LEANDRO LOYOLA E VINICIUS GORCZESKI
03/09/2015 - 08h02 - Atualizado 03/09/2015 08h02
O discurso de um lado diz: “O pessoal da esquerda, no fundo, não passa de comunistas que querem transformar o Brasil num regime autoritário como a Venezuela”. O do outro retruca: “A turma da direita é herdeira das elites escravocratas e defenderia um golpe militar para proteger as elites”. O Brasil parece hoje mergulhado numa divisão ideológica onde predominam o ódio e a ignorância. É o que se vê nos discursos inflamados nas manifestações de todos os matizes políticos. É o que se lê nas redes sociais. Para reduzir um pouco da incompreensão e estimular o debate, elaboramos um breve resumo das origens, do pensamento, das boas intenções sociais e da face política brasileira da esquerda e da direita.
AS ORIGENS DO PENSAMENTO
Esquerda
Na Revolução Francesa, no século XVIII, durante os debates da Assembleia Nacional Constituinte, uma ala radical buscava distribuição de terras improdutivas e o fim das regalias dos nobres e ricos. A outra ala, conservadora nos costumes, defendia os privilégios. A ala radical se sentava à esquerda do presidente da Assembleia. Os conservadores, à direita. No fim, a ala da esquerda se impôs e derrubou a lei que isentava os mais ricos de pagar impostos. Era o início da declaração dos direitos do homem e do cidadão. Mais tarde, o filósofo alemão Karl Marx e outro filósofo, Friedrich Engels, defenderam uma revolução para mitigar o que consideravam uma exploração dos industriais e comerciantes contra o trabalhador pobre. As tentativas de pôr em prática essa ideia na Rússia, em Cuba, na China e na Coreia do Norte terminaram em regimes ditatoriais. Com a queda do Muro de Berlim, surgiu uma nova esquerda, democrática, que sabe que só com a administração competente do capitalismo é possível gerar recursos para distribuir benefícios sociais.
Direita
A origem da direita está ligada ao liberalismo, ao livre mercado e à preservação dos direitos individuais. Uma de suas bases fundamentais está no tratado de moral A riqueza das nações, no qual o filósofo escocês Adam Smith postula que a liberdade de mercado faz com que as pessoas, ao buscarem naturalmente o melhor para si, produzam mais e melhor. Em um ambiente de livre concorrência, essa busca individual resultará em maior eficiência, preços mais justos e mais benefícios a todos. No século passado, distorções dos ideais de direita desembocaram em totalitarismo, como o fascismo italiano. No mundo contemporâneo, a direita está associada à revolução promovida, nos anos 1980, pelo ex-presidente americano Ronald Reagan e pela ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher. Eles privatizaram empresas estatais, desregulamentaram a economia e deram impulso ao livre mercado – além de mostrar claramente que o liberalismo podia trazer oportunidades para a população mais pobre.
Esquerda
Na Revolução Francesa, no século XVIII, durante os debates da Assembleia Nacional Constituinte, uma ala radical buscava distribuição de terras improdutivas e o fim das regalias dos nobres e ricos. A outra ala, conservadora nos costumes, defendia os privilégios. A ala radical se sentava à esquerda do presidente da Assembleia. Os conservadores, à direita. No fim, a ala da esquerda se impôs e derrubou a lei que isentava os mais ricos de pagar impostos. Era o início da declaração dos direitos do homem e do cidadão. Mais tarde, o filósofo alemão Karl Marx e outro filósofo, Friedrich Engels, defenderam uma revolução para mitigar o que consideravam uma exploração dos industriais e comerciantes contra o trabalhador pobre. As tentativas de pôr em prática essa ideia na Rússia, em Cuba, na China e na Coreia do Norte terminaram em regimes ditatoriais. Com a queda do Muro de Berlim, surgiu uma nova esquerda, democrática, que sabe que só com a administração competente do capitalismo é possível gerar recursos para distribuir benefícios sociais.
