sábado, 25 de junho de 2011

Mexico ainda briga por lideranca latinoamericana, diz FT

Da Folha-online (Não entendi muito bem os argumentos, mas não li o texto oficial)

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Após uma década na qual passou de maior economia latino-americana a observador do protagonismo brasileiro na região, o México possui hoje "as bases assentadas para surpreender muitos", na avaliação de artigo publicado nesta sexta-feira pelo jornal britânico "Financial Times".
O texto, intitulado "Com tudo ainda a jogar na disputa com o Brasil", é assinado pelo ex-correspondente do jornal no México, John Authers, e faz parte de um caderno especial de quatro páginas sobre investimentos no país.

Authers comenta que há uma década, quando chegou ao país, o debate em voga na época, sobre quem era o verdadeiro líder econômico da América Latina, "parecia desnecessário para os mexicanos".
Na ocasião, o país se mostrava totalmente recuperado da chamada Crise Tequila, de 1994, havia passado por uma transição democrática que acabou com mais de 70 anos de governos ininterruptos do PRI (Partido Revolucionário Institucional), tinha um sistema bancário robusto e era apontado como um dos principais mercados emergentes do mundo.

O artigo observa porém, que "a história da rivalidade entre o Brasil e o México nos dez anos seguintes é dolorosa, ao menos para aqueles que gostam do México".

O texto observa que o Brasil hoje é parte do grupo BRIC e aparece apenas atrás da China na preferência dos investidores entre os países emergentes.

"POLÍTICOS ERRADOS"
O jornal aponta uma série de motivos para essa diferença, entre elas a debilidade das instituições políticas mexicanas e a "escolha de políticos errados" em referência aos dois últimos presidentes, Vicente Fox e Felipe Calderón.

Outro problema, segundo o "FT", foi o aumento da dependência mexicana em relação aos Estados Unidos após o estabelecimento do Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte).

Mas a emergência da China e a entrada do país asiático à OMC (Organização Mundial do Comércio) levou as empresas mexicanas a perder mercado de exportação para as chinesas. Enquanto isso, o Brasil se beneficiou do crescimento chinês e do consequente aumento da demanda por suas commodities.

O artigo também afirma que o Brasil tem uma cultura política e de negócios melhor do que o México, controlado por oligarquias e oligopólios que reduzem "cronicamente" a competitividade da economia mexicana.

Para o autor, porém, "talvez a mais profunda razão pela qual o México ficou para trás" está relacionada à aceitação, com o Nafta, de que suas empresas seguissem as normas para o resto da América do Norte".

"Companhias que agora tinham a chance de competir nos Estados Unidos ou no Canadá tinham que se 
comportar como seus competidores americanos e canadenses", observa o artigo.

RECESSÃO "TERRÍVEL"

Por fim, o texto comenta que, como resultado da crise de 1994, mais de 90% do sistema bancário do país foi parar em mãos estrangeiras, o que por um lado fortaleceu o sistema e permitiu a adoção de políticas monetárias que conseguiram conter a inflação, mas por outro deixou o país altamente vulnerável à recente crise nos bancos americanos.

O jornal observa que a recessão de 2009 no México foi "terrível", com uma contração de mais de 9%. "Enquanto isso, o Brasil e os grandes produtores sul-americanos de commodities sofreram apenas uma leve e passageira contração", comenta.

Apesar de todos os problemas, o artigo prevê um futuro melhor para os mexicanos. O jornal conclui dizendo que "após anos de ortodoxia macroeconômica, o México tem as bases assentadas para surpreender muitos".

Para o autor do texto, o México precisa ainda "que seu poderoso vizinho do norte tenha sucesso e que seus políticos rompam uma década de impasses, mas pode ainda haver algo para debater".

terça-feira, 21 de junho de 2011

No aniversário de FHC (Paulo Moreira Leite)

