Uma pesquisa com ex-bolsistas do Programa Universidade para Todos (Prouni) em São Paulo mostrou que quase três quartos deles conseguiram aumentar sua renda após concluir o curso de graduação. De acordo com Fabiana Costa, doutora em educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), foram entrevistados 150 jovens que se formaram no ensino superior entre 2010 e 2011, para identificar o impacto que a bolsa de estudo teve na inserção dos egressos no mercado de trabalho e na melhoria de sua condição socioeconômica.
O Prouni distribui bolsas de estudos para estudante de baixa renda em faculdades particulares. O prazo de inscrição foi fechado nesta segunda-feira (21). Foram inscrtitos 1,03 milhões de candidatos para mais de 162 mil bolsas. A primeira convocação dos selecionados será nesta quinta-feira (24)
Apesquisa foi tema de sua tese de doutorado, defendida em novembro do ano passado, e apresentada no último fim de semana no 14º Conselho Nacional de Entidades de Base (Coneb) da União Nacional dos Estudantes (UNE) em Recife (PE). Na pesquisa, 73,4% afirmaram que, depois de se formarem, conseguiram aumentar sua renda em relação à época em que ingressaram no ensino superior. Dentro deste grupo, 10,5% tiveram o salário incrementado entre 71% e 100%, e 27,9% mais do que dobraram a renda (em relação ao total de participantes, Fabiana afirmou que 18,6% aumentou a renda em mais do que 100%).
A pesquisadora explicou ao G1 que o universo da pesquisa abordou o mercado de trabalho e e a condição sócioeconômica relativos à cidade de São Paulo. "A realidade foi feita com base na capital. A pesquisa é feita dentro de um determinado contexto e um determinado tempo", disse.
Outro número destacado por ela tem a ver com a utilidade do diploma conquistado por meio das bolsas de estudo integrais ou parciais. De acordo com a pequisa, 72,6% dos 150 bolsistas entrevistados afirmaram que, atualmente, estão trabalhando na área em que se formaram no ensino superior. O número de estudantes no mercado de trabalho antes e depois de receberem a bolsa se manteve em 85%. Desses, 64% dos egressos tinham carteira assinada e renda de um a cinco salários mínimos.
O Prouni foi criado pelo Ministério da Educação em 2004 com o objetivo de oferecer bolsas de estudos integrais ou parciais em instituições privadas de educação superior a estudantes com renda de até três salários mínimos.
A seleção é feita exclusivamente pela internet, e as inscrições para o processo seletivo do primeiro semestre de 2013 foram encerradas na noite de segunda-feira (21). Nesta edição, são oferecidas 162.329 bolsas distribuídas em 12.159 cursos de 1.078 instituições.
Primeiro diploma da família
Um dos dados da pesquisa de Fabiana que melhor definem o perfil socioeconômico dos egressos do Prouni entrevistados é o fato de que o diploma universitário deles foi o primeiro da família. "Os dados mostram que 81% das mães e 91% dos pais dos entrevistados só têm o ensino médio", afirmou Fabiana.
A educação formal dos pais e das mães dos bolsistas é parecida: 39% dos pais tinha fundamental incompleto, e 23% chegaram a concluir o ensino médio. No caso das mães, 36,6% delas abandonou a rede de ensino sem terminar o ensino fundamental, e 21,9% chegaram ao fim do ciclo básico.
"Os egressos enxergam o Prouni como porta de entrada e oportunidade de concluir a graduação", disse a pesquisadora.
Fabiana, que há anos se dedica a pesquisar o programa do MEC, e publicou um livro com sua dissertação de mestrado concluída em 2008, na qual pesquisou a realidade dos bolsistas durante a graduação, afirmou que muitos dos ex-bolsistas entrevistados para sua tese de doutorado apontaram no Prouni os mesmos problemas que ela havia escutado há mais de cinco anos.
O principal deles é a falta de assistência estudantil aos estudantes, o que dificulta sua permanência na instituição. "Poderia haver mais bolsas e auxílio para esses alunos de graduação, por serem de baixa renda", sugeriu ela.
Além disso, muitos deles afirmaram que as instituições participantes do Prouni oferecem cursos de baixa qualidade "em termos de conteúdo" e nos quais, em muitos casos, o bolsista decide se matricular por falta de opção. "O Prouni tem essa lacuna: O aluno não tem a opção de escolher muito, vai fazer o curso que conseguiu na segunda ou terceira chamada, se esforça e se dedica para isso."
Os egressos enxergam o Prouni como porta de entrada e oportunidade de concluir a graduação"Fabiana Costa,pesquisadora da PUC-SPO excesso de burocracia é outro fator de reclamação dos estudantes. A bolsa integral custeia todo o valor da mensalidade e é destinada a candidatos que tenham renda familiar per capita de até 1,5 salário mínimo. Já a parcial custeia 50% da mensalidade e é oferecida a quem possui renda familiar per capita de até três salários mínimos.
Porém, o programa exige a comprovação de renda todos os semestres, não só no semestre de ingresso do bolsista. Fabiana conta que, quando fazia seu mestrado, escutou casos de estudantes que perderam a bolsa por causa de uma melhoria na renda familiar, mas isso faz com que, por exemplo, muitos bolsistas evitem conseguir um estágio na área em que estudam com medo de perder a bolsa.
No formulário de entrevistas para o seu doutorado, ela afirmou ter lido mais depoimentos sobre esse tipo de limitação. "Se o programa é para ajudar, por que ele vai perder a bolsa?", questiona.
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Economista que não economiza em palavras... Porque mesmo sem motivo eu gosto de falar.
quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
Viagem
Sério, meu projeto é viagem demais.
Quem mais estuda o seguinte artigo: "Progresso da ferrugem e da cercosporiose do cafeeiro consorciado com grevílea, com ingazeiro e a pleno sol (sic) em Lavras - MG"
http://www.scielo.br/pdf/cagro/v31n4/19.pdf
Quem mais estuda o seguinte artigo: "Progresso da ferrugem e da cercosporiose do cafeeiro consorciado com grevílea, com ingazeiro e a pleno sol (sic) em Lavras - MG"
http://www.scielo.br/pdf/cagro/v31n4/19.pdf
sexta-feira, 18 de janeiro de 2013
Leilões de rodovias atraem até 12 grupos
Por Daniel Rittner (Valor Econômico)
De Brasília O governo espera uma disputa acirrada entre pelo menos seis grupos - CCR, Odebrecht, Invepar, Ecorodovias, Triunfo e Acciona - na próxima rodada de concessões de estradas. Ao todo, serão transferidos 7,5 mil quilômetros de rodovias federais à iniciativa privada, nos próximos três meses. O primeiro teste ocorrerá no dia 30, quando serão licitados dois lotes, a BR-116 (em Minas Gerais) e a BR-040 (Brasília-Juiz de Fora). Um punhado de outras empresas corre por fora, na avaliação oficial, e também demonstrou interesse por essas duas concessões nas audiências públicas realizadas pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT): Isolux Corsán, Fidens, Barbosa Mello, Fidens, Cowan e Aterpa.
