deverá chegar a níveis muito mais baixos do que os registrados em outubro de 2008, em plena crise mundial, quando o Ibovespa se aproximara dos 29 mil pontos.
“Considerando que a situação na Europa vai se resolvendo no médio prazo, o mercado ainda vai continuar volátil e cauteloso nas próximas semanas. Veremos dias não tão ruins, mas não tão bons, de grande alta. No final do ano, os mercados devem ficar mais estáveis”, ponderou Martello.
“Dificilmente [a Bovespa] cai muito além do que está. Mas vamos passar um ano ruim, já que a recuperação da Europa tende a ser lenta”, disse o professor de economia da Trevisan.
Já para o analista da Link Trade, Fernando Góes, a crise na Grécia acentua a queda da Bovespa, mas não é o que mais contribui para o fraco desempenho do mercado. A composição do Ibovespa, a forte presença chinesa e o “fator político” atrelado a empresas como Vale e Petrobras são mais determinantes na justificativa sobre o comportamento da bolsa.
“O Ibovespa é muito concentrado em commodities, petróleo e siderurgia, sem contar que a China é muito competitiva, entra no mercado de forma muito agressiva”, disse Góes. Somado a esses fatores está o fato de o Brasil ter se recuperado da crise antes de outros países. “No começo do ano, houve uma realocação de ativos já esperada.”
É hora de comprar ou vender?Ainda que a bolsa não esteja registrando bom desempenho, para alguns analistas, essa é a hora de comprar ações, não de vendê-las. “Quem tem dinheiro na bolsa não deve vender. Crise é hora de comprar”, defendeu Carlos Daniel Coradi, da EFC Engenheiros Financeiros & Consultores.
“O Ibovespa é muito concentrado em commodities, petróleo e siderurgia, sem contar que a China é muito competitiva, entra no mercado de forma muito agressiva”, disse Góes. Somado a esses fatores está o fato de o Brasil ter se recuperado da crise antes de outros países. “No começo do ano, houve uma realocação de ativos já esperada.”
É hora de comprar ou vender?Ainda que a bolsa não esteja registrando bom desempenho, para alguns analistas, essa é a hora de comprar ações, não de vendê-las. “Quem tem dinheiro na bolsa não deve vender. Crise é hora de comprar”, defendeu Carlos Daniel Coradi, da EFC Engenheiros Financeiros & Consultores.
O mercado é instável, segundo ele, e tem capacidade de inverter trajetórias em pouco tempo. “Na época do Plano Cruzado, os ganhos na bolsa foram multiplicados por dez em três meses. Só que o plano fracassou – houve congelamento de preços e aumento de salários – e a bolsa chegou a cair dez vezes em três meses.”
Por isso, independentemente do comportamento que a bolsa venha a ter, na opinião de especialistas em mercado financeiro, o dinheiro do investidor deve ser mantido ou até ampliado. “Eu acho que não é o momento de tirar dinheiro se a intenção é de deixar o dinheiro no longo prazo, de dois anos para cima”, disse Márcio Cardoso, da Título Corretora.
Bolsa quer mais empresas listadasHoje, a Bovespa tem listadas 468. Para incentivar a entrada de abertura de capital de empresas, a bolsa resolveu criar uma meta: de 200 companhias até 2015. Até o início de junho, apenas sete IPOs (oferta pública inicial) haviam sido feitos.
Entre as ações criadas pela instituição está a diretoria com foco em prospecção de empresas, que percorre o país explicando às companhias as vantagens de um IPO. Para atingir a meta, a Bovespa começa a focar nas empresas de médio porte.
Por isso, independentemente do comportamento que a bolsa venha a ter, na opinião de especialistas em mercado financeiro, o dinheiro do investidor deve ser mantido ou até ampliado. “Eu acho que não é o momento de tirar dinheiro se a intenção é de deixar o dinheiro no longo prazo, de dois anos para cima”, disse Márcio Cardoso, da Título Corretora.
Bolsa quer mais empresas listadasHoje, a Bovespa tem listadas 468. Para incentivar a entrada de abertura de capital de empresas, a bolsa resolveu criar uma meta: de 200 companhias até 2015. Até o início de junho, apenas sete IPOs (oferta pública inicial) haviam sido feitos.
Entre as ações criadas pela instituição está a diretoria com foco em prospecção de empresas, que percorre o país explicando às companhias as vantagens de um IPO. Para atingir a meta, a Bovespa começa a focar nas empresas de médio porte.
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