Direita
A origem da direita está ligada ao liberalismo, ao livre mercado e à preservação dos direitos individuais. Uma de suas bases fundamentais está no tratado de moral A riqueza das nações, no qual o filósofo escocês Adam Smith postula que a liberdade de mercado faz com que as pessoas, ao buscarem naturalmente o melhor para si, produzam mais e melhor. Em um ambiente de livre concorrência, essa busca individual resultará em maior eficiência, preços mais justos e mais benefícios a todos. No século passado, distorções dos ideais de direita desembocaram em totalitarismo, como o fascismo italiano. No mundo contemporâneo, a direita está associada à revolução promovida, nos anos 1980, pelo ex-presidente americano Ronald Reagan e pela ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher. Eles privatizaram empresas estatais, desregulamentaram a economia e deram impulso ao livre mercado – além de mostrar claramente que o liberalismo podia trazer oportunidades para a população mais pobre.
>> Está na hora de dialogar
O QUE É A VISÃO MODERNA
Esquerda
A esquerda moderna, que emergiu depois da queda dos regimes da URSS e da Europa socialista, aderiu aos dois consensos básicos da governança moderna no Ocidente – democracia e responsabilidade fiscal. Ela procura criar um bom ambiente de negócios para gerar recursos para o gasto social. O político sueco Olof Palme é considerado um dos fundadores da social-democracia. Dizia que um regime ideal estimula um capitalismo vibrante para criar oportunidades, ao mesmo tempo que o Estado garante serviços de qualidade. Sua frase famosa é: “É preciso engordar o carneiro do capitalismo, para depois tosá-lo”.
O estudioso inglês Anthony Giddens deu a essa nova esquerda o nome de “Terceira Via”. Nos anos 1990, Giddens apontou o primeiro-ministro britânico Tony Blair, o presidente americano Bill Clinton e o brasileiro Fernando Henrique Cardoso como exemplos dessa nova visão social-democrata. Ele estendeu a classificação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu primeiro mandato.
Direita
Ao longo do século XX, a direita perdeu para a esquerda a guerra da propaganda. Os intelectuais mais influentes do mundo eram de esquerda e criaram a falsa ideia de que a direita defenderia “os ricos” e a esquerda “os pobres”. Ninguém é contra defender quem mais precisa – daí vem a hegemonia da esquerda na propaganda, apesar de ditaduras como a da União Soviética. Essa situação começou a mudar nos anos 1980, com os governos de Ronald Reagan nos Estados Unidos e Margaret Thatcher na Inglaterra. Thatcher sabia que não bastava cortar gastos e impostos. Era necessário provar à população mais pobre que essa política favorece quem se esforça para melhorar de vida. Hoje se sabe que é ingênuo dizer que uma ideologia está a serviço dos “pobres” e a outra dos “ricos”. Entre os países que mais melhoraram a vida da população carente estão nações “de direita”, com impostos baixos e cultura empreendedora, como a Austrália e o Vietnã (que, paradoxalmente, chama a si próprio de “República Socialista”).
O QUE É A VISÃO MODERNA
Esquerda
A esquerda moderna, que emergiu depois da queda dos regimes da URSS e da Europa socialista, aderiu aos dois consensos básicos da governança moderna no Ocidente – democracia e responsabilidade fiscal. Ela procura criar um bom ambiente de negócios para gerar recursos para o gasto social. O político sueco Olof Palme é considerado um dos fundadores da social-democracia. Dizia que um regime ideal estimula um capitalismo vibrante para criar oportunidades, ao mesmo tempo que o Estado garante serviços de qualidade. Sua frase famosa é: “É preciso engordar o carneiro do capitalismo, para depois tosá-lo”.
O estudioso inglês Anthony Giddens deu a essa nova esquerda o nome de “Terceira Via”. Nos anos 1990, Giddens apontou o primeiro-ministro britânico Tony Blair, o presidente americano Bill Clinton e o brasileiro Fernando Henrique Cardoso como exemplos dessa nova visão social-democrata. Ele estendeu a classificação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu primeiro mandato.
Direita
Ao longo do século XX, a direita perdeu para a esquerda a guerra da propaganda. Os intelectuais mais influentes do mundo eram de esquerda e criaram a falsa ideia de que a direita defenderia “os ricos” e a esquerda “os pobres”. Ninguém é contra defender quem mais precisa – daí vem a hegemonia da esquerda na propaganda, apesar de ditaduras como a da União Soviética. Essa situação começou a mudar nos anos 1980, com os governos de Ronald Reagan nos Estados Unidos e Margaret Thatcher na Inglaterra. Thatcher sabia que não bastava cortar gastos e impostos. Era necessário provar à população mais pobre que essa política favorece quem se esforça para melhorar de vida. Hoje se sabe que é ingênuo dizer que uma ideologia está a serviço dos “pobres” e a outra dos “ricos”. Entre os países que mais melhoraram a vida da população carente estão nações “de direita”, com impostos baixos e cultura empreendedora, como a Austrália e o Vietnã (que, paradoxalmente, chama a si próprio de “República Socialista”).