As grandes novidades, no entanto, ficam nos sete trechos com leilão previsto para abril. Eles somam 5,7 mil quilômetros de extensão e seus contratos exigem investimentos, sem levar em conta despesas operacionais, de quase R$ 32 bilhões nos 25 anos de duração dos contratos. A malha concedida passa por Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal, Tocantins, Bahia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Para os motoristas, uma das mudanças mais significativas se fará notar quando houver congestionamentos nas praças de pedágio, comuns em vésperas de feriados. Pela primeira vez nas concessões rodoviárias, as cancelas terão que ser levantadas e não poderá haver cobrança de tarifa, sempre que as filas de veículos ultrapassarem 200 metros de extensão e o tempo de espera exceder 15 minutos. Trata-se de uma prática adotada em outros países, como a Argentina, com o objetivo de estimular a agilidade das concessionárias e diminuir a irritação dos motoristas. Evita-se, assim, a repetição de uma cena já conhecida de muitos paulistas: o trânsito parado durante horas, nos arredores das praças de pedágio, em estradas para o litoral.
"Em cada novo edital, tentamos aperfeiçoar as concessões, mantendo as regras básicas e promovendo inovações", afirma Natália Marcassa de Souza, diretora da ANTT. Segundo ela, não foi possível incorporar boa parte dessas inovações nos dois primeiros trechos - BR-040 e BR-116 - porque suas licitações vinham sendo preparadas havia cinco anos, enquanto os demais lotes estão com seus estudos frescos e minutas de edital recém-concluídas.
Outra mudança importante, válida apenas a partir dos sete lotes de abril, é o aumento dos critérios de qualificação para a qualificação das empresas que vão entrar na disputa. O governo decidiu fixar uma exigência de patrimônio líquido, entre R$ 400 milhões e R$ 870 milhões, para cada rodovia. Isso impede logo de cara que empreiteiras de médio porte, como Fidens e Aterpa, assumam sozinhas a concessão de uma rodovia como a BR-262 (Belo Horizonte-Vitória). Também inviabiliza que uma empresa como a Triunfo, com patrimônio líquido de R$ 1,342 bilhão ao fim do terceiro trimestre de 2012, leve três lotes ao mesmo tempo - como a BR-101 (Bahia), a BR-060/153/262 (Brasília-Goiânia-Betim) e a BR-163 (Mato Grosso).
Algumas experiências recentes motivaram o governo a definir critérios mais rigorosos. Em 2007, a espanhola OHL venceu cinco dos sete lotes oferecidos pelo governo - incluindo trechos estratégicos como a Fernão Dias (São Paulo-Belo Horizonte) e a Régis Bittencourt (São Paulo-Curitiba) - e jamais conseguiu entregar boa parte das obras exigidas em contrato. Em 2008, o grupo Bertin usou os leilões de energia para vender eletricidade de mais de duas dezenas de térmicas, mas a maioria das usinas não saiu do papel e hoje existem discussões intricadas sobre a devolução delas. Finalmente, no ano passado, o governo se decepcionou com o resultado da privatização de três aeroportos e aumentou as exigências para a rodada seguinte de concessões, em 2013.
Os pedágios, conforme já havia sido divulgado no ano passado, só poderão ter sua cobrança iniciada quando pelo menos 10% das obras de duplicação tiverem sido concluídas. Além disso, os serviços iniciais - intervenções simples como tapa-buracos e melhoria - deverão durar 12 meses, e não mais seis. Só que os reajustes anuais das tarifas ganharão novos componentes.
Um bônus de até três pontos percentuais sobre o reajuste poderá ser dado às concessionárias que reduzirem o nível de acidentes, fatais ou não. Por outro lado, o pedágio cairá se as futuras concessionárias não conseguirem cumprir o novo "índice de disponibilidade" das pistas, a partir do sexto ano de contrato. A regra determina que, para tocar as obras de manutenção das estradas, elas não interditem faixas de rolamento mais do que 3% do tempo durante o dia e mais do que 5% do tempo durante a noite. Quem exceder esse limite terá direito a um reajuste anual menor da tarifa.
O leilão das rodovias, seguindo a forma de disputa adotada nas últimas concessões, terá uma única apresentação de ofertas, sem lances em viva-voz, nos quais os concorrentes podem bater a proposta dos rivais. As ofertas para todos os lotes deverão ser entregues simultaneamente e ganha quem oferecer a menor tarifa.
De forma inédita, não haverá mais necessidade de apresentação do plano de negócios pelas concorrentes, mas apenas uma declaração de instituição financeira que tenha dado aval à viabilidade da proposta apresentada em leilão. O plano de negócios é um documento no qual as empresas demonstram, em detalhes, suas estimativas de receitas e despesas com investimentos.
"Teoricamente, ele serve para mostrar se a proposta do grupo vencedor no leilão é exequível ou não", diz o presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), Bernardo Figueiredo. "Na prática, muitas empresas manipulavam os números apenas para ganhar o aval da ANTT. E isso deixava as portas abertas para pedidos de reequilíbrio econômico-financeiro no futuro."
É justamente uma contestação envolvendo o plano de negócios da Ecorodovias, vitoriosa no leilão da BR-101 no Espírito Santo, que ainda que impede a assinatura do contrato de concessão. A licitação, primeira de uma rodovia no governo Dilma, completa hoje um ano. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve, em dezembro, uma liminar pedida pelo consórcio que terminou em segundo lugar na concorrência.
Apesar da experiência negativa com o último leilão federal e da ansiedade em obter uma decisão judicial que lhe permita assumir a administração do trecho capixaba, a Ecorodovias garante que tem estudado sua participação nas próximas licitações.
"A nossa numerologia não está fechada", afirma Luiz César Costa, diretor de desenvolvimento de negócios da empresa, a respeito das tarifas de pedágio que serão oferecidas, "mas estamos olhando projetos que permitam maior rentabilidade e tenham uma lógica com os nossos negócios futuros".
O executivo diz que a Ecorodovias está olhando o pacote de concessões "como um todo", mas reclama do pouco tempo disponível para a análise dos editais, no caso da BR-040 e da BR-116. "Tivemos 30 dias, incluindo Natal e Ano Novo, para avaliar duas concessões que somam 1,7 mil quilômetros de extensão e exigem investimentos de R$ 11 bilhões", frisa. Para ele, um ponto que aumenta os riscos das próximas licitações é a exigência de duplicação, com trechos superiores a 100 quilômetros por ano, que podem esbarrar em restrições ambientais e falta de desapropriações.
Para dar apoio às empresas, o governo promete outra novidade: a criação de fundos de investimento e participação - coordenados pelo BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal - que poderão ter até 49% do capital acionário das futuras concessões, associando-se aos grupos vencedores na condição de "sócios estratégicos". O Valor apurou que a intenção do governo é que esses fundos tenham em torno de 20% do capital das concessionárias, evitando chegar a uma participação próxima de 49%.
Embora bem-vinda, essa engenharia financeira foi recebida por boa parte do mercado como um remendo às baixas taxas de retorno das concessões - 5,5% ao ano, em termos reais. "Ninguém tem coragem de dizer para a Dilma que as premissas estão erradas", diz um executivo de uma grande empreiteira com interesse nas concessões rodoviárias.
© 2000 – 2012. Todos os direitos reservados ao Valor Econômico S.A. . Verifique nossos Termos de Uso em http://www.valor.com.br/termos-de-uso. Este material não pode ser publicado, reescrito, redistribuído ou transmitido por broadcast sem autorização do Valor Econômico.