Muitos brasileiros tem uma atitude peculiar em relação a Fernando Henrique Cardoso. Nem sempre concordam com o que ele diz ou pensa. Mas frequentemente torcem para que esteja certo.
No aniversário de 80 anos, FHC não é um político popular. Já foi. Na época do Real, FHC foi eleito e reeleito. Poucos políticos estiveram tão associados às mudanças políticas ocorridas no país nos últimos 40 anos. Quando candidatou-se ao Senado, ainda na ditadura militar, o próprio Luiz Inácio Lula da Silva, sindicalista, distribuiu panfleto em porta de fábrica pedindo voto em Fernando Henrique. FHC não ficou com a cadeira, capturada por André Franco Montoro, mas teve uma votação respeitável.
No alto de minha insignificancia, eu era militante estudantil em 1976, na USP, quandoparticipei de um debate com o sociólogo de oposição Fernando Henrique Cardoso. Dividimos a mesma mesa mas não as mesmas idéias. Ele pedia votos para o MDB. Eu fazia campanha pelo voto nulo e a favor da construção de um partido operário. Fernando Henrique gosta lembrar desse episódio, sempre com bom humor, quando nos encontramos. Ele como político, eu como jornalista.
Tudo isso para dizer que FHC marcou a vida de boa parte dos brasileiros durante a luta contra a ditadura. Também colheu o justo mérito pela derrota da inflação com o Plano Real.
Sociólogo, Fernando Henrique sempre teve o raciocínio articulado, pensou e falou muito. Sobre democracia, sobre economia, sobre a evolução do mundo.
Em sintonia com o debate internacional, jamais teve uma visão provinciana dos assuntos brasileiros. Tem bons interlocutores fora do país e conversa com pensadores que  tem idéias de ponta sobre o mundo contemporâneo.
Nos últimos tempos, o assunto de FHC mudou. Como se sabe, FHC fala de drogas e voltou a criticar Luiz Inácio Lula da Silva.
Principais personagens da democratização brasileira, é obrigatório compará-los. Ambos estão condenados a fazer isso, o tempo inteiro. São adversários políticos. Detestam-se sem cordialidade, embora a linguagem de FHC seja um pouco mais rebuscada que a de Lula neste aspecto. Quem sabe por isso machuque um pouco mais, também.
Na luta cotidiana, raros políticos souberam utilizar a própria erudição com tanta eficiencia para alcançar objetivos políticos. Se Lula tinha a biografia, FHC tinha a biblioteca.
Se Lula é o exemplo típico daquele cidadão que cresceu contra tudo e contra todos, FHC é aquele personagem que dá a impressão de que a história sempre esteve a seu favor, mesmo em horas difíceis. Como ele próprio já admitiu diversas vezes, não tem uma biografia de quem foi obrigado a atravessar várias camadas geológicas antes de receber a luz do sol.
FHC é um político que quase sempre conseguiu dar a impressão de que, com ele, as mudanças podem acontecer naturalmente, sem arranhões nem feridas fundas.
Por sua formação intelectual, FHC tem uma cultura que lhe permite avistar longe e  fundo, embora muitas vezes se possa contestar o uso que deu a tanto conhecimento.  FHC tem uma retórica tão eficiente que consegue dar a impressão de que tem razão mesmo quando esta lhe falta. Num país onde mesmo a chamada elite pensante é uma massa ignorante, poucos tem formação para contestá-lo e um número ainda menor se atreve.
A maioria dos admiradores e críticos simplesmente nunca  entende o que ele escreve. Adere ou repele. Muitos nem  tentaram ler.  Falam de teoria da dependencia sem saber do que se trata. Muitos nem sabem que essa “teoria” nunca foi formulada de forma coerente, como um projeto de explicação do país.
Como pensador, FHC teve dois momentos. Participou da construção do desenvolvimentismo, corrente que dominava o pensamento político dos anos 60, que pregava uma forte intervenção do Estado na economia e no progresso social. Tinha uma visão nacionalista e era herdeira, em graus variados, do pensamento marxista.
A partir dos anos 80/90, FHC  tornou-se um advogado da economia de mercado, realizando uma conversão que incluiu a defesa de privatizações e o apoio cada vez mais firme ao papel das empresas privadas no desenvolvimento. Vários de seus antigos companheiros de viagem cobraram que nunca explicou o que estava errado no que dizia antes.
FHC não esqueceu o escreveu. Seu pensamento mudou, o que é legítimo. Essa mudança foi decisiva em seu futuro político e eu acho que sem ela não teria se tornado ministro da Fazenda de Itamar Franco. Talvez até pudesse tornar-se, um dia, presidente da República. Mas não estaria a bordo da mesma coligação que o sustentou e elegeu, em 1994, como adversário de Luiz Inácio Lula da Silva.
Seria errado imaginar que ele mudou de idéia por oportunismo político. Seu pensamento pode conter avanços ou recuos, conforme o ponto de vista. Mas é autentico. Basta ouvir FHC numa palestra para compreender que suas convicções mudaram, num compasso que tem uma semelhança com as mudanças do mundo, simbolizadas pela queda do muro de Berlim, nos países do socialismo real, e pelo crescimento do conservadorismo de Margareth Tatcher e Ronald Reagan no capitalismo desenvolvido. Quem já tinha maioridade mental, na época, lembra-se que o velho mundo parecia desmanchar-se no ar.