O QUE PODE FAZER PELA INCLUSÃO SOCIAL
Esquerda
O pensamento central é que a riqueza precisa ser bem distribuída na sociedade. Para isso, usam-se recursos do Estado para melhorar a qualidade de vida das pessoas, em especial dos mais pobres. A política de esquerda se caracteriza por impostos altos – com benefícios distribuídos com inteligência e critério. A Inglaterra reduziu a oferta de benefícios da previdência. Em troca, investe no serviço universal de saúde de qualidade e gratuito. Não existe Estado de bem-estar social que forneça tudo a sua população de graça, e o melhor exemplo são as economias capitalistas dos países nórdicos. Na superprotetora Dinamarca, a taxa de impostos chega a 49% do PIB. No Brasil, os impostos também são altos: 34% do PIB. Mas aqui os serviços públicos não satisfazem os cidadãos.
Direita
O pensamento central é que, se o Estado não atrapalha, a riqueza da sociedade cresce. Cresce tanto que os mais ricos faturam e os mais pobres melhoram de vida. A tarefa de fazer a inclusão social cabe mais ao cidadão, por seus próprios esforços. Para a direita, não pode haver desigualdade de oportunidades. Adam Smith já defendia que o Estado deve proporcionar serviços básicos de qualidade – como educação, saúde e segurança. Todos devem ter os mesmos direitos e um ambiente no qual a burocracia não atrapalhe os esforços individuais. Isso significa cobrar menos impostos, para que a riqueza gerada pela população fique com ela mesma. Governos de direita também cobram impostos altos sobre heranças, como uma forma de evitar a perpetuação de dinheiro nas mãos de poucos.
REPRESENTAÇÃO POLÍTICA NO BRASIL HOJE
Esquerda
Praticamente todos os partidos políticos brasileiros com chance de vencer eleições majoritárias são de esquerda ou se dizem de esquerda. Isso ocorre porque a ditadura militar brasileira, que matou e torturou, era uma ditadura “de direita” – embora na economia fosse “de esquerda”, com viés fortemente estatizante. Marxistas de São Paulo que frequentavam os mesmos bares e as mesmas festas fundaram o PT e a ala esquerda do PMDB – que depois se tornou uma dissidência dentro do partido e adotou o nome de PSDB. Uma dissidência ecológica do PT fundou o PV, onde se formou Marina Silva. Os três principais candidatos que concorreram às eleições presidenciais no Brasil se definiam como de esquerda ou centro-esquerda: Dilma Rousseff, Aécio Neves e a própria Marina. No meio acadêmico existem dois tipos de esquerda. Uma sente saudades do nacional-desenvolvimentismo dos anos 1970. A outra se dedica ao estudo de como tornar as políticas públicas mais eficientes e como viabilizar um Estado de bem-estar social. Fazem parte desse contingente economistas liberais como Ricardo Paes de Barros, um dos criadores do Bolsa Família.
Direita
No Brasil, a rigor, a direita não chegou à política partidária. No máximo, foi influenciada no século passado por pensadores como o diplomata e sociólogo José Guilherme Merquior e o economista e ex-ministro Roberto Campos. Não existem hoje partidos de direita com representação no Congresso Nacional. Não vale citar os Democratas (DEM) e o Partido Progressista (PP), que dizem abrigar políticos conservadores. Na prática, o PP é um aliado do PT no governo federal desde o primeiro mandato do presidente Lula (2003-2006) e boa parte de sua bancada endossou a política econômica praticada pela presidente Dilma Rousseff – que pode ser tudo, menos liberal. Os Democratas se mantiveram na oposição, mas é difícil que algum de seus integrantes se declare “de direita”, devido ao preconceito associado ao termo. A pequena militância de direita no Brasil vem de jovens oriundos de instituições como o Instituto Millenium e o Instituto Liberdade, que pregam a crença no livre mercado e num Estado enxuto. Existem também pequenas iniciativas como o Partido Novo, do engenheiro carioca João Amoedo. A falta de uma direita com representatividade é ruim para o debate democrático no Brasil.