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De Brasília O governo espera uma disputa acirrada entre pelo menos seis grupos - CCR, Odebrecht, Invepar, Ecorodovias, Triunfo e Acciona - na próxima rodada de concessões de estradas. Ao todo, serão transferidos 7,5 mil quilômetros de rodovias federais à iniciativa privada, nos próximos três meses. O primeiro teste ocorrerá no dia 30, quando serão licitados dois lotes, a BR-116 (em Minas Gerais) e a BR-040 (Brasília-Juiz de Fora). Um punhado de outras empresas corre por fora, na avaliação oficial, e também demonstrou interesse por essas duas concessões nas audiências públicas realizadas pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT): Isolux Corsán, Fidens, Barbosa Mello, Fidens, Cowan e Aterpa.
As grandes novidades, no entanto, ficam nos sete trechos com leilão previsto para abril. Eles somam 5,7 mil quilômetros de extensão e seus contratos exigem investimentos, sem levar em conta despesas operacionais, de quase R$ 32 bilhões nos 25 anos de duração dos contratos. A malha concedida passa por Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal, Tocantins, Bahia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Para os motoristas, uma das mudanças mais significativas se fará notar quando houver congestionamentos nas praças de pedágio, comuns em vésperas de feriados. Pela primeira vez nas concessões rodoviárias, as cancelas terão que ser levantadas e não poderá haver cobrança de tarifa, sempre que as filas de veículos ultrapassarem 200 metros de extensão e o tempo de espera exceder 15 minutos. Trata-se de uma prática adotada em outros países, como a Argentina, com o objetivo de estimular a agilidade das concessionárias e diminuir a irritação dos motoristas. Evita-se, assim, a repetição de uma cena já conhecida de muitos paulistas: o trânsito parado durante horas, nos arredores das praças de pedágio, em estradas para o litoral.
"Em cada novo edital, tentamos aperfeiçoar as concessões, mantendo as regras básicas e promovendo inovações", afirma Natália Marcassa de Souza, diretora da ANTT. Segundo ela, não foi possível incorporar boa parte dessas inovações nos dois primeiros trechos - BR-040 e BR-116 - porque suas licitações vinham sendo preparadas havia cinco anos, enquanto os demais lotes estão com seus estudos frescos e minutas de edital recém-concluídas.
Outra mudança importante, válida apenas a partir dos sete lotes de abril, é o aumento dos critérios de qualificação para a qualificação das empresas que vão entrar na disputa. O governo decidiu fixar uma exigência de patrimônio líquido, entre R$ 400 milhões e R$ 870 milhões, para cada rodovia. Isso impede logo de cara que empreiteiras de médio porte, como Fidens e Aterpa, assumam sozinhas a concessão de uma rodovia como a BR-262 (Belo Horizonte-Vitória). Também inviabiliza que uma empresa como a Triunfo, com patrimônio líquido de R$ 1,342 bilhão ao fim do terceiro trimestre de 2012, leve três lotes ao mesmo tempo - como a BR-101 (Bahia), a BR-060/153/262 (Brasília-Goiânia-Betim) e a BR-163 (Mato Grosso).
Algumas experiências recentes motivaram o governo a definir critérios mais rigorosos. Em 2007, a espanhola OHL venceu cinco dos sete lotes oferecidos pelo governo - incluindo trechos estratégicos como a Fernão Dias (São Paulo-Belo Horizonte) e a Régis Bittencourt (São Paulo-Curitiba) - e jamais conseguiu entregar boa parte das obras exigidas em contrato. Em 2008, o grupo Bertin usou os leilões de energia para vender eletricidade de mais de duas dezenas de térmicas, mas a maioria das usinas não saiu do papel e hoje existem discussões intricadas sobre a devolução delas. Finalmente, no ano passado, o governo se decepcionou com o resultado da privatização de três aeroportos e aumentou as exigências para a rodada seguinte de concessões, em 2013.
Os pedágios, conforme já havia sido divulgado no ano passado, só poderão ter sua cobrança iniciada quando pelo menos 10% das obras de duplicação tiverem sido concluídas. Além disso, os serviços iniciais - intervenções simples como tapa-buracos e melhoria - deverão durar 12 meses, e não mais seis. Só que os reajustes anuais das tarifas ganharão novos componentes.
Um bônus de até três pontos percentuais sobre o reajuste poderá ser dado às concessionárias que reduzirem o nível de acidentes, fatais ou não. Por outro lado, o pedágio cairá se as futuras concessionárias não conseguirem cumprir o novo "índice de disponibilidade" das pistas, a partir do sexto ano de contrato. A regra determina que, para tocar as obras de manutenção das estradas, elas não interditem faixas de rolamento mais do que 3% do tempo durante o dia e mais do que 5% do tempo durante a noite. Quem exceder esse limite terá direito a um reajuste anual menor da tarifa.
O leilão das rodovias, seguindo a forma de disputa adotada nas últimas concessões, terá uma única apresentação de ofertas, sem lances em viva-voz, nos quais os concorrentes podem bater a proposta dos rivais. As ofertas para todos os lotes deverão ser entregues simultaneamente e ganha quem oferecer a menor tarifa.
De forma inédita, não haverá mais necessidade de apresentação do plano de negócios pelas concorrentes, mas apenas uma declaração de instituição financeira que tenha dado aval à viabilidade da proposta apresentada em leilão. O plano de negócios é um documento no qual as empresas demonstram, em detalhes, suas estimativas de receitas e despesas com investimentos.
"Teoricamente, ele serve para mostrar se a proposta do grupo vencedor no leilão é exequível ou não", diz o presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), Bernardo Figueiredo. "Na prática, muitas empresas manipulavam os números apenas para ganhar o aval da ANTT. E isso deixava as portas abertas para pedidos de reequilíbrio econômico-financeiro no futuro."
É justamente uma contestação envolvendo o plano de negócios da Ecorodovias, vitoriosa no leilão da BR-101 no Espírito Santo, que ainda que impede a assinatura do contrato de concessão. A licitação, primeira de uma rodovia no governo Dilma, completa hoje um ano. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve, em dezembro, uma liminar pedida pelo consórcio que terminou em segundo lugar na concorrência.
Apesar da experiência negativa com o último leilão federal e da ansiedade em obter uma decisão judicial que lhe permita assumir a administração do trecho capixaba, a Ecorodovias garante que tem estudado sua participação nas próximas licitações.
"A nossa numerologia não está fechada", afirma Luiz César Costa, diretor de desenvolvimento de negócios da empresa, a respeito das tarifas de pedágio que serão oferecidas, "mas estamos olhando projetos que permitam maior rentabilidade e tenham uma lógica com os nossos negócios futuros".
O executivo diz que a Ecorodovias está olhando o pacote de concessões "como um todo", mas reclama do pouco tempo disponível para a análise dos editais, no caso da BR-040 e da BR-116. "Tivemos 30 dias, incluindo Natal e Ano Novo, para avaliar duas concessões que somam 1,7 mil quilômetros de extensão e exigem investimentos de R$ 11 bilhões", frisa. Para ele, um ponto que aumenta os riscos das próximas licitações é a exigência de duplicação, com trechos superiores a 100 quilômetros por ano, que podem esbarrar em restrições ambientais e falta de desapropriações.
Para dar apoio às empresas, o governo promete outra novidade: a criação de fundos de investimento e participação - coordenados pelo BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal - que poderão ter até 49% do capital acionário das futuras concessões, associando-se aos grupos vencedores na condição de "sócios estratégicos". O Valor apurou que a intenção do governo é que esses fundos tenham em torno de 20% do capital das concessionárias, evitando chegar a uma participação próxima de 49%.
Embora bem-vinda, essa engenharia financeira foi recebida por boa parte do mercado como um remendo às baixas taxas de retorno das concessões - 5,5% ao ano, em termos reais. "Ninguém tem coragem de dizer para a Dilma que as premissas estão erradas", diz um executivo de uma grande empreiteira com interesse nas concessões rodoviárias.
© 2000 – 2012. Todos os direitos reservados ao Valor Econômico S.A. . Verifique nossos Termos de Uso em http://www.valor.com.br/termos-de-uso. Este material não pode ser publicado, reescrito, redistribuído ou transmitido por broadcast sem autorização do Valor Econômico.
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quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
Pesquisa aponta que 56% dos paulistanos deixariam a cidade se pudessem
http://noticias.r7.com/sao-paulo/pesquisa-aponta-que-56-dos-paulistanos-deixariam-a-cidade-se-pudessem-17012013
Uma pesquisa da Rede Nossa São Paulo em parceria com o Ibope, divulgada nesta quinta-feira (17), aponta que 56% dos paulistanos deixariam a cidade de São Paulo se pudessem. Os dados pertencem ao Irbem (Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município), que revela como anda o nível de satisfação dos paulistanos em relação à qualidade de vida e bem-estar em São Paulo.
O percentual se manteve igual ao da pesquisa de 2012. O número de pessoas que “não sairiam da cidade” cresceu apenas um ponto percentual, subindo de 42% para 43% neste ano.
Em relação à qualidade de vida, 52% dos entrevistados disseram que ficou estável, contra 38% que acreditam que melhorou e outros 10% que consideram que piorou. O número apresenta melhora em relação ao ano passado, que registrou 44% de piora.
A pesquisa também aponta a origem da população da cidade. Ao todo, 42% não nasceram na capital. Desse percentual, 86% nasceram em munícipios de outros Estados brasileiros e 3% em outros países.
A avaliação da Prefeitura de São Paulo piorou para 5% da população. Em 2011, 30% avaliaram a administração como ruim ou péssima, contra 35% em 2012.
A confiança na Polícia Militar e na Polícia Civil também foi abalada em relação à pesquisa anterior. Em 2012, 60% dos entrevistados disseram não confiar nas polícias — 5% a mais em relação a 2011.
O estudo concluiu que a satisfação geral com a qualidade de vida na cidade de São Paulo atinge nota 4,7 em uma escala de avaliação de 1 a 10 — em que 1 significa total insatisfação e 10 total satisfação.
A pesquisa
O Irbem revela como anda o nível de satisfação dos paulistanos em relação à qualidade de vida e bem-estar em São Paulo. A pesquisa aborda 25 temas, alguns com aspectos subjetivos como sexualidade, espiritualidade, aparência, consumo e lazer e outros que tratam de condições mais objetivas de vida, como saúde, educação, meio ambiente, habitação e trabalho.
O levantamento apresenta também, pelo sexto ano consecutivo, o nível de confiança da população nas instituições (Prefeitura, Câmara Municipal, Polícia Militar, Poder Judiciário etc) e a avaliação do poder público e dos serviços por ele oferecidos. Tempo de espera por consultas (nos sistemas público e privado) e tempo de espera nos pontos de ônibus são algumas das perguntas que compõem a pesquisa.
Para a pesquisa, foram entrevistados 1.512 moradores da capital paulista com 16 anos ou mais entre os dias 24 de novembro e 8 de dezembro de 2012. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.
Uma pesquisa da Rede Nossa São Paulo em parceria com o Ibope, divulgada nesta quinta-feira (17), aponta que 56% dos paulistanos deixariam a cidade de São Paulo se pudessem. Os dados pertencem ao Irbem (Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município), que revela como anda o nível de satisfação dos paulistanos em relação à qualidade de vida e bem-estar em São Paulo.
O percentual se manteve igual ao da pesquisa de 2012. O número de pessoas que “não sairiam da cidade” cresceu apenas um ponto percentual, subindo de 42% para 43% neste ano.
Em relação à qualidade de vida, 52% dos entrevistados disseram que ficou estável, contra 38% que acreditam que melhorou e outros 10% que consideram que piorou. O número apresenta melhora em relação ao ano passado, que registrou 44% de piora.
A pesquisa também aponta a origem da população da cidade. Ao todo, 42% não nasceram na capital. Desse percentual, 86% nasceram em munícipios de outros Estados brasileiros e 3% em outros países.
A avaliação da Prefeitura de São Paulo piorou para 5% da população. Em 2011, 30% avaliaram a administração como ruim ou péssima, contra 35% em 2012.
A confiança na Polícia Militar e na Polícia Civil também foi abalada em relação à pesquisa anterior. Em 2012, 60% dos entrevistados disseram não confiar nas polícias — 5% a mais em relação a 2011.
O estudo concluiu que a satisfação geral com a qualidade de vida na cidade de São Paulo atinge nota 4,7 em uma escala de avaliação de 1 a 10 — em que 1 significa total insatisfação e 10 total satisfação.
A pesquisa
O Irbem revela como anda o nível de satisfação dos paulistanos em relação à qualidade de vida e bem-estar em São Paulo. A pesquisa aborda 25 temas, alguns com aspectos subjetivos como sexualidade, espiritualidade, aparência, consumo e lazer e outros que tratam de condições mais objetivas de vida, como saúde, educação, meio ambiente, habitação e trabalho.
O levantamento apresenta também, pelo sexto ano consecutivo, o nível de confiança da população nas instituições (Prefeitura, Câmara Municipal, Polícia Militar, Poder Judiciário etc) e a avaliação do poder público e dos serviços por ele oferecidos. Tempo de espera por consultas (nos sistemas público e privado) e tempo de espera nos pontos de ônibus são algumas das perguntas que compõem a pesquisa.
Para a pesquisa, foram entrevistados 1.512 moradores da capital paulista com 16 anos ou mais entre os dias 24 de novembro e 8 de dezembro de 2012. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.
sexta-feira, 11 de janeiro de 2013
terça-feira, 8 de janeiro de 2013
Prostitutas de BH têm aulas grátis de inglês para se preparar para a Copa
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1211528-prostitutas-de-bh-tem-aulas-gratis-de-ingles-para-se-preparar-para-a-copa.shtml
LUIZA BANDEIRA
DE BELO HORIZONTE
A ideia é ensinar o básico. "Fruits" (frutas), por exemplo. Mas o "vocabulário técnico", como "condom" (preservativo), também estará presente em aulas de inglês que prostitutas de Belo Horizonte terão para receber os turistas na Copa de 2014.
"Elas vão aprender frutas, verduras, legumes. Mas algumas palavras a gente pode trabalhar mais, no sexo, no fetiche", diz Cida Vieira, 46, presidente da Associação de Prostitutas de Minas Gerais.
Cerca de 20 garotas de programa já se inscreveram para participar do curso gratuito, organizado pela instituição. A expectativa de Cida é que até 300 das 4.000 associadas frequentem as aulas até o final do ano.
As classes de idiomas já têm local para acontecer: uma sala cedida pela Associação dos Amigos da Rua Guaicurus (zona de prostituição de Belo Horizonte).
VOLUNTÁRIOS
O grupo busca professores voluntários. A vice-presidente Laura do Espírito Santo, 54 (mas "colocando muita menina de 20 no chinelo"), diz que a associação já conta com psicólogos e médicos voluntários, o que a faz acreditar que não haverá dificuldade.
Se for preciso, porém, serão contratados profissionais. A ideia é que o curso dure entre seis e oito meses e que as primeiras turmas tenham início até março. A associação planeja ainda aulas de francês e italiano.
QUALQUER PROFISSÃO
Para Pollyana Temponi, 27, "profissional do sexo há três", o inglês vai servir para negociar preço e combinar como vai ser o programa com o cliente. "Hoje em dia em qualquer profissão você tem que saber inglês", diz. Outras sonham mais alto: "Vou fazer o curso porque a única coisa que sei falar hoje é 'I love you'. É inglês, né? Te amo? Isso fica difícil falar. Mas talvez, quem sabe? Posso me apaixonar", diz a prostituta C., 54, que não quis ter seu nome divulgado.
DE BELO HORIZONTE
A ideia é ensinar o básico. "Fruits" (frutas), por exemplo. Mas o "vocabulário técnico", como "condom" (preservativo), também estará presente em aulas de inglês que prostitutas de Belo Horizonte terão para receber os turistas na Copa de 2014.
"Elas vão aprender frutas, verduras, legumes. Mas algumas palavras a gente pode trabalhar mais, no sexo, no fetiche", diz Cida Vieira, 46, presidente da Associação de Prostitutas de Minas Gerais.
Cerca de 20 garotas de programa já se inscreveram para participar do curso gratuito, organizado pela instituição. A expectativa de Cida é que até 300 das 4.000 associadas frequentem as aulas até o final do ano.
As classes de idiomas já têm local para acontecer: uma sala cedida pela Associação dos Amigos da Rua Guaicurus (zona de prostituição de Belo Horizonte).
VOLUNTÁRIOS
O grupo busca professores voluntários. A vice-presidente Laura do Espírito Santo, 54 (mas "colocando muita menina de 20 no chinelo"), diz que a associação já conta com psicólogos e médicos voluntários, o que a faz acreditar que não haverá dificuldade.
Se for preciso, porém, serão contratados profissionais. A ideia é que o curso dure entre seis e oito meses e que as primeiras turmas tenham início até março. A associação planeja ainda aulas de francês e italiano.
QUALQUER PROFISSÃO
Para Pollyana Temponi, 27, "profissional do sexo há três", o inglês vai servir para negociar preço e combinar como vai ser o programa com o cliente. "Hoje em dia em qualquer profissão você tem que saber inglês", diz. Outras sonham mais alto: "Vou fazer o curso porque a única coisa que sei falar hoje é 'I love you'. É inglês, né? Te amo? Isso fica difícil falar. Mas talvez, quem sabe? Posso me apaixonar", diz a prostituta C., 54, que não quis ter seu nome divulgado.
segunda-feira, 7 de janeiro de 2013
O Bolsa Família e a revolução feminista no sertão
http://revistamarieclaire.globo.com/Mulheres-do-Mundo/noticia/2012/11/o-bolsa-familia-e-revolucao-feminista-no-sertao.html
Uma revolução está em curso. Silencioso e lento - 52 anos depois da criação da pílula anticoncepcional - o feminismo começa a tomar forma nos rincões mais pobres e, possivelmente, mais machistas do Brasil. O interior do Piauí, o litoral de Alagoas, o Vale do Jequitinhonha, em Minas, o interior do Maranhão e a periferia de São Luís são o cenário desse movimento. Quem o descreve é a antropóloga Walquiria Domingues Leão Rêgo, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Nos últimos cinco anos, Walquiria acompanhou, ano a ano, as mudanças na vida de mais de cem mulheres, todas beneficiárias do Bolsa Família. Foi às áreas mais isoladas, contando apenas com os próprios recursos, para fazer um exercício raro: ouvir da boca dessas mulheres como a vida delas havia (ou não) mudado depois da criação do programa. Adiantamos parte das conclusões de Walquiria. A pesquisa completa será contada em um livro, a ser lançado ainda este ano.
MULHERES SEM DIREITOS
As áreas visitadas por Walquiria são aquelas onde, às vezes, as famílias não conseguem obter renda alguma ao longo de um mês inteiro. Acabam por viver de trocas. O mercado de trabalho é exíguo para os homens. O que esperar, então, de vagas para mulheres. Há pouco acesso à educação e saúde. Filhos costumam ser muitos. A estrutura é patriarcal e religiosa. A mulher está sempre sob o jugo do pai, do marido ou do padre/pastor. “Muitas dessas mulheres passaram pela experiência humilhante de ser obrigada a, literalmente, ‘caçar a comida’”, afirma Walquiria. “É gente que vive aos beliscões, sem direito a ter direitos”. Walquiria queria saber se, para essas pessoas, o Bolsa Família havia se transformado numa bengala assistencialista ou resgatara algum senso de cidadania.
BATOM E DANONE
“Há mais liberdade no dinheiro”, resume Edineide, uma das entrevistadas de Walquiria, residente em Pasmadinho, no Vale do Jequitinhonha. As mulheres são mais de 90% das titulares do Bolsa Família: são elas que, mês a mês, sacam o dinheiro na boca do caixa. Edineide traduz o significado dessa opção do governo por dar o cartão do benefício para a mulher: “Quando o marido vai comprar, ele compra o que ele quer. E se eu for, eu compro o que eu quero.” Elas passaram a comprar Danone para as crianças. E, a ter direito à vaidade. Walquiria testemunhou mulheres comprarem batons para si mesmas pela primeira vez na vida. Finalmente, tiveram o poder de escolha. E isso muda muitas coisas.
O DINHEIRO LEVA AO DIVÓRCIO E À DIMINUIÇÃO DO NÚMERO DE FILHOS?
“Boa parte delas têm uma renda fixa pela primeira vez. E várias passaram a ter mais dinheiro do que os maridos”, diz Walquiria. Mais do que escolher entre comprar macarrão ou arroz, o Bolsa-Família permitiu a elas decidir também se querem ou não continuar com o marido. Nessas regiões, ainda é raro que a mulher tome a iniciativa da separação. Mas isso começa a acontecer, como relata Walquiria: “Na primeira entrevista feita, em abril de 2006, com Quitéria Ferreira da Silva, de 34 anos, casada e mãe de três filhos pequenos,em Inhapi, perguntei-lhe sobre as questões dos maus tratos. Ela chorou e me disse que não queria falar sobre isso. No ano seguinte, quando retornei, encontrei-a separada do marido, ostentando uma aparência muito mais tranqüila.”
A despeito do assédio dos maridos, nenhuma das mulheres ouvidas por Walquiria admitiu ceder aos apelos deles e dar na mão dos homens o dinheiro do Bolsa. “Este dinheiro é meu, o Lula deu pra mim (sic) cuidar dos meus filhos e netos. Pra que eu vou dar pra marido agora? Dou não!”, disse Maria das Mercês Pinheiro Dias, de 60 anos, mãe de seis filhos, moradora de São Luís, em entrevista em 2009.
Walquiria relata ainda que aumentou o número de mulheres que procuram por métodos anticoncepcionais. Elas passaram a se sentir mais à vontade para tomar decisões sobre o próprio corpo, sobre a sua vida. É claro que as mudanças ainda são tênues. Ninguém que visite essas áreas vai encontrar mulheres queimando sutiãs e citando Betty Friedan. Mas elas estão começando a romper com uma dinâmica perversa, descrita pela primeira vez em 1911, pelo filósofo inglês John Stuart Mill. De acordo com Mill, as mulheres são treinadas desde crianças não apenas para servir aos homens, maridos e pais, mas para desejar servi-los.
Aparentemente, as mulheres mais pobres do Brasil estão descobrindo que podem desejar mais do que isso.
Uma revolução está em curso. Silencioso e lento - 52 anos depois da criação da pílula anticoncepcional - o feminismo começa a tomar forma nos rincões mais pobres e, possivelmente, mais machistas do Brasil. O interior do Piauí, o litoral de Alagoas, o Vale do Jequitinhonha, em Minas, o interior do Maranhão e a periferia de São Luís são o cenário desse movimento. Quem o descreve é a antropóloga Walquiria Domingues Leão Rêgo, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Nos últimos cinco anos, Walquiria acompanhou, ano a ano, as mudanças na vida de mais de cem mulheres, todas beneficiárias do Bolsa Família. Foi às áreas mais isoladas, contando apenas com os próprios recursos, para fazer um exercício raro: ouvir da boca dessas mulheres como a vida delas havia (ou não) mudado depois da criação do programa. Adiantamos parte das conclusões de Walquiria. A pesquisa completa será contada em um livro, a ser lançado ainda este ano.
MULHERES SEM DIREITOS
As áreas visitadas por Walquiria são aquelas onde, às vezes, as famílias não conseguem obter renda alguma ao longo de um mês inteiro. Acabam por viver de trocas. O mercado de trabalho é exíguo para os homens. O que esperar, então, de vagas para mulheres. Há pouco acesso à educação e saúde. Filhos costumam ser muitos. A estrutura é patriarcal e religiosa. A mulher está sempre sob o jugo do pai, do marido ou do padre/pastor. “Muitas dessas mulheres passaram pela experiência humilhante de ser obrigada a, literalmente, ‘caçar a comida’”, afirma Walquiria. “É gente que vive aos beliscões, sem direito a ter direitos”. Walquiria queria saber se, para essas pessoas, o Bolsa Família havia se transformado numa bengala assistencialista ou resgatara algum senso de cidadania.
BATOM E DANONE
“Há mais liberdade no dinheiro”, resume Edineide, uma das entrevistadas de Walquiria, residente em Pasmadinho, no Vale do Jequitinhonha. As mulheres são mais de 90% das titulares do Bolsa Família: são elas que, mês a mês, sacam o dinheiro na boca do caixa. Edineide traduz o significado dessa opção do governo por dar o cartão do benefício para a mulher: “Quando o marido vai comprar, ele compra o que ele quer. E se eu for, eu compro o que eu quero.” Elas passaram a comprar Danone para as crianças. E, a ter direito à vaidade. Walquiria testemunhou mulheres comprarem batons para si mesmas pela primeira vez na vida. Finalmente, tiveram o poder de escolha. E isso muda muitas coisas.
O DINHEIRO LEVA AO DIVÓRCIO E À DIMINUIÇÃO DO NÚMERO DE FILHOS?
“Boa parte delas têm uma renda fixa pela primeira vez. E várias passaram a ter mais dinheiro do que os maridos”, diz Walquiria. Mais do que escolher entre comprar macarrão ou arroz, o Bolsa-Família permitiu a elas decidir também se querem ou não continuar com o marido. Nessas regiões, ainda é raro que a mulher tome a iniciativa da separação. Mas isso começa a acontecer, como relata Walquiria: “Na primeira entrevista feita, em abril de 2006, com Quitéria Ferreira da Silva, de 34 anos, casada e mãe de três filhos pequenos,em Inhapi, perguntei-lhe sobre as questões dos maus tratos. Ela chorou e me disse que não queria falar sobre isso. No ano seguinte, quando retornei, encontrei-a separada do marido, ostentando uma aparência muito mais tranqüila.”
A despeito do assédio dos maridos, nenhuma das mulheres ouvidas por Walquiria admitiu ceder aos apelos deles e dar na mão dos homens o dinheiro do Bolsa. “Este dinheiro é meu, o Lula deu pra mim (sic) cuidar dos meus filhos e netos. Pra que eu vou dar pra marido agora? Dou não!”, disse Maria das Mercês Pinheiro Dias, de 60 anos, mãe de seis filhos, moradora de São Luís, em entrevista em 2009.
Walquiria relata ainda que aumentou o número de mulheres que procuram por métodos anticoncepcionais. Elas passaram a se sentir mais à vontade para tomar decisões sobre o próprio corpo, sobre a sua vida. É claro que as mudanças ainda são tênues. Ninguém que visite essas áreas vai encontrar mulheres queimando sutiãs e citando Betty Friedan. Mas elas estão começando a romper com uma dinâmica perversa, descrita pela primeira vez em 1911, pelo filósofo inglês John Stuart Mill. De acordo com Mill, as mulheres são treinadas desde crianças não apenas para servir aos homens, maridos e pais, mas para desejar servi-los.
Aparentemente, as mulheres mais pobres do Brasil estão descobrindo que podem desejar mais do que isso.
quinta-feira, 3 de janeiro de 2013
Embrapa tenta desmitificar a alteração genética de alimentos como algo nocivo
http://www.em.com.br/app/noticia/tecnologia/2013/01/03/interna_tecnologia,340857/embrapa-tenta-desmitificar-a-alteracao-genetica-de-alimentos-como-algo-nocivo.shtml
Quando se fala em transgênicos, em muitas mentes logo surge a imagem de alimentos totalmente modificados, como uma maçã enorme e vermelha que não apodrece nunca – e que, desconfia-se, deve ser tão envenenada quanto a oferecida a Branca de Neve. A biotecnologia moderna, porém, não só vai muito além das modificações em setores produtivos como agricultura e pecuária, como também está sujeita a políticas e controles de segurança muito rígidos. Basta uma visita aos laboratórios da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen), empresa de pesquisa ligada ao governo federal, para entender o longo caminho percorrido pelos pesquisadores para levar adiante projetos que vão desde plantas geneticamente modificadas para a produção de medicamentos até o desenvolvimento de variedades de alface biofortificadas, com maior teor de ácido fólico.
O receio da população quanto ao tema, especialmente no que se refere aos possíveis riscos à saúde e ao meio ambiente, tem diminuído ao longo dos anos à medida que mais informações científicas são divulgadas, mas a desconfiança ainda é preponderante. De acordo com uma pesquisa encomendada pelo Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), a partir de um monitoramento no ambiente on-line (como sites, blogs e redes sociais), as avaliações sobre transgênicos passaram de 32% positivas e 68% negativas em 2010 para 48% positivas e 52% negativas em 2012.
O que muitos brasileiros podem não saber é que existe a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), instância colegiada multidisciplinar que estabelece normas técnicas de segurança e pareceres técnicos referentes à proteção da saúde humana, dos organismos vivos e do meio ambiente, para atividades que envolvem a construção, experimentação, cultivo, manipulação, transporte, comercialização, consumo, armazenamento, liberação e descarte de organismos geneticamente modificados (OGM) e derivados. Foi essa comissão que aprovou, em 2011, o feijão transgênico com resistência ao vírus do mosaico dourado, depois de mais de 10 anos de pesquisa. Primeira variedade geneticamente modificada desenvolvida exclusivamente por instituições públicas de pesquisa no país, o feijão é resistente à pior praga do feijoeiro em todo o Brasil, que gera um prejuízo estimado de 90 a 290 toneladas por ano.
De acordo com o pesquisador Francisco Aragão, o DNA do feijão foi modificado para que produzisse fragmentos do RNA responsável pela ativação da defesa contra o vírus – algo que a planta comum chega a produzir, mas apenas quando o vírus já está instalado. “Atualmente, os produtores controlam a doença com o uso de inseticidas que matam a mosca branca, que transmite o mosaico dourado. Costumo dizer que vírus é como um furo em uma barragem. Se não tampar, ela estoura. É preciso evitar que o vírus se replique já no comecinho. Se não for assim, o bloqueio depois é quase impossível”, explica Aragão. Depois de uma fase de ensaios de cultivo obrigatório, o registro dessa variedade do feijão deve ser realizado em até dois anos. A intenção é que as sementes sejam disponibilizadas para produtores rurais livres da cobrança de royalties.
ÁCIDO FÓLICO Outro destaque entre os projetos de pesquisa da Embrapa são as variedades de alface com 15 vezes mais ácido fólico, um nutriente importante principalmente na dieta das gestantes. A falta de ácido fólico durante a gravidez pode causar má-formação do tubo neural do feto – estrutura que dá origem ao cérebro e à medula espinhal. Além do impacto na formação do feto, a deficiência de ácido fólico também pode estar relacionada a doenças no sistema nervoso e à depressão em adultos.
De acordo com Aragão, foi feita uma alteração na rota metabólica das plantas de alface, que permitem que elas concentrem em 12 gramas cerca de 70% da quantidade diária recomendada de ingestão de ácido fólico em um adulto – as grávidas devem comer o dobro disso. “Se fosse a planta normal, seria preciso ingerir dois pés de alface. As plantas estão prontas e devem passar por ensaio de biossegurança para que seja encaminhado o pedido de aprovação”, explica o pesquisador, que acrescenta que, no país, a farinha é fortificada com ácido fólico, mas a quantidade não é uniformizada no produto.
Também no Cenargen estão sendo desenvolvidas plantas resistentes à estiagem. O pesquisador Eduardo Romano explica que o estresse hídrico (seca) é o principal estresse abiótico no mundo, ou seja, que não está ligado a pragas, fungos, bactérias ou vírus. “A Organização das Nações Unidas (ONU) estimou que será necessário aumentar em até 50% a produção de alimentos até 2030. Além disso, estima-se que 70% da água doce usada no mundo seja destinada à agricultura. É preciso pensar na redução das perdas e também na sustentabilidade”, aponta Romano.
Os primeiros passos foram dados com o projeto Genoma café, iniciado em 2007, em que foram analisados cerca de 30 mil genes da planta. Entre eles, foram identificados e isolados os cinco mais presentes em condições de estresse hídrico e que se adaptaram a essas condições. O gene CAHB12, mais resistente, foi introduzido em exemplares que, em comparação com as plantas naturais, sobreviveram o dobro do tempo sem água, uma média de 40 dias. “Estamos aguardando o processo de aprovação pelo CTNBio e também introduzindo o gene em outras plantas como a soja, algodão, trigo e arroz. Se tudo correr bem, podemos ter variedades comerciais em cinco anos.”
Quando se fala em transgênicos, em muitas mentes logo surge a imagem de alimentos totalmente modificados, como uma maçã enorme e vermelha que não apodrece nunca – e que, desconfia-se, deve ser tão envenenada quanto a oferecida a Branca de Neve. A biotecnologia moderna, porém, não só vai muito além das modificações em setores produtivos como agricultura e pecuária, como também está sujeita a políticas e controles de segurança muito rígidos. Basta uma visita aos laboratórios da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen), empresa de pesquisa ligada ao governo federal, para entender o longo caminho percorrido pelos pesquisadores para levar adiante projetos que vão desde plantas geneticamente modificadas para a produção de medicamentos até o desenvolvimento de variedades de alface biofortificadas, com maior teor de ácido fólico.
O receio da população quanto ao tema, especialmente no que se refere aos possíveis riscos à saúde e ao meio ambiente, tem diminuído ao longo dos anos à medida que mais informações científicas são divulgadas, mas a desconfiança ainda é preponderante. De acordo com uma pesquisa encomendada pelo Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), a partir de um monitoramento no ambiente on-line (como sites, blogs e redes sociais), as avaliações sobre transgênicos passaram de 32% positivas e 68% negativas em 2010 para 48% positivas e 52% negativas em 2012.
O que muitos brasileiros podem não saber é que existe a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), instância colegiada multidisciplinar que estabelece normas técnicas de segurança e pareceres técnicos referentes à proteção da saúde humana, dos organismos vivos e do meio ambiente, para atividades que envolvem a construção, experimentação, cultivo, manipulação, transporte, comercialização, consumo, armazenamento, liberação e descarte de organismos geneticamente modificados (OGM) e derivados. Foi essa comissão que aprovou, em 2011, o feijão transgênico com resistência ao vírus do mosaico dourado, depois de mais de 10 anos de pesquisa. Primeira variedade geneticamente modificada desenvolvida exclusivamente por instituições públicas de pesquisa no país, o feijão é resistente à pior praga do feijoeiro em todo o Brasil, que gera um prejuízo estimado de 90 a 290 toneladas por ano.
De acordo com o pesquisador Francisco Aragão, o DNA do feijão foi modificado para que produzisse fragmentos do RNA responsável pela ativação da defesa contra o vírus – algo que a planta comum chega a produzir, mas apenas quando o vírus já está instalado. “Atualmente, os produtores controlam a doença com o uso de inseticidas que matam a mosca branca, que transmite o mosaico dourado. Costumo dizer que vírus é como um furo em uma barragem. Se não tampar, ela estoura. É preciso evitar que o vírus se replique já no comecinho. Se não for assim, o bloqueio depois é quase impossível”, explica Aragão. Depois de uma fase de ensaios de cultivo obrigatório, o registro dessa variedade do feijão deve ser realizado em até dois anos. A intenção é que as sementes sejam disponibilizadas para produtores rurais livres da cobrança de royalties.
ÁCIDO FÓLICO Outro destaque entre os projetos de pesquisa da Embrapa são as variedades de alface com 15 vezes mais ácido fólico, um nutriente importante principalmente na dieta das gestantes. A falta de ácido fólico durante a gravidez pode causar má-formação do tubo neural do feto – estrutura que dá origem ao cérebro e à medula espinhal. Além do impacto na formação do feto, a deficiência de ácido fólico também pode estar relacionada a doenças no sistema nervoso e à depressão em adultos.
De acordo com Aragão, foi feita uma alteração na rota metabólica das plantas de alface, que permitem que elas concentrem em 12 gramas cerca de 70% da quantidade diária recomendada de ingestão de ácido fólico em um adulto – as grávidas devem comer o dobro disso. “Se fosse a planta normal, seria preciso ingerir dois pés de alface. As plantas estão prontas e devem passar por ensaio de biossegurança para que seja encaminhado o pedido de aprovação”, explica o pesquisador, que acrescenta que, no país, a farinha é fortificada com ácido fólico, mas a quantidade não é uniformizada no produto.
Também no Cenargen estão sendo desenvolvidas plantas resistentes à estiagem. O pesquisador Eduardo Romano explica que o estresse hídrico (seca) é o principal estresse abiótico no mundo, ou seja, que não está ligado a pragas, fungos, bactérias ou vírus. “A Organização das Nações Unidas (ONU) estimou que será necessário aumentar em até 50% a produção de alimentos até 2030. Além disso, estima-se que 70% da água doce usada no mundo seja destinada à agricultura. É preciso pensar na redução das perdas e também na sustentabilidade”, aponta Romano.
Os primeiros passos foram dados com o projeto Genoma café, iniciado em 2007, em que foram analisados cerca de 30 mil genes da planta. Entre eles, foram identificados e isolados os cinco mais presentes em condições de estresse hídrico e que se adaptaram a essas condições. O gene CAHB12, mais resistente, foi introduzido em exemplares que, em comparação com as plantas naturais, sobreviveram o dobro do tempo sem água, uma média de 40 dias. “Estamos aguardando o processo de aprovação pelo CTNBio e também introduzindo o gene em outras plantas como a soja, algodão, trigo e arroz. Se tudo correr bem, podemos ter variedades comerciais em cinco anos.”
The Economist e a política monetária do Brasil
http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2013/01/02/the-economist-a-politica-monetaria-do-brasil-480795.asp
A pilhéria, feita pelo jornal inglês Financial Times (24/12/2012) a respeito da gestão de Mantega, é uma conseqüência da primeira crítica oriunda de outra mídia econômica vinda da Europa quase falida. A edição impressa de 6 de dezembro do semanário inglês The Economist recomendava a demissão do ministro da Fazenda brasileira e classificava nossa economia como “moribunda criatura”.
Para além do conteúdo pontual da matéria e seus efeitos nos círculos de opinião no Brasil, o texto reflete uma posição generalizada nos circuitos financeiros. A “respeitável” publicação inglesa afirma com todas as letras. The Central Bank may be tempted to react to the latest figures with another interest-rate cut. That would be a mistake. Estão criticando Dilma por seus poucos acertos em política monetária.
Tal análise vai ao encontro dos interesses de seu público-alvo. Ao diminuir o retorno nas aplicações de curto prazo, os especuladores criticam a diminuição progressiva da taxa Selic. Isto implica em reduzir suas próprias margens de lucros. Para interpretar as razões deste ataque um pouco de teoria ajuda.
O economista francês François Chesnais afirmou que a migração de massas de capital em busca de valorização financeira deveu-se as dificuldades dos conglomerados empresariais em conseguir uma “razoável” margem de lucro na esfera produtiva a partir da década de 1970.
Por exemplo, as taxas de lucro que atingem mais de 20% no início dos anos ’60, caíram cerca de 12% em 1982 e 1983. Vamos além com este autor; a lógica rentista desta forma de acumulação provoca sangrias na esfera produtiva, e neste mecanismo gerado inclusive na base de fraudes, consiste a mãe de todas as “crises”.
Assim a rentabilidade dos detentores de capital fictício é, proporcionalmente, oposta aos direitos sociais e o poder de compra da massa salarial.
Acrescento a premissa da impossibilidade de existir equívoco quando os agentes econômicos estratégicos são dotados de informação perfeita. O chamado comportamento de manada (insuflado por textos como os aqui criticados) decorre também do tráfego de informação.
Estes rebatem dentro do aparelho de Estado - e dos organismos multilaterais – em função do mimetismo entre os ocupantes de postos-chave nos órgãos de autoridade monetária, bancos públicos e ministérios de Economia e Planejamento.
Quando o tomador de decisão não cumpre à risca o receituário publicado a favor de banqueiros e especuladores, torna-se alvo das baterias de desinformação midiática globalizada.
Bruno Lima Rocha é cientista político
www.estrategiaeanalise.com.br / blimarocha@gmail.com
A pilhéria, feita pelo jornal inglês Financial Times (24/12/2012) a respeito da gestão de Mantega, é uma conseqüência da primeira crítica oriunda de outra mídia econômica vinda da Europa quase falida. A edição impressa de 6 de dezembro do semanário inglês The Economist recomendava a demissão do ministro da Fazenda brasileira e classificava nossa economia como “moribunda criatura”.
Para além do conteúdo pontual da matéria e seus efeitos nos círculos de opinião no Brasil, o texto reflete uma posição generalizada nos circuitos financeiros. A “respeitável” publicação inglesa afirma com todas as letras. The Central Bank may be tempted to react to the latest figures with another interest-rate cut. That would be a mistake. Estão criticando Dilma por seus poucos acertos em política monetária.
Tal análise vai ao encontro dos interesses de seu público-alvo. Ao diminuir o retorno nas aplicações de curto prazo, os especuladores criticam a diminuição progressiva da taxa Selic. Isto implica em reduzir suas próprias margens de lucros. Para interpretar as razões deste ataque um pouco de teoria ajuda.
O economista francês François Chesnais afirmou que a migração de massas de capital em busca de valorização financeira deveu-se as dificuldades dos conglomerados empresariais em conseguir uma “razoável” margem de lucro na esfera produtiva a partir da década de 1970.
Por exemplo, as taxas de lucro que atingem mais de 20% no início dos anos ’60, caíram cerca de 12% em 1982 e 1983. Vamos além com este autor; a lógica rentista desta forma de acumulação provoca sangrias na esfera produtiva, e neste mecanismo gerado inclusive na base de fraudes, consiste a mãe de todas as “crises”.
Assim a rentabilidade dos detentores de capital fictício é, proporcionalmente, oposta aos direitos sociais e o poder de compra da massa salarial.
Acrescento a premissa da impossibilidade de existir equívoco quando os agentes econômicos estratégicos são dotados de informação perfeita. O chamado comportamento de manada (insuflado por textos como os aqui criticados) decorre também do tráfego de informação.
Estes rebatem dentro do aparelho de Estado - e dos organismos multilaterais – em função do mimetismo entre os ocupantes de postos-chave nos órgãos de autoridade monetária, bancos públicos e ministérios de Economia e Planejamento.
Quando o tomador de decisão não cumpre à risca o receituário publicado a favor de banqueiros e especuladores, torna-se alvo das baterias de desinformação midiática globalizada.
Bruno Lima Rocha é cientista político
www.estrategiaeanalise.com.br / blimarocha@gmail.com
terça-feira, 1 de janeiro de 2013
Ano novo
Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Ai entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra adiante vai ser diferente.”
Carlos Drummond de Andrade
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Ai entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra adiante vai ser diferente.”
Carlos Drummond de Andrade
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