O segundo pensamento de FHC — vamos chamar assim — foi essa aposta. Convencido de que o desenvolvimentismo perecera nas viradas da história, fez um esforço para entender os novos tempos e trazer as mudanças do mundo desenvolvido para sua ação política e para a discussão sobre o papel do Estado.
Anos depois, o balanço dessa mudança está sujeito a muitas interpretações. Minha opinião é que FHC caiu em sua própria armadilha. O tempo demonstrou que a aposta política nas virtudes do mercado como principal força de organização não só da economia, mas também da vida social, tem pouca eficacia para dar resposta ao problemas  do desenvolvimento do pais.
A visão de menos Estado pode até ter ajudado a trazer investimentos e justificar determinadas privatizações, mas não trouxe respostas duradouras nem consistentes para um país com o padrão brasileiro de carencias — economicas, sociais, educacionais, etc.  A conversão do presidente ao um ideário vizinho do neo-liberalismo ajudou de forma decisiva para transformar o PSDB naquilo que é hoje: um partido sem programa, que abriga políticos bons, médios, ruins e até ótimos, mas que não tem um discurso para chegar aos 190 milhões de brasileiros.
O patético esforço tucano para lembrar que foi no governo de FHC que nasceram os programas sociais em vigor no país — com outra dimensão, outra finalidade, outro impacto — parece ignorar que a noção de direitos autorais sempre foi muito relativa nas lutas políticas.
O esforço dos mesmos tucanos para esconder  o legado de FHC nas campanhas eleitorais não reflete rivalidades pessoais dentro da legenda. É um espelho das dificuldades do próprio PSDB para conviver com sua herança. Sucesso de crítica, FHC deixou o Planalto como um fracasso de público.  Tinha popularidade negativa.
Ainda no Planalto FHC tornou-se um presidente-espectador das vantagens e desvantagens da globalização, como um sociólogo que interpreta o que vê com a postura de quem acredita que  nada pode fazer de importante. Do ponto de vista das próprias idéias que defendia, Fernando Henrique extrapolou na ideologia, paralisando-se.
A palavra social-democracia que dá nome a seu partido transformou-se numa casca vazia, tornando-se uma social-democracia sem sindicatos e sem trabalhadores, com um espaço diminuído para os mais pobres, reduzidos à condição de vítimas sem salvação da nova etapa do desenvolvimento humano.
A carreira pública de FHC ensina que, como um raro político que diversas vezes foi capazes de enxergar muitos centímetros além do óbvio, ele obteve um lugar na história quando foi capaz de prestar atenção nas agruras e necessidades do povo. Fez isso nos tempos em que combatia pela democracia e denunciava as mazelas da ditadura. Também coordenou estudos pioneiros sobre a pobreza, que denunciavam a concentração de renda. No Plano Real o país viveu um formidável período de crescimento e distribuição de renda.
Mas FHC confundiu a realidade com suas próprias idéias. Centrado nos mercados dos países desenvolvidos da Europa e Estados Unidos, aos quais atribuia um papel único na elaboração dos destinos maiores do planeta, seu pensamento sempre foi dependente do chamado Primeiro Mundo.
Excluia outras hipóteses de crescimento, forjadas nas nações emergentes, que não possuiam mercado, nem a sombra daquilo que se poderia chamar de uma iniciativa privada poderosa — mas se tornaram os pólos dinâmicos do mundo ao assumir uma perspectiva que, com todas as nuances, ajustes e adaptações, pode-se associar a uma perspectiva desenvolvimentista.
Em busca de um papel sempre difícil, o de ex-presidente, Fernando Henrique voltou à cena nas últimas semanas para tentar abrir uma discussão sobre descriminalização e/ou legalização das drogas.
Fez um filme, participa de conferencias, virou capa de revista. Eu acho que do ponto de vista da história do Brasil essa discusão é lateral. Numa comparação atrevida mas que me parece pertinente: a grande mudança ocorrida nos Estados Unidos na década de 30 foi uma política economica de crescimento e distribuição de renda, o chamado New Deal, e não a abolição da lei seca que proibia o comércio de bebidas alcóolicas.
Não discuto se a descriminalização está certa ou errada. Já dei minha opinião em outras notas, que você pode consultar aqui neste espaço. Eu acho que no momento essa não é a prioridade dos brasileiros. E se há algo para ser discutido em torno de drogas, neste momento, são campanhas educativas para afastar o jovem da maconha, da cocaína, do crack… Este deve ser o papel de quem assume responsabilidades pelos destinos do país.
Há questões mais graves e essenciais, como a educação pública, a saúde, a melhoria das universidades. O Brasil precisa vencer esses problemas para realizar aquelas profecias tão bonitas que, de uns tempos para cá, tornou-se moda anunciar.
Cabe registrar, contudo, que a política de FHC em relação às drogas talvez tenha relação com sua convicção de que o Estado deve ficar cada vez mais longe dos grandes problemas. Mesmo nas drogas, sua solução é deixar o mercado trabalhar e atender aos consumidores, ficando para o Estado o esforço de pagar os prejuízos.