Esquerda
O pensamento central é que a riqueza precisa ser bem distribuída na sociedade. Para isso, usam-se recursos do Estado para melhorar a qualidade de vida das pessoas, em especial dos mais pobres. A política de esquerda se caracteriza por impostos altos – com benefícios distribuídos com inteligência e critério. A Inglaterra reduziu a oferta de benefícios da previdência. Em troca, investe no serviço universal de saúde de qualidade e gratuito. Não existe Estado de bem-estar social que forneça tudo a sua população de graça, e o melhor exemplo são as economias capitalistas dos países nórdicos. Na superprotetora Dinamarca, a taxa de impostos chega a 49% do PIB. No Brasil, os impostos também são altos: 34% do PIB. Mas aqui os serviços públicos não satisfazem os cidadãos.
Direita
O pensamento central é que, se o Estado não atrapalha, a riqueza da sociedade cresce. Cresce tanto que os mais ricos faturam e os mais pobres melhoram de vida. A tarefa de fazer a inclusão social cabe mais ao cidadão, por seus próprios esforços. Para a direita, não pode haver desigualdade de oportunidades. Adam Smith já defendia que o Estado deve proporcionar serviços básicos de qualidade – como educação, saúde e segurança. Todos devem ter os mesmos direitos e um ambiente no qual a burocracia não atrapalhe os esforços individuais. Isso significa cobrar menos impostos, para que a riqueza gerada pela população fique com ela mesma. Governos de direita também cobram impostos altos sobre heranças, como uma forma de evitar a perpetuação de dinheiro nas mãos de poucos.
REPRESENTAÇÃO POLÍTICA NO BRASIL HOJE
Esquerda
Praticamente todos os partidos políticos brasileiros com chance de vencer eleições majoritárias são de esquerda ou se dizem de esquerda. Isso ocorre porque a ditadura militar brasileira, que matou e torturou, era uma ditadura “de direita” – embora na economia fosse “de esquerda”, com viés fortemente estatizante. Marxistas de São Paulo que frequentavam os mesmos bares e as mesmas festas fundaram o PT e a ala esquerda do PMDB – que depois se tornou uma dissidência dentro do partido e adotou o nome de PSDB. Uma dissidência ecológica do PT fundou o PV, onde se formou Marina Silva. Os três principais candidatos que concorreram às eleições presidenciais no Brasil se definiam como de esquerda ou centro-esquerda: Dilma Rousseff, Aécio Neves e a própria Marina. No meio acadêmico existem dois tipos de esquerda. Uma sente saudades do nacional-desenvolvimentismo dos anos 1970. A outra se dedica ao estudo de como tornar as políticas públicas mais eficientes e como viabilizar um Estado de bem-estar social. Fazem parte desse contingente economistas liberais como Ricardo Paes de Barros, um dos criadores do Bolsa Família.
Direita
No Brasil, a rigor, a direita não chegou à política partidária. No máximo, foi influenciada no século passado por pensadores como o diplomata e sociólogo José Guilherme Merquior e o economista e ex-ministro Roberto Campos. Não existem hoje partidos de direita com representação no Congresso Nacional. Não vale citar os Democratas (DEM) e o Partido Progressista (PP), que dizem abrigar políticos conservadores. Na prática, o PP é um aliado do PT no governo federal desde o primeiro mandato do presidente Lula (2003-2006) e boa parte de sua bancada endossou a política econômica praticada pela presidente Dilma Rousseff – que pode ser tudo, menos liberal. Os Democratas se mantiveram na oposição, mas é difícil que algum de seus integrantes se declare “de direita”, devido ao preconceito associado ao termo. A pequena militância de direita no Brasil vem de jovens oriundos de instituições como o Instituto Millenium e o Instituto Liberdade, que pregam a crença no livre mercado e num Estado enxuto. Existem também pequenas iniciativas como o Partido Novo, do engenheiro carioca João Amoedo. A falta de uma direita com representatividade é ruim para o debate democrático no Brasil.
http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2015/09/esquerda-ou-direita-como-elas-se-modernizaram-ao-longo-dos-anos.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário