21/12/2016, 13h21
Ele é muita coisa.
Ele é muito mais coisa do que eu precisava que ele fosse.
É café. É cerveja. É placebo. É chá de erva doce.
Ele é muitas das horas de cada um dos meus dias.
Com quem eu divido as maiores angústias e os sagrados remédios pra azia.
É um ombro ossudo que poderia ser desconfortável.
Mas é o ombro que eu passei a chamar de lar.
É o braço firme que me puxa quando tento cruzar a rua sem olhar.
É a toalha úmida que eu uso quando a minha ficou pendurada no varal.
É sujeito nos meus textos que eu tento, sem sucesso, usar de modo impessoal.
Ele é tudo o que eu não sou.
É terra, pé no chão, é cada um dos silêncios que minha boca desrespeitou.
Ele é aquele que sempre volta.
Nem sempre às 18. Às vezes demora.
Mas ele é desse tipo bom, que volta, sempre volta.
Ele é desses que trabalha além do expediente.
Que trabalha muito, mas nunca o bastante para tornar-se ausente.
Ele é um domingo à noite, hora sem pressa.
Ele é a moeda que cai do lado certo quando a gente arremessa.
Ele é a cozinha bagunçada.
É tentativa e erro.
Panela com coisa queimando sem qualquer indício de desespero.
Ele é combustível.
Tipo raro.
Que me quer com asas, voando em céu claro.
Ele não vê no sucesso uma ameaça.
Vê meta conjunta, parceria, mapa que a gente abre, rota que a gente traça.
Ele é gente grande, homem imenso.
Ele é ainda assim, muito maior do que eu penso.
Ele é chato. Mil manias restritivas de direitos.
Mas que nunca é definido por qualquer tipo de conceito.
Ele é muito.
Ele é tanto.
E é forte.
E ter muito
e ter tanto,
é ter tudo da sorte.
http://emais.estadao.com.br/blogs/ruth-manus/ele/
Nenhum comentário:
Postar um comentário