Tava pensando...

Qtas casas eu já morei,,, Acho que umas oito...

domingo, 19 de junho de 2011

Redes sociais derrotam Berlusconi

Por Vera Gonçalves de Araújo, especial para O GLOBO (mundo.online@oglobo.com.br)
ROMA - Os sinais de novidade já estavam visíveis durante a campanha eleitoral para o referendo que decretou - na segunda-feira passada - uma nova derrota do governo Berlusconi. Foi uma campanha sem comícios nem cartazes. A própria TV - que na Itália sempre teve papel central em todas as eleições - ignorou o referendo. Também porque Silvio Berlusconi, chefe do governo e todo-poderoso dono da principal rede de TV comercial do país, declarara que era melhor nem ir votar. De nada adiantou.
Isso porque a internet, em compensação, falou - e muito. Sites como Facebook, Twitter e YouTube foram os grandes protagonistas de uma campanha eleitoral que pela primeira vez na Itália foi feita sem a presença antiga e tradicional dos partidos políticos. E que, ainda assim, teve um comparecimento às urnas de 58% do eleitorado, garantindo a aprovação com a superação do limite mínimo de 50%. Desde 1995, nenhuma consulta do gênero conseguiu atrair tanta gente às urnas.

Vídeos cômicos foram arma contra Cavaliere
Os italianos decretaram com seu voto que não aprovam os planos para a construção de usinas nucleares no país, que não aceitam a privatização da rede hídrica, e revogaram a lei que permite a ministros - e principalmente ao primeiro-ministro - não comparecer às audiências de processos em que são réus, alegando o chamado "legítimo impedimento", ou seja a impossibilidade de ir à corte por compromissos de governo.
A TV ficou quase calada para não incomodar o chefe. Mas os internautas discutiram tudo sem limites e sem censura. E festejaram a grande vitória popular, decretada por esmagadores 96% dos votos contra o governo. E tudo isso com outra grande novidade na política italiana, que sempre se levou muito a sério: o uso maciço do bom humor e da irreverência no território livre da internet.
Uma profusão de vídeos se encarregou de desmantelar a imagem de Berlusconi. A pegadinha mais divertida e clicada na web foi a paródia do filme "Apertem os cintos, o piloto sumiu!": num avião todo decorado com os símbolos do PDL (o partido berlusconiano), uma aeromoça comunica aos passageiros que voltam de um fim de semana na mansão de Berlusconi em Antigua que, apesar das tentativas de boicote ao voto, os italianos foram às urnas em massa. Pior ainda: além da privatização da água e das usinas nucleares, revogaram também a imunidade judiciária do "capo". Pânico entre os passageiros. O autor do vídeo é Mauro Casciari, famoso no YouTube com o seu canal La Voce del Padrone, especializado em humor político, com muitas outras pegadinhas, como a de Berlusconi que interrompe a oração do Angelus do Papa com um telefonema indignado.

