quinta-feira, 9 de junho de 2011

Investimentos: o motor do Brasil

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Há boas razões para acreditar que o investimento, item que liderou a alta do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre do ano, será o motor da economia brasileira nos próximos anos. Os números são impressionantes. O BNDES estima que, entre este ano e 2014, os setores industrial, de infraestrutura e de construção civil investirão R$ 1,6 trilhão, 62,2% a mais do que no período 2006-2009. Pouquíssimas economias têm, neste momento, perspectiva de inversão comparável à do Brasil.
O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, atribui a cinco fatores autônomos essa forte demanda por investimentos. O primeiro está no setor de petróleo e gás, movido pelas descobertas na camada do pré-sal. O setor tem investimento programado de R$ 378 bilhões entre 2011 e 2014. Deve responder, já este ano, por 14,1% da Formação Bruta de Capital Fixo. "São investimentos que estão dados e que em grande medida são financiáveis", diz o presidente do BNDES.
O segundo fator está no setor de energia elétrica, que deve aplicar R$ 139 bilhões nos próximos quatro anos. Até 2013, o país deve aumentar a capacidade de geração em 24.066 Megawatts, com destaque para a inauguração das usinas de Santo Antônio e Jirau, em Rondônia. Entre 2014 e 2019, a capacidade terá novo incremento, de 32.406 MW, com a entrada em funcionamento de Belo Monte e Tapajós.
Concessões vão impulsionar setores de logística
"A função de regulação, dados os leilões de energia contratada, cria um ambiente de recebíveis extremamente seguros e isso induz investimentos muito fortes em energia elétrica", explica Coutinho, que, na sexta-feira, falou sobre o tema durante o seminário promovido pela Brain, empresa responsável pelo projeto que ambiciona transformar São Paulo num polo financeiro regional.
O terceiro fator está no agronegócio, "sustentáculo da balança comercial", observa o presidente do BNDES, e de "inigualável" capacidade de competir internacionalmente. De fato, com o acelerado processo de urbanização de potências emergentes como China e Índia, que juntas têm mais de dois bilhões de habitantes, o mercado de produtos agropecuários vive momento histórico de forte expansão, uma excelente notícia para os produtores brasileiros.
Um outro componente relevante dos investimentos está no setor habitacional. E aqui, assinala Luciano Coutinho, "há uma avenida de crescimento". Os ativos de crédito imobiliário representam ainda uma proporção muito pequena do PIB brasileiro - 3,8%, no caso das pessoas físicas. "Nos próximos cinco a seis anos, o Brasil pode triplicar o peso dos ativos de crédito imobiliário [hoje, em 8%] no crédito total", diz Coutinho.
Por fim, está o setor de logística, onde a demanda por investimento é gigantesca, mas os gargalos são igualmente enormes. "Há uma compreensão clara do governo de que o Brasil tem deficiências logísticas sérias. Temos bela infraestrutura de telecomunicação e financeira, mas não temos ainda uma de logística", reconhece o presidente do BNDES.
A recente decisão do governo de conceder à iniciativa privada a gestão de grandes aeroportos, modelo já usado no setor elétrico e que será replicado onde for necessário para acelerar investimentos, principalmente em logística, está nesse contexto. O governo abandonou o viés ideológico que, na gestão Lula, impediu que muitos investimentos em infraestrutura fossem feitos.
"Em todas as áreas de infraestrutura onde existam necessidades relevantes de investimento que demandem agilidade e flexibilidade do setor privado, e que ao mesmo tempo tenham suporte em termos de demanda e de taxa de retorno, os investimentos podem caminhar na forma de concessão ao setor privado, sem necessariamente excluir empresas públicas que precisem também passar por um processo de reciclagem, caso da Infraero ", informa Coutinho.
Às necessidades de investimento, o presidente do BNDES acrescenta um outro desafio, que é o de criar condições para aumentar a competitividade da indústria de transformação. "O Brasil é uma grande economia urbana e não pode abrir mão de ter um setor de serviços sofisticado, que gere muitos empregos, e de ter uma indústria manufatureira competitiva. Temos aqui um desafio muito grande que é o de aumentar consistentemente a produtividade do país", diz Coutinho.
O volume de investimento previsto, além do apoio à indústria, impõe ao país o desafio de aumentar as taxas de investimento e de poupança doméstica, ainda muito acanhadas para as ambições da economia brasileira. Hoje, o investimento está em 18,4% do PIB. Já a taxa de poupança, em apenas 15,8% do PIB. O presidente do BNDES acredita que as inversões programadas devem elevar o investimento para 23% do PIB em 2014, fato que, acompanhado de ganhos de produtividade firmes, sustentaria um crescimento da economia em torno de 5% ao ano.
Coutinho está otimista. "Temos algo precioso na economia brasileira neste momento que é um enorme potencial de investimento com alta rentabilidade, taxas de retorno satisfatórias e riscos de demanda relativamente baixos, em função de carências acumuladas", diz ele.
A queda de Antônio Palocci ocorre no momento em que o governo promove mudanças no rumo da política econômica, tornando-a mais à feição do que sempre defendeu o ex-ministro. A ênfase no crescimento a qualquer custo está sendo substituída pela prioridade ao combate à inflação.
O Banco Central inicia hoje um movimento delicado, do ponto de vista político. Vai aumentar os juros no momento em que a inflação mensal entra em período sazonal de trégua. Resta saber se a diretoria do banco terá força para enfrentar, sozinha, as críticas, já em gestação em setores do governo, do PT e das centrais sindicais, a essa política.
Em março, Palocci emitiu sinais de que o Palácio do Planalto não interferiria, caso o BC decidisse por um aperto monetário mais forte do que o que vinha sendo feito. O BC optou, no entanto, pelo caminho politicamente mais fácil. Ato contínuo, as expectativas de inflação bateram no teto e o banco decidiu mudar a estratégia.
Cristiano Romero é editor-executivo e escreve às quartas-feiras

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