sexta-feira, 11 de maio de 2012

Europa: "May Day, mayday"



"May Day, Mayday"

Texto de Monica Baumgarten de Bolle para O Estado de S. Paulo.
Publicado em: 04/05/2012

May Day é o primeiro de maio, em inglês. O Dia Internacional do Trabalho. Quando escrita sem o espaço entre “may” e “day”, a palavra designa a chamada radiotelefônica de emergência, o grito de socorro quando um navio está prestes a afundar. O May Day na Europa foi marcado por protestos contra as medidas de austeridade. Clamores de “mayday, mayday” foram ouvidos nas principais capitais. Socorro, diz a população. Nossos países estão afundando, nossas economias serão afogadas no mar de austeridade.

Doze países da União Europeia estão em recessão. Isto é, ao longo de pelo menos dois trimestres consecutivos, a atividade econômica encolheu. Entre eles, há nove da zona do euro: Portugal, Espanha, Itália, Grécia, Chipre, Holanda, Bélgica, Eslovênia e Irlanda. Em nenhum prevalece a perspectiva de melhora. Ao contrário, diante do novo Compacto Fiscal, o acordo firmado entre os diversos países que prevê um forte ajuste das contas públicas ao longo dos próximos dois anos, o mais provável é que a recessão que os assola esteja apenas em seus estágios iniciais. Um “estágio inicial” que, em alguns casos, mais parece o fim do mundo. A Grécia é o símbolo mundial da desolação e da devastação econômica. Mesmo tendo executado a maior reestruturação de dívidas soberanas da história, a economia continua em frangalhos, os bancos estão quebrados, o Estado não tem como auxiliar a população. A situação do país mediterrâneo é resultado, sim, de sucessivos governos perdulários. Mas é também a consequência mais visível do perigoso vórtice do ajuste-recessão-ajuste-recessão imposto pelos líderes da eurozona e pelo FMI.

A Espanha, uma das maiores economias da União Monetária, aproxima-se perigosamente do vórtice grego. A taxa de desemprego de quase 25%, os bancos encalacrados com as dívidas imobiliárias contraídas nos anos de bonança e, agora, depois das duas rodadas de LTRO do Banco Central Europeu – os empréstimos de três anos para as instituições financeiras – estão também abarrotados de títulos públicos do país. Títulos cujos rendimentos não param de subir, já que a confiança dos investidores em relação à solidez do país não para de cair. A classificação de risco da Espanha foi recentemente rebaixada pela agência S&P. A dos bancos também, afinal a simbiose entre bancos e país soberano é quase plena. Por estas razões, cogita-se, publicamente, um plano de resgate para os bancos espanhóis, possivelmente financiado pela União Europeia. Mas, apesar disso, não se pensa em abandonar a austeridade tempestiva. O governo insiste que cumprirá a meta fiscal programada para este ano, um déficit de 5,3% do PIB. O esforço equivale a um ajuste de mais de três pontos percentuais do PIB, já que o rombo do ano passado foi de 8,5%, o que é um esforço significativo. Ajustes fiscais rápidos e intensos demais quebram países, como mostrou a Grécia. Contudo, parece que ninguém aprendeu esta lição.

Recentemente, os alemães suavizaram um pouco o discurso da austeridade. Angela Merkel mencionou a possibilidade de usar certos fundos da Comissão Europeia e recursos do EBRD e do EIB (European Bank for Reconstruction and Development e o European Investment Bank) para impulsionar o investimento nos países mais afetados pela crise. Afirmou também que, na reunião de cúpula de junho, quando deverão ser definidos os próximos passos na implantação do Compacto Fiscal, serão discutidas medidas para motivar a expansão da atividade. Será mesmo que a Alemanha está ouvindo os gritos de socorro de seus vizinhos?

Uma propaganda do Berlitz (o curso de idiomas) ilustra as dificuldades de comunicação que ainda assombram a Europa. É madrugada na costa da Alemanha, nada acontece. Um novato está sentado em frente ao painel de monitoramento marítimo, enquanto seu chefe sai para tomar um café. Até que chega uma chamada por radio “mayday mayday, we are sinking, we are sinking!” (“Socorro, estamos afundando!”). O novato não sabe bem o que fazer. Fica nervoso. Até que responde “ah... what are you sinking (sic) about?”¹

¹Ver http://www.youtube.com/watch?v=rD4roXEY8h. Sinking refere-se a thinking...

Economista, Professora da PUC-RJ e Diretora do IEPE/Casa das Garças

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