Berlusconi ainda faz referência a "cassetes"
Num momento de grande confusão política, em que o governo sofreu a segunda derrota em 15 dias - a primeira foi nas eleições locais, em que Berlusconi perdeu Milão e Nápoles - ficou evidente que a direita italiana não tem a menor consciência do poder da internet. E que o seu líder carismático desconhece as novas tecnologias. Em seus discursos, Berlusconi continua falando de "cassetes", ignorando até mesmo a existência dos DVDs. Aos 74 anos, ele continua agarrado ao único meio de comunicação que conhece, domina e possui: a TV, a outra grande derrotada do referendo.
Enquanto isso, as redes sociais se preparam para uma nova batalha, desta vez para revogar a lei eleitoral italiana, que não deixa os eleitores votarem em candidatos, mas só em partidos e coalizões. Nada de comícios e passeatas. O debate ferve no Twitter e no Facebook, onde há quase 20 milhões de usuários italianos, numa população de 60 milhões. Mais cedo ou mais tarde, alguém vai avisar Berlusconi que os videocassetes já eram.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2011/06/18/redes-sociais-derrotam-berlusconi-924720173.asp#ixzz1PjFfjTWJ 
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sábado, 18 de junho de 2011

Na bolsa, crise grega 'apaga' bom momento da economia brasileira


O avanço da economia brasileira e o crescente aumento da credibilidade do país no exterior não têm sido suficientes para conter as quedas registradas pelo mercado acionário nacional. Acompanhando o desempenho das bolsas mundiais, afetadas principalmente pelo temor dos investidores quanto à recuperação das atividades econômicas europeia e norte-americana, o Ibovespa (principal índice do mercado brasileiro) tem "esquecido" o bom momento brasileiro e registra nos últimos 12 meses perdas perto de 6% - no ano, chega próximo de 12%.
O risco de a Grécia, que passa por séria crise fiscal, não honrar suas dívidas aumenta a cada dia, e pressiona a bolsa brasileira a fechar a níveis baixos, se aproximando dos menores patamares em um ano. Só esta semana, o Ibovespa perdeu 2,6%.
“Se a Grécia decretar default (calote), deveremos ter grande prejuízo no mercado acionário brasileiro. O problema é que há uma divisão dentro da própria União Europeia sobre o que seria a melhor solução para a crise. Enquanto esse impasse não for resolvido, a Bovespa vai continuar sofrendo”, disse Raphael Martello, economista da Tendências Consultoria.
Painés mostram cotações de ações na Bovespa nesta sexta-feira (17) (Foto: Gabriela Gasparin/G1)Painés mostram cotações de ações na Bovespa
nesta sexta-feira (17) (Foto: Gabriela Gasparin/G1)
Para o fraco desempenho da Bovespa também contribuem as crises de Portugal, Espanha e Irlanda, que não dão sinais de recuperação, o risco de o pagamento da dívida pública dos Estados Unidos ser suspenso - provocando mais distúrbios nos mercados financeiros -, além dos conflitos no Oriente Médio, que afetam a cotação de commodities como o petróleo.

Diante desse cenário de incertezas, grande parte dos investidores estrangeiros, que representam aproximandamente um terço do volume total negociado na Bovespa, acabam migrando para ativos mais seguros, como os títulos do governo brasileiro, da dívida norte-americana ou até mesmo para o franco suíço. “Os investidores ficam muito mais cautelosos, mais sensíveis à situação internacional, instável e negativa, por mais que o Brasil esteja vivendo um momento de estabilidade”, disse.

Com o número de investidores diminuindo, o volume de negócios cai e restam apenas “arbitradores”, que definem estratégias para se aproveitar de distorções dos mercados, segundo o sócio-diretor da Título Corretora, Márcio Cardoso. “Enquanto não tiver investidores de volta, o mercado vai ficar nas mãos do arbitrador, que ganha pouco, perde pouco, e não faz o volume de negócios aumentar”, afirmou.
Para o especialista, enquanto os juros brasileiros estiverem altos, garantindo rentabilidade perto de 6% - taxa acumulada -, esse movimento de evasão seguirá afetando a bolsa brasileira. Até para o pequeno investidor, direcionar seus recursos em outras aplicações está mais vantajoso.
Por exemplo, nos últimos 12 meses, o real registrou valorização de 10,8% frente à moeda norte-americana e as Letras Financeiras do Tesouro (LFT) – tipo de título de dívida do governo – tiveram alta de 11%, no mesmo período.
Nos últimos 12 meses, na bolsa, os setores que mais têm sofrido baixas, de acordo com levantamento da consultoria Economatica feito a pedido do G1, são os de eletroeletrônicos (-44,78%), siderurgia e metalurgia (22,72%), papel e celulose (18,12%), além de petróleo e gás (16,89%).
“As medidas macroprudenciais do governo, para conter consumo e inflação, e a alavancagem de alguns setores acabaram contribuindo para esse resultado”, disse Cardoso.
Fatores domésticosAs medidas adotadas pelo governo contra a inflação, que têm elevado os juros a cada reunião do Banco Central, acabam afetando indiretamente o desempenho da Bovespa no médio e longo prazo, na avaliação do professor de economia da Trevisan Escola de Negócios, Alcides Leite.
SetorVariação média em 1 ano (de 16/06/10 a 16/06/11)
Eletroeletrônicos-44,78%
Siderugia e metalurgia-22,72%
Papel e celulose-18,12%
Petróleo e gás- 16,89%
Máquinas industriais- 13,84%
Construção- 2,09
Mineração1,30%
Alimentos e bebidas1,61%
Química48,97%
Têxtil109,23%
Ibovespa-5,98%
Fonte: Economatica
“Temos de criar condições para baixar os juros e aumentar a taxa de investimento brasileira, que hoje está abaixo de 20% do PIB [Produto Interno Bruto], quando o ideal seria de pelo menos 25%. Os juros reais têm que cair. As empresas não estão preparadas para investir, embora tenham dinheiro para isso. O que acontece é que os investidores acabam buscando títulos”, disse. Hoje, a taxa Selic está em 12,25% ao ano.

