Publicação: 23/05/2012 07:16 Atualização: 23/05/2012 07:36
O incidente ocorreu em um jato Embraer 190 e segundo passageiros que estavam na aeronave, o homem, de aproximadamente 40 anos, teria se rebelado contra o fato do avião ter uma mulher como comandante. “Eu não voo com mulher no comando”, disse, antes de ser expulso do jato. Depois do problema, o voo seguiu normalmente seu destino.
Com receio de que o homem pudesse entrar em pânico após atravessar uma turbulência normal, a que está sujeito um voo com duração aproximada de uma hora, a comandante Betânia tomou a medida de expulsar o homem da aeronave. Sob vaias, depois de atrasar o voo, o passageiro foi convidado a se retirar do avião por agentes da Polícia Federal, acionados por rádio.
A medida de segurança consta do regulamento da Agência Nacional da Aviação Civil (Anac), que prevê o desembarque compulsório em caso de risco para os passageiros. Até agora, segundo um agente da PF do aeroporto de Confins, essa medida só havia sido tomada diante de ameaça de bomba ou suspeita de alguma pessoa estar alcoolizados ou com problemas de saúde. Jamais por uma atitude machista. “É o primeiro caso de machismo da história da aviação. Esse passageiro deve ser um desavisado e não faz ideia de que nos Estados Unidos e na Europa é normal uma mulher pilotando avião”, critica Gelson Fochesato, presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, que ‘repudia violentamente’ a atitude do passageiro. Ele revela que até mesmo uma companhia de aviação dos Emirados Árabes tem uma brasileira no comando de um Boeing 777, com capacidade para 300 passageiros.
“As mulheres são até mais metódicas do que os pilotos e nunca saem do que está escrito no manual. Não quer dizer que os homens são irresponsáveis, mas eles são mais flexíveis”, compara Fochesato, de 64 anos e ainda na ativa na Gol. Ele recorda que, mesmo nos anos 1960 as pilotos pioneiras da antiga Vasp eram recebidas com festa pelos passageiros. A primeira piloto da Vasp, a comandante gaúcha Carla, permanece atuante, contratada pela Azul. Essa companhia aérea mantém uma aeronave pintada de cor-de-rosa, com tripulação 100% feminina, em campanha contra o câncer de mama.
“A empresa apoia a decisão da comandante Betânia e inclusive encorajaria que ela se posicionasse publicamente a respeito do ocorrido, pois ajudaria a quebrar preconceitos que ainda possam existir em relação às mulheres em pleno século 21”, afirma Evaristo de Paula, diretor nacional de marketing e vendas da Trip, empresa que conta em seus quadros com 1,5 mil mulheres. Ele, no entanto, respeitou a postura da comandante Betânia, descrita como uma funcionária séria e que teria se mostrado incomodada com a inesperada celebridade alcançada com a divulgação do episódio em sites na internet e não quis falar sobre o assunto.
COMPETÊNCIA IGUAL
As mulheres têm a mesma formação, a mesmas horas de voo e a mesma capacitação que um homem. Nenhuma empresa aérea contrataria uma profissional inabilitada, colocando centenas de pessoas em risco”, reclama Daiane Félix da Silva, de 26 anos, que faz o curso de comissária de bordo e sonha em ser piloto de avião. Segundo ela, que vai passar o próximo fim de semana em treinamento na selva, o nível de exigência é alto. “Do início ao fim do curso, é cobrada a segurança em primeiro lugar.” Para se tornar piloto de linha aérea, é necessário comprovar pelo menos 1,5 mil horas de voo. A comandante Betânia tem o dobro disso e há cerca de dois ano, pilota o jato da Trip, com capacidade para 90 passageiros. Antes disso, atuou em outras companhias aéreas.
Dados da Anac indicam que o céu ainda é espaço predominantemente masculino. Do total de licenças válidas até 2010, a minoria tinha mulheres como titulares (0,8%), enquanto os homens somavam 14.282 renovadas. Somente 163 licenças estavam válidas para as comandantes.
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