FABIO BARBIRATO
ESPECIAL PARA A FOLHA
A implementação de UPPs em diferentes áreas do Rio trouxe uma mudança concreta às pessoas que ali moram: a real percepção de paz.
Porém, como frequentemente sinaliza o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, a entrada da polícia nas comunidades é apenas o primeiro passo de um gigantesco processo de inclusão social.
Vez por outra a imprensa alardeia a chegada de bancos e lojas às comunidades.
Agora, um terceiro momento parece surgir na formação das crianças nas comunidades pacificadas: a mudança de paradigma da figura do herói. Sai de cena a idolatria por traficantes e bandidos e entram os policiais. O temível caveirão cede espaço à farda oficial no ideário infantil.
Especificamente neste caso, a troca é saudável porque está ligada à sensação de segurança. A polícia não simboliza mais o corpo invasor e agressivo. Tornou-se a força que possibilitou a entrada e permanência do Estado e, em última análise, viabilizou uma vida mais feliz a seus pais e amigos.
A sensação de paz que as crianças percebem no dia a dia as anima para se espelharem na polícia.
No entanto, cabe ficar alerta. Para ser saudável, a idealização da polícia, se ocorrer, deve ser temporária. Com o passar do tempo, a polícia não deve mais ser reconhecida como algo alheio àquela realidade, tal qual já ocorre em outros bairros. Naturalmente, a idealização infantil do herói achará novo objeto de admiração.
Apesar de se tratar de uma realidade distante, a alarmante chacina em Newtown, EUA, reforça ainda mais a sensação de insegurança por que passam as crianças neste início de século. A ausência de referências é concreta dentro e fora dos consultórios de apoio psiquiátrico. Se nem a escola é mais a garantia de porto seguro, o que dizer a eles?
Neste contexto, bem-vindos sejam os policiais cariocas à idealização infantil. Mas, no longo prazo, é preciso ficar claro que polícia não é modelo ideal para crianças; modelos saudáveis são pai e mãe com saúde, emprego e educação.
FABIO BARBIRATO é coordenador do Departamento de Psiquiatria da Infância e Adolescência da Santa Casa do Rio
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1204723-analise-idealizar-pm-como-modelo-de-heroi-e-saudavel-mas-deve-ser-temporario.shtml
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