Sem pânico
Apesar de o comportamento do mercado ser pouco previsível, diante dessas incertezas nas economias mundiais, o pessimismo, no longo prazo, não toma conta da maioria dos analistas consultados pelo G1. Ainda que a situação seja preocupante, a Bovespa continuará oscilando, principalmente nas próximas semanas, mas não deverá chegar a níveis muito mais baixos do que os registrados em outubro de 2008, em plena crise mundial, quando o Ibovespa se aproximara dos 29 mil pontos.

“Considerando que a situação na Europa vai se resolvendo no médio prazo, o mercado ainda vai continuar volátil e cauteloso nas próximas semanas. Veremos dias não tão ruins, mas não tão bons, de grande alta. No final do ano, os mercados devem ficar mais estáveis”, ponderou Martello.

“Dificilmente [a Bovespa] cai muito além do que está. Mas vamos passar um ano ruim, já que a recuperação da Europa tende a ser lenta”, disse o professor de economia da Trevisan.
Já para o analista da Link Trade, Fernando Góes, a crise na Grécia acentua a queda da Bovespa, mas não é o que mais contribui para o fraco desempenho do mercado. A composição do Ibovespa, a forte presença chinesa e o “fator político” atrelado a empresas como Vale e Petrobras são mais determinantes na justificativa sobre o comportamento da bolsa.

“O Ibovespa é muito concentrado em commodities, petróleo e siderurgia, sem contar que a China é muito competitiva, entra no mercado de forma muito agressiva”, disse Góes. Somado a esses fatores está o fato de o Brasil ter se recuperado da crise antes de outros países. “No começo do ano, houve uma realocação de ativos já esperada.”

É hora de comprar ou vender?Ainda que a bolsa não esteja registrando bom desempenho, para alguns analistas, essa é a hora de comprar ações, não de vendê-las. “Quem tem dinheiro na bolsa não deve vender. Crise é hora de comprar”, defendeu Carlos Daniel Coradi, da EFC Engenheiros Financeiros & Consultores.
O mercado é instável, segundo ele, e tem capacidade de inverter trajetórias em pouco tempo. “Na época do Plano Cruzado, os ganhos na bolsa foram multiplicados por dez em três meses. Só que o plano fracassou – houve congelamento de preços e aumento de salários – e a bolsa chegou a cair dez vezes em três meses.”

Por isso, independentemente do comportamento que a bolsa venha a ter, na opinião de especialistas em mercado financeiro, o dinheiro do investidor deve ser mantido ou até ampliado. “Eu acho que não é o momento de tirar dinheiro se a intenção é de deixar o dinheiro no longo prazo, de dois anos para cima”, disse Márcio Cardoso, da Título Corretora.

Bolsa quer mais empresas listadasHoje, a Bovespa tem listadas 468. Para incentivar a entrada de abertura de capital de empresas, a bolsa resolveu criar uma meta: de 200 companhias até 2015. Até o início de junho, apenas sete IPOs (oferta pública inicial) haviam sido feitos.

Entre as ações criadas pela instituição está a diretoria com foco em prospecção de empresas, que percorre o país explicando às companhias as vantagens de um IPO. Para atingir a meta, a Bovespa começa a focar nas empresas de